Arcadismo no Brasil: principais autores

Influenciado pelo Iluminismo, o Arcadismo no Brasil ganhou destaque em Minas Gerais. Os autores que se destacaram nesse período foram Tomás Antônio Gonzaga, Claudio Manuel da Costa, Basílio da Gama e Frei de Santa Rita Durão. Nesta aula, você vai aprender o contexto brasileiro da época e saber quais foram principais obras do Arcadismo no Brasil.

Arcadismo no Brasil: contextualização

O Arcadismo no Brasil ocorreu no século XVIII e teve como palco principal Minas Gerais. À exceção do português Tomás Antônio Gonzaga, todos os principais nomes árcades nasceram lá. São eles: Claudio Manuel da Costa, Basílio da Gama e Frei de Santa Rita Durão.

Além disso, podemos associar o Arcadismo ao Iluminismo, movimento intelectual e filosófico do final do século XVII e do século XVIII. Estão associadas à ideologia iluminista as palavras razão e ciência, as quais deveriam ser fundamentais para a explicação do mundo.

O racionalismo desse período tem a ver também com os avanços científicos. Foi quando, por exemplo, Isaac Newton formulou a lei da gravidade e na Biologia houve a classificação dos seres vivos.

Nesse contexto social, bom senso significava não entregar-se à imaginação e à fantasia. Dessa forma, não havia mais espaço para a ideologia barroca, considerada exagerada, desequilibrada, de mau-gosto.

E o equilíbrio dos iluministas e cientistas pode ser associado à outra faceta do Arcadismo, o retorno aos valores clássicos. Por isso, existe outro nome para o Arcadismo: Neoclassicismo. O clássico, que já havia sido reconquistado pela Renascença, pressupõe, justamente, a busca pelo equilíbrio, pela sobriedade, pela perfeição.

A mitologia faz, também, parte do espírito clássico. A propósito, o termo Arcadismo deriva de Arcádia, lugar mitológico onde reina a felicidade, a simplicidade e a paz. É um ambiente idílico, habitado por uma população de pastores, que vive em comunhão com a natureza, chefiada pelo deus Pã.

Características do Arcadismo

Assim, as características do Arcadismo, acabam por se misturar com o ideal clássico:

  • Presença de seres mitológicos;
  • Valorização da natureza;
  • Bucolismo (estilo de vida simples, tal qual a dos pastores);
  • Tranquilidade no relacionamento amoroso;
  • Predomínio da lógica;
  • Carpe diem (o “aproveitar o dia” junto à natureza).

Abaixo, uma fotografia da Praça Tiradentes, em Ouro Preto (MG), palco do Arcadismo no Brasil e da Inconfidência Mineira.

arcadismo no brasil - praça tiradentes
No centro da praça, uma estátua de Tiradentes e, ao fundo, o Museu da Inconfidência. Fonte: https://www.caint.ufop.br. Acesso 15 mai. 2020.

O Arcadismo no Brasil e a Inconfidência Mineira

Em tempos neoclássicos, o Brasil vivia a crise da cana-de-açúcar e a exploração das minas de ouro e pedras preciosas. Dessa forma, o foco do nordeste, epicentro do Barroco, foi deslocado para o sudeste. Minas Gerais, mais especificamente. A prosperidade econômica, resultante da riqueza natural da região, faz surgir a literatura. Isso ocorre por meio de um grupo de escritores: o grupo mineiro.

Este tipo de organização era novidade em nosso país, que, até então, só apresentara casos isolados de manifestação literária. Além disso, começa a existir, ainda que de maneira bastante modesta, um público leitor. Isso fez com que o sistema autor-obra-público pudesse ganhar corpo.

Muitos dos escritores, diga-se de passagem, foram influenciados pelas ideias vindas da efervescente França, iluminista e revolucionária. Esses escritores encabeçaram a Inconfidência Mineira (1789), movimento que resistia às medidas abusivas da administração portuguesa, exploradora.

Tomás Antônio Gonzaga

Tomás Antônio Gonzaga foi inconfidente. Nascido no Porto, veio para Vila Rica (atual Ouro Preto) em 1782, para trabalhar como Ouvidor. Noiva com Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, bem mais jovem do que ele. No entanto, bem no ano que iriam casar, 1789, acontece a Inconfidência. Com isso, Gonzaga acaba sendo julgado, juntamente com os demais revoltados, e exilado para Moçambique.

Maria Doroteia virou Marília e Tomás virou Dirceu na conhecida obra árcade Marília de Dirceu. A obra é um longo poema narrativo, composto por duas partes de cerca de trinta liras (termo utilizado para nomear os poemas que compõem a obra). Além disso, compõe a obra, também, uma terceira parte que mescla liras, sonetos e odes.

Apesar do aspecto autobiográfico do texto, o eu lírico é um pastor, em sintonia com a natureza, assim como Marília. Na sequência, um trecho em que o pastor admite gostar de seu afazer, porém nada supera a representatividade que a pastora exerce na vida dele:

Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Cláudio Manuel da Costa

Enquanto Tomás era Dirceu, Cláudio Manuel da Costa tinha como apelido pastoril Glauceste Satúrnio. Este mineiro é considerado o precursor do Arcadismo no Brasil, com Obras poéticas (1768). Foi, também, inconfidente, mas teve um final mais trágico do que o de Tomás: a morte. A seguir, os dois primeiros quartetos de um de seus sonetos mais conhecidos, o LXII:

Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.

Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.

(…)

A voz do excerto diz que, depois de ter ficado por um tempo na Corte, na cidade, retorna aos “outeiros” (pequenos montes) e aos “gabões” (capote simples de mangas). Encontra-se, então, na companhia de Almendro e de Corino, dois pastores da Antiguidade Clássica.

Basílio da Gama

Entretanto, os escritos da escola literária em questão não se resumem somente a escritos líricos e bucólicos. O épico pede passagem na obra de Basílio da Gama. O Uraguai narra as lutas entres os índios de Sete Povos das Missões do Uruguai contra o exército luso-espanhol, que vinha por em prática o Tratado de Madri (1750).

Em O Uraguai índios lutam bravamente por seu território contra os europeus invasores. Isso vai ao encontro da teoria do “Mito do bom selvagem” (Rousseau), próprio da época. Depois, no Romantismo, essa ideia aparecerá novamente.

Santa Rita Durão

Outra narrativa épica do século XVIII é Caramuru, de José de Santa Rita Durão. Apesar de ter sido mineiro, o autor fez a vida em Portugal. Lá, foi religioso da ordem de Santo Agostinho e catedrático de Teologia (Coimbra).

Ao passo que o foco de O Uraguai é o um fato história que ocorria na época do Arcadismo no Brasil, Caramuru fala do passado jesuítico.

Caramuru é o nome que Diogo Álvares Correia ganha assim que passa a viver entre os índios Tupinambás, após sobreviver a um naufrágio no litoral baiano. Considerado um herói “cultural”, que ensina as leis e as virtudes aos “bárbaros”.

Em 2001, a história se tornou o filme Caramuru – A invenção do Brasil, com Guel Arraes na direção e Selton Melo no papel de Diogo.

Por fim, veja a videoaula abaixo para reforçar seus conhecimentos sobre Arcadismo no Brasil:

Exercícios sobre Arcadismo

Agora, resolva os seguintes exercícios sobre Arcadismo no Brasil que eu separei para você:

01) (ENEM)

Torno a ver-vos, ó montes; o destino

Aqui me torna a pôr nestes outeiros,

Onde um tempo os gabões deixei grosseiros

Pelo traje da Corte, rico e fino.

 

Aqui estou entre Almendro, entre Corino,

Os meus fiéis, meus doces companheiros,

Vendo correr os míseros vaqueiros

Atrás de seu cansado desatino.

 

Se o bem desta choupana pode tanto,

Que chega a ter mais preço, e mais valia

Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,

 

Aqui descanse a louca fantasia,

E o que até agora se tornava em pranto

Se converta em afetos de alegria.

(Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.)

Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.

a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.

b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.

c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.

d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.

e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.

02) (UFSCar)

Texto 1

Eu quero uma casa no campo

do tamanho ideal

pau-a-pique e sapê

Onde eu possa plantar meus amigos

meus discos

meus livros

e nada mais

(Zé Rodrix e Tavito)

Texto 2

Se o bem desta choupana pode tanto,

Que chega a ter mais preço, e mais valia,

Que da cidade o lisonjeiro encanto;

Aqui descanse a louca fantasia;

E o que té agora se tornava em pranto,

Se converta em afetos de alegria.

(Cláudio Manuel da Costa)

Embora muito distantes entre si na linha do tempo, os textos aproximam-se, pois o ideal que defendem é

a) o uso da emoção em detrimento da razão, pois esta retira do homem seus melhores sentimentos.

b) o desejo de enriquecer no campo, aproveitando as riquezas naturais.

c) a dedicação à produção poética junto à natureza, fonte de inspiração dos poetas.

d) o aproveitamento do dia presente – o carpe diem-, pois o tempo passa rapidamente.

e) o sonho de uma vida mais simples e natural, distante dos centros urbanos.

03) (UFV)

Sobre o Arcadismo no Brasil, podemos afirmar que:

a) produziu obras de estilo rebuscado, pleno de antíteses e frases tortuosas, que refletem o conflito entre matéria e espírito.

b) não apresentou novidades, sendo mera imitação do que se fazia na Europa.

c) além das características europeias, desenvolveu temas ligados à realidade brasileira, sendo importante para o desenvolvimento de uma literatura nacional.

d) apresenta já completa ruptura com a literatura europeia, podendo ser considerado a primeira fase verdadeiramente nacionalista da literatura brasileira.

e) presente sobretudo em obras de autores mineiros como Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga e Basílio da Gama, caracteriza-se como expressão da angústia metafísica e religiosa desses poetas, divididos entre a busca da salvação e o gozo material da vida.

Gabarito: 1. B; 2. E; 3. C.

Sobre o(a) autor(a):

Alencar Schueroff é doutor em Literatura pela UFSC e professor em pré-concursos há 20 anos.

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