Por que mais brasileiros estão escolhendo viver sozinhos?
Descubra quem mora sozinho no Brasil, os motivos por trás dessa tendência e como ela impacta a sociedade, economia e cultura.
Você sabia que quase 1 em cada 5 lares brasileiros é habitado por uma única pessoa? O que antes era uma tendência, agora é uma realidade consolidada no Brasil, mostrando uma mudança importante na forma como organizamos a vida em casa.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, pesquisa do IBGE, revelam que a proporção de domicílios unipessoais saltou de 12,2% em 2012 para 18,6% em 2024. Esse crescimento expressivo mostra que cada vez mais pessoas estão optando (ou precisando) morar sozinhas. Em números absolutos, passamos de 7,5 milhões para 14,4 milhões de lares “solo” em apenas 12 anos.
Essa transformação acontece em paralelo à queda dos arranjos familiares mais tradicionais. O modelo “casal com ou sem filhos” ainda é o mais comum, mas sua participação na composição familiar caiu de 68,3% para 65,9% no mesmo período. A diminuição se deve, em grande parte, à formação de novos lares individuais, impulsionados pela saída de jovens da casa dos pais, divórcios e a escolha por uma vida mais autônoma.
Neste post, vamos entender melhor o que está por trás desse crescimento, quem são as pessoas que vivem sozinhas e o que isso significa para a sociedade.
Quem está morando sozinho no Brasil?
A análise dos dados revela um perfil diversificado de quem vive só, com variações por gênero, idade e região.
Por gênero e idade

A maioria dos jovens e adultos que vivem sozinhos são homens. Entre aqueles com 18 anos ou mais, 10,4% dos homens moram sozinhos, comparado a 7,7% das mulheres. Essa diferença está frequentemente ligada à migração por trabalho e a divórcios.
No entanto, o cenário se inverte na população idosa: 18,9% das mulheres com 60 anos ou mais vivem sós, contra 15,1% dos homens. A maior expectativa de vida e a viuvez explicam essa inversão.
Não por acaso, 40% dos lares unipessoais são de pessoas com mais de 60 anos.
Por região

A tendência de morar sozinho é mais forte no Sudeste (19,6%) e no Centro-Oeste (19,0%). O Rio de Janeiro lidera o ranking entre os estados, com 22,6% de lares unipessoais, seguido por Rio Grande do Sul (20,9%), Goiás (20,2%) e Minas Gerais (20,1%).
Em contrapartida, as regiões Norte e Maranhão registram percentuais abaixo de 15%.
As razões variam: no Sul e Sudeste, o envelhecimento e a viuvez têm grande peso. Já nas áreas mais urbanizadas e de maior fluxo profissional, como Sudeste e Centro-Oeste, muitos se mudam sozinhos para trabalhar antes de eventualmente trazer a família.
Por que cada vez mais brasileiros vivem sozinhos?
Esse movimento não é aleatório. Vários fatores sociais, econômicos e culturais se somam para explicar a ascensão do “lar solo”.
Envelhecimento
O Brasil está envelhecendo a passos largos. A população com 65 anos ou mais passou de 7,7% para 11,2% em apenas 12 anos. Com essa mudança na pirâmide etária, cresce o número de pessoas que moram sozinhas.
Aposentados que tiveram os filhos já crescidos e morando em outras cidades, ou que perderam seus parceiros, formam um grupo significativo de lares unipessoais. Essa realidade, embora seja sinal de maior longevidade, levanta questões importantes sobre o bem-estar e a necessidade de políticas de saúde e assistência social focadas no combate ao isolamento de idosos.
Questões econômicas
Outro fator é a renda. O Brasil registrou recordes de renda domiciliar per capita em 2023 e 2024. Isso abre espaço para que mais pessoas consigam bancar aluguel e contas sem depender de outros.
Mas tem um detalhe: manter uma vida confortável sozinho custa caro. Estimativas indicam que são necessários cerca de R$ 5.137 líquidos por mês para isso.
Esse grupo também movimenta o que já se chama de “economia da solidão”: de apps de relacionamento a serviços de entrega e até formatos de lazer pensados para quem está só.
Transformações culturais
A sociedade brasileira, especialmente nas áreas urbanas, tem passado por uma reconfiguração de valores.
A individualidade e a independência são cada vez mais valorizadas, e morar sozinho se torna uma afirmação desse estilo de vida. Fatores como a maior escolaridade e a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho trouxeram uma nova liberdade financeira e social.
Além disso, o aumento dos divórcios e os casamentos mais tardios quebram os padrões familiares de gerações passadas, tornando a vida individual uma escolha socialmente aceita e, muitas vezes, desejada.
Os impactos dessa tendência

A ascensão do “lar solo” traz consequências diretas para a economia, o bem-estar e as políticas públicas.
No mercado imobiliário
A procura por imóveis menores – lofts, estúdios, microapartamentos – vem crescendo. Mas esse movimento acontece ao mesmo tempo em que o país enfrenta um déficit habitacional de mais de 6 milhões de moradias.
Enquanto uma parte da população pode escolher onde e como morar, milhões de famílias de baixa renda sofrem com o peso do aluguel, o que amplia desigualdades.
Nas políticas públicas
Os programas sociais também precisaram se adaptar. O Bolsa Família, por exemplo, passou a exigir entrevistas para confirmar informações de famílias unipessoais. Já o Minha Casa, Minha Vida passou a incluir solteiros com renda compatível, reconhecendo que família não é sinônimo de casal com filhos.
No bem-estar e na saúde
Viver sozinho pode ser sinal de liberdade, mas também levanta preocupações sobre solidão. Uma pesquisa da Gallup e da Meta mostrou que 15% dos brasileiros se sentem sozinhos – e entre quem mora só, a taxa pode ser maior.
No caso dos idosos, isso é ainda mais delicado: isolamento pode afetar tanto a saúde mental quanto a física, exigindo políticas e redes de apoio mais fortes.
O Brasil no contexto global
Essa tendência não é só nossa. Em países como Suécia, Dinamarca, Noruega e Alemanha, mais de 40% das casas já são ocupadas por uma única pessoa. Nos Estados Unidos, 28%.
O Brasil, com 18,6%, ainda está bem abaixo, mas segue a mesma direção. Urbanização, renda, independência e mudanças culturais são motores comuns, e tudo indica que esse movimento vai continuar crescendo por aqui.