Enem 2025: temas de redação para treinar em Junho

Preparamos uma seleção de temas de redação com propostas inéditas, análise dos assuntos e caminhos para construir textos nota mil no Enem.

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Bate aquela ansiedade só de pensar na redação do Enem, né? Surgem logo as dúvidas: ‘Será que vou saber o tema?’ ou ‘Será que tenho repertório suficiente?’. Mas a verdade é que mandar bem na redação não tem a ver com escrever bonito — e sim com mostrar que você entende o mundo, sabe fazer conexões e propor soluções para os desafios da sociedade brasileira.

Estar por dentro dos assuntos mais debatidos no país é essencial. E foi pensando nisso que a gente preparou este post. Aqui, você vai encontrar temas superatuais que podem aparecer na sua redação, com contextualizações certeiras que te ajudam a desenvolver argumentos consistentes e bem fundamentados. A ideia é te ajudar a entender cada tema, enxergar possibilidades de análise e organizar suas ideias com clareza e objetividade.

Afinal, a redação é mais do que uma nota — é a sua chance de se posicionar. Vamos nessa?

A gentrificação nas cidades brasileiras e seus impactos sociais

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A gentrificação é um processo complexo que descreve a valorização e o investimento em bairros populares, atraindo moradores com maior poder aquisitivo. Esse movimento desencadeia o aumento exponencial dos preços de aluguéis e do custo de vida, resultando no deslocamento forçado de famílias tradicionais e de baixa renda, e, muitas vezes, na perda da identidade cultural e da memória afetiva da região.

Revitalização ou exclusão?

Não é raro ouvir termos como “reurbanização”, “requalificação” ou “revitalização” sendo usados para justificar intervenções urbanas ligadas à gentrificação. No entanto, é fundamental adotar um olhar crítico sobre esse tipo de discurso, pois, em alguns casos, as mudanças urbanas promovidas acabam favorecendo interesses econômicos específicos, como os do mercado imobiliário, em detrimento da permanência de comunidades historicamente estabelecidas.

A valorização dessas áreas, acompanhada de novos investimentos e infraestrutura, pode tornar o custo de vida local inviável para parte da população original. Exemplos como o projeto da Cidade Olímpica, no Rio de Janeiro, e as obras previstas para a COP30, em Belém, evidenciam como grandes eventos e reconfigurações urbanas podem levar a remoções e deslocamentos, ainda que apresentadas sob uma narrativa de modernização e desenvolvimento.

Como a gentrificação acontece?

O processo de gentrificação é frequentemente gradual e quase imperceptível no início, dificultando a resistência da população afetada. Bairros com localização estratégica e imóveis acessíveis começam a atrair novos moradores com maior renda, artistas e pequenos empreendedores em busca de alternativas mais baratas. Esses novos ocupantes reformam propriedades e abrem negócios como cafés, galerias e boutiques, elevando o valor percebido da região. Em pouco tempo, o que era um bairro popular se transforma em um espaço elitizado, com novos comércios e serviços moldados para esse novo público, em detrimento da população original e seus hábitos de consumo.

Efeitos sociais e culturais: quem fica e quem é forçado a sair?

O impacto mais direto da gentrificação é o deslocamento de famílias que não conseguem mais arcar com o novo custo de vida. Além da mudança física, essas pessoas perdem vínculos comunitários, enfrentam dificuldades de adaptação e sofrem perdas afetivas profundas. A cidade, que deveria acolher e integrar, acaba por fragmentar.

A gentrificação também fortalece a criminalização da pobreza. Remoções forçadas são frequentemente justificadas por discursos de “segurança” ou “ordem urbana”, sem garantia de reassentamento digno. A ação do Estado, nesse contexto, não é neutra: ela se torna cúmplice da exclusão, seja por meio de políticas públicas seletivas, seja pela repressão policial em territórios marginalizados.

A dura realidade desse processo é vívida no relato de Carolina Maria de Jesus em seu diário “Quarto de Despejo”. Ao descrever a vida na favela do Canindé na década de 1950, Carolina revela a luta diária por moradia digna, a precariedade das condições e a constante ameaça da remoção, expondo a face humana da pobreza e a fragilidade dos laços sociais quando as pessoas são forçadas a se mudar. O livro de Carolina serve como um repertório sociocultural fundamental para entender como o “progresso” urbano pode ter um impacto devastador e excludente sobre as comunidades mais vulneráveis.

O direito à cidade como privilégio

Mais do que uma questão puramente imobiliária ou econômica, a gentrificação é um fenômeno com implicações diretas nos direitos humanos fundamentais, como o direito à moradia, ao trabalho, à cultura e à cidade. Ela revela como o planejamento urbano pode ser instrumentalizado para reforçar hierarquias sociais e econômicas, transformando o que deveria ser um direito universal — o de viver com dignidade na cidade — em um privilégio restrito a poucos.

A luta contra a gentrificação passa, portanto, pela construção de políticas urbanas mais justas e inclusivas, pela valorização das culturas locais e da memória dos bairros, e pela garantia de participação popular efetiva nas decisões sobre o futuro das cidades. É fundamental o fortalecimento de movimentos sociais urbanos e a pressão por legislações que promovam a função social da propriedade, combatam a especulação e garantam o acesso à moradia digna para todos.

Como abordar esse tema na redação do Enem

O tema da gentrificação permite uma abordagem crítica que interliga planejamento urbano, desigualdade social e direitos humanos em uma redação. O estudante pode refletir sobre os fatores econômicos e sociais que impulsionam a gentrificação e propor soluções que considerem tanto a valorização do espaço urbano quanto a garantia do direito à moradia e à permanência das populações originais.

Repertórios possíveis para a redação:

  • Constituição Federal de 1988: Artigos que tratam da função social da propriedade urbana (Art. 182, §2º) e do direito à moradia (Art. 6º).
  • Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001): Instrumento legal que estabelece diretrizes gerais da política urbana, visando a função social da cidade e da propriedade. Pode ser usado para argumentar sobre a falta de aplicação ou falhas na lei.
  • Conceito de “Direito à Cidade” (Henri Lefebvre): A ideia de que o espaço urbano deve ser acessível e usufruído por todos os cidadãos, não apenas por elites.
  • Movimentos Sociais por Moradia: A atuação de grupos como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e outros que lutam contra remoções e pela garantia de moradia digna em
  • Documentários e Filmes: Mencione produções que retratam a vida em grandes cidades e as transformações urbanas, como “Era o Hotel Cambridge” (sobre ocupações urbanas em São Paulo).

O futuro da educação no Brasil e os desafios da hibridização entre o ensino presencial e à distância

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O ensino híbrido – ou blended learning – surge como uma abordagem educacional que mescla as experiências do ensino presencial com os vastos recursos do ambiente digital. Essa metodologia busca se adaptar às demandas da educação contemporânea, prometendo maior flexibilidade e personalização. No entanto, sua implementação no Brasil, um país de dimensões continentais e grandes desigualdades, apresenta um conjunto complexo de prós e contras que merecem uma análise aprofundada.

Os benefícios do Ensino Híbrido

O ensino híbrido traz vantagens bem claras para quem estuda, para os professores e para as escolas. Pense na flexibilidade: os alunos podem escolher onde e quando estudar a parte online, o que os ajuda a gerenciar outras responsabilidades. Isso também promove maior autonomia sobre o próprio aprendizado.

Além disso, o ensino híbrido permite um aprendizado mais personalizado. Com as ferramentas digitais, o professor pode ver onde cada aluno precisa de mais ajuda ou onde pode ir mais rápido, criando um caminho de estudo sob medida. Isso libera o tempo presencial para o professor focar em conversas, projetos em grupo e habilidades sociais. Além disso, a internet abre um mundo de vídeos, podcasts e simuladores, deixando a aula mais interessante e preparando os alunos com habilidades digitais que são superimportantes para o futuro.

Os desafios do Ensino Híbrido

Apesar dos benefícios, a implementação eficaz do ensino híbrido no Brasil enfrenta desafios significativos. O maior deles é a desigualdade digital e a exclusão social, com a pesquisa TIC Educação 2023 revelando que uma parcela considerável das escolas públicas, especialmente as rurais, ainda não possui acesso adequado à internet banda larga, e muitos alunos não têm dispositivos em casa, criando uma lacuna educacional profunda. Soma-se a isso a infraestrutura tecnológica escolar inadequada em muitas redes públicas, com problemas de conexão e manutenção, que comprometem a eficácia das atividades online e presenciais com tecnologia.

Outros desafios incluem a formação insuficiente de professores, que precisam desenvolver novas competências pedagógicas e digitais, e a necessidade de alunos desenvolverem habilidades de autorregulação para o estudo independente, que nem sempre são ensinadas formalmente. Isso pode levar à fragmentação da qualidade pedagógica, onde as atividades online e presenciais não se integram de forma coerente, resultando em um aprendizado superficial. Além disso, a diminuição da interação presencial pode impactar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e a saúde mental dos estudantes.

Como abordar esse tema na redação do Enem

O tema do ensino híbrido no Brasil permite uma abordagem que conecte tecnologia, inclusão social e políticas públicas. Numa redação com este tema, o estudante pode analisar como a fusão do presencial e a distância se apresenta como um caminho promissor, mas também quais são os desafios para garantir que essa “inovação” não aprofunde as desigualdades existentes.

Repertórios possíveis para a redação:

  • Constituição Federal de 1988: Artigos sobre o direito à educação (Art. 205 a 214) e o princípio da igualdade (Art. 5º), argumentando a necessidade de acesso equitativo à tecnologia na educação.
  • LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados – Lei 13.709/2018): Essencial para discutir as preocupações com privacidade e segurança dos dados dos estudantes em plataformas digitais.
  • “Exclusão Digital” (Manuel Castells): Pode ser utilizado a partir de como a falta de acesso à internet e dispositivos cria uma nova forma de exclusão social e educacional.
  • Pandemia de COVID-19: A experiência do ensino remoto emergencial durante a pandemia revelou drasticamente as desigualdades digitais e a falta de preparo para a transição para o ambiente online. Use como um caso de estudo sobre os desafios do ensino híbrido.

O fenômeno das “bolhas sociais” nas redes e seus reflexos na polarização

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As bolhas sociais podem ser entendidas como um tipo de confinamento de informações. Basicamente, ao usar plataformas online, as pessoas são expostas principalmente a conteúdos e opiniões que já batem com suas próprias ideias e o que elas já acreditam. Esse ambiente acaba limitando a variedade de ideias e perspectivas que alguém consegue ver.

Esse fenômeno faz parte das grandes mudanças tecnológicas, econômicas, sociais e políticas que vivemos na chamada Sociedade da Informação (conceito desenvolvido também por Manuel Castells). Um conceito parecido é o de câmaras de eco (termo foi cunhado pelo ativista Eli Pariser), onde uma informação ou ideia é repetida e reforçada sem parar dentro de um grupo fechado, sem que novas visões cheguem — como um eco.

Esse ciclo de repetição e confirmação de ideias amplifica as crenças que já existiam, tornando-as mais fortes e, aos poucos, diminuindo nossa capacidade de pensar criticamente e de formar opiniões bem fundamentadas, restringindo a liberdade intelectual.

Como os algoritmos moldam nossas percepções

O coração da formação das bolhas sociais está nos algoritmos das plataformas digitais.

Esses sistemas de computador processam uma enorme quantidade de dados sobre o que a gente faz online — como cliques, curtidas e interações. Eles são criados para nos mostrar o que acham que vamos querer ver, com base no nosso histórico. Ao dar prioridade a conteúdos que geram mais engajamento – que muitas vezes são justamente aqueles que confirmam nossas ideias –, os algoritmos criam um ciclo vicioso que nos mantém presos dentro de nossas bolhas de informação.

Essa forma como os algoritmos filtram a realidade, que chamamos de curadoria invisível, é muito importante. Longe de serem ferramentas neutras, os algoritmos agem como verdadeiros curadores da nossa dieta de informações. Isso faz com que o usuário perca o controle sobre a própria experiência online, que é moldada por interesses comerciais e de engajamento.

Impactos na democracia e na polarização social

A consequência mais preocupante das bolhas sociais é o impacto direto na democracia. Quando elas se juntam à disseminação de notícias falsas (Fake News) e à perda de valores importantes para a república, as bolhas podem prejudicar o ambiente democrático, dificultando que os cidadãos façam escolhas informadas e racionais. Isso acontece porque, ao sermos expostos a apenas uma parte da informação e a narrativas que confirmam o que já pensamos, perdemos a capacidade de debater de forma construtiva e de entender pontos de vista diferentes.

A polarização social é amplificada, pois as pessoas ficam mais radicais em suas próprias convicções, passando a ver quem está fora de suas bolhas de informação como “inimigos” ou pessoas desinformadas. A falta de fatos em comum e de um espaço para o diálogo racional torna mais difícil resolver problemas que afetam a todos e construir acordos, algo essencial para o funcionamento de uma sociedade democrática. No fim das contas, a base da democracia fica enfraquecida, já que o debate racional é substituído por respostas emocionais e lealdade a grupos, comprometendo a capacidade da sociedade de lidar com seus desafios de forma unida e deliberativa.

Como abordar esse tema na redação do Enem

Ao tratar das bolhas sociais, você pode discutir como elas afetam a democracia, o acesso à informação e a convivência com a diversidade. Argumente na redação sobre os riscos da segmentação algorítmica e da desinformação, relacionando a questão com a coesão social e o pensamento crítico.

Repertórios possíveis para a redação:

  • “Capital Social” (Robert Putnam): Embora Putnam foque na importância das redes sociais para a confiança e a cooperação na sociedade, você pode argumentar, por contraste, que as bolhas sociais digitais corroem o capital social ao criar comunidades fragmentadas e menos tolerantes a diferentes pontos de vista, dificultando a coesão social.
  • “Pós-Verdade”: Termo amplamente discutido, especialmente após 2016, que se refere a circunstâncias em que fatos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais. As bolhas sociais são um terreno fértil para a pós-verdade, pois a circulação de informações enviesadas e emoções sobrepõe-se à checagem de fatos.
  • “Fahrenheit 451” (Ray Bradbury): Nesta distopia, a sociedade se afasta dos livros e do pensamento crítico, preferindo o entretenimento superficial e a uniformidade de pensamento. Pode ser usado para argumentar que as bolhas, ao restringir o acesso à diversidade de informações, podem levar a uma sociedade menos engajada com o conhecimento e mais suscetível à manipulação.
  • “Privacidade Hackeada” (The Great Hack – Netflix): Foca no escândalo da Cambridge Analytica e como dados de usuários foram usados para influenciar eleições, ilustrando o poder dos algoritmos e da segmentação de informações na formação de bolhas.

A fome e o desperdício de alimentos como problemas sociais no Brasil contemporâneo

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Entre 2020 e 2022, o Brasil testemunhou um salto alarmante na insegurança alimentar grave, atingindo 33,1 milhões de pessoas, um aumento de 14 milhões. Dados da Rede Penssan revelam que menos da metade das famílias brasileiras (4 em cada 10) têm acesso completo a alimentos, e a maioria (58,7%) vive em algum nível de insegurança alimentar. Essa crise é multifacetada, impulsionada pelo enfraquecimento de programas sociais, crise econômica, efeitos da pandemia de COVID-19 e aumento da desigualdade.

A fome, em sua essência, não é uma questão de escassez produtiva, mas sim um problema político e econômico. A capacidade do Brasil de produzir vastas quantidades de alimentos enquanto milhões sofrem de fome escancara falhas graves na distribuição e no acesso. Para combater a fome, é crucial ir além da produção, garantindo melhor distribuição de renda, fortalecimento de programas de apoio social e acesso justo aos alimentos.

A origem do desperdício de alimentos

Em contraste com a fome, o desperdício é massivo. A ONU estima que 17% dos alimentos disponíveis ao consumidor são jogados fora, sendo a maior parte (60%) gerada nas residências. Além disso, 14% dos alimentos se perdem entre a colheita e a venda. No Brasil, famílias desperdiçam, em média, 128,8 kg por ano, e supermercados descartam grandes volumes de perecíveis. Esse desperdício não é só um problema social, mas também ambiental, contribuindo para as emissões de gases do efeito estufa.

As causas são diversas: desde decisões de mercado e problemas logísticos até hábitos de consumo, como a preferência por alimentos “bonitos” e a falta de planejamento. O desperdício reflete tanto falhas estruturais quanto escolhas individuais, apontando para a necessidade de mudanças legislativas e comportamentais.

A conexão cruel: fome, desperdício e soluções

Reduzir o desperdício é fundamental para a segurança alimentar global. A economia circular surge como uma estratégia promissora, propondo repensar o uso dos alimentos em todas as etapas: desde a diminuição de perdas na produção e transporte, passando pelo aproveitamento integral de alimentos e doação de excedentes, até a compostagem.

Essa abordagem crítica ao modelo atual é urgente. A coexistência de fome e desperdício é um sintoma de um sistema econômico ineficiente e injusto. A transição para uma economia circular alimentar não só beneficia o meio ambiente, mas é, sobretudo, uma questão de justiça social, visando um futuro onde a alimentação seja um direito universalmente garantido.

Como abordar esse tema na redação do Enem

Para enriquecer sua redação sobre fome e desperdício, explore conceitos e referências que conectam essas questões às esferas social, econômica, política e ambiental.

Repertórios possíveis para a redação:

  • Questão Agrária: Refere-se à estrutura de posse e uso da terra, à distribuição de recursos e à produção de alimentos. A concentração de terras e a priorização de commodities para exportação, em vez de alimentos para o consumo interno, podem agravar a fome e influenciar o desperdício.
  • Lei nº 14.016/2020 (Lei do Desperdício de Alimentos): Essa lei busca combater o desperdício e incentivar a doação de alimentos no Brasil, estabelecendo regras para a doação por estabelecimentos. Mencionar essa lei demonstra conhecimento sobre as tentativas de solução.
  • “Super Size Me – A Dieta do Palhaço” (Morgan Spurlock): Embora foque na indústria do fast food e na obesidade, pode ser adaptado para discutir a irracionalidade do sistema alimentar moderno que prioriza certos tipos de produção em detrimento da nutrição e do acesso equitativo.

A obsolescência programada e o consumo sustentável

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A obsolescência programada consiste em projetar produtos para terem uma vida útil limitada intencionalmente, impulsionando a compra de novos itens e mantendo um ciclo de consumo constante. Essa estratégia não é nova, remontando à indústria automobilística nos EUA em 1924 (General Motors) e ao famoso Cartel Phoebus (1924), onde fabricantes de lâmpadas reduziram deliberadamente a durabilidade dos produtos para 1.000 horas.

Existem diversas formas dessa obsolescência: sistêmica (incompatibilidade com novas versões de software), perceptiva (o produto “sai de moda” rapidamente), datada (para de funcionar em uma data específica) ou legal (uso proibido por lei). Essa prática é uma engenharia da demanda artificial, uma escolha estratégica no design do produto visando lucro. Ela revela um lado do capitalismo moderno que prioriza a produção e venda contínuas, transformando o consumo em um ciclo forçado e criando uma mentalidade de descarte, ignorando a durabilidade e a sustentabilidade.

Consequências ambientais e econômicas

A consequência mais evidente da obsolescência programada é o aumento exponencial do lixo eletrônico. Em 2018, mais de 50 milhões de toneladas foram produzidas globalmente, com projeção de 120 milhões até 2050, e apenas 20% descartados corretamente.

Essa vasta quantidade de lixo, somada à exploração excessiva de recursos naturais (muitos deles raros, como o cobalto de regiões de conflito com exploração infantil), causa severa destruição ambiental e contribui para as mudanças climáticas. Os ciclos de fabricação mais curtos demandam muita matéria-prima e energia, além de aumentar a poluição do ar pelo transporte. Notavelmente, 90% da poluição na produção de um computador ocorre na fabricação e extração de matéria-prima, enquanto apenas 10% durante seu uso. Isso expõe o custo humano e geopolítico do consumo exagerado.

Quais as alternativas?

A principal alternativa à obsolescência programada é a economia circular. Diferente do modelo linear “extrair, produzir, usar, descartar”, ela propõe reutilizar, consertar e reciclar materiais e produtos para maximizar sua vida útil.

Individualmente, podemos evitar compras desnecessárias, preferir produtos reciclados ou recondicionados e sempre tentar consertar o que quebra. Doar itens não mais úteis e descartar eletrônicos em locais apropriados para reciclagem também são cruciais. Coletivamente, a luta envolve a criação de leis que exijam produtos mais duráveis e garantam o “Direito de Consertar” (como o movimento europeu “Right to Repair”). No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, já responsabiliza as empresas pela logística reversa de seus produtos.

A economia circular redefine o valor dos produtos. Ela vai além da reciclagem, visando redesenhar o ciclo de vida dos produtos para evitar lixo e poluição, manter materiais em circulação e até restaurar a natureza. Esse modelo se opõe à lógica de lucro rápido da obsolescência programada, integrando durabilidade, possibilidade de conserto e reciclagem ao design e aos modelos de negócio. Assim, a economia circular busca maximizar o valor dos produtos e minimizar o impacto ambiental.

Como abordar esse tema na redação do Enem

Para uma redação concisa e impactante sobre obsolescência programada e consumo sustentável, sua argumentação deve ligar a prática industrial à cultura de consumo, às consequências ambientais e sociais, e às possíveis soluções.

Repertórios possíveis para a redação:

  • Economia da Escassez vs. Economia da Abundância: Você pode contrastar a lógica capitalista que historicamente se baseou na superação da escassez (produzir mais para atender a mais pessoas) com o cenário atual de “abundância” (superprodução) que, para se manter, precisa de mecanismos como a obsolescência programada para criar demanda artificial.
  • “Sociedade do Desempenho” ou “Sociedade do Consumo” (Zygmunt Bauman): Bauman argumenta que, na modernidade líquida, o consumo não é apenas a satisfação de necessidades, mas uma forma de afirmação de identidade e status, impulsionando a busca incessante por novidades, o que se alinha perfeitamente com a obsolescência perceptiva.
  • Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei nº 12.305/2010): Vale reforçar que ela estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, incluindo a logística reversa. Isso coloca as empresas como corresponsáveis pelo lixo gerado, sendo uma ferramenta legal importante contra a obsolescência.

A precarização do trabalho nos aplicativos de entrega no Brasil

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A “uberização” é um fenômeno social que descreve o crescimento exponencial de plataformas digitais que conectam trabalhadores a consumidores, como em apps de transporte e entrega. Em vez de um emprego com carteira assinada, os trabalhadores se conectam direto aos clientes por meio desses aplicativos. No Brasil, esse modelo cresceu ainda mais depois da Reforma Trabalhista de 2017 (Lei 13.467/2017), que mudou várias regras sobre o que é, ou não, uma relação de trabalho.

O problema é que, muitas vezes, essas empresas não reconhecem vínculo empregatício com quem trabalha para elas. Isso significa que milhões de pessoas ficam sem acesso a direitos básicos, como férias, 13º salário ou aposentadoria — e ainda enfrentam uma rotina de insegurança e instabilidade.

Apesar de parecer algo moderno ou parte da chamada “economia compartilhada”, a uberização só se espalhou tão rápido porque a legislação abriu espaço para isso. A Reforma flexibilizou pontos importantes da relação entre empresa e trabalhador, o que acabou facilitando esse cenário de precarização. Ou seja, as leis têm um papel fundamental: dependendo de como são feitas, podem proteger quem trabalha — ou deixar brechas que tornam tudo mais desigual.

Condições de trabalho e a perda de direitos

Estudos do Ipea (Plataformização e Precarização do Trabalho de Motoristas e Entregadores no Brasil, lançado em 2024) revelam a piora das condições de trabalho para motoristas e entregadores de aplicativos. Eles enfrentam jornadas mais longas (27,3% dos motoristas trabalham 49-60 horas/semana em 2022) e renda média em declínio (motoristas de R$3.100 para menos de R$2.400; entregadores de R$2.250 para R$1.650). As contribuições previdenciárias também despencaram, evidenciando a perda de proteção social.

Apesar dos dados alarmantes, muitos trabalhadores repetem a ideia de que são “empreendedores de si mesmos”. Essa ideologia é uma poderosa ferramenta das plataformas para individualizar problemas sistêmicos e eximi-las de responsabilidades trabalhistas, dificultando a organização e a busca por melhores condições.

Debates e desafios para a regulação no Brasil

A falta de legislação específica para a “economia colaborativa” gera decisões judiciais contraditórias no Brasil. Há um intenso debate para criar normas que garantam direitos sem inviabilizar o modelo de negócios, buscando uma nova cultura jurídica que priorize a realidade do trabalho.

A flexibilização do Direito do Trabalho, frequentemente justificada como “solução econômica”, na verdade reduz proteções e transfere riscos para os trabalhadores. Essa escolha política visa o lucro empresarial, resultando em maior informalidade, menos benefícios, jornadas exaustivas, empobrecimento e aumento de doenças ocupacionais. Leis como a da Terceirização e a Reforma Trabalhista de 2017 exemplificam como a flexibilização contribui para a precarização.

Impactos da flexibilização: menos direitos e mais insegurança

A flexibilização do trabalho tem efeitos negativos comprovados: ela fragmenta o trabalho, resultando em menos direitos, mais subcontratação e empregos em tempo parcial, mesmo com alto desemprego. Em vez de gerar vagas de qualidade, essa abordagem transforma ocupações existentes em formas mais vulneráveis de trabalho.

Isso leva a um aumento da informalidade e do trabalho autônomo, transferindo riscos e incertezas econômicas diretamente para os trabalhadores. Eles perdem a segurança do contrato formal, benefícios (férias, 13º salário) e proteção social. A realidade são jornadas mais longas, menos descanso, empobrecimento e mais doenças relacionadas ao trabalho.

Como abordar esse tema na redação do Enem

Para aprofundar a discussão sobre a precarização do trabalho por aplicativos em uma redação, você pode usar referências que abordam a evolução das relações de trabalho, o papel da tecnologia, a busca por direitos e as ideologias por trás desse fenômeno.

Repertórios possíveis para a redação:

  • Toyotismo/Pós-Fordismo: Contraste o modelo de organização do trabalho que valoriza a flexibilidade, a produção “just-in-time” e a descentralização com os modelos anteriores (Fordismo), para mostrar como a uberização é uma nova fase da flexibilização do capital sobre o trabalho.
  • “Capitalismo de Plataforma” (Nick Srnicek): Este conceito descreve as empresas de tecnologia (como as de aplicativos) como a nova forma dominante de capitalismo. Srnicek argumenta que essas plataformas não são apenas mediadoras, mas exploram dados e trabalho, concentrando capital e poder, enquanto disfarçam a exploração sob a roupagem da “economia compartilhada”.
  • “Direito ao Ócio” (Paul Lafargue): Em contraste com as longas jornadas e a ausência de direitos dos trabalhadores de aplicativos, o conceito de Lafargue critica a “paixão pelo trabalho” e defende o direito ao lazer e à redução da jornada, o que ressalta a inversão de valores na uberização.
  • “Metrópolis” (Fritz Lang): Filme expressionista alemão (1927) que retrata uma sociedade distópica onde trabalhadores são meras engrenagens de uma máquina, desumanizados pela exploração. Pode ser uma metáfora visual para a invisibilidade e desumanização dos trabalhadores de plataforma.

Outros temas que merecem sua atenção

Além dos sete temas que já discutimos, separamos mais três sugestões super importantes, que estão super em alta e que já foram trabalhadas aqui no Curso Enem Gratuito. Eles são uma ótima chance para você ampliar seu repertório e se preparar para diferentes abordagens. Fique atento a eles:

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Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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