Pesquisas mostram que a AIDS cresce entre os jovens brasileiros. Você sabe o que é AIDS? Como se pega o vírus HIV? Saiba mais sobre essa doença grave com esta aula de Biologia para o Enem!
De acordo com a UNAids, órgão das Nações Unidas para lidar com a epidemia, os casos de Aids e HIV no Brasil aumentaram 3% entre 2010 e 2016. Enquanto isso, a média dessa taxa no restante do planeta sofreu queda de 11%. Outra pesquisa divulgada recentemente pelo Ministério da Saúde aponta para fatos ainda mais tristes: o número de casos de HIV em jovens de 15 a 24 anos é o que apresentou maior aumento. Em 10 anos, essa taxa mais que dobrou nesta faixa etária.
De acordo com os dados divulgados, enquanto jovens e adolescentes têm se mostrado mais suscetíveis ao contágio por HIV, outras faixas de idade tiveram redução nos números de novos contágios. Mas o que levou a esses índices? Por que o HIV em jovens tem aumentado? Como a Aids é transmitida? Como ela surgiu? Saiba isso e muito mais com este post para você arrebentar em biologia no Enem (e também se ligar na vida!).
O que são AIDS e HIV? São diferentes?
A AIDS atualmente é responsável pela morte de aproximadamente 1 milhão de pessoas por ano no mundo. Desde 1981, mais de 30 milhões de pessoas morreram em decorrência da infecção causada pelo vírus HIV. A AIDS é considerada uma pandemia, que atinge mais de 35 milhões de pessoas e continua se espalhando ativamente.
AIDS é a sigla usada na maior parte dos países de língua inglesa (e também no Brasil) para denominar a “síndrome da imunodeficiência adquirida” (SIDA, para os países de língua espanhola e portuguesa). É uma doença grave, que destrói o sistema imune e é causada pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana).
Tipos de vírus HIV
Existem, basicamente, dois tipos de vírus HIV: 1 e 2. Esses vírus possuem funcionamento extremamente semelhante e são compostos por uma cápsula de proteínas (capsídeo) revestida por uma dupla camada lipídica com glicoproteínas. Estes envoltórios guardam o material genético do vírus (RNA) juntamente com algumas enzimas. Os vírus HIV são classificados como retrovírus, uma vez que possuem RNA e precisam a partir dele produzir DNA (ao contrário do que acontece nos seres vivos em geral).
Para produzir DNA e assim poder agir nas células que parasita, os vírus HIV utilizam a enzima transcriptase reversa. Essa enzima produz uma molécula de DNA a partir da molécula de RNA. A molécula de RNA original é destruída assim que o DNA é produzido. Já a molécula de DNA, por sua vez, produz outra molécula de DNA, formando uma dupla cadeia que migra para o núcleo da célula e se incorpora ao seu material genético.
Após esse processo, o DNA viral pode ficar inativo por muito tempo. Neste período, a pessoa pode não apresentar qualquer sintoma. Porém, quando por algum motivo ele se ativa, o DNA viral produz muitas novas moléculas de RNA que farão com que a célula passe a produzir estruturas virais e monte novos vírus. As partículas virais produzidas nesta linha de produção vão para a periferia da célula parasitada, são envolvidas por pequenas bolsas de membranas das próprias células hospedeiras e, assim, são liberadas.
O que o HIV causa em nosso organismo?
O HIV parasita células específicas do sistema imunológico: os linfócitos T4 ou CD4. Essas células são responsáveis pelo reconhecimento de antígenos que atacam nosso organismo e pela ativação de outras células do sistema imune durante uma reação de defesa.
Cada célula parasitada torna-se “escrava” dos vírus, tendo sua maquinaria celular totalmente voltada para a produção de novas partículas virais. Esse processo vai gradativamente destruindo os linfócitos, o que, com o tempo, compromete o sistema imunológico. Sendo assim, a pessoa infectada com o vírus fica praticamente sem defesas e acaba suscetível a qualquer processo infeccioso.
Sintomas
Em geral, os primeiros sintomas apresentados por uma pessoa que está tendo seus linfócitos destruídos são: inflamação nos linfonodos (formação de ínguas), febre, feridas na pele por conta da grande suscetibilidade a doenças causadas por germes oportunistas (como candidíase oral ou “sapinho”, herpes, meningite, giardíase) e emagrecimento rápido.
Com o sistema imune completamente deficiente por conta da infecção, acometida por doenças infeccionas persistentes e repetitivas e debilitada pelo baixo peso, a pessoa com Aids pode vir a óbito.
Fique ligado(a)! Uma pessoa HIV positivo não necessariamente é uma pessoa com Aids. Considera-se que uma pessoa está com Aids quando ela está apresentando sintomas da síndrome.
Como o HIV é transmitido?
O vírus HIV está presente em vários fluidos corpóreos, como o sangue, o esperma, a lubrificação vaginal e o leite materno. Sendo assim, para que uma pessoa saudável seja contaminada com HIV é necessário que os fluidos de uma pessoa HIV positivo entrem em contato com suas mucosas (peles úmidas, como a presente na boca, na vagina, no ânus e no interior da uretra) ou com a pele danificada (como em um ferimento). A situação mais comum em que pode ocorrer esse tipo de contato é a relação sexual (oral, vaginal ou anal).
Além da transmissão por relações sexuais desprevenidas (sem preservativo/camisinha), fluidos contaminados podem entrar no nosso corpo através de objetos perfurantes/cortantes (como alicates de cutícula e seringas). Este tipo de contaminação é mais comum entre os usuários de drogas injetáveis, uma vez que muitas vezes compartilham seringas.
Porém, em raríssimos casos, pode também pode ocorrer contaminação pelo HIV através de transfusões de sangue ou procedimentos hospitalares, caso não sejam tomados os devidos cuidados.
Há ainda a transmissão chamada de “vertical”. Neste caso, o HIV é transmitido de mãe para filho durante a gestação (o HIV pode ultrapassar a barreira placentária) ou pela amamentação.
Como surgiram o HIV e a AIDS
A principal teoria é de que o vírus causador da Aids tenha se originado de um outro vírus, o SIV, encontrado em células do sistema imunológico de chimpanzés e nos macacos-verdes africanos. Esse vírus, a princípio, não causava doença grave nos animais que ele infectava, mas, por ser um vírus com grande potencial mutagênico, acabou dando origem ao HIV.
Não se sabe ao certo como o vírus presente nos símios acabou infectando os seres humanos. A principal suspeita é de que humanos de tribos africanas tenham contraído o vírus ao caçar esses animais. O primeiro contágio na África teria ocorrido décadas antes da primeira descrição da doença.
Muito tempo mais tarde, na década de 70, começaram a surgir indícios da doença nos Estados Unidos e na África Central. A doença “misteriosa” debilitava seus portadores deixando-os altamente expostos às doenças oportunistas, sem explicação médica.
Apesar dos muitos novos casos que surgiram ao longo da década de 70, somente em 1981 a AIDS é reconhecida e descrita nos EUA. Vários casos começam a ser diagnosticados no país, especialmente em homens homossexuais. Esse início acabou se refletindo nas condutas de políticas públicas de vários países para enfrentamento da AIDS.
Em 1983 pesquisadores conseguiram isolar o vírus e vários laboratórios no mundo inteiro se lançaram na busca por medicamentos que pudessem conter o avanço da Aids. E, apenas em 1987, após o medo da doença ter se instaurado e o vírus ter se espalhado por todos os cantos do mundo vitimando milhões de pessoas, surge o primeiro medicamento contra o vírus: o AZT.
Videoaula sobre a AIDS e o vírus HIV
Grupos de risco
Como você viu acima, os primeiros casos foram detectados principalmente em homens homossexuais. Isso levou os pesquisadores a estabelecerem os chamados “grupos de risco”. Esses grupos faziam referência às parcelas da população que estariam “mais suscetíveis” ao vírus HIV. Seriam eles: homossexuais e bissexuais (em especial os homens), profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis.
Esses grupos realmente podem apresentar comportamentos que aumentam os riscos de contaminação: o sexo anal causa mais microferimentos na mucosa anal do que o sexo vaginal, o que facilitaria o acesso do vírus; os profissionais do sexo, por terem relações com um grande número de parceiros, estão mais expostos ao HIV; os usuários de drogas injetáveis muitas vezes compartilham seringas, facilitando a transmissão do vírus.
Porém, outras pessoas, fora desses grupos, também podem apresentar comportamentos que os expõem ao vírus. Fazer sexo com vários parceiros em pouco tempo e ter relações sem preservativo não são comportamentos exclusivos de profissionais do sexo, por exemplo.
Sendo assim, o estabelecimento de grupos de risco no começo da epidemia não ajudou a restringir os casos a um pequeno grupo, mas sim criou estigmas e preconceitos. Alguns meios de comunicação brasileiros, por exemplo, ao noticiarem os primeiros diagnósticos no Brasil chamaram a doença de “Peste Gay”:
Além disso, as pessoas que acreditavam estar fora dos grupos de risco entendiam que não seriam contaminadas. Assim, os casos de HIV entre heterossexuais dispararam e o número de mulheres infectadas aumentou muito ao longo da década de 90, chegando a praticamente se equiparar ao número de homens.
O terror da Aids
Quando era pequena, certa vez fiquei muito triste ao ouvir meus pais conversando sobre a possibilidade de um amigo da família ser “aidético”. A palavra era quase um palavrão (inclusive não é utilizada hoje, pois se tornou pejorativa), um estigma, envolvia todo um clima de medo e tensão. Lembro dessas conversas e de toda a preocupação que as acompanhavam. Era, então, década de 90. A Aids recentemente havia sido descrita e noticiada. A epidemia crescia e aparecia constantemente na mídia. Pessoas famosas morriam em decorrência da Aids.
O cantor Cazuza faleceu em 1990, aos 32 anos em decorrência da AIDS. Não era à toa que meus pais tinham medo. A aids, não tinha cura e ainda não tem. Na época, os tratamentos com medicamentos para estabilizar a doença ainda engatinhavam e seus efeitos colaterais assustavam. Renato Russo, o cara que eu adorava porque cantava “Pais e filhos” e “Faroeste Caboclo”, ídolo de uma geração, morreu em 1996 aos 36 anos também em decorrência do HIV.
Essas experiências e os discursos que ouvi dos meus pais fizeram com que eu sempre tivesse muito medo de me contaminar com HIV. Lembro de ler com muita atenção os manuais distribuídos pelo posto de saúde na minha escola. Eu, assim como várias pessoas da minha idade, cresci entendendo que a Aids é uma doença grave, sem cura, que assombrou as décadas de 80 e 90 e matou alguns dos meus ídolos.
Talvez por isso, minha geração (e as que vieram antes de mim) tenha aprendido mais com o que presenciaram. O massacre provocado pela Aids assustou o mundo e marcou gerações. O problema é que as novas gerações não têm tanto medo assim.
AIDS e HIV em jovens
Nos últimos anos, o Ministério da Saúde não conseguiu dedicar muita verba às campanhas de prevenção ao HIV e os alertas são cada vez menos frequentes. Ainda assim, nossos programas de enfrentamento do vírus são referenciados no mundo inteiro.
Porém, apesar da nossa boa reputação em relação aos investimentos em prevenção, vemos o crescimento de novos casos de Aids entre os jovens. Este crescimento é um sinal de alerta e nos mostra que as campanhas não estão sendo tão bem-sucedidas, que é preciso mudar a abordagem e focar na informação e prevenção da Aids entre esta parcela da população.
Um dos principais motivos apontados pelos especialistas para esse fracasso é o fato de que os jovens não têm a real dimensão da gravidade da Aids. Os anos passaram, a ciência avançou. Medicamentos cada vez mais eficientes e com menores efeitos colaterais garantem às pessoas portadoras de HIV uma vida plena, com expectativa de vida praticamente idêntica à dos não-portadores do vírus.
O problema é que talvez esta “qualidade de vida” à base de ingestão de muitos medicamentos por dia, esteja passando uma falsa ideia de segurança. Talvez por não terem presenciado a destruição que a AIDS causou há 20 ou 30 anos, os jovens não entendam a gravidade de uma infecção por HIV.
É necessário que os jovens entendam que, ao contrário do que se considerava no período de sua descoberta, a Aids não escolhe apenas pessoas de grupos de risco. Todos que se expõem ao vírus estão sujeitos ao contágio. A Aids não tem cura, não tem vacina. A única garantia é a prevenção através dos métodos já difundidos.
Para saber mais sobra a história da Aids:
Filme “Philadelphia”:
Filme incrível de 1993. Retrata a história de um jovem advogado homossexual que trabalha em uma importante firma de advocacia na Filadélfia. Andrew, que é HIV positivo não consegue esconder sua condição dos colegas de trabalho e acaba sendo demitido por ter Aids. A partir de então o filme foca no julgamento da ação que Andrew move contra a empresa em que trabalhava e debate o estigma que existe sobre as pessoas HIV positivo.
Filme “Clube de compras Dallas”
Outro filme sensacional sobre o tema. Este retrata o início da epidemia e os esforços em se encontrar medicamento para o tratamento do HIV. A história se baseia na vida de Ron Woodroof, consumidor de drogas, amante de mulheres, homofóbico, que, em 1986, foi diagnosticado com aids e recebeu a sentença de 30 dias de vida. Inconformado com o diagnóstico ele luta para conseguir medicamentos e revê seus preconceitos.
Quadrinho “Pílulas Azuis”
Frederik Peeters é um jovem suíço e em sua HQ conta como conheceu e como se desenrolou a relação com sua esposa, Cati. Nada muito fora do comum se não fosse por um detalhe: Cati, e também seu filhinho, são soropositivos. Logo o quadrinho não é apenas sobre a relação do casal, e sim a relação, e reação, de Peeters ao mundo das pessoas com HIV.
Para saber um pouco mais sobre a Aids no Brasil, veja esse vídeo do Dr Dráuzio Varella:
Exercícios
Saiba como esse conteúdo é cobrado no Enem e nos vestibulares:
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