Realismo e Naturalismo: características, obras e autores

Neste post, você verá um pouco sobre o Realismo, escola literária de grande importância na prosa brasileira, cujo maior representante é o carioca Machado de Assis. Conheça também o Naturalismo, movimento que aprofunda as técnicas do Realismo, e cujo maior representante brasileiro é Aloísio Azevedo.

O Realismo e o Naturalismo são escolas literárias que costumam cair no Enem e nos vestibulares com bastante frequência. Por isso, é importante revisar as característica e as principais obras e autores dos movimentos.

Realismo

O realismo é uma escola literária que surgiu como uma reação ao subjetivismo, espiritualismo, sentimentalismo e fuga da realidade dos românticos. A escola realista tinha por propósito exercer uma literatura dotada de forte critica social, objetividade, descritivismo, voltada então para os fatos do cotidiano.

Os realistas têm na França de Gustav Flaubert o seu berço e autores primordiais, o romance Madame Bovary (1857) é um dos fundadores desse movimento. Nesse romance, Flaubert faz uma análise impiedosa de uma mulher burguesa, cuja vida é destruída por fantasias românticas.

O Realismo no Brasil

Confirma com a professora Camila Zuchetto Brambilla, do canal do Curso Enem Gratuito:

Machado de Assis e o realismo brasileiro

No Brasil, Machado de Assis é um de nossos nomes mais expressivos. Fundador da Academia Brasileira de Letras, escreveu romances de estilo inicialmente românticos, mas que passariam a conter a verve crítico-social típica do realismo.

Resumo sobre Machado de Assis

Machado de Assis é o autor de clássicos realistas como Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, além deu seus muitos contos, onde abundam situações de humor e ironia mórbida.

Veja com a professora Camila Brambilla, do canal do Curso Enem Gratuito, uma introdução para você gabaritar nas questões sobre o Realismo e Machado de Assis:

Outra marca da prosa de Machado de Assis é o pessimismo, muito em voga à época devido a influência do filósofo Arthur Schopenhauer.

Veja na imagem a seguir uma foto do ‘Bruxo do Cosme Velho’, apelido dado na época a Machado de Assis, que morava neste bairro da cidade do Rio de Janeiro.

Machado de Assis - Realismo e NaturalismoUm dos recursos narrativos mais notáveis da obra de Machado são as suas digressões. Rememorações do autor que interrompem os fatos narrados com reflexões sobre a construção metalinguística do discurso narrativo.

Nesses instantes, o autor comenta, de modo irônico e bem humorado, personagens e trechos da obra com o leitor – o leitor, portanto, incluso na obra -.

As digressões também marcam outro ponto recorrente da obra de Machado que é a quebra da narrativa linear, temos assim um narrador “falecido”, como Brás Cubas, que vai responder somente à ordem de sua memória, retomando detalhes de fatos anteriores e intercalando histórias paralelas.

Exemplo de exercício sobre o Realismo

Machado é um dos cânones da literatura brasileira, e por isso é autor muito presente em vestibulares por todo o país. Veja agora um exercício do Enem de 2016 que demonstra bem essa técnica descritiva dos autores do realismo:

(Enem – 2016) – Esaú e Jacó

Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é somente um meio de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem, mas ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro. Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trebelhos. Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre,  nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras podem ganham a partida, e assim vai o mundo.

ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964 (fragmento).

O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o narrador concebe a leitura de um texto literário. Com base nesse trecho, tal leitura deve levar em conta:

a) leitor como peça fundamental na construção dos sentidos.

b) a luneta como objeto que permite ler melhor.

c) o autor como único criador de significados.

d) o caráter de entretenimento da literatura.

e) a solidariedade de outros autores.

Comentário: No fragmento de Esaú e Jacó, de Machado de Assis, evidencia-se, dadas as características do texto literário, a relevância do papel do “leitor do livro”, sobre o qual o narrador dialoga. Assim, produção e recepção são componentes indissociáveis na compreensão de uma obra literária, essa é a mensagem da técnica metalingüística de Machado. A resposta, portanto, é a letra “a”.

Veja outro exercício, do Enem do 2013:

(Enem- 2013) – Capitulo LIV A pêndula

Sai dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-los assim:

Outra de menos..
Outra de menos..
Outra de menos..
Outra de menos..

O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpetuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.

Naquela noite não padeci esse triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abairoam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia perdidos, mas os minutos ganhados.

ASSIS. M Memórias de Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: nova Aguilar 1992 (fragmento)

O capitulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgilia, casada com lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticas, porque:

a) O narrador e Virgilia não tem percepção do tempo em seus encontros adúlteros.

b) Como “defunto autor, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo.

c) Na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas.

d) O relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas

e) O narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio.

Comentário: A descrição das batidas do relógio no fragmento apresentado desconstrói certos paradigmas românticos porque demonstra a preocupação com o tempo e sua materialização. O comportamento idealista e sonhador de Brás Cubas, que se penaliza e sofre com o passar das horas e instantes a menos de vida e, consequentemente, de amor. A atitude do personagem também muda, deixando de sofrer pela fugacidade do tempo para exaltar a sua exatidão e eternidade: Não ouvia os “minutos perdidos, mas ganhadas”. A resposta correta é a letra “d”.

Videoaula sobre o Realismo

Saiba mais sobre o realismo na videoaula do nosso canal:

Veja agora um pouco sobre um movimento literário que deu continuidade à técnica e ideias da escola Realista: o Naturalismo. Movimento também muito lembrado nos exames de vestibular e Enem.

Naturalismo

O naturalismo foi uma escola literária que, no Brasil, aconteceu concomitante à escola realista, e em muitos aspectos se confunde mesmo com ela. Para os naturalistas, o homem está inserido na sociedade guiado pelo instinto, pela sua natureza animal, e por isso cruel e intempestiva, posto que nos homens, animal que é, age a lei da sobrevivência.

Os naturalistas, assim como os realistas, faziam uma literatura de forte apelo crítico-social, mostrando e ressaltando as nuances da sociedade.

O Naturalismo chegou ao Brasil por meio da obra do francês Émile Zola, que com o seu romance Germinal (1881), descreve e analisa, no cenário de um mina da carvão, a crueldade da natureza humana e a voracidade das relações sociais.

Aluísio de Azevedo - Realismo e Naturalismo

No Brasil, o maranhense Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, mais famoso com Aluísio de Azevedo, foi o autor mais representativo dentre os nossos Naturalistas.

Aloísio, inicialmente desenhista e jornalista – que criava retratos e sátiras endereçadas a políticos locais – escreveu o seu primeiro romance – Lágrimas de Mulher – em 1880, e no ano seguinte O Mulato (1881), que ao tempo em que o trouxe reconhecimento como autor foi motivo de fuga, devido à irritação que ocasionou à poderosos locais.

O Romance era uma crítica ferrenha ao preconceito racial e ao conservadorismo.

Em O Cortiço (1890), outro de seus romances mais importantes, vemos como o autor, seguindo a escola Naturalista, construía personagens tipificados, psicologicamente superficiais, que são construídas pela ótica determinista, totalmente submetidas ao meio, herança genética e momento histórico.

Videoaula sobre Naturalismo

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Exemplo de exercício sobre o Naturalismo

(ENEM – 2011) 

Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outra notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor: música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.

AZEVEDO, A. O Cortiço . São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).

No romance O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, as personagens são observadas como elementos coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois

a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas.

b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo.

c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português.

d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses.

e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais.

Comentário: No trecho citado de O Cortiço, o narrador faz uso de vocábulos como “nostálgico” e “tristeza”, de aspecto melancólico, para descrever o fado português, ao passo que “vibrantemente”, “despertasse”, “ardentes” e “delirantes”, de tom alegre, são as palavras que descrevem a música brasileira. Dessa forma, como aponta a alternativa “c”, a vitalidade da música crioula prevalece sobre a melancólica portuguesa.

Exercícios sobre Realismo e Naturalismo

Por fim, resolva os exercícios sobre realismo e naturalismo que já apareceram no Enem e nos vestibulares:

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