Álvares de Azevedo foi um poeta e escritor brasileiro nascido em 1831. Ele foi o maior destaque da Segunda Geração do Romantismo, falando sobre morte, ironia e amor.
Amor, morte, medo, solidão, culto a uma natureza mórbida e sombria, a idealização da Realidade da figura da Mulher: Os Ultrarromânticos atingiram os extremos de sentimentos bem distintos. Hoje vamos estudar Álvares de Azevedo (sim, não é Alvares de Azevedo, ele tem acento) e suas principais obras!
Quem nunca? Pergunto de novo, estudante, quem nunca foi arrebatado por um amor não correspondido, sofreu absurdos, chorou rios de lágrimas ouvindo aquela música doída? Aquele casal no showzinho, ele a abraça por trás, não se largam um segundo. Mesmo quando ela quer comprar água, saem juntos, abraçados, caminhando com a mesma perna, o mesmo passo?
Ah! o Amor. Quando a única coisa que importa é olhar o digitando do crush na telinha do Whatsapp. Bem, nem tudo são flores que se rime com amores. “Bora” estudar! Foquemos, ó, amante das letras.
Quem foi Álvares de Azevedo
Nosso poeta da segunda geração romântica brasileira nasceu em 1831 e faleceu em 1852. Álvares de Azevedo foi o autor com mais destaque dessa geração. Entre os 16 e os 21 anos, produziu todo o seu repertório literário, mas não chegou a publicar nada em vida. Quando morreu, estava terminando a preparação de Lira dos vinte anos, livro que foi publicado um ano depois de sua morte.
Dentre as obras de Álvares de Azevedo temos: Poesias diversas, O poema do frade, O Conde Lopo, – poema narrativo – Poemas malditos, Macário – peça de teatro – Noite na taverna e o Livro de Fra Gondicário.
Características de sua obra
Nos textos que escreveu, Álvares de Azevedo sempre transbordou o tema dos desesperos amoroso, tratados a partir de duas vertentes: a séria e a irônica. E não sou eu quem disse, foi o próprio poeta que define, no prefácio à segunda parte da Lira dos vinte anos, as duas vertentes da sua produção literária:
“Nos mesmos lábios onde suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde”
Monodia é o nome que recebe um canto em uníssono. O sentido do termo é importante no contexto, pois mostra que o poeta percebia sua lírica amorosa como textos que traziam uma mesma visão idealizada do amor. Ariel e Calibã, anjo e demônio, são os que preparam o leitor para poemas que falam exageradamente das angústias amorosas ou as ridicularizam.
Claro, Ariel e Calibã é como o nosso poeta se apresenta na obra.
É nesse clima que nasce sua identidade literária, que o torna singular entre os ultrarromânticos, e que será definida pelo modo contrastante de tratar os temas de sua época. Álvares de Azevedo também se destaca dos demais ultrarromânticos por ser o pioneiro a trazer a ironia para o romantismo.
Lira dos vinte anos de Álvares de Azevedo
Obra de Álvares de Azevedo dividida em três partes, a Lira dos vinte anos mostra as diferentes faces literárias do autor. A primeira e a terceira partes são cheias de sentimentalismo e egocentrismo característicos dos ultrarromânticos.
São poemas que trazem o fascínio pela ideia de morrer e a atração pelas virgens pálidas e frias. Nesses poemas, a possibilidade de um amor se tornar real fica confinada ao mundo dos sonhos e da imaginação.
Poemas de Álvares de Azevedo
Leia este poema:
Quando, à noite, no leito perfumado
Quando, à noite, no leito perfumado
Lânguida fronte no sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por que te orvalha
Pranto de amor as pálpebras divinas?
E, quando eu te contemplo adormecida
Solto o cabelo no suave leito,
Por que um suspiro tépido ressona
E desmaia suavíssimo em teu peito?
Virgem do meu amor, o beijo a furto
Que pouso em tua face adormecida
Não te lembra do peito os meus amores
E a febre do sonhar de minha vida?
Análise do poema
Perceba a “cena amorosa” criada no poema: o eu lírico fala sobre uma mulher dormindo. Ela tem características baseadas nos clichês ultrarromânticos (virginal, face lânguida, expressão sonhadora, cabelos soltos).
O beijo roubado – terceira estrofe – acontecem com a moça dormindo. Só assim a aproximação é sem risco de concretização do encontro amoroso.
Enquanto ela dorme e sonha, o eu-lírico fala sobre as suas fantasias, deixando evidente que é governado pela “febre do sonhar”. Agora vamos a segunda parte do poema:
Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio
O meu peito se afoga de ternura…
E sinto que o porvir não vale um beijo
E o céu um teu suspiro de ventura!
Um beijo divinal que acende as veias,
Que de encantos os olhos ilumina,
Colhido a medo, como flor da noite,
Do teu lábio na rosa purpurina…
E um volver de teus olhos transparentes,
Um olhar dessa pálpebra sombria
Talvez pudessem reviver-me n’alma
As santas ilusões de que eu vivia!
No anseio para que a moça continue adormecida, o eu-lírico deixa sua opção pela fantasia. Ela não rejeita, porém, a manifestação do desejo: ele afirma que o porvir não vale um beijo; o céu, menos que um suspiro de alegria da sua “crush”.
Nas duas últimas estrofes, o eu-lírico, ao mesmo tempo em que associa a manifestação física do amor ao medo, afirma o desejo de ter revividas as ilusões que animavam sua vida.
Na segunda parte da Lira dos vinte anos, o humor, a ironia e o sarcasmo surgem com muita força.
Nesse contexto, estudante, muito mais descontraído, o poeta traz cenas mais cômicas que nos lembram que a realidade nem sempre colabora com os que amam.
Vamos a mais um exemplo:
Namoro a cavalo
[…]
Ontem tinha chovido… Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando… uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama…
Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada…
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela…
O cavalo ignorante de namoro,
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada… […]
Eu já caí de bicicleta o empiná-la diante da “jovem que amei” lá nos idos dos anos 90. Sim, os sentimentos são os mesmos durantes as décadas e séculos, por isso, os ultrarromânticos ainda podem ser compreendidos hoje.
Noite na taverna: algumas histórias com amor e morte
A cena que abre as narrativas de Noite na taverna não poderia ser mais explícita. Imagine um cenário em que mulheres bêbadas dormem sobre as mesas, um grupo de rapazes começa a contar suas aventuras amorosas.
Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. Cada um desses “pequenos desgraçados” irá assumir a narrativa para contar seus casos que envolvem o lado corrosivo, para os ultrarromânticos, do sentimento amoroso: o desejo carnal.
As histórias narradas não deixam dúvidas sobre a lição: o amor verdadeiro só é alcançável após a morte. Por ser de domínio público, você consegue ter acesso ao pdf de Noite na Taverna.
Macário
Macário, a única peça de teatro escrita por Álvares de Azevedo, traz um contexto muito semelhante ao de Noite na taverna.
É, também, em uma taverna, à noite, que se dá início do bate-papo entre o estudante Macário e um estranho, que mais tarde se apresenta como Satã. O conjunto da obra de Álvares de Azevedo é recheado por imagens de culpa associadas à erotização do relacionamento amoroso, que simbolizam a obsessão desse autor com o lado macabro da vida e do amor.
Videoaula
Agora, assista a videoaula sobre a Álvares de Azevedo feita pela nossa professora de literatura para o Enem, Camila.
Exercícios
TEXTO: 1 – Comum à questão: 1
Ah! vem, pálida virgem, se tens pena
De quem morre por ti, e morre amando,
Dá vida em teu alento à minha vida,
Une nos lábios meus minh’alma à tua!
Eu quero ao pé de ti sentir o mundo
Na tu’alma infantil; na tua fronte
Beijar a lua de Deus; nos teus suspiros
Sentir as virações do paraíso;
E a teus pés, de joelhos, crer ainda
Que não mente o amor que um anjo inspira,
Que eu posso na tu’alma ser ditoso,
Beijar-te nos cabelos soluçando
E no teu seio ser feliz morrendo!
AZEVEDO, Álvares de. In. Noite na taverna e Poemas escolhidos (de Lira dos vinte anos). São Paulo: Moderna, 1994. p. 74.
Questão 01 – (FPS PE/2018)
O poema de Álvares de Azevedo, escrito em 1851, incorpora marcas próprias da poesia romântica. Considerando o contexto histórico e a produção literária desse autor, analise as afirmativas a seguir.
- Apesar de parecer distante e inalcançável, a mulher amada surge como uma idealização fortemente erótica, voltada tão somente para a realização sexual do eu lírico.
- O eu lírico fala da morte como algo positivo; mais do que retórica, a atração pela morte é parte do “mal do século”, traço comum à segunda geração romântica.
- Expressões como “pálida virgem”, “alma infantil” e “um anjo” reforçam um ideal em que a mulher é associada a algo etéreo e puro, distante, portanto, do amor físico.
- O eu lírico encara a realização amorosa não como algo possível ou iminente, mas como algo que permanece no plano do desejo e do sonho.
Estão corretas:
a) 1, 2 e 3, apenas.
b) 1 e 4, apenas.
c) 2 e 3, apenas.
d) 2, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
Gab: D
TEXTO: 2 – Comum à questão: 2
Namoro a cavalo
Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcineia namorada.
Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela…
Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado,
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito… mas furtado.
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento…
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda a Comédia – em casamento…
Ontem tinha chovido… Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama…
Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rossinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada…
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela…
O cavalo ignorante de namoros
Entre dentes tomou a bofetada,
Arripia-se, pula e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada…
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!…
(AZEVEDO, Álvares de. Melhores
poemas. 6. ed. 1. reimpr. São Pa-
ulo: Global, 2008. p. 79-81.)
Questão 02 – (PUC GO/2018)
Assinale a alternativa que melhor caracteriza a relação desse poema (texto) com a seleta da obra de Álvares de Azevedo em Melhores poemas:
a) Excesso de tédio e pessimismo.
b) Expressão da melancolia romântica.
c) Presença do humor e da autoironia.
d) Desilusão com as diferenças sociais.
Gab: C
TEXTO: 3 – Comum à questão: 3
Dinheiro
Oh! dinheiro! Contigo somos
belos, jovens, adorados;
temos consideração, honra,
qualidades, virtudes. Quando
não temos dinheiro, ficamos
dependentes de todas as coisas
e de todo o mundo.
Chateaubriand (Traduzido do francês)
Sem ele não há cova – quem enterra
Assim gratis, a Deo? O batizado
Também custa dinheiro. Quem namora
Sem pagar as pratinhas ao Mercúrio?
Demais, as Danaes também o adoram,
Quem imprime seus versos, quem passeia,
Quem sobe a Deputado, até Ministro,
Quem é mesmo Eleitor, embora sábio,
Embora gênio, talentosa fronte,
Alma Romana, se não tem dinheiro?
Fora a canalha de vazios bolsos!
O mundo é para todos… Certamente
Assim o disse Deus – mas esse texto
Explica-se melhor e doutro modo.
Houve um erro de imprensa no Evangelho:
O mundo é um festim, concordo nisso,
Mas não entra ninguém sem ter as louras.
(AZEVEDO, Álvares de. Melhores poemas. 6.
ed. 1. reimpr. São Paulo: Global, 2008. p. 82.)
Questão 03 – (PUC GO/2018)
Nesse poema de Álvares de Azevedo (texto), desde a epígrafe, há a expressão de uma crítica ao poder do dinheiro. Assinale a alternativa correta em relação aos recursos usados para produzir humor e ironia:
a) Referência ao subjetivismo intimista do mal do século.
b) Crítica a Deus por não permitir a felicidade do homem pobre.
c) Alusão à mitologia grega para reforçar o amor romântico, como em “Danaes”.
d) Recorrência a metáforas, metonímias e jogos de palavra como em “gratis a Deo”.
Gab: D