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Como as mulheres estão assumindo o comando do lar, segundo o IBGE

Chefia feminina no Brasil cresce e revela desigualdades: veja o que mostram os dados do IBGE e como isso impacta a vida das mulheres no país.


Nas últimas décadas, o formato das famílias brasileiras tem mudado bastante, impulsionado por transformações sociais, econômicas e culturais. Um dos pontos mais marcantes dessa nova realidade é o crescimento do número de mulheres que são as principais responsáveis pelos lares.

A notícia central é que, de acordo com o Censo Demográfico de 2022 do IBGE, a proporção de lares chefiados por mulheres chegou a 49,1%. Esse é um aumento significativo em comparação com 2010, quando o percentual era de 38,7%, e com o ano 2000, quando era de apenas 22%. Em alguns estados, como Pernambuco (53,9%) e Sergipe (53,1%), as mulheres já são a maioria na chefia dos lares.

Essa mudança vai muito além dos números, quebrando um modelo histórico em que o “chefe de família” era sempre o homem. Essa nova realidade exige uma revisão das expectativas sociais, das políticas públicas e dos próprios arranjos familiares.

Por que esse tema importa (e por que ele caiu no Enem)

Essa transformação na estrutura das famílias está ligada a vários temas importantes para entender a sociedade brasileira hoje: desigualdade de gênero, condições de trabalho, papéis sociais, economia, educação… Não à toa, o tema da redação do Enem 2023 foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil“.

Ou seja, a realidade da chefia feminina está no centro do debate social. Conhecer esses dados ajuda não só na redação, mas também a pensar criticamente sobre as desigualdades e a necessidade de políticas públicas mais justas.

O que mudou nas últimas décadas

A mulher ganhou cada vez mais espaço no mercado de trabalho, principalmente a partir da década de 1970. Em 1970, apenas 18,2% das brasileiras com mais de 10 anos eram economicamente ativas. Em 1990, esse número já era de 39,2%. Isso aconteceu por vários motivos: crescimento da economia, urbanização, industrialização, redução no número de filhos por mulher e o envelhecimento da população.

Além disso, os movimentos feministas ajudaram a mudar a forma como a mulher é vista na sociedade, fortalecendo sua autonomia. O resultado? Cada vez mais mulheres são protagonistas no sustento e na gestão do lar.

A chefia feminina no Brasil: uma realidade com muitos desafios

Quando a gente fala sobre “chefia feminina”, não estamos nos referindo apenas a mulheres em cargos de liderança no mercado de trabalho. Também estamos falando daquelas que são responsáveis por suas casas, suas famílias e, muitas vezes, por todas as contas no fim do mês. E essa realidade é mais comum do que parece.

De acordo com os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE, cerca de 49,5% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. Esse número mostra uma mudança significativa no perfil das famílias brasileiras nas últimas décadas. Mas, apesar de representar quase metade das famílias do país, as mulheres chefes de família ainda enfrentam inúmeros obstáculos sociais, econômicos e culturais.

O que significa ser chefe de família?

Chefiar uma família vai muito além de “ser a pessoa que paga as contas”. Envolve tomada de decisões, organização da rotina, cuidados com os filhos (ou outros familiares), e a manutenção do bem-estar do lar. Quando essa responsabilidade recai sobre uma mulher, ela geralmente acumula essas funções com o trabalho fora de casa — e, infelizmente, nem sempre com o devido reconhecimento.

Muitas vezes, a mulher chefe de família é também a única provedora financeira do lar, o que torna sua jornada ainda mais desafiadora. Isso porque ela precisa equilibrar a busca por sustento com o cuidado da casa e da família, sem contar com o suporte de um companheiro ou uma rede de apoio.

Quem são essas mulheres?

A chefia feminina no Brasil tem rosto, cor e endereço. A maioria dessas mulheres é preta ou parda, vive nas periferias e tem empregos marcados pela informalidade e pela baixa remuneração. Segundo o IBGE, mais de 60% das mulheres que chefiam lares estão abaixo da linha da pobreza.

Esses dados mostram que a chefia feminina está intimamente ligada a fatores como desigualdade de gênero, desigualdade racial e desigualdade socioeconômica. Além disso, muitas dessas mulheres são mães solo, enfrentando sozinhas a criação dos filhos e os desafios de manter a casa funcionando.

Desigualdade salarial e o impacto na chefia feminina

Um dos maiores entraves para a autonomia financeira dessas mulheres é a diferença salarial entre homens e mulheres. Mesmo ocupando os mesmos cargos e tendo o mesmo nível de escolaridade, as mulheres ainda ganham, em média, 22% menos do que os homens. Isso afeta diretamente sua capacidade de sustentar a família e conquistar melhores condições de vida.

Além disso, a falta de políticas públicas que garantam o acesso a creches, escolas de qualidade, transporte público eficiente e saúde básica impacta diretamente essas mulheres. Afinal, sem apoio do Estado, elas precisam se virar sozinhas — e isso limita o tempo disponível para estudar, trabalhar ou buscar melhores oportunidades.

Repertórios para usar na redação

A chefia feminina é um tema com grande potencial para cair na redação do Enem, pois dialoga com questões de gênero, cidadania, desigualdade social e políticas públicas. Além disso, é um assunto constantemente abordado por reportagens, pesquisas e campanhas de conscientização, ou seja: está em pauta na sociedade.

Para se preparar, vale refletir sobre como o Estado pode garantir maior suporte para essas mulheres, como combater a desigualdade de gênero no mercado de trabalho e como o reconhecimento da chefia feminina pode gerar transformações sociais profundas.

Além disso, para construir uma argumentação sólida na redação, é fundamental utilizar dados e conceitos relevantes, como alguns dos que já citamos anteriormente. Conceitos-chave também são indispensáveis:

  • Patriarcado e divisão sexual do trabalho: Explicar como essas estruturas históricas influenciam a realidade atual, atribuindo o cuidado e as tarefas domésticas predominantemente às mulheres e perpetuando a desigualdade de gênero.
  • Feminização da pobreza: Conectar a chefia feminina à vulnerabilidade econômica, especialmente para mulheres negras, que auferem o menor rendimento familiar per capita.
  • Interseccionalidade: Abordar como gênero, raça e classe social se entrelaçam para criar diferentes níveis de desigualdade, amplificando as barreiras para mulheres negras.

As propostas de intervenção devem ser concretas e viáveis, respeitando os direitos humanos. Exemplos incluem a implementação da Política Nacional de Cuidados, a garantia de auxílios para mães monoparentais (como o PL 2099/20) , a promoção da corresponsabilidade familiar na divisão do trabalho doméstico e de cuidado, e o combate à desigualdade salarial. A estrutura da redação do Enem, que exige uma proposta de intervenção social, transforma o ato de escrever em um exercício de cidadania ativa. Ao analisar a realidade da chefia feminina e seus desafios, os estudantes são impelidos a pensar em soluções que vão além da crítica, engajando-se na busca por um futuro mais justo. Isso reforça a ideia de que o conhecimento não é apenas para ser acumulado, mas para ser aplicado na transformação da realidade.

Autor(a) Luana Santos

Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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