Revise a vida e a obra de Euclides da Cunha, um dos principais escritores do Pré-Modernismo brasileiro, consagrado pelo êxito de seu livro Os Sertões.
Nesta aula você vai conhecer um pouco da vida do escritor pré-modernista Euclides da Cunha e sua principal obra – Os Sertões. Sua obra continua relevante no âmbito nacional, é estudada no mundo acadêmico e constantemente cobrada nos vestibulares e no Enem. Além disso, Os Sertões figura como um marco da prosa regionalista na literatura brasileira, reunindo características realistas, naturalistas e modernistas em uma única obra.
Quem foi Euclides da Cunha
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu na Fazenda da Saudade, em Cantagalo, RJ, em 20 de janeiro de 1866. Além de escritor, exerceu os ofícios de engenheiro militar, jornalista, ensaísta e historiador.
Filho de Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, natural da Bahia, e Eudóxia Moreira da Cunha. Seu pai era guarda-livros nas fazendas de café da Província do Rio de Janeiro. Em 1869, com três anos de idade, perde a mãe. No ano seguinte, transfere-se com a irmã mais nova, Adélia, para Teresópolis, aos cuidados dos tios Rosinda e Urbano Gouveia. Esta última o acolhe, mas morre pouco depois, em 1871. Tal fatalidade levou os dois órfãos a morarem em São Fidélis, com a tia Laura Moreira Garcez, casada com o coronel Magalhães Garcez.
Euclides da Cunha inicia a vida escolar em 1874, naquela cidade, no Colégio Caldeira, do português republicano Francisco José Caldeira. Em 1877 muda-se para a casa dos avós paternos, em Salvador, passando a estudar no Colégio Carneiro Ribeiro, do grande filólogo baiano. Em 1879 retorna ao Rio, residindo com o tio Antônio Pimenta da Cunha.
Estuda nos colégios Anglo-americano, Vitório da Costa e Meneses Vieira, até transferir-se, em 1883, para o conhecido Externato Aquino. No ano seguinte, a 4 de dezembro, publica o seu primeiro artigo no jornal O Democrata, que fundara com outros colegas. No mesmo período escreve um livro de poemas, Ondas, que ficará inédito.
Matricula-se na Escola Politécnica, e, por falta de recursos, transfere-se depois em janeiro de 1866, para a Escola Militar da Praia Vermelha. Esta instituição era gratuita e centro principal da propaganda republicana na Corte capitaneada por Benjamin Constant.
Euclides no exército e no jornalismo
Em 4 de novembro de 1888, o aluno Euclides da Cunha durante visita do Ministro da Guerra, o Conselheiro Tomás Coelho, sai de forma, e, em protesto contra a Monarquia, tenta quebrar seu sabre baioneta. Sem o conseguir, atira-o aos pés do Ministro. Perdoado pelo Imperador, é excluído do Exército em 14 de dezembro, seguindo para São Paulo, onde, logo em fins desse ano, passa a colaborar no A Província de São Paulo, futuro O Estado de São Paulo.
Com a proclamação da República é reconduzido ao Exército, promovido a alferes-estudante. Passa a colaborar na Gazeta de Notícias da Capital Federal. Em 8 de janeiro de 1890 matricula-se na Escola Superior de Guerra, onde é promovido a Segundo Tenente. No dia 10 de setembro, se casa com Ana Ribeiro, filha do General Solon Ribeiro.
Em 1891 matricula-se na Escola Superior de Guerra. No ano seguinte é promovido a Primeiro Tenente e recebe o título de Bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais. Volta a colaborar com O Estado de São Paulo.
Em 1893, Euclides reivindica, como previsto por lei para os engenheiros recém-formados, um ano de prática na Estrada de Ferro Central do Brasil, para a qual é nomeado em 16 de agosto. Com a Revolta da Armada, trabalha na construção de fortificações legalistas no Morro da Conceição. É transferido para a cidade mineira de Campanha, para a reforma de um quartel de 1895.
Em 13 de junho de 1896, deixa o Exército, reformado como Primeiro Tenente indo residir na cidade de São Paulo. A 18 de setembro é nomeado engenheiro-ajudante da Superintendência de Obras Públicas do Estado de São Paulo, viajando largamente pelo Estado.
Euclides e Canudos
Em 14 de março de 1897 publica no O Estado de São Paulo, os artigos “A nossa Vendeia”, sobre a guerra que se desenrolava em Canudos, no interior da Bahia. A convite de Júlio de Mesquita, proprietário do jornal, segue como correspondente de guerra, a 4 de agosto, na comitiva do Ministro da Guerra, o Marechal Bittencourt. Depois de alguns dias em Salvador, chega a Queimadas em 4 de setembro e, três dias depois, a Monte Santo, quartel general das tropas legalistas.
No dia 16 de setembro chega finalmente aos arredores de Canudos, testemunhando os últimos momentos do conflito, escrevendo artigos e recolhendo observações. De volta ao Rio de Janeiro em 17 de outubro, segue para a fazenda de seu pai, em Belém do Descalvaldo.
Os sertões
Em 19 de janeiro de 1898 publica em O Estado de São Paulo o artigo “Excertos de um livro inédito”, primeira aproximação do que seria Os sertões. Com a queda de uma ponte sobre o Rio Pardo, transfere-se para a cidade de São José do Rio Pardo encarregado da construção da ponte. Ao mesmo tempo que coordena a inteira reconstrução da ponte, trabalha no livro, na pequena barraca de sarrafos. Francisco Escobar, prefeito da cidade e homem de grande cultura se torna seu amigo e lhe presta grande colaboração.
Em 18 de maio de 1901 a ponte sobre o Rio Pardo é inaugurada com grandes festividades. Euclides se muda para São Carlos do Pinhal, atual São Carlos, nas atividades da Superintendência das Obras para trabalhar na construção do fórum da cidade.
No ano seguinte, por intermédio de Garcia Redondo e Lúcio de Mendonça, assina com a editora Laemmert o contrato para a edição de Os sertões. Euclides se muda para a Lorena. Lançado no fim do ano, o livro tem magnífica recepção de crítica e de público. De uma hora para a outra, se transforma numa celebridade nacional, autor de um monumento sem paralelo na literatura brasileira.
Em junho de 1903 é lançada a segunda edição de Os Sertões e Euclides da Cunha é eleito, a 21 de setembro, para a Academia Brasileira de Letras. Já no dia 20 de novembro, o escritor toma posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Euclides no Rio de Janeiro
Após demitir-se da Superintendência de Obras Públicas de São Paulo, é nomeado, em 15 de janeiro de 1904, engenheiro-fiscal da Comissão de Saneamento de Santos. Muda-se para o Guarujá, e prepara um relatório sobre a restauração do histórico forte de Bertioga.
Demite-se da Comissão de Saneamento, após desentendimento com o chefe. Desempregado, é indicado, por intermédio de José Veríssimo e Oliveira Lima, ao Barão do Rio Branco, para membro da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus. Após entrevista com o Barão, este o nomeia chefe da Comissão. Em 13 de dezembro de 1904 parte para o Amazonas.
A expedição em seis meses percorreu centenas de quilômetros em regiões inóspitas, com recursos materiais precários.
De volta ao Rio de Janeiro no início de 1906, apresenta o relatório da Comissão e permanece adido ao gabinete do Barão do Rio Branco. Toma posse na Academia Brasileira de Letras em 18 de dezembro, sendo recebido por Sílvio Romero. Publica Contrastes e confrontos, reunião de artigos, impresso no Porto, Portugal.
Em setembro de 1907 publica Peru versus Bolívia. Pronuncia, no Centro XI de Agosto da Faculdade de Direito de São Paulo, a conferência “Castro Alves e seu tempo”. Prefacia, neste ano, Poemas e canções, de Vicente de Carvalho, e Inferno verde, de Alberto Rangel. Termina a redação de À margem da história, que sairia no final do ano seguinte, como livro póstumo.
Em 1909 escreve uma carta-prefácio para O Norte, de Osório Duque-Estrada. Inscreve-se no concurso para a cadeira de Lógica no Colégio Nacional, nome de então do Colégio Pedro II. É classificado em segundo lugar, cabendo o primeiro ao filósofo cearense Farias Brito. Como ao Presidente da República era facultado por lei escolher entre os dois primeiros colocados, Euclides é nomeado, e professa a primeira aula no dia 21 de julho.
O escritor faleceu no Rio de Janeiro no dia 15 de agosto de 1909. Na manhã do referido dia, na Estação de Piedade, sucumbia no chão. Havia sido atingido por quatro tiros, todos disparados por Dilermando de Assis, amante de sua esposa.
Características da obra “Os sertões”
Uma das capas da obra de Euclides da Cunha, a qual possui uma ilustração da comunidade de Canudos
O livro tematiza a Guerra de Canudos (1896-1897), no interior da Bahia. Euclides da Cunha presenciou uma parte da guerra como correspondente do jornal O Estado de São Paulo. A obra pertence, ao mesmo tempo, à prosa científica e à prosa artística. Pode ser entendido como uma obra de Sociologia, Geografia, História ou crítica humana.
Mas também pode ser visto como o relato da vida sertaneja em sua luta diária contra a paisagem e a incompreensão das elites. Em virtude de seu enredo de proporções épicas, muitos críticos e pesquisadores consideram Os Sertões uma verdadeira epopeia, como Os Lusíadas, a Ilíada ou a Odisseia.
A obra pertence ao período literário do Pré-Modernismo. Seu estilo é conflituoso, angustiado, torturado, dando a impressão de sofrimento e luta. O autor faz uso de muitas figuras de linguagem e, com frequência, mistura termos de alta erudição técnico-científica com regionalismos populares e neologismos de sua própria criação.
Os Sertões é dividido em três partes: A terra, O homem e A luta.
A terra
Na primeira parte são estudados o relevo, o solo, a fauna, a flora e o clima da região nordestina. Cunha revelou que nada supera a principal calamidade do sertão: a seca. Registrou, ainda, que as grandes secas do Nordeste brasileiro obedecem a um ciclo de nove a doze anos, desde o século XVIII, numa ordem cabalística.
Segundo pesquisadores e especialistas em Antônio Conselheiro e na Guerra de Canudos, o registro fotográfico acima é o único existente. Na foto, vemos o líder espiritual morto, deitado no chão. A foto foi tirada duas semanas após sua morte, pelo fotógrafo Flávio de Barros, a serviço do Exército.
O homem
O determinismo julgava que o homem é produto do meio (geografia), da raça (hereditariedade) e do momento histórico (cultura). O autor faz uma análise da psicologia do sertanejo e de seus costumes. Nessa parte temos o Euclides da Cunha sociólogo e antropólogo, que mostra o habitante do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume; mas depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, o líder de Canudos.
Apresenta seu caráter, seu passado e relatos de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes capturados. Estas duas partes são essencialmente descritivas, pois na verdade “armam o palco” e “introduzem os personagens” para a verdadeira história, a Guerra de Canudos.
A luta
Fala sobre o que foi a Guerra de Canudos e explica com riqueza de detalhes os fatos dessa guerra que dizimou a população de Canudos. Uma descrição feita pelo jornalista e ao mesmo tempo pelo ser humano Euclides da Cunha.
Nessa parte ocorre o relato das quatro expedições a Canudos e o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra. Retratando minuciosamente movimento de tropas, o autor constantemente se prende à individualidade das ações e mostra casos isolados dos acontecimentos da guerra.
Videoaula sobre Euclides da Cunha
Veja a aula da nossa prof. Camila para ampliar seus estudos em Euclides da Cunha:
Exercícios sobre Euclides da Cunha
1- (Enem-2015)
TEXTO I
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987.
TEXTO II
Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um velho, coxo por ferimento e usando uniforme da Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto e magro, e um caboclo. Ao serem intimados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos meses, naquele recanto do território nacional.
SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902.
Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem uso de representações que se perpetuariam na memória construída sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos, respectivamente, como fruto da
a) manipulação e incompetência.
b) ignorância e solidariedade.
c) hesitação e obstinação.
d) esperança e valentia.
e) bravura e loucura.
2- (UEL-PR)
Nas duas primeiras décadas de nosso século, as obras de Euclides da Cunha e de Lima Barreto, tão diferentes entre si, têm como elemento comum:
a) a intenção de retratar o Brasil de modo otimista e idealizante.
b) a adoção da linguagem coloquial das camadas populares do sertão.
c) a expressão de aspectos até então negligenciados da realidade brasileira.
d) a prática de um experimentalismo linguístico radical.
e) o estilo conservador do antigo regionalismo romântico.
3- (PUC-RS)
A obra pré-modernista de Euclides da Cunha situa-se entre a ……………………… e a ……………………… .
a) História – Psicologia
b) Geografia – Economia
c) Literatura – Sociologia
d) Arte – Filosofia
e) Teologia – Geologia
Gabarito:
- E
- C
- C