Para Jean Piaget, a moral é uma característica desenvolvida ao longo da vida e adquirida por meio das experiências que vivemos. Conheça mais sobre o pensamento desse filósofo!
O que faz um sujeito moral? Dentre as várias possibilidades de agir, como é que apreendemos a diferenciar o certo do errado? O suíço Jean Piaget (1896-1980) elaborou uma teoria chamada “construtivismo” para tentar explicar essas questões. Vem saber mais nesta aula de Filosofia!
Ética e moral
A moral talvez seja umas daquelas coisas que a filosofia exportou para nossa vida e você nem sabia disso. Presente nos filmes de samurai com seus códigos de moral ou até mesmo no ranço daquela pessoa que “está com a moral baixa”, as práticas de um código moral são fundamentais para vivermos em sociedade. Ou ao menos é isso o que dizem por aí.
Entendemos moral como o conjunto de valores de uma determinada sociedade. Assim como a ética, a moral busca o bem-estar social, isto é, a harmonia no convívio das pessoas.
Entretanto, no que diz respeito à moral, ela apenas guia nosso comportamento. Já a ética distingue-se dela porque faz um juízo acerca do comportamento moral das pessoas em um determinado tempo e espaço.
Ética e moral são termos que costumam ser confundidos. Por serem parecidos, muitas pessoas assumem que o significado seja o mesmo. Embora estejam relacionados, são termos que têm origem bem distinta.
Piaget e a moral
O psicólogo suíço Jean William Fritz Piaget fez um estudo a respeito do desenvolvimento moral das pessoas. Ao observar seus próprios filhos, notou que as crianças não pensam da mesma maneira que os adultos. Isto é, faltava nas crianças algumas competências que somente os adultos possuíam.
Segundo Piaget, nós construímos nossa moral a partir da influência mútua com os diferentes acontecimentos sociais presentes em nossa vida. Como nós, de maneira geral, somos uma sociedade tutelada por adultos, o desenvolvimento moral das crianças está diretamente ligado com essa relação.
Jean William Fritz Piaget foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um importante pensador do século XX.
Piaget e o desenvolvimento moral
Piaget divide o desenvolvimento moral em 3 fases distintas: anomia, heterônoma e autônoma.
Anomia
Nesta fase é desenvolvido o egocentrismo, responsável por uma visão de mundo mais rústica e que tem como referência a pessoa em si. Assim sendo, é pouco provável que a criança idealize uma situação da qual ela própria não faça parte.
Fase heterônoma
Após a anomia, a “pirralhada” entra numa “vibe” que Piaget chamou de fase heterônoma. Isto é, estamos sujeitos à vontade de outra pessoa, a regras e a normas de conduta. Portanto, diferencia-se da ideia egoísta em que só a visão homogênea da pessoa importa. Sendo assim, temos nossa primeira sacada do que virá a ser uma moral.
Ao falarmos da fase heterônoma na moral, temos que destacar a noção de deveres. Os deveres são fatores externos que, ao serem impostos, criam uma noção de responsabilidade moral no indivíduo.
As noções de bem e mal exercem importante papel nessa fase também. O bem é tido como a realização da obrigação. Em outras palavras, o fato de agirmos corretamente nos transmite a ideia de certo. Em contrapartida, a violação ou relativização das nossas obrigações causa uma sensação de errado.
De acordo com Piaget, a moral se funda com base num sistema de regras que, ao serem observadas, nos transmitem a noção de responsabilidade – moralmente nos sentimos responsáveis – pelas consequências de nossas ações. Entretanto, só obedecemos às regras devido às punições. Logo, se faltar autoridade vai emergir o caos, isto é, a desordem de um mundo sem moral.
Como ainda não somos sujeitos autônomos, ou seja, estamos construindo uma moral, as noções de certo e errado são aprendidas com a observação do mundo exterior. Antigamente era comum vermos propagandas de crianças fumando, dentre outros absurdos morais. Daí a importância de sacar que a moral é algo construído.
Fase autônoma
Bom, o tempo vai passando e a gente vai crescendo. Ao passo em que sofremos mudanças físicas, também estruturamos nossas ideias e nossa moral se desenvolve a partir delas. Jean Piaget acreditava que após um tempo de interação social, nossa moral estaria finalmente formada. A isso ele deu o nome de fase autônoma.
É em virtude das experiências que nos educamos quanto à moralidade. Piaget demonstra que a nossa moral faz parte de um processo construtivo, daí o nome construtivismo dado a ele. Tirinha de Armandinho, por Alexandre Beck.
Ademais, é na fase autônoma que nós desenvolvemos plenamente a moral. A partir daí, nossos deveres passam a ser cumpridos com consciência de sua necessidade, diferentemente da fase heterônoma em que cumpríamos as regras somente por conta de uma autoridade sem entender seu real sentido.
Para Piaget, após a construção, o sujeito teria princípios éticos e morais. Isso significa que mesmo na falta de uma autoridade nós continuaríamos fazendo o certo, pois seríamos pessoas autodisciplinadas e justas.
Construção moral
Cara, se liga aí: vimos que nossa moral é, de acordo com Piaget, uma parada construída ao longo de nossas vidas. Assim, saímos de um mundo onde somos a peça central (egocêntrico) e passamos a entender o mundo como algo maior.
Sendo obrigados a cumprir as regras já existentes antes de nós, acabamos inseridos dentro de um conjunto de relações que devemos respeitar. Conforme vamos sacando as relações existentes nesse mundão, vamos aos poucos desenvolvendo compreensão de como viver nele.
Após adquirirmos certo grau de entendimento do mundo, percebemos a importância dessas regras que geram as relações no mundo. Ou seja, percebemos que existe uma maneira de viver que garante o bem-estar social. Assim sendo, ao vivermos de acordo com um conjunto de normas, estamos garantindo o bem-estar social, isto é, nos tornamos sujeitos morais.
Ao nos confrontarmos com as normas sociais, almejamos que os demais também o façam. Assim, acabamos nos construindo enquanto sujeitos morais. Portanto, para Piaget, a moral é algo construído, logo, não nasce pronta. Diferentemente dos adultos, as crianças ainda não possuem a moral plenamente formada, pois ela se desenvolve ao longo da nossa infância.
Por fim, aos poucos, desde o pivete individualista que age de forma egocêntrica, nós vamos expandindo nossa visão de mundo e notamos que somos membros de um todo maior. Dessa forma, passamos gradativamente a viver de acordo com a moral.
Videoaula
Para saber mais sobre Piaget e o desenvolvimento moral, assista ao vídeo a seguir:
Exercícios
Agora é contigo! Resolva as questões abaixo e fique craque para o Enem:
1- Segundo Piaget, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida. Segundo ele:
a) A criança constrói conhecimento somente na interação com outras crianças.
b) O aprendizado da criança não está relacionado com a interação da criança com o meio.
c) O ensino só se efetiva mediante a avaliação.
d) A criança constrói o conhecimento a partir de suas descobertas quando em contato com o mundo e com os objetos.
e) O processo de ensino/aprendizagem deve ser um processo rigoroso, centrado no professor.
2- (CRESCER/2017)
Através da inteligência, o indivíduo consegue coletar informações do meio e reorganiza-las, para que possa compreender, agir e interagir no meio em que está inserido. Para Piaget, a inteligência é:
a) A adaptação na sua forma mais elevada, isto é, o desenvolvimento mental, em sua organização progressiva, é uma forma de adaptação sempre mais precisa à realidade.
b) A regulação na sua forma menos elevada, isto é, o desenvolvimento mental, em sua organização contínua, é uma forma de adaptação sempre menos precisa à realidade.
c) A evolução biológica na sua forma mais elevada, isto é, o desenvolvimento mental, em sua organização regressiva, é uma forma de adaptação sempre mais precisa à realidade.
d) A manutenção na sua forma mais elevada, isto é, o desenvolvimento mental em uma forma de adaptação sempre menos precisa e necessária à realidade.
3- No ensino dos conteúdos, durante as aulas de Educação Física, há sempre valores morais em jogo, tais como: a justiça e a injustiça, o certo e o errado, a solidariedade e o egoísmo, o respeito e o desrespeito, dentre outros. Portanto, ensinar um determinado movimento, habilidade ou fundamento dentro do contexto de um conteúdo específico de ensino, é, antes de tudo, ensinar regras de comportamento e de convivência social. Para Piaget (1994), a evolução da prática e da consciência da regra abrange três fases que seguem a seguinte ordem de desenvolvimento:
a) heteronomia, autonomia e anomia.
b) anomia, autonomia e heteronomia.
c) heteronomia, anomia e autonomia.
d) anomia, heteronomia e autonomia.
e) autonomia, heteronomia e anomia.
Gabarito
- D
- A
- D