rolezinhos

O que foram os rolezinhos e o que eles dizem sobre racismo e elitismo

Entenda como os rolezinhos expuseram o racismo estrutural e o elitismo no Brasil, revelando disputas pelo direito à cidade.


Entre 2013 e 2014, um fenômeno tomou conta das redes sociais e dos shoppings brasileiros: os rolezinhos. Organizados por jovens da periferia, esses encontros em massa, que misturavam lazer e a cultura do funk, geraram um debate acalorado e expuseram as feridas mais profundas da sociedade brasileira: o elitismo, o racismo estrutural e a segregação espacial.

À primeira vista, o rolezinho parecia apenas uma manifestação de lazer, mas logo se revelou um conflito socioespacial agudo. O cerne da questão nunca foi o que os jovens faziam nos shoppings, mas sim o simples fato de estarem ali, em grande número, em um espaço historicamente restrito a uma elite branca. Mais do que uma simples ida ao shopping, os rolezinhos se tornaram uma reivindicação do direito à cidade, usando o consumo como uma tática para expor a segregação persistente.

Bora entender como esse assunto te ajuda a refinar seu repertório sociocultural? 

A ocupação como ato de afirmação

O shopping center no Brasil não é apenas um centro comercial. É um refúgio, um espaço de segurança e distinção para a classe média e a elite. A ascensão social vivenciada no início dos anos 2000 permitiu que as classes populares tivessem maior poder de compra, e a ida aos shoppings se tornou um reflexo dessa nova capacidade econômica.

No entanto, a presença de jovens periféricos, muitos deles negros, nesses espaços, desencadeou uma reação de “medo e preconceito”. O elitismo da sociedade brasileira se mostrou mais forte que a lógica capitalista, que dita que qualquer consumidor com poder de compra deve ser bem-vindo. A elite recusou a presença desses novos consumidores, vendo-os como uma ameaça à “pureza” do ambiente, provando que, para essa parcela da sociedade, a distinção social e a homogeneidade de classe e raça são mais importantes que o lucro.

A criminalização e o racismo estrutural

A resposta midiática e institucional aos rolezinhos foi imediata e agressiva. A mídia tradicional, por meio de um discurso criminalizante e estigmatizante, associou os encontros à desordem e à criminalidade. A identidade dos participantes (majoritariamente jovens negros e pardos) ativou instantaneamente o pânico moral.

Essa reação, que rapidamente mobilizou o estereótipo do “arrastão”, justificou a repressão policial e judicial. Esse processo de estigmatização midiática reforçou o racismo estrutural, impedindo que essa juventude tivesse acesso a um local onde não era socialmente aceita.

A disputa pelo espaço urbano (segundo Henri Lefebvre)

Os rolezinhos são um exemplo perfeito do conflito de uso do espaço urbano. A violência urbana, muitas vezes, é um problema espacial, reflexo da segregação e da desigualdade. Enquanto os espaços de lazer da periferia são escassos, os shoppings são vistos como enclaves protegidos e segregados.

Para entender a profundidade desse conflito, precisamos nos basear na teoria de Henri Lefebvre sobre o Direito à Cidade. Ele argumenta que o capitalismo transformou a cidade de um “Valor de Uso” (utilidade social, lazer) para um “Valor de Troca” (mercadoria, lucro). O shopping center é o símbolo máximo desse “Valor de Troca”.

Ao ocupar o shopping para socializar e se divertir, a juventude da periferia forçou a entrada do “Valor de Uso” nesse espaço. Essa ocupação foi uma manifestação concreta e política do Direito à Cidade, um desafio à privatização do lazer e à lógica exclusiva do lucro.

A resposta jurídica e o preconceito velado

A judicialização dos rolezinhos revelou como o sistema legal pode ser usado para reforçar a segregação. Os shoppings entraram com ações judiciais para proibir os encontros, e a Polícia Militar agiu com força, intimidando os jovens com multas de R$ 10 mil, um valor impagável que funcionava como uma barreira econômica legalizada.

Felizmente, a história não terminou aí. Embora as primeiras decisões judiciais tenham favorecido os shoppings, quase todas foram revertidas em instâncias superiores. Essa reversão mostrou que as decisões iniciais eram baseadas em preconceitos e ignoravam direitos constitucionais de liberdade e igualdade, provando que o Direito Positivo foi, por um momento, refém do racismo estrutural.

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Tese para redação

A principal lição dos rolezinhos é que a questão da desigualdade social no Brasil está intrinsecamente ligada à segregação espacial e ao racismo estrutural. É possível argumentar que a luta por uma sociedade mais justa e igualitária passa, necessariamente, pelo combate à lógica que priva as classes populares e a população negra do acesso e da permanência em espaços públicos e privados.

Repertórios para diversos temas:

  • Sociologia: Use os conceitos de racismo estrutural (Silvio Almeida), violência simbólica e capital cultural (Pierre Bourdieu) e direito à cidade (Henri Lefebvre) para contextualizar a discussão sobre desigualdade e luta por direitos.
  • História: Conecte o fenômeno à história de segregação urbana no Brasil, desde o processo de abolição da escravidão e a marginalização das populações negras, até a política de moradias que empurrou as classes populares para as periferias.
  • Atualidades: Aproxime a discussão do contexto atual, mostrando como o debate sobre gentrificação em grandes cidades e a busca por maior inclusão e representatividade em diversos ambientes (universidades, mercado de trabalho, etc.) são desdobramentos da mesma luta por acesso e igualdade.

Ao demonstrar a sua capacidade de conectar um fenômeno aparentemente simples, como os rolezinhos, a conceitos complexos e a temas de grande relevância, você mostra a profundidade da sua análise e a amplitude do seu repertório sociocultural.

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Autor(a) Luana Santos

Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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