Ancilostomose e bicho geográfico: sintomas, causas e prevenção

A ancilostomose e o bicho geográfico são verminoses muito frequentes no Brasil. Estão relacionadas com condições ruins de saneamento básico e contaminação ambiental. Sendo assim, são assuntos certos nas questões de Biologia do Enem e dos vestibulares.

Uma das frases que eu mais ouvia da minha mãe quando criança era: “- Não anda descalça, menina!” Com essa ordem, que toda mãe dá, ela estava tentando evitar que eu machucasse meus pés ao pisar em alguma coisa ou pegasse alguma doença ao entrar em contato com o solo contaminado.

E ela não estava errada. Andar descalço facilita o contágio com diversas doenças. Entre elas, as verminoses conhecidas popularmente como amarelão (ancilostomose) e bicho geográfico.

Nesta aula de Biologia para o Enem você vai conhecer o ciclo dessas duas verminoses. É uma aula importantíssima para mandar bem no Enem e nos vestibulares!

Isso porque as verminoses são assuntos recorrentes nessas provas, uma vez que elas permitem relacionar os programas de saúde com a qualidade do ambiente. Então, vamos estudar?

Resumo sobre o Amarelão e o Bicho Geográfico

Confira agora com a professora de biologia Claudia Aguiar, do canal do Curso Enem Gratuito, uma introdução às doenças da Ancilostomose e do Bicho Geográfico:

Características dos vermes causadores da Ancilostomose

Existem diferentes espécies que podem causar a doença conhecida como Ancilostomose, Ancilostomíase ou Amarelão. Na China, no Japão e na Índia a espécie que comumente causa essa doença é a Ancylostoma duodenale.

Já nas regiões tropicais, na maior parte da África e nas Américas (incluindo o Brasil), a espécie causadora da anciolostomose é a Necator americanus.

As duas espécies são bastante semelhantes e possuem ciclos de vida idênticos. Os vermes adultos dessas espécies são animais pequenos e possuem, em geral, entre 0,8 e 1,3 centímetros.

E, assim como outros vermes do Filo dos Nematelmintos, as fêmeas dessas espécies são maiores que os machos e mais numerosas nas infestações. Além disso, os machos possuem a cauda em forma de gancho para que possam segurar as fêmeas durante a reprodução.

Ambas as espécies de vermes possuem na boca placas ou espinhos duros, que parecem pequenos dentes. Essas estruturas são utilizadas pelos vermes para rasgar as paredes intestinais dos seus hospedeiros ou se fixar a elas. Veja a seguir as imagens da região frontal das duas espécies:

Ancylostoma causador da Ancilostomose
Duas fotomicrografias feitas a partir de microscópio eletrônico de varredura. Na primeira vemos a região anterior da espécie Ancylostoma duodenale, caracterizada pelas pela presença de quatro estruturas pontiagudas na boca. Na segunda vemos um exemplar de Necator americanus, espécie encontra nas américas e caracterizada pela presença de duas placas na boca.

O Jeca-Tatu e a doença do Amarelão

Confira com a professora de literatura Camila Zuchetto Brambilla, do canal do Curso Enem Gratuito, a obra literária de Monteiro Lobaro que retrata a doença do Amarelão.

Ciclo da ancilostomose

Os vermes adultos que causam a ancilostomose vivem no intestino delgado de seres humanos. Em seu interior, eles usam suas placas bucais para rasgar as paredes intestinais e sugar sangue delas.

Reprodução

Dentro dos intestinos dos hospedeiros, os vermes realizam reprodução sexuada e as fêmeas colocam seus ovos. Uma fêmea da espécie Ancylostoma duodenale pode colocar até trinta mil ovos por dia. Já as fêmeas de Necator colocam cerca de nove mil ovos diariamente. Esses ovos podem, então, serem eliminados juntamente com as fezes do hospedeiro.

Caso a pessoa contaminada viva em um ambiente sem saneamento básico, as fezes podem chegar ao ambiente, espalhando os ovos do parasita no solo. Assim, se houver condições adequadas de umidade e temperatura, os ovos tornam-se férteis ou embrionados. Isso quer dizer que no interior de cada um dos ovos irá se desenvolver uma larva rabditoide.

Depois de alguns dias no solo, os ovos eclodem e irão liberar larvas. Essas larvas irão passar por um processo de desenvolvimento e se transformarão em uma larva infestante, chamada de filarioide.

Contaminação

Essas larvas ficam no solo se deslocando livremente até acharem a oportunidade de penetrar em um hospedeiro. Isso acontece, geralmente, quando um ser humano caminha descalço sobre o solo contaminado por essas larvas. Contudo, as larvas não entram somente pela pele dos pés, mas sim por qualquer região da pele que se encontre em contato com o solo.

Após penetrarem na pele do hospedeiro, as larvas se deslocam até os vasos linfáticos. Em seguida, migram em direção aos vasos sanguíneos. A partir desses vasos, as larvas serão carregadas até os pulmões e o coração. Nos pulmões, as larvas perfuram as paredes dos alvéolos e se deslocam pelo sistema respiratório, chegando até a faringe. Na faringe, as larvas são deglutidas.

Assim, as larvas vão sendo empurradas juntamente com o alimento até os intestinos. Quando chegam ao intestino delgado os vermes já não são mais larvas, mas sim adultos sexualmente maduros. Assim, eles irão se instalar ali para se alimentarem, sugando sangue das paredes do órgão.

Nos intestinos, esses vermes irão se reproduzir sexuadamente, reiniciando o ciclo. Boa parte dos ovos dos vermes será eliminada juntamente com as fezes do hospedeiro. Porém, uma parte pode ficar retida nos intestinos, dando origem às larvas que irão iniciar a migração e voltar para os intestinos, aumentando a infestação.

esquema ciclo da ancilostomose
Desenho esquemático do ciclo da ancilostomose.

Sintomas da ancilostomose

No local da penetração das larvas rabditoides pode ocorrer uma pequena reação inflamatória, causando coceira. Com a migração das larvas ao longo do sistema digestório e respiratório, pode ocorrer tosse seca ou até mesmo pneumonia (inflamação dos pulmões).

Além disso, como você acabou de ver, os vermes se instalam nos intestinos rasgando suas paredes e sugando sangue delas. Sendo assim, podem acontecer pequenas e numerosas hemorragias, que deixarão o hospedeiro intensamente anêmico.

Com isso, a pessoa irá ficar desmotivada, sonolenta, com dores musculares e amarelada (daí o apelido da doença).

Ancilostomose e o Jeca-Tatu

Jeca Tatu é um personagem fictício, criado por Monteiro Lobato. Ele é um caipira que narra a situação vivida por trabalhadores rurais do interior de São Paulo. Jeca Tatu reclama constantemente de fadiga e dores no corpo e é diagnosticado com a doença conhecida popularmente como amarelão.

Jeca Tatu Ancilostomose (amarelão)
Desenho do personagem Jeca Tatu.

O personagem foi utilizado como forma de denunciar as situações ruins de trabalho no campo e também maneira de conscientizar a população sobre as verminoses.

Diagnóstico da ancilostomose

Os sintomas característicos da doença podem fazer com que os profissionais da saúde suspeitem da doença. A confirmação deve ser feita a partir de exame de fezes. Nesse exame, as fezes do paciente são observadas sob um microscópio, em busca de ovos do parasita.

ovo de Necator americanus
Fotomicrografia feita a partir de um microscópio óptico. Nela podemos observar a imagem de um ovo de Necator americanus.

Tratamento da ancilostomose

O tratamento da ancilostomose pode ser feito com remédios conhecidos como vermífugos. Como medida de prevenção, esses remédios devem ser, em geral, administrados anualmente. Especialmente nas regiões em que há situação de risco, como a falta de saneamento básico.

Além disso, dependendo do quadro apresentado pelo doente, pode ser necessário realizar também um tratamento para tratar a anemia, como a administração de ferro via oral.

Prevenção da ancilostomose

A principal maneira de prevenirmos verminoses que são transmitidas por fezes contaminadas com os ovos do parasita são medidas de saneamento básico. Redes de coleta e tratamento de esgoto, assim como fossas sépticas diminuem as chances de que os ovos do verme contaminem o ambiente, liberando larvas rabditoides.

Além disso, andar sempre calçado é uma das maneiras de se evitar a contaminação com ancilostomose.

Bicho geográfico

Você provavelmente já ouviu falar de bicho geográfico. O apelido dado a esse verme vem das lesões características formadas por suas larvas. Elas se deslocam pela pele do ser humano, deixando lesões que se assemelham a caminhos ou mapas.

lesões bicho geográfico
Fotografia de lesões provocadas pelo bicho geográfico.

O que talvez você não saiba é que os “bichos-geográficos” estão ali por engano. As espécies Ancylostoma braziliense e Ancylostoma caninum são, na verdade, parasitas intestinais de cães e gatos. Eles causam nesses animais doenças semelhantes ao amarelão nos seres humanos.

Contaminação

Entretanto, podem penetrar na pele humana por engano, quando entramos em contato com solos contaminados por larvas desses vermes. Como essas larvas são impedidas pelo nosso sistema imunológico e não conseguem atingir o sistema circulatório humano e os nossos intestinos, elas permanecem na pele, cavando túneis.

Por conta disso, os bichos-geográficos são também chamados de larvas migrans e dermatite serpiginosa. As lesões causam um quadro de inflamação na pele com grande coceira. O ato de coçar pode causar pequenos ferimentos na pele, o que pode facilitar o surgimento de infecções bacterianas, agravando o ferimento.

Tratamento

Em geral, a larva acaba morrendo após algumas semanas, já que não consegue completar seu ciclo de vida. Porém, é difícil tolerar a coceira e a irritação causadas pela sua movimentação sob a pele. Sendo assim, podem ser administrados cremes para aliviar o prurido e vermífugos via oral.

Prevenção contra o bicho geográfico

Como a larva migrans é um parasita de animais domésticos, a principal prevenção é administrar vermífugos anualmente para os animais. Além disso, deve-se evitar andar descalço e levar animais de estimação para locais onde as pessoas costumam sentar ou deitar na areia, como as praias.

prevenção bicho geográfico
Fotografia de um “catioro” afrontoso deitado embaixo de uma placa de “proibido animais na praia” em uma praia.

Videoaula

E aí, conseguiu aprender um pouco mais sobre essas verminoses? Beleza! Então, que tal tirar suas dúvidas assistindo uma videoaula? Veja a aula do canal “Biologia Prof. Guilherme”:

Exercícios sobre Ancilostomose

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Sobre o(a) autor(a):

Juliana Evelyn dos Santos é bióloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e cursa o Doutorado em Educação na mesma instituição. Ministra aulas de Ciências e Biologia em escolas da Grande Florianópolis desde 2007 e é coordenadora pedagógica do Blog do Enem e do Curso Enem Gratuito.

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