Pela 1ª vez, o Brasil conta os autistas: o que os dados do Censo 2022 revelam

Entenda o que o Censo 2022 revelou sobre o autismo no Brasil e como isso impacta a educação, a inclusão escolar e a participação de pessoas com TEA no Enem.

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O Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, trouxe um marco inédito para o Brasil: pela primeira vez, o país coletou dados específicos sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Isso pode parecer apenas mais uma estatística, mas, na prática, é um passo enorme para a inclusão. Afinal, só é possível construir políticas públicas mais justas quando sabemos exatamente com quem estamos falando — quem são essas pessoas, onde estão, o que precisam.

Neste texto, vamos explorar o que o Censo revelou sobre autistas no Brasil, especialmente no campo da educação — da escola até o Enem —  os desafios que ainda estão no caminho.

O que o Censo contou sobre o autismo no Brasil?

A presença de uma pergunta específica sobre o autismo no Censo 2022 não veio do nada. Ela é fruto da luta de muitas famílias, ativistas e organizações que há anos pedem mais visibilidade para as pessoas com TEA. Foi uma lei de 2019 que garantiu essa coleta, e sua chegada foi fundamental: até então, o Brasil lidava apenas com estimativas e suposições. Agora temos números reais e abrangentes, o que muda tudo.

Saber onde estão e quantas são as pessoas com TEA ajuda o governo, escolas e profissionais da saúde a direcionarem recursos com mais inteligência e sensibilidade.

Quantas pessoas autistas existem no Brasil?

Segundo o Censo, 2,4 milhões de brasileiros foram diagnosticados com autismo — o que representa 1,2% da população. A maior parte está entre crianças de 5 a 9 anos, com destaque para os meninos: 3,8% deles nessa faixa etária têm o diagnóstico.

Isso mostra um avanço no diagnóstico precoce, o que é essencial para que a criança receba acompanhamento desde cedo — o que faz toda a diferença no desenvolvimento.

E quanto à raça, gênero e regiões do país?

  • Homens: 1,5% têm diagnóstico de autismo.
  • Mulheres: 0,9%.
  • Por raça: a maior parte dos diagnósticos está entre pessoas brancas (1,3%), e a menor entre indígenas (0,9%).

Essa diferença provavelmente não é porque há menos autistas em certos grupos, mas sim porque algumas populações — como indígenas e pessoas pretas ou pardas — enfrentam mais dificuldades para conseguir diagnóstico. Isso mostra que ainda há desigualdade no acesso à saúde.

Onde estamos e o que ainda precisa melhorar em termos de educação

Um dado interessante é que 36,9% das pessoas com autismo estavam estudando — uma taxa maior do que na população geral. Isso acontece principalmente porque a maioria das pessoas com TEA são crianças e adolescentes em idade escolar.

Porém, quando olhamos para adultos com TEA (25 anos ou mais), os dados mudam: quase metade não completou o ensino fundamental, e só 15,7% chegaram ao ensino superior. Ou seja, muitas pessoas entram na escola, mas não conseguem avançar até as etapas finais da educação.

As escolas estão mais inclusivas?

Sim e não. Houve um aumento de 44% nas matrículas de alunos com TEA na educação básica entre 2023 e 2024, e hoje mais de 95% deles estudam em salas comuns, junto com os demais colegas. Isso mostra um avanço importante.

Mas, como alerta o presidente da ONDA (Organização Neurodiversa pelos Direitos das Pessoas Autistas), muitas vezes essa inclusão é só física — o aluno está na sala, mas não tem o suporte necessário para aprender de verdade. Inclusão de verdade precisa de professores preparados, materiais adaptados e um ambiente que respeite as diferenças.

O grande desafio: chegar ao ensino médio e superior

  • Ensino fundamental: 66,8% dos alunos com TEA estão nessa etapa.
  • Ensino médio: apenas 12,3%.
  • Ensino superior: só 0,8%.

Esses números mostram que, conforme a exigência aumenta, mais alunos autistas ficam pelo caminho. Os motivos vão desde a falta de apoio até dificuldades com a rotina e com o ambiente escolar. Por isso, é essencial que o suporte continue em todas as etapas da educação — não só no começo.

Enem e autismo: o que mudou e como se preparar

O Inep (instituto responsável pelo Enem) oferece recursos específicos para estudantes com TEA, como:

  • Tempo extra de 60 minutos por dia de prova.
  • Leitor (ledor), que lê as questões e descreve imagens.
  • Transcritor, que escreve o que o estudante dita.
  • Correção adaptada da redação, feita por avaliadores treinados.

Tudo isso é garantido por leis como a Lei Berenice Piana e o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Redação adaptada: equidade, não privilégio

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A redação é corrigida levando em conta características do TEA. Isso não significa que a prova ficou “mais fácil”, mas que os avaliadores são treinados para entender questões como:

  • Dificuldade com ortografia (disortografia).
  • Dificuldade de fugir de temas muito específicos.
  • Estilo de escrita mais direto ou “fora do padrão”.

Essas adaptações ajudam a avaliar o que realmente importa: se o estudante compreendeu o tema e conseguiu argumentar bem — e não se escreveu “bonito” dentro de um padrão tradicional.

Dicas práticas para quem vai fazer o Enem

A cartilha do Inep para participantes com TEA traz várias dicas úteis:

  • Chegue cedo e avise à equipe sobre sua condição.
  • Use os recursos disponíveis (ledor, tempo extra, etc.).
  • Na redação, tente seguir o tipo dissertativo-argumentativo e mantenha o foco no tema.
  • Peça ao ledor para ler seu texto em voz alta na hora da revisão (se isso ajudar).

Também tem sugestões para lidar com a ansiedade, como respirar fundo e se organizar bem antes da prova. Quanto mais você conhecer os seus direitos e estratégias, melhor será sua experiência no dia do Enem.

Por que esses dados são tão importantes?

Com os dados do Censo, o governo pode identificar onde estão as maiores necessidades e onde precisa investir mais. Já se sabe, por exemplo, que muitas pessoas com deficiência vivem em situação de pobreza — o que mostra que o problema não é só de saúde ou educação, mas também social.

Por isso, as políticas para pessoas com TEA precisam ser integradas a outras áreas, como moradia, renda e transporte.

Direitos garantidos por lei

As pessoas com autismo têm os mesmos direitos que qualquer outra pessoa com deficiência, incluindo acesso à educação, saúde e benefícios sociais (como o BPC, para quem tem baixa renda). Mas ainda existem diferenças entre o que está garantido em lei e como esses dados aparecem em pesquisas como o Censo, o que pode dificultar a criação de políticas mais precisas.

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