Revise sobre o escritor baiano que é aclamado no Brasil e no exterior. Sua criatividade literária foi tanta que muitos de seus livros foram adaptados para o cinema e para a televisão.
Esta aula de Literatura para o Enem contempla um panorama da vida e da obra de Jorge Amado, a maior expressão literária do estado da Bahia. Pertencente à Segunda Geração do Modernismo Brasileiro, suas narrativas estão repletas de denúncia social e retratam as classes baianas marginalizadas.
Além disso, Jorge Amado foi o criador de personagens inesquecíveis, como Gabriela, Tieta, Pedro Bala, Dona Flor. Através de seus romances, o escritor também foi responsável por levar a nossa cultura para o exterior, dando visibilidade à literatura brasileira em outros continentes.
Personagens das obras de Jorge Amado
Você já deve ter ouvido falar sobre Capitães da Areia, ou sobre Dona Flor, aquela que tinha dois maridos. Ou sobre Tieta. Ou escutou o estribilho da modinha para Gabriela, na voz de Gal Costa: “Eu nasci assim, eu cresci assim, / E sou mesmo assim, vou ser sempre assim: / Gabriela, sempre Gabriela!”.
E o que esses nomes possuem em comum? A resposta poderá ser: são personagens em que suas histórias se desenrolam no cenário da Bahia.
Ou ainda: são histórias com personagens femininas marcantes, fortes, sensuais e determinadas.
Mas também estará correta se você disser: são criações do escritor Jorge Amado. Sim, Jorge Amado é o criador dessas histórias e personagens inesquecíveis.
São histórias e personagens tão queridos que foram adaptados para o cinema, televisão, teatro, música e até histórias em quadrinhos! Também foram traduzidos para o exterior, que passou a se interessar e ler ainda mais a literatura produzida em terras brasileiras. Isso só faz com que nos orgulhamos do legado de Jorge Amado, agradecendo por nos brindar com sua vasta produção literária.
Quem foi Jorge Amado
Primeiramente, o que preciso saber sobre a vida de Jorge Amado? Nascido Jorge Leal Amado de Faria em Itabuna, a 10 de agosto de 1912, foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
Publicou 49 livros, traduzidos para 55 países. Além disso, é um autor brasileiro que possui o maior número de obras adaptadas para o cinema e para a televisão.
Jorge Amado nasceu e morreu na Bahia, sendo Ilhéus o cenário mais frequente de seus livros. Ainda jovem fez suas primeiras contribuições para O Jornal. Mudou-se em 1930 para o Rio de Janeiro, onde se formou no curso de Direito. Porém, nunca exerceu a profissão.
Durante a década de 1930, a faculdade era um polo de discussões políticas e de arte, tendo ali travado seus primeiros contatos com o movimento comunista organizado. Tornou-se um jornalista, e envolveu-se com a política ideológica comunista, como muitos de sua geração.
Atuação política
Em 1946 foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em São Paulo, o que lhe rendeu fortes pressões políticas. Como deputado, foi o autor da emenda que garantiu a liberdade religiosa devido a ter visto o sofrimento dos que seguiam cultos africanos, bem como protestantes no Ceará serem saqueados por fanáticos com uma cruz à frente – buscou assinaturas até conseguir a aprovação da sua emenda, e desde então a liberdade religiosa tornou-se lei. Também foi autor da emenda que garantia direitos autorais.
Por outro lado, votou favoravelmente à emenda nº 3.165 do deputado carioca Miguel Couto Filho, a qual buscava proibir a entrada no País de japoneses de quaisquer idade e procedência.
Por conta de suas ideias revolucionárias, viveu exilado na Argentina, Uruguai, Paris e Praga. Foi altamente premiado em vida: recebeu o prêmio Camões, Jabuti, Nestlé, Graça Aranha e foi agraciado, na França, com os títulos honoríficos Commandeur de l´Ordre des Arts et des Lettres e Commandeur de la Légion d´Honneur.
Casou-se com a escritora Zélia Gatai com quem viveu até morrer. Juntos tiveram três filhos. Jorge Amado morreu em 6 de agosto de 2001. Curiosamente, a Rede Globo exibia, à época, a novela Porto dos Milagres, fruto de uma adaptação de duas obras do escritor baiano: A descoberta da América pelos turcos e Mar morto.
Assista ao programa Vox Populi, da TV Cultura, que entrevistou o escritor Jorge Amado, e conheça mais sobre um dos maiores romancistas de nossa literatura:
Obras de Jorge Amado
Jorge Amado afirmava: “Sou apenas um baiano romântico e sensual”. Tão romântico que escreveu muitos romances:
- O País do Carnaval (1931);
- Cacau (1933);
- Suor (1934);
- Jubiabá (1935);
- Mar morto (1936);
- Capitães da areia (1937);
- Terras do Sem-Fim (1943);
- São Jorge dos Ilhéus (1944);
- Seara vermelha (1946);
- Os subterrâneos da liberdade (1954);
- Gabriela, cravo e canela (1958);
- A morte e a morte de Quincas Berro d’Água (1959);
- Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso (1961);
- Os pastores da noite (1964);
- O Compadre de Ogum (1964);
- Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966);
- Tenda dos milagres (1969);
- Teresa Batista cansada de guerra (1972);
- Tieta do Agreste (1977);
- Farda, fardão, camisola de dormir (1979);
- Tocaia grande (1984);
- O sumiço da santa (1988);
- A descoberta da América pelos turcos (1994).
Alguns dos romances de Jorge Amado foram adaptados em histórias em quadrinhos. Acima, um fragmento da adaptação quadrinística de Jubiabá, adaptada em 2009 pelo ilustrador Spacca e publicada pela editora Companhia das Letras.
Além dos romances mencionados acima, também escreveu outros gêneros:
- A estrada do mar, poesia (1938);
- ABC de Castro Alves, biografia (1941);
- O cavaleiro da esperança, biografia (1942);
- Bahia de Todos os Santos, guia (1944);
- O amor do soldado, teatro (1947);
- O mundo da paz, viagens (1951);
- O gato Malhado e a andorinha Sinhá, historieta infantojuvenil (1976);
- Do recente milagre dos pássaros, contos (1979);
- O menino grapiúna, memórias (1981);
- A bola e o goleiro, literatura infantil (1984);
- Navegação de cabotagem, memórias (1992);
- O milagre dos pássaros, fábula (1997);
- Hora da Guerra, crônicas (2008).
Características de sua obra
Vivendo sob um período ditatorial feroz, o Brasil se via retratado nos romances da geração de 30. Os escritores dessa geração procuravam apontar os horrores dos privilégios e a decadência dos latifúndios, a má distribuição de terras, o coronelismo, a miséria do povo mais simples… enfim, a triste e injusta realidade social brasileira. Jorge Amado, inserido nesse propósito, procura retratar em algumas obras desta sua primeira fase os seguintes temas: ciclo do cacau, romances proletários e a Bahia pitoresca.
O ciclo do cacau
O escritor mostra as sangrentas disputas pela conquista e posse das terras mais produtivas para o plantio do cacau no sul da Bahia, em que milhares de hectares da floresta atlântica foram devastados para darem lugar às árvores de cacau. São histórias de lutas, tocaias, caxixes (negociatas fraudulentas), assassinatos e atentados, mandados, recebidos e trocados entre os proprietários rurais.
A exploração dos trabalhadores rurais, os conchavos políticos regados a muito dinheiro, os incêndios criminosos, a falsificação de documentos e a impunidade são os temperos dessa verdadeira guerra. São as obras que se encaixam nesta temática, entre outras, Cacau, São Jorge dos Ilhéus e, principalmente, Terras do sem-fim.
Romances proletários
São livros classificados assim pela crítica porque refletem o ponto de vista dos trabalhadores e das classes sociais marginalizadas. Jorge Amado procura denunciar a miséria e a opressão sofridas pelos mais humildes, que resistem de acordo com suas possibilidades. Jubiabá, Capitães da areia e Mar morto são as melhores obras enquadradas nesta modalidade.
A partir dos anos 1950, a Bahia pitoresca
Esta é chamada como a fase mais popular de Jorge Amado, na qual ele deixa um pouco de lado a ficção engajada nos problemas sociais e passa a mostrar o que é o que a Bahia tem: um povo bem-humorado, mulheres lindas, fortes e sedutoras, as belas paisagens naturais, etc. É a chamada crônica de costumes. Gabriela, cravo e canela é o divisor de águas na produção amadiana: ainda impregnado do tom épico da luta política, o romance introduz um símbolo (Gabriela), que representa o povo em toda a sua liberdade e de vida.
Um bom contador de histórias
A crítica literária faz sérias restrições à obra de Jorge Amado. Apontam-se, como principais defeitos, os altos e baixos de sua produção, o lirismo às vezes piegas e as soluções previsíveis. Porém, como qualidade incontestável do autor, é a sua capacidade em contar uma história de forma simples, dinâmica e envolvente. Tanto é assim que grande parte de sua obra foi adaptada para a televisão e para o cinema, com enorme aceitação por parte do público.
Além disso, Jorge foi capaz de criar alguns dos personagens mais marcantes de nossa literatura. Grandes mulheres, como Don’Ana Badaró, Tieta, Gabriela, Tereza Batista, Dona Flor; e grandes homens, como Pedro Arcanjo, Baldo, Nassib, Pedro Bala, estão na mente de milhões de brasileiros.
Dica: Você sabia que Jorge Amado possui uma fundação a fim de preservar a sua memória e o seu legado literário?
Videoaula
Para saber mais sobre Jorge Amado e outros autores da geração de 30, confira a videoaula da professora Camila:
Exercícios sobre Jorge Amado
Questão 1 (ITA-2011)
Sobre o romance Capitães da areia, de Jorge Amado, é INCORRETO afirmar que:
a) se trata de um livro cuja personagem central é coletiva, um grupo de meninos de rua, e isso o aproxima de O cortiço.
b) as principais personagens masculinas são Pedro Bala, Sem Pernas, Volta Seca, Pirulito e Professor, e a figura feminina central é Dora.
c) há uma certa herança naturalista, visível na precoce e promíscua vida sexual dos adolescentes.
d) os vestígios românticos aparecem em algumas cenas de jogos e brincadeiras infantis e na caracterização de Dora.
e) todos os meninos acabam encontrando um bom rumo na vida, apesar das dificuldades.
Questão 2 (UFPE-2001)
“Irmão … é uma palavra boa e amiga. Se acostumaram a chamá-la de irmã. Ela também os trata de mano, de irmão. Para os menores é como uma mãezinha. Cuida deles. Para os mais velhos é como uma irmã que brinca inocentemente com eles e com eles passa os perigos da vida aventurosa que levam.
Mas nenhum sabe que para Pedro Bala, ela é a noiva. Nem mesmo o Professor sabe. E dentro do seu coração Professor também a chama de noiva.”
(Jorge Amado: “Capitães da Areia”).
Considerando a obra e o autor do texto, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O autor faz parte do romance regional de 30, quando se aprofundaram as radicalizações políticas na realidade brasileira.
b) Jorge Amado representa a Bahia, “descobrindo” mazelas, violências e identificando grupos marginalizados e revolucionários em “Capitães da Areia”.
c) Dora, Pedro Bala e Professor são alguns dos personagens da narrativa, que aborda a dramática vida dos camponeses das fazendas de cacau no sul da Bahia.
d) O tom da narrativa aproxima-se do Naturalismo, alternando trechos de lirismo e crueza. O nível de linguagem é coloquial e popular.
e) “Capitães da Areia ” pertence à primeira fase da produção de Jorge Amado, quando era notório seu engajamento com a política de esquerda. Daí o esquematismo psicológico: o mundo dividido em heróis (o povo) e bandidos (a burguesia).
Questão 3 (Enem-2010)
Texto I
Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades as mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que vinham das embarcações…
AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).
Texto II
À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do mercado.
TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).
Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são exemplos de uma abordagem literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos:
a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos personagens marginalizados.
b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em relação aos personagens.
c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.
d) o espaço onde vivem os personagens é uma das marcas de sua exclusão.
e) a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.
Gabarito:
- E
- C
- D