Monteiro Lobato: quem foi e principais obras

Conheça a vida e a obra do escritor que fundou a literatura infantojuvenil brasileira e criou personagens inesquecíveis, como a boneca Emília, o Pedrinho, a Narizinho e a Cuca. Revise Literatura para o Enem!

Nesta aula de Literatura para o Enem você vai revisar os principais aspectos da vida e da obra do escritor pré-modernista Monteiro Lobato. Além de escritor, Lobato também se destacou como tradutor de várias obras estrangeiras e pelo seu ativismo político.

Entretanto, o que o consagra na galeria dos grandes escritores brasileiros é o fato de ter concebido uma literatura voltada ao público infantojuvenil, especialmente através das histórias de O Sítio do Picapau Amarelo.

Quem foi Monteiro Lobato

José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, interior de São Paulo, em 1882. Seu avô materno, Visconde de Tremembé, era dono de uma biblioteca imensa, da qual Lobato tirava bastante proveito. E foi nessa biblioteca que o menino José teve acesso a inúmeras obras de literatura infantojuvenil.

monteiro lobato aula
O escritor Monteiro Lobato, famoso sobretudo por sua produção voltada ao público infantil.

Após perder os pais na adolescência, decidiu estudar Belas-Artes. Contudo, para gerenciar os negócios do avô, foi levado por este a fazer Direito no Largo São Francisco. Nesse período, já contribuía para diversos jornais em Taubaté e em São Paulo, com caricaturas e algumas crônicas. Na faculdade, participou do grupo Arcádia Literária e Minarete, iniciando as suas incursões no mundo literário.

Em 1911, herdou a fazenda São José de Buquira de seu avô e mudou-se para o interior para viver da agricultura. Em virtude de algumas dificuldades financeiras e por estar aborrecido com as queimadas praticadas pelos caboclos na região, decidiu escrever uma longa carta para a seção de queixas de O Estado de São Paulo.

Ao examinar o conteúdo dessa carta, o jornal decidiu publicá-la em outra seção, e a carta alcançou grande repercussão. A partir de então, passou a contribuir com vários artigos que se tornaram obras famosas, como Urupês. Foi também por meio de seus textos publicados nesse jornal que o seu personagem Jeca Tatu se popularizou e ficou famoso.

Quer saber mais sobre o Jeca Tatu? Veja este resumo no nosso canal:

Em 1917, fundou a editora Monteiro Lobato & Cia, iniciando os primeiros trabalhos de edição e tradução. Esse era o começo de um movimento editorial nacional.

Depois disso, permaneceu quatro anos nos Estados Unidos, de 1927 a 1931, trabalhando como adido comercial. Ao regressar, indignado com a exploração dos nossos recursos naturais, lançou uma campanha para a extração do petróleo do Brasil, defendendo o bom uso dos recursos nacionais.

Tomava partido, assim, na campanha chamada O petróleo é nosso. Em uma carta direcionada ao então presidente Getúlio Vargas, criticava as medidas que possibilitavam ao capital estrangeiro a exploração local. Em 1936, publicou o livro O Escândalo do Petróleo, denunciando o mau governo das riquezas locais.

Monteiro Lobato teve grande influência e foi muito ativo na luta a favor das questões nacionais. Por sua oposição ao governo Getúlio Vargas, foi detido por seis meses. Faleceu em julho de 1948, vítima de um espasmo cerebral.

Ainda que tenha ficado conhecido publicamente por suas obras voltadas ao público infantil, a carreira de Monteiro Lobato também repercutiu entre os adultos. Isso porque o escritor discutiu temas políticos nacionais e a situação do homem trabalhador, em especial o do Vale do Paraíba.

Principais obras de Monteiro Lobato

A produção de Lobato é vasta. Seus livros foram publicados em diversos países, como Japão, Itália, Estados Unidos, China, Rússia, Espanha, etc. Entre a literatura produzida para o público adulto destacam-se os seguintes títulos:

  • O Saci-Pererê: resultado de um inquérito (1918);
  • Urupês (1918);
  • Cidades mortas (1919);
  • Ideias de Jeca Tatu (1919);
  • Negrinha (1920);
  • O Presidente Negro (O choque das Raças) (1926);
  • O escândalo do petróleo (1936);
  • O espanto das gentes (1941);
  • Zé Brasil (1947).

Monteiro Lobato também traduziu e adaptou inúmeros clássicos universais da literatura infantojuvenil, tais como:

  • Contos de Grimm;
  • Novos Contos de Grimm;
  • Contos de Andersen;
  • Novos Contos de Andersen;
  • Alice no País das Maravilhas;
  • Alice no País dos Espelhos;
  • Robinson Crusoé;
  • Contos de Fadas;
  • Robin Hood.

Entretanto, foi com uma obra autoral, genuinamente brasileira e voltada ao público infantojuvenil que o nome de Monteiro Lobato se consagrou na Literatura Brasileira. Trata-se de O Sítio do Picapau Amarelo, uma obra que encantou e continua encantando gerações de leitores. Além disso, muitos estudiosos da literatura nacional atribuem a Monteiro Lobato o papel de fundador de obras literárias voltadas ao público infantojuvenil.

Veja esta aulas da prof. Camila sobre as obras de Monteiro Lobato:

Monteiro Lobato e seu Sítio do Pica-pau Amarelo

Monteiro Lobato ganhou mais fama pela produção infantil do que por sua prosa adulta. De todas as histórias criadas, e foram muitas, o Sítio do Pica-pau Amarelo ganhou mais notoriedade.

O autor inventou a Emília, uma boneca que pensa e fala como gente grande; transformou um sabugo de milho em um sábio, o Visconde de Sabugosa; e, entre outras façanhas, trouxe para o sítio um rinoceronte. Além deles, personagens como a Narizinho, o Pedrinho, o Marquês de Rabicó, a Dona Benta, o Conselheiro, a Tia Nastácia, o Tio Barnabé, o Saci e a Cuca surgem alternadamente ao longo da história.

Os personagens se envolvem em inúmeras aventuras ocasionadas por um certo pó mágico que lhes permite voltar a épocas passadas ou se transportar para o futuro. Além dessas peripécias, os personagens do sítio também participam de histórias folclóricas nacionais ou mitológicas.

sítio do picapau amarelo
Elenco da segunda versão de O Sitio do Pica-pau Amarelo, adaptado para a televisão pela Rede Globo, no ano de 2001.

No entanto, por detrás dessas divertidas histórias para crianças, Monteiro Lobato cria personagens de verve crítica. Em outras palavras, são personagens que servem para lançar novos olhares sobre a realidade nacional ou chamar a atenção para situações locais de interesse comum.

Por exemplo, é possível encontrar na figura da boneca Emília o papel de uma grande contestadora. Muitos críticos da obra de Lobato enxergam na personagem a manifestação de um alter ego do próprio escritor. Isso porque é ela quem sempre lança as inúmeras perguntas presentes nos episódios e está constantemente inconformada com a situação presente.

Assim, a boneca falante revoluciona a vida no sítio, um local que apresenta diversas correlações com as situações vividas pelo escritor no sítio de sua infância.

Antes de fazer as questões, veja mais este vídeo da prof. Camila!

Questões sobre Monteiro Lobato

Questão 1 (Enem-2010)

Negrinha

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.

Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.

Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.

Ótima, a dona Inácia.

Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.

[…]

A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e zera ao regime novo – essa indecência de negro igual.

LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).

A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela:

a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas.

b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas.

c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.

d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto.

e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos.

Resposta: d.

Questão 2 (Enem-2002)

“Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos.  Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina – achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrıes amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo.

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.

No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente fantástico descrito. Expressões como “camaronando”, “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principalmente, efeitos de:

a) esvaziamento de sentido.

b) monotonia do ambiente.

c) estaticidade dos animais.

d) interrupção dos movimentos

e) dinamicidade do cenário

Resposta: e.

Questão 3 (UFRJ-2011)

Esse anúncio retratava aspectos da sociedade brasileira da época, expressando críticas principalmente às condições de:

a) acesso à escolarização

b) assistência médico-hospitalar

c) salubridade nas áreas rurais

d) integração econômica regional

e) todas estão corretas

Resposta: c.

Sobre o(a) autor(a):

Texto produzido pelo Professor João Paulo Prilla para o Curso Enem Gratuito. JP é licenciado em Letras- Português, Inglês e respectivas Literaturas (2010) pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões e mestrando em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ministra aulas de Literatura, Língua Portuguesa e Redação em escolas da Grande Florianópolis desde 2011.

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