Romance urbano: o que é, características e exemplos

O romance urbano tem como característica a preocupação em mostrar as paixões e o comportamento de uma classe social específica.

Com suas histórias de amor, os Romance Românticos ganham um público leitor fiel. Vamos entender de que modo essas narrativas contam a história do Rio de Janeiro do início do século XIX, além de ver o que é o Romance Urbano e suas características.

Contexto histórico do Romantismo

Primeiramente, A nossa viagem precisa começar na década de 1830. Lá, os moradores da capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro, tinham uma nova forma de lazer: a leitura de romances estrangeiros.

Os preferidos eram principalmente franceses, traduzidos e publicados em jornais brasileiros sob a forma de folhetins.

O que é um romance?

Os romances, recheados de lances melodramáticos e finais felizes, faziam a cabeça dos jovens da corte.

Dessa forma, escritores brasileiros, empolgados pelo sucesso dos folhetins franceses, arriscam-se na criação de romances. E, em 1843, temos o primeiro romance brasileiro, O filho do pescador, de Teixeira e Sousa.

Contudo foi com Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar que os folhetins tiveram grande sucesso.

Mantendo várias das características estruturais dos folhetins estrangeiros, esses escritores, ao falarem de amores idealizados, incluem elementos nacionais, como a vida na corte e os costumes burgueses.

Como resultado, estava definido, entre os leitores brasileiros, o perfil do romance urbano ou de costumes.

O que é romance urbano?

O romance urbano – ou de costumes – tem como característica a preocupação em mostrar as paixões, os desejos e o comportamento de uma classe social específica em uma determinada época.

A estrutura comum desse romance traz um herói e uma heroína, que se apaixonam um pelo outro e precisam vencer obstáculos para viverem felizes para sempre.

Tenho certeza de que você, estudante, já deve ter lido algo assim. E arrisco mais: Já leu e foi de autor do século XX e XXI, certo? Mas, voltemos ao século XIX, ao Rio de Janeiro, capital do Império.

A elite brasileira no romance urbano

Os costumes da elite brasileira da época moldaram o romance urbano. Como já dissemos, Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar usaram o mesmo pano de fundo para suas histórias de amor, que serão as “queridinhas” das jovens.

Nesse ínterim, o contexto de produção da literatura romântica tornou possível a condição de profissionalizar os escritores.

A ideia de ser um escritor profissional incentiva a criação literária, uma vez que, como eles dependem da venda de seus textos, passam a escrever mais.

No início, a circulação dos romances ocorre nas páginas dos periódicos. Além de dar notícias dos principais acontecimentos, os jornais publicam também folhetins estrangeiros traduzidos.

Justamente essas publicações que dão início à formação de um novo tipo de leitor: alguém que aprecia as histórias folhetinescas e compra o jornal para ficar por dentro da vida dos seus personagens preferidos.

O leitor do romance urbano

Como você já deve imaginar, leitor/a… Opa! Digo: estudante, devido ao grande número de analfabetos da população brasileira, o índice de leitores na primeira metade do século XIX não era grande.

Sim, eu fui pesquisar. O censo de 1872 apontava que somente 18,6% da população livre e 15,7% dos sujeitos escravizados sabiam ler e escrever.

Apesar de ser de Humanas, fiz uma conta rápida. Nessa época, o Brasil tinha quase dez milhões de habitantes.

Dessa forma, o universo dos possíveis leitores entre brancos livres e escravizados não chegava a quatro milhões de pessoas.

Por isso, então, não é de se espantar que os leitores dos folhetins românticos fossem pessoas da elite, profissionais liberais da corte ou das províncias, jovens que desejavam seguir o exemplo das cortes europeias.

Leituras semanais

A leitura semanal passou a fazer parte também da rotina das famílias burguesas, como conta José de Alencar, em sua biografia literária. Saca só.

[…]

Era eu quem lia para minha boa mãe não somente as cartas e os jornais, como os volumes de uma diminuta livraria romântica formada ao gosto do tempo.

[…]

Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, passava-se à leitura e era eu chamado ao lugar de honra. […]

ALENCAR, José de. Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990. p. 24-27. (Fragmento).

Observe ali que um dos propósitos para a leitura familiar naquela época era o fato de a maioria das mulheres não serem alfabetizadas.

Contudo, de forma mais lenta e gradual, o mundo da educação se abriu para elas.

Mantidas durante muito tempo sob estrito e estreito controle de pais e de maridos, as mulheres ganham grande importância nos romances românticos.

É geralmente a elas que o narrador se dirige, com quem conversa e a quem pretende comover com as histórias que narra.

Os escritores românticos, todavia, sabiam que precisavam expandir esse universo de leitores e trabalhavam para isso.

Dessa forma, nas narrativas que escreviam, apresentavam personagens lendo romances. José de Alencar, por exemplo, traz todas as suas protagonistas como leitoras.

Uma sociedade que se forma

Muito fácil notar que em seus romances, Joaquim Manuel de Macedo traz o perfil de uma sociedade ainda em formação, que precisava se identificar nos textos literários.

Você sabe o que é um sarau?

Sarau, o rolê da época

Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhados abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champanhe na mão, os mais intricados negócios; todos murmuram e não há quem deixe ser murmurado.

O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço goza todos os regalados da sua época; as moças são no sarau como as estrelas no Céu; estão no seu elemento: aqui uma, cantando suave cavatina […]; daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, […] ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. […..] Finalmente no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.

E o mais é que nós estamos num sarau. Inúmeros batéis conduziram da corta para a ilha de… senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidade legre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostram toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto. […]

MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. Rio de Janeiro: Lacerda, 1997. p. 194-195. (Fragmento).

Manual de boas maneiras

Uma cena como a que acabamos de ler funciona quase como um manual de boas maneiras para os membros da corte.

O narrador fala sobre as conversas murmuradas, o olhar sonhador do senhor, o comportamento das moças, chegando mesmo a destacar que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis.

Essa é a feição da sociedade ideal – senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidade – em uma reunião prazerosa e de bom gosto, como assinala o narrador ao fim da cena.

O romance urbano cumpria, assim, duas funções complementares:

  • Dava representação literária à elite brasileira, por meio de personagens criadas à sua imagem e semelhança;
  • Contribuía para a divulgação de valores importantes para uma sociedade em formação.

A cultura democratizada e uma identidade

É importante enfatizar que o romance urbano também ajudou na construção de uma identidade nacional.

Nesse sentido, pense comigo: como essas obras divulgavam perfis, espaços e comportamentos de uma classe social, o leitor acabava se reconhecendo ali, uma vez que os personagens lhes eram muito familiares.

Além disso, a estrutura narrativa era bem simples, sem lançar mão de referências culturais complexas ou sofisticadas, então, o romance romântico urbano ganhou força e contribuiu para a democratização da literatura nacional.

Outro fator que ajudou nesse processo foi a linguagem, pois era muito acessível. Frequentemente, nos romances urbanos, o narrador dialoga com o leitor.

E quando o narrador fala conosco, como se fôssemos amigos, a leitura fica mais prazerosa. Não é verdade?

Videoaula

Por fim, resolva as questões abaixo sobre romance urbano e veja a videoaula abaixo.

Exercícios

1) (Unesp 2018)

De fato, este romance constitui um dos poucos romances cômicos do romantismo nacional, afastando-se dos traços idealizantes que caracterizam boa parte das obras “sérias” dos autores de então. O modo pelo qual este romance pinta a sociedade, representado-a a partir de um ângulo abertamente cômico e satírico, também era relativamente novo nas letras brasileiras do século XIX.

(Mamede Mustafa Jarouche. “Galhofa sem melancolia”, 2003. Adaptado.)

O comentário refere-se ao romance

a) O cortiço, de Aluísio Azevedo.

b) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

c) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

d) Iracema, de José de Alencar.

e) Macunaíma, de Mário de Andrade.

2) (Ita 2017)

O livro Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, mostra como, no Brasil, os agentes do poder costumam, por vezes, confundir as esferas do público e do privado. Como afirma o narrador, no capítulo XLV: “Já naquele tempo (e dizem que é defeito nosso) o empenho, o compadresco, eram uma mola de todo o movimento social”. No enredo, isso é ilustrado pelo comportamento de Vidigal, que

a) teve, na infância, uma educação familiar muito permissiva, que lhe afrouxou o caráter.

b) sempre foi, desde menino, resistente aos valores éticos ensinados pela escola e pela Igreja.

c) teve expostas suas desventuras amorosas, sendo, muitas vezes, objeto da chacota coletiva.

d) optou, por interesse, pela carreira de meirinho, respeitada e promissora na época.

e) revelou ter um caráter não tão rígido ao ceder aos apelos de sua amante.

3) (Fac. Albert Einstein – Medicin 2016)

Era no tempo do rei.

Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo – O Canto dos Meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração).

Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei: esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós e um elemento da vida: o extremo oposto eram os desembargadores (…).

O trecho acima inicia o romance Memórias de um Sargento de Milícias, escrito em forma de folhetim entre 1852 e 1853 por Manoel Antônio de Almeida. De acordo com esse romance como um todo, é correto afirmar que

a) reveste-se de comicidade, na linha do pitoresco, e desenvolve sátira saborosa aos costumes da época, que atinge todas as camadas sociais, em particular os políticos e os poderosos.

b) apresenta personagem feminina, Luisinha, cuja descrição fere a caracterização sempre idealizada do perfil de mulher dentro da estética romântica.

c) caracteriza um romance histórico que pretende narrar fatos de tonalidade épica e heroica da vida brasileira, ambientados no tempo do rei e vividos por seus principais protagonistas.

d) configura personagens populares que, pela primeira vez, comparecem no romance brasileiro e que se tornam responsáveis pelo desprestígio da literatura brasileira junto ao público leitor da época.

Gabarito:
  1. C
  2. E
  3. B

Sobre o(a) autor(a):

Anderson Rodrigo da Silva é professor formado em Letras Português pela UNIVALI de Itajaí. Leciona na rede particular de ensino da Grande Florianópolis.

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