Por que modelos prontos de redação estão sendo penalizados no Enem
Descubra como o uso de modelos prontos de redação podem prejudicar sua nota no Enem e saiba o que o Inep avalia na correção da prova.
A redação do Enem é um dos momentos mais importantes (e temidos) por quem quer uma vaga no ensino superior. E não é à toa: ela pode decidir sua aprovação em programas como Sisu, Prouni e Fies. Se você tirar nota zero, está automaticamente fora da disputa. Por isso, é importante entender que decorar modelos prontos não é o melhor caminho para se dar bem.
Durante muito tempo, muita gente apostou em “fórmulas mágicas”: introduções prontas, citações coringa e frases genéricas. Essas “técnicas” até davam a sensação de segurança, mas hoje elas têm o efeito oposto. O Inep começou a penalizar textos com repertório forçado ou copiado, valorizando quem consegue desenvolver uma redação autêntica, com ideias próprias e bem conectadas ao tema.
Neste texto, você vai entender por que usar modelo pronto virou uma armadilha, o que a banca realmente avalia e como se preparar de forma inteligente e original para mandar bem na prova.
O que a redação do Enem realmente avalia (e por que modelos falham)
A redação do Enem é corrigida com base em cinco competências, cada uma com critérios bem definidos. A Cartilha do Participante e os Manuais de Correção do Inep explicam essas competências e são leitura obrigatória para quem quer tirar uma nota alta.
Competência 1: domínio da norma culta da língua escrita
Aqui, o corretor avalia se você sabe escrever de forma adequada, respeitando as regras gramaticais e estruturando bem suas frases. Modelos prontos até podem soar corretos à primeira vista, mas encaixá-los em qualquer tema costuma gerar construções forçadas, vocabulário inadequado e falta de naturalidade. Resultado? Texto travado e nota menor.
Competência 2: compreensão do tema e uso de repertório
Essa é uma das mais afetadas pelo uso de modelos. Aqui o avaliador analisa se você entendeu bem o tema e se consegue usar conhecimentos de diferentes áreas para aprofundar a discussão. O problema dos modelos prontos é que eles incluem citações genéricas – como “Utopia”, de Thomas More, ou “No meio do caminho”, de Drummond – que muitas vezes não têm nada a ver com o tema. Se o repertório não for pertinente e produtivo, a nota cai.
Inclusive, o próprio Inep passou a orientar os corretores a ficarem atentos a textos com aparência de “modelo pronto”, mesmo que tragam vocabulário rebuscado ou citações famosas. Um trecho cheio de palavras difíceis e referências como Bauman, Foucault ou Orwell, mas que não se conectam diretamente ao tema da proposta, pode ser interpretado como tentativa de enrolação e gerar penalização.
Isso significa que usar repertório coringa não é mais o problema em si – o problema é quando ele é genérico, decorado e sem relação com o que está sendo discutido. A chave está em usar os repertórios de forma estratégica, com sentido e pertinência.
Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos
Aqui, o que conta é a coerência dos seus argumentos e a capacidade de desenvolver uma linha de raciocínio consistente. Usar modelos decorados atrapalha muito porque eles forçam um caminho argumentativo que nem sempre combina com o tema proposto. Resultado: argumentos vagos, contraditórios e sem autenticidade. Essa competência exige que você pense por conta própria, organize bem suas ideias e mantenha a coerência do início ao fim.
Competência 4: conhecimento dos mecanismos linguísticos para a construção da argumentação
Trata-se do uso de conectivos e da organização textual. Modelos prontos muitas vezes abusam de conectivos “de enfeite”, que não ligam de verdade as ideias. Isso quebra a fluidez do texto e torna a argumentação artificial. Não adianta usar palavras bonitas se elas não estão bem encaixadas no contexto.
Competência 5: proposta de intervenção
A proposta de solução precisa ser clara, detalhada, viável e respeitar os direitos humanos. Modelos genéricos costumam sugerir soluções muito vagas e sem relação direta com o problema apresentado no texto. Isso prejudica muito sua nota. A banca quer ver que você consegue pensar em uma solução concreta para o problema discutido.
A nova orientação dos corretores: o fim da “fórmula mágica”
A partir do Enem 2024, o Inep deixou claro: modelos decorados e repertório forçado vão ser penalizados. Corretores receberam treinamentos para identificar esses padrões e aplicar descontos de até 80 pontos. Em alguns casos, o uso de modelos pode resultar em nota zero, especialmente se houver cópia literal dos textos motivadores ou se o texto fugir totalmente do tema.
A Cartilha do Participante já falava sobre a importância de usar repertórios produtivos. A diferença é que agora essa orientação se tornou critério claro de penalização. Ou seja: usar citações genéricas, estruturas pré-definidas ou argumentos desconectados pode te fazer perder pontos preciosos.
Isso vai impactar principalmente a Competência 2, que vale até 200 pontos. Mesmo que sua redação esteja bem estruturada e com português impecável, se o corretor identificar colagens de frases feitas ou trechos genéricos que pouco dialogam com o tema, você pode ter uma queda brusca nessa competência.
E se você já fez a prova e usou esse tipo de modelo pronto, talvez esteja se perguntando: “vou perder muitos pontos?”. Infelizmente, pode sim. Mas não é o fim do mundo: o importante agora é aprender com isso e focar na autenticidade para os próximos textos.
Tabela: competências da redação Enem e o impacto dos modelos prontos
Competência | O que avalia | Como modelos prontos prejudicam |
---|---|---|
C1 | Domínio da norma culta | Gera construções forçadas e vocabulário inapropriado |
C2 | Compreensão e repertório | Inserem citações clichê e desconectadas |
C3 | Argumentação e estrutura | Argumentos vagos e desconectados do tema |
C4 | Coesão e coerência | Conectivos usados sem lógica, texto engessado |
C5 | Proposta de intervenção | Soluções genéricas e sem detalhamento |
Penalidades e situações de nota zero
Situação | O que acontece | Relação com modelos prontos |
---|---|---|
Desconto de pontos | De 40 a 80 pontos | Uso de estrutura decorada e repertório clichê |
Cópia | Nota zero | Reprodução literal de trechos dos textos motivadores |
Fuga ao tema | Nota zero | Modelo não se adapta ao tema da redação |
Tipo textual inadequado | Nota zero | Texto narrativo ou poético em vez de dissertativo |
Parte desconectada | Nota zero | Frases sem sentido ou desrespeitosas |
Como se preparar de forma autêntica
- Pratique redações com temas variados
- Desenvolva um projeto de texto claro antes de escrever
- Construa argumentos com base em perguntas como: por que isso acontece? Quais são as consequências? Como resolver?
- Use repertórios que você realmente conhece, que sejam pertinentes e produtivos
- Revise seu texto para garantir clareza, coesão e coerência
Evite estratégias como decorar redações inteiras, usar frases genéricas como “desde os primórdios da humanidade” ou citar autores apenas por citar. Cada referência deve ter uma função no texto. Não basta parecer bonito – o que importa agora é coerência e pertinência.
Criar um bom banco de repertórios continua sendo importante, mas o diferencial está em adaptá-los organicamente ao tema. Por exemplo: mencionar Hannah Arendt e a banalidade do mal em uma redação sobre meio ambiente, sem conexão real, pode prejudicar sua argumentação.
A leitura do corretor precisa fluir. Se o texto mostra pensamento crítico, autenticidade e domínio do repertório, a nota sobe. O Enem valoriza quem sabe pensar – não quem sabe copiar.