tema da redação do enem 2025

Saiu o tema da redação do Enem 2025: veja qual foi

O tema do ENEM 2025, sobre o envelhecimento no Brasil, retoma debates sociais e demográficos centrais nas avaliações nacionais.


O Enem 2025 manteve sua tradição de escolher temas que fazem o estudante pensar sobre questões importantes do país. O tema da vez é “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, um assunto que vai muito além das aparências e nos convida a refletir sobre as transformações sociais e demográficas que o Brasil vem vivendo.

A informação foi confirmada pelo Ministro da Educação, Camilo Santana, no próprio dia da prova, 9 de novembro de 2025. Assim como nas outras edições, a proposta exigia um texto dissertativo-argumentativo em prosa, de até 30 linhas, construído a partir dos textos motivadores e dos conhecimentos acumulados pelo participante ao longo da sua formação.

Por que o Enem escolhe esses temas?

O tema do envelhecimento representa uma continuação da abordagem que o exame vem seguindo nos últimos anos, voltada para grupos sociais e temas ligados à inclusão, diversidade e cidadania.

Mesmo que nem sempre sejam minorias em número, esses grupos são frequentemente considerados minorias de direito, ou seja, pessoas cujos direitos precisam ser mais bem reconhecidos e garantidos.

Nos últimos anos, o exame tem reforçado esse compromisso. Veja os temas recentes:

  • 2024: Desafios para a valorização da herança africana no Brasil
  • 2023: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil
  • 2022: Os desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil
  • 2020: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira

A escolha por esses assuntos mostra que o Enem consistentemente escolhe temas que refletem debates sociais urgentes e que exigem dos candidatos a aplicação de conhecimentos sobre a função social das instituições políticas e econômicas, o que está alinhado à Competência de Área 3 da Matriz do Inep (H11 e H12).

O que significa “perspectivas”?

Aqui está um ponto crucial. Enquanto edições anteriores usavam a palavra “desafios” (direcionando o foco para os problemas), o tema de 2025 trouxe “perspectivas”, ou seja, um convite mais amplo para analisar o envelhecimento sob vários ângulos:

✓ Causas e consequências

✓ Problemas e oportunidades

✓ Visões de futuro

Um bom texto não se limitava a listar dificuldades. Ele também explorava as potencialidades da longevidade: o fortalecimento dos laços entre gerações, o papel ativo dos idosos na economia (a “economia prateada”) e novas formas de envelhecer com autonomia.

Candidatos que equilibraram problemas e oportunidades provavelmente se destacaram na correção.

O contexto: a inversão da pirâmide etária

O envelhecimento populacional é uma das maiores transformações do Brasil no século XXI. Vivemos mais e temos menos filhos: uma combinação que está mudando o perfil do país.

Segundo o IBGE, até 2030, o número de pessoas idosas no Brasil deve superar o de crianças e adolescentes pela primeira vez na história. Essa inversão da pirâmide etária traz impactos profundos nas áreas de saúde, previdência, trabalho e convivência familiar.

Esses dados são fundamentais para contextualizar o tema (Competência II) e ajudam a entender por que o envelhecimento é hoje um desafio demográfico, econômico e social.

Envelhecimento populacional x etarismo

Um dos pontos que separa uma redação mediana de uma excelente é saber diferenciar dois conceitos:

  • Envelhecimento populacional: a transformação demográfica do país, com o aumento da população idosa.
  • Etarismo (ou idadismo): o preconceito e a exclusão social baseados na idade.

Enquanto o primeiro é uma mudança estrutural, o segundo é uma consequência negativa dessa mudança. O etarismo se manifesta, por exemplo, na dificuldade que muitos idosos têm para conseguir emprego, usar tecnologias ou serem representados de forma realista na mídia.

Redações que conectaram esses conceitos (mostrando como o etarismo surge em um contexto de envelhecimento acelerado) alcançaram maior profundidade analítica.

Como desenvolver uma boa argumentação?

Para organizar bem os parágrafos de desenvolvimento, os candidatos podiam escolher dois eixos de análise principais, como:

O etarismo e a invisibilidade social

O preconceito contra a idade aparece de várias formas, nas piadas, nas representações da mídia e até nas políticas de trabalho. Muitas vezes, o idoso é retratado como frágil, dependente ou ultrapassado, o que reforça a exclusão.

Questionar essa visão é essencial, já que a sociedade brasileira ainda valoriza demais a produtividade jovem e ignora o enorme capital social dos mais velhos.

Os desafios das políticas públicas

O envelhecimento rápido da população também pressiona o Estado.

Embora o Brasil possua o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003, que foi atualizada em 2022) , assegurando atenção integral e universal à saúde via Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo atendimento especial a doenças prevalentes na velhice e prioridade de embarque e desembarque em transportes coletivos, a execução prática desses direitos muitas vezes é falha.

Um bom argumento mostrava esse contraste entre o que está na lei e o que acontece na realidade.

Dados e referências culturais que poderiam ser usadas na redação

Para alcançar pontuação máxima na Competência II, os candidatos precisavam trazer repertório sociocultural e científico pertinente ao tema. Os dados e as obras culturais deveriam ser articulados produtivamente, como elementos que reforçassem a argumentação.

Vamos explorar algumas referências que poderiam ter sido utilizadas nas redações.

Dados do IBGE

A mobilização de dados oficiais do IBGE (como o Censo Demográfico e a PNAD Contínua) confere credibilidade científica aos textos. Veja como esses números poderiam ter sido articulados aos argumentos:

População 60+ duplicou em duas décadas (chegou a 33 milhões)

 → Possível uso: Demonstrar a urgência do tema e validar a tese de que a sociedade não acompanhou a velocidade do envelhecimento. Esse dado poderia ilustrar o conceito de “Etarismo Estrutural” — quando as instituições sociais não se adaptam rápido o suficiente às mudanças demográficas.

Brasil terá redução populacional a partir de 2042

 → Possível uso: Justificar a necessidade de ação imediata. Argumentos sobre investimento na “economia prateada” e planejamento de políticas públicas ganhariam força ao mostrar que devemos agir antes do pico da transição demográfica.

Muitos idosos são os provedores financeiros das famílias

Possível uso: Desconstruir o estereótipo do “idoso dependente”. Esse dado inverte a narrativa comum e poderia reforçar argumentos sobre a necessidade de proteção trabalhista e financeira para quem sustenta gerações mais jovens.

Repertório audiovisual

Obras cinematográficas e televisivas são excelentes para ilustrar manifestações concretas do etarismo e as perspectivas de envelhecimento digno. Aqui estão as principais referências que poderiam ter sido mobilizadas, com contexto detalhado para entender sua relevância:

O Último Azul (2025)

Sinopse: em um Brasil distópico, o governo decreta que idosos acima de 75 anos devem ser enviados compulsoriamente para colônias habitacionais remotas, sob o pretexto de garantir uma velhice “digna”. Tereza, uma mulher de 77 anos, recusa-se a aceitar esse exílio e embarca em uma jornada pela Amazônia para realizar seu último sonho: voar de avião.

Como poderia ter sido usado: o filme questiona diretamente a ideia de que a velhice é o fim da autonomia e dos sonhos. O diretor Gabriel Mascaro queria fazer um filme sobre “esse corpo idoso feminino que sente desejo, que pulsa no presente, que ressignifica sua vida aos 77 anos”.

Candidatos poderiam ter argumentado que:

  • Políticas públicas devem garantir autodeterminação, não apenas “proteção”
  • O direito à reinvenção social não tem prazo de validade
  • A distopia do filme funciona como metáfora do etarismo real: a exclusão gradual dos idosos do convívio social

Um Senhor Estagiário (2015)

Sinopse: Ben Whittaker, 70 anos, torna-se estagiário sênior em uma startup de moda dominada por jovens e tecnologia. Ele prova que a experiência acumulada é um ativo essencial, não uma obsolescência.

Como poderia ter sido usado: perfeito para parágrafos sobre economia prateada e perspectivas. O filme contradiz o etarismo no mercado de trabalho ao mostrar que:

  • Experiência profissional é capital humano valioso
  • A integração intergeracional enriquece ambientes de trabalho
  • O “culto à juventude” marginaliza talentos maduros sem razão produtiva

Redações poderiam ter defendido que empresas e políticas públicas devem combater a “obsolescência forçada” de trabalhadores experientes.

Up – Altas Aventuras (2009)

Sinopse: Carl Fredricksen, viúvo e isolado após a perda da esposa, personifica o etarismo interiorizado: a visão de si mesmo como alguém decadente, sem futuro. Sua jornada com o menino Russell mostra a superação do isolamento através de novos laços afetivos.

Como poderia ter sido usado: ideal para discutir saúde mental e vínculos sociais na terceira idade. A animação ilustra:

  • Como a solidão crônica na velhice resulta de isolamento social (não é “natural”)
  • A importância de vínculos intergeracionais para reverter depressão e abandono
  • Como o etarismo se torna “interiorizado” quando o próprio idoso aceita estereótipos negativos

Central do Brasil (1998)

Sinopse: Dora, a protagonista, escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil (Rio de Janeiro). Muitos de seus clientes são idosos que não dominam a escrita e ficam à margem da sociedade “grafocêntrica”.

Conexão com o tema: embora o foco principal seja o analfabetismo, o filme revela uma verdade sobre o envelhecimento: a vulnerabilidade social se agrava na velhice, pois a falta de letramento ou habilidade digital impede o acesso a direitos e torna o idoso alvo fácil de exploração.

Textos poderiam ter usado esta obra para argumentar sobre invisibilidade e falha na inclusão, especialmente em contextos de exclusão digital e baixa escolaridade.

Novelas brasileiras

As telenovelas, como obras de massa, refletem (e às vezes criticam) manifestações culturais do etarismo. Duas novelas seriam especialmente pertinentes:

A Favorita (2008)

Cena-chave: a vilã Flora humilha a idosa Irene (Glória Menezes) e seu companheiro Copolla (Tarcísio Meira) com comentários etaristas: “Que velhinha fogosa!”, “Já imaginou aquelas duas múmias brigando? Não tem nada mais deprimente que um velho assanhado”.

Como poderia ter sido usado: Para discutir etarismo afetivo e sexual — como a sociedade ridiculariza e nega a autonomia afetiva, a sexualidade e a dignidade da vida íntima dos idosos. Esse tipo de violência simbólica reforça a invisibilidade.

Três Graças (2025)

Sinopse: a trama acompanha três gerações de mulheres de uma família da periferia de São Paulo, todas unidas pela maternidade precoce e abandono paterno. Um dos núcleos centrais envolve Arminda (Grazi Massafera), uma socialite cruel que demonstra negligência com sua mãe idosa Josefa (Arlete Salles), praticando violência patrimonial e psicológica no ambiente doméstico.

Por que seria relevante: a novela está no ar durante o Enem (estreou em 20 de outubro de 2025) e retrata:

  • Abandono afetivo e pressão para internação da mãe idosa
  • Violência patrimonial (exploração de bens)
  • Negligência familiar — exatamente o que o Estatuto da Pessoa Idosa deveria coibir mas falha na prática

Como poderia ter sido usado: Para exemplificar como a violência contra idosos acontece dentro de casa, no núcleo familiar, onde a fiscalização é mais difícil e as leis protetivas mostram-se insuficientes.

O contexto histórico que você precisa conhecer

Você sabia que esse tema quase apareceu no Enem muito antes?

Folha de redação da prova anulada do Enem 2009 — Foto: Reprodução

Em 2009, o tema da redação seria “Valorização do Idoso”. A prova já estava impressa, com textos motivadores que incluíam trechos do Estatuto do Idoso e dados sobre o aumento da expectativa de vida. Mas houve um problema: os cadernos de prova foram furtados às vésperas do exame, e o Enem 2009 precisou ser cancelado e reaplicado com outro tema (“O indivíduo frente à ética nacional”).

Por que isso importa para 2025?

O fato de o INEP retomar o assunto 16 anos depois (mesmo com o histórico problemático e a repercussão do cancelamento) mostra algo importante: o tema transcendeu a pauta pedagógica e se consolidou como uma prioridade demográfica e social inadiável.

O que mudou entre 2009 e 2025?

Veja a evolução estratégica do tema:

2009: “Valorização do Idoso”

  • Tom moral e afetivo
  • Foco em respeito, dignidade e reconhecimento
  • Palavra-chave normativa: “valorizar” como dever ético

2025: “Perspectivas acerca do envelhecimento”

  • Tom analítico e estratégico
  • Foco em causas, consequências, oportunidades e futuro
  • Palavra-chave reflexiva: “perspectivas” pede análise multidimensional

O que essa mudança revela?

As políticas de “valorização” implementadas desde 2009, como o próprio Estatuto da Pessoa Idosa (2003, atualizado em 2022), foram insuficientes para solucionar o problema estrutural. A população idosa duplicou nesse período, e agora não basta mais apenas “valorizar”. É preciso repensar estruturas econômicas, previdenciárias, de saúde e mercado de trabalho.

A reincidência do tema é, portanto, uma métrica da falha institucional em resolver o problema durante década e meia.

Autor(a) Luana Beatriz dos Santos

Sobre o(a) autor(a):

Luana Beatriz dos Santos -

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