Por que a Geração Z coloca a estética entre suas principais prioridades
A Geração Z redefine o consumo no setor de bem-estar, priorizando estética, autocuidado e novas formas de consumo.
A Geração Z (a turma que nasceu entre meados dos anos 1990 e 2010) não está só mudando o jeito de consumir no mundo. Como eles cresceram 100% online, essa geração virou uma força de mudança, remodelando indústrias inteiras. E quando o assunto é bem-estar, a virada de chave é ainda mais clara: eles não só consomem mais, mas também redefinem o que significa “cuidar de si”.
De acordo com relatórios da McKinsey, a Geração Z e os Millennials são os maiores responsáveis por fazer o setor de bem-estar crescer. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse mercado já movimenta mais de 500 bilhões de dólares por ano. Mas a mudança não está só nos gastos, e sim na cabeça: para essa galera, bem-estar não é só saúde física. É também beleza, estética e práticas que conectam corpo, mente e imagem em um pacote só, para uma vida mais equilibrada.
A partir daqui, vamos mergulhar de cabeça nesse universo para entender como a Geração Z está, na prática, reinventando a beleza e a saúde.
O que significa bem-estar para a Geração Z
Para a Geração Z, o conceito de bem-estar evoluiu. Não se trata mais de uma única dimensão, mas de um conjunto de práticas que conectam saúde, beleza e equilíbrio emocional.
O foco no equilíbrio emocional
Diferente das gerações anteriores, que viam bem-estar como algo puramente físico (o famoso “estar saudável”), a Geração Z abraça o conceito de forma bem mais ampla. Para mais da metade dos jovens de 18 a 29 anos, bem-estar é sinônimo de “equilíbrio emocional”. Já para as pessoas acima de 30, a saúde física ainda é a prioridade número 1, segundo o Instituto Locomotiva.
Essa mudança mostra uma geração muito mais atenta à saúde mental. Os números comprovam: 42% dos jovens da Geração Z e Millennials dão uma importância “muito alta” para a saúde mental e o mindfulness, contra apenas 29% dos Baby Boomers.
Eles também são a geração que mais se sente estressada: 40% dizem estar “quase sempre estressados”, contra 23% da população geral. Por isso, a busca por ajuda profissional também aumentou: nos últimos dois anos, 30% da Geração Z procurou um terapeuta ou psiquiatra, o dobro da proporção dos Baby Boomers (14%).
Beleza como autocuidado
Para essa geração, a estética é vista como um componente de autocuidado. O que antes poderia ser considerado mera “vaidade” agora se integra a um conceito mais amplo de bem-estar. Rotinas de skincare, procedimentos estéticos e maquiagem são entendidos como práticas que contribuem tanto para a aparência quanto para o equilíbrio emocional.
Isso justifica o crescimento da “clean beauty”: produtos com fórmulas transparentes, sem ingredientes agressivos, veganos e éticos. Para a Geração Z, itens como séruns ou práticas de massagem são vistos como rituais que proporcionam momentos de relaxamento e conexão pessoal.
O cuidado com a aparência também oferece uma sensação de controle em um mundo percebido como caótico. Rotinas de beleza e procedimentos estéticos se tornam ferramentas para gerenciar o estresse e fortalecer a identidade, unindo saúde, beleza e bem-estar.
A ascensão da estética e a moda da “prejuvenation”
A busca pela juventude nunca foi novidade, mas o que chama atenção hoje é a forma como esse desejo se manifesta. Se antes os procedimentos estéticos eram associados à correção de marcas já visíveis do envelhecimento, agora ganham um novo propósito: a prevenção. Essa mudança de mentalidade, liderada principalmente pela Geração Z, transformou os consultórios e clínicas em espaços de autocuidado precoce, onde a estética se mistura com saúde e bem-estar.
A ascensão dos procedimentos estéticos
A Geração Z impulsiona a procura por procedimentos estéticos entre os mais jovens. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), os procedimentos entre adolescentes de 13 a 18 anos aumentaram 141% em dez anos.
Na faixa etária de 18 a 30 anos, a aplicação de toxina botulínica teve um aumento de 300% nos últimos três anos. A preferência é por tratamentos não cirúrgicos: em 2023, 83% dos procedimentos estéticos realizados globalmente foram minimamente invasivos, como baby Botox, bioestimuladores e lasers, que oferecem resultados sutis e recuperação rápida.
O conceito de “prejuvenation”
Esse comportamento é conhecido como “prejuvenation” (fusão de “prevenção” com “rejuvenescimento”). A abordagem é proativa: em vez de esperar o surgimento dos sinais de envelhecimento, a Geração Z busca cuidados preventivos desde cedo, com o uso de cremes com retinol, antioxidantes e colágeno.
Essa prática está ligada à ansiedade gerada pela cultura digital, onde a exposição a filtros e imagens editadas cria um padrão de beleza muitas vezes inatingível. O prejuvenation, nesse contexto, atua como uma forma de cuidado real e, ao mesmo tempo, de autoproteção contra o julgamento online.
Produtos, tendências e valores
O mercado de beleza vem passando por mudanças que acompanham os hábitos digitais da Geração Z. O consumo de cosméticos e cuidados com a pele deixou de ser orientado apenas pela eficácia dos produtos e passou a refletir também preocupações ligadas à sustentabilidade, à praticidade e à influência de criadores de conteúdo. Nesse contexto, surgem tendências que revelam como os jovens relacionam estética, rotina e estilo de vida.
Skincare e hábitos de consumo
A Geração Z adota tendências que refletem seus valores. Uma delas é o “skinimalism”: a preferência por usar menos produtos, mas com fórmulas potentes, para manter uma pele saudável e com brilho natural. Ingredientes como niacinamida, ácido hialurônico e ceramidas são os mais populares.
A praticidade também é valorizada, com a busca por produtos multifuncionais. A “clean beauty” ganha espaço, refletindo a preferência por marcas veganas, sustentáveis e alinhadas a causas sociais.
A influência de criadores de conteúdo
O consumo de beleza da Geração Z é amplamente influenciado por criadores de conteúdo. A maioria dos jovens se baseia em recomendações de influenciadores, que se tornaram referências no setor. Esse fenômeno é reforçado pelo fato de que 57% dos jovens considerariam deixar seus empregos para se tornarem influenciadores.
Essa dinâmica cria um ciclo em que a busca pela estética se torna tanto um objetivo pessoal quanto uma ferramenta profissional. As marcas que compreendem isso não vendem apenas produtos, mas constroem narrativas e valores que criam uma conexão com o público.
Pressão estética e seus custos
A popularização das redes sociais trouxe novas formas de consumo de beleza, mas também ampliou a exposição a padrões difíceis de alcançar. A circulação constante de imagens editadas e filtradas influencia a forma como os jovens percebem o próprio corpo, gerando impactos que vão além da estética e atingem a saúde mental. Esse contexto ajuda a entender como a pressão digital se conecta ao aumento de procedimentos, ao surgimento de novos movimentos de resistência e às mudanças nos hábitos online.
Redes sociais e comparação
Enquanto o TikTok e o Instagram divulgam tendências, eles também intensificam a pressão estética. Filtros e edições criam padrões de beleza inalcançáveis, reforçando a comparação constante entre usuários.
Impactos na saúde mental

A busca incessante pela perfeição tem sérias consequências, como baixa autoestima, ansiedade estética, insatisfação corporal e transtornos como a dismorfia. O filme “A Substância“, com Demi Moore, ilustra de forma fictícia a pressão por um padrão de perfeição.
Em resposta a essa pressão, surge o movimento do “feed zero”, no qual jovens optam por deixar seus perfis vazios ou com poucas publicações para escapar da necessidade de manter uma imagem impecável online. Esse comportamento reflete o dilema da geração: ao mesmo tempo em que usa a estética para se expressar, está presa a um ciclo de consumo para atender às expectativas digitais.
Implicações econômicas e comportamentais
O consumo de beleza e bem-estar entre os jovens não reflete apenas preferências estéticas, mas também tendências de comportamento e impacto financeiro. A Geração Z, em especial, movimenta grande parte desse mercado, influenciada tanto por valores ligados à saúde e autoestima quanto pela busca de pertencimento social.
O poder de compra crescente e os padrões de consumo revelam um equilíbrio instável: de um lado, a disposição para investir em cuidados pessoais; de outro, o risco de endividamento e a adoção de estratégias para adaptar o consumo às restrições orçamentárias.
Poder de compra
A influência da Geração Z no mercado de bem-estar é considerável. Apesar de representarem 36% da população adulta dos EUA, são responsáveis por 41% dos gastos anuais no setor. A estimativa é que, até 2030, seu poder de compra global atinja US$ 12 trilhões.
Eles são descritos como “maximalist optimizers”, consumidores que pesquisam, comparam e exploram diversas opções antes de decidir a compra.
Tabela 1 – Prioridades de Bem-Estar
Dimensão | Geração Z & Millennials | Gerações mais velhas |
---|---|---|
Saúde & bem-estar geral | 30% | 23% |
Saúde mental & mindfulness | 42% | 29% |
Aparência & estética | 23% | 15% |
Alimentação funcional | 66% | 45% |
Fitness | 55% | 35% |
Fonte: McKinsey
O “gasto consciente excessivo”
Apesar do poder de compra, muitos jovens já sentem o impacto financeiro desse consumo. Segundo a LendingTree, 27% da Geração Z se endividou para comprar produtos de beleza.
Esse comportamento é chamado de “conscious overspending”: gastar mais do que se pode para investir em “capital social”, ou seja, status, pertencimento e aceitação. Em um contexto em que a validação social está diretamente ligada à aparência, esse tipo de consumo é visto quase como uma necessidade.
A “economia dos pequenos prazeres”
Para equilibrar o desejo de consumo com o orçamento, a Geração Z adere à pequenos mimos que trazem satisfação imediata. Em vez de grandes luxos, investem em produtos mais acessíveis, como óleos labiais, máscaras faciais ou edições limitadas.
O TikTok impulsionou essa tendência com os “mini hauls”: vídeos que mostram pequenas compras que trazem felicidade instantânea. Esses gastos menores servem como uma válvula de escape em um cenário de alta inflação e aumento do custo de vida.
Tabela 2 – Consumo de Beleza da Geração Z
Indicador | Detalhe | Fonte |
---|---|---|
Gasto médio anual | US$ 2 mil (R$ 11 mil) | Statista |
Endividamento | 27% já se endividaram com beleza | LendingTree |
Representação x gasto | 36% da população adulta, 41% dos gastos em bem-estar | McKinsey |