Como usar trap como repertório na redação do Enem
Descubra como usar letras de trap como repertório na redação do Enem, com exemplos práticos e dicas para conquistar a nota máxima.
Quando falamos em redação do Enem, não estamos falando só de saber escrever bem. A prova exige que você mostre toda a sua bagagem cultural – aquilo que chamam de repertório sociocultural. Esse repertório é essencial para fundamentar e fortalecer seus argumentos, principalmente na Competência 2 da redação, que avalia sua capacidade de entender a proposta e trazer conceitos de várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema.
Muitos estudantes acabam se limitando aos repertórios mais “tradicionais”, como filósofos clássicos ou fatos históricos muito conhecidos. Mas essa limitação pode sufocar a criatividade e deixar o texto genérico. O Enem valoriza uma variedade de conhecimentos, e saber misturar fontes diferentes é um diferencial enorme.
Nesse sentido, o trap – um subgênero do rap que explodiu no Brasil – costuma ser visto só como entretenimento. Mas suas letras e estética refletem realidades sociais profundas, o que faz dele um recurso poderoso (e muitas vezes subestimado) para a redação do Enem. Usar um repertório fora do óbvio, como o trap, mostra que você vai além do senso comum, evidencia pensamento crítico e capacidade de conectar áreas diferentes do saber.
Este texto vai te mostrar como usar o trap de forma legítima, pertinente e produtiva na redação, com exemplos práticos e dicas para citar músicas de forma formal e impactante. Assim, você transforma seu gosto cultural em vantagem acadêmica.
Repertório sociocultural no Enem
O repertório sociocultural é qualquer conhecimento externo que sustente seus argumentos. Ele pode vir de livros, leis, dados estatísticos, filmes, séries e, claro, músicas e letras. Usá-lo corretamente é essencial para a Competência 2, que avalia sua habilidade de aplicar conceitos de várias áreas no desenvolvimento do tema.
Os 3 pilares do repertório de sucesso
Para o seu repertório brilhar na correção, ele precisa cumprir três critérios:
Legitimado
Deve vir de uma fonte confiável e pertencer a alguma área do conhecimento (acadêmica, histórica, científica ou culturalmente reconhecida). No caso do trap, isso significa conectá-lo a estudos sociológicos, antropológicos ou históricos que o reconheçam como expressão cultural e social.
Pertinente
A referência precisa ter relação direta e clara com o tema da redação. Não adianta citar algo sem conexão real com o assunto, pois isso é considerado impertinente.
Produtivo
Talvez o mais difícil. O repertório não pode ser usado só por usar; ele deve aprofundar seu argumento, ajudando a construir seu raciocínio de forma sólida. Muitos alunos até citam repertórios, mas sem conectar ao tema ou sem explorar a fundo. Para ser produtivo, ele precisa fazer seu texto avançar, e não ser apenas uma frase solta.
Por que o trap é válido como repertório?
O trap é um dos estilos musicais que mais crescem por aqui. Entre 2016 e 2019, o consumo de trap no Spotify aumentou 61% ao ano no Brasil. Nomes como Matuê, Recayd Mob, Raffa Moreira, Sidoka, Ebony, FBC e Djonga mostram a força do gênero, que vai muito além da música: ele expressa a cultura e as vivências da periferia.
Essa popularidade é um reflexo cultural que faz parte da bagagem de muitos estudantes. Por isso, o trap se torna um repertório autêntico, mostrando ao avaliador que você está ligado no mundo atual.
Reconhecimento acadêmico e sociológico
Mesmo que os estudos sobre trap ainda sejam poucos na área de música, antropologia, sociologia e história já o reconhecem como objeto de análise cultural. Pesquisas discutem como ele conecta pessoas, cria resistência frente à desigualdade e problematiza as relações culturais. Assim, citar o trap com base em estudos sociológicos ou antropológicos garante sua legitimidade. Você pode escrever, por exemplo: “Conforme análises sociológicas sobre o trap brasileiro…” ou “O trap, enquanto fenômeno cultural estudado pela antropologia…”. Isso mostra embasamento e eleva sua redação.
Temas sociais e culturais no trap
O trap brasileiro, assim como o rap, serve como uma plataforma para discutir e denunciar diversas questões sociais e culturais que permeiam a realidade brasileira. Ele coloca em evidência a “realidade em que vivem em temas abrangentes”.
Desigualdade social e a realidade da periferia
As letras de trap frequentemente retratam as lutas e vivências das favelas e periferias, expressando a complexidade e a resistência desses espaços. A música é um modo de resistência que denuncia e descortina as lutas e desigualdades. O gênero possui uma função política de reivindicar direitos contra um sistema capitalista opressor. Exemplos:
- “Coração Gelado” (DJ Boy)
- “VOZ” (Djonga)
Racismo e luta por direitos
Assim como o rap desde os anos 80, o trap continua a criticar a discriminação social e o racismo. A música é vista como uma forma de garantia de direitos para indivíduos antes marginalizados. Ela promove uma luta social para que suas composições sejam reconhecidas no campo musical e suas identidades sejam valorizadas. Exemplo:
- “Identidade Preta” (Emicida, Jorge Aragão)
Cultura da ostentação como afirmação
Um aspecto notório do trap é a cultura da ostentação, que pode parecer superficial, mas é, na verdade, uma metáfora da ascensão social e do prestígio que extrapola os limites do subúrbio. É uma forma de mostrar que, através da música, indivíduos marginalizados podem acessar bens e espaços antes negados, reafirmando sua identidade e ocupando o lugar de sujeito no mundo. A exibição de luxo é, nesse contexto, uma forma de garantia de direitos. Exemplos:
- “10 K” (Raffa Moreira)
- “Cash Cash” (Ebony)
Urbanização e impactos sociais
A representação da urbanização e da vida nas favelas no trap oferece uma perspectiva concreta e experiencial sobre o planejamento urbano, a desigualdade habitacional e a exclusão social. Isso torna o gênero altamente pertinente para temas ambientais ou sociais no Enem, movendo a discussão de conceitos abstratos para realidades vividas. Permite que os estudantes humanizem questões políticas abstratas, demonstrando empatia e uma compreensão abrangente dos problemas sociais. Exemplo:
- “Urbanização #01” (BranKobran)
- “Favela Vive” (ADL)
- “Pianista da Rua 6” (Tribo da Periferia)
Como usar o trap na redação do Enem
Escolha trechos relevantes
Antes de tudo, a música que você escolher precisa ter uma ligação clara e direta com o tema da redação. Evite forçar conexões só porque gosta de uma música específica – se a relação não for óbvia e bem fundamentada, o repertório pode acabar sendo considerado impertinente.
Outro ponto essencial é o cuidado com a linguagem: o Enem exige formalidade, então evite citar trechos com palavrões ou expressões ofensivas. Dê preferência às partes que, mesmo sendo críticas, mantenham um tom adequado ao ambiente acadêmico.
Contextualize e analise
Não adianta só colocar a citação no texto e deixar por isso mesmo. É fundamental contextualizar – explicar de onde vem aquele trecho, qual é a mensagem da música e por que ele está ali no seu texto.
Para aprofundar a análise, tente relacionar o que a música diz com acontecimentos históricos ou com o contexto social que representa. Por exemplo, se você citar uma música que fala sobre a vida na favela, pode conectar essa letra com dados sobre urbanização, segregação socioespacial ou índices de desigualdade.
Cite corretamente
Quando for citar um trecho da música, sempre use aspas e mencione o nome do artista ou grupo. Se a música for em outra língua, escreva o título original e explique em português o que ela diz. Se citar um verso, apresente também a tradução. Isso evita usar palavras em outros idiomas no corpo do texto e mantém a clareza da redação.
Além disso, sua citação deve se encaixar naturalmente no parágrafo. Ela pode aparecer na introdução para contextualizar o tema, no desenvolvimento para sustentar um argumento ou até na conclusão para reforçar sua tese. Só evite que ela pareça um “corpo estranho” no texto, algo que não combina com o restante da redação.