Paulo Freire (1921-1997) foi um educador e filósofo brasileiro. Ele é um dos pedagogos de maior prestígio internacional por suas ideias e métodos inovadores na educação.
Sabe quem foi o mais brasileiro condecorado no exterior? Um filósofo! Quer saber mais sobre o patrono da educação brasileira? Se liga nesta aula sobre Paulo Freire que é conteúdo do Enem.
Filosofia brasileira
Já reparou que em sua grande maioria, os filósofos que hoje estudamos são europeus? É interessante nos indagarmos o porquê disso. Aliás, deveríamos ir além e refletirmos: por que não há muitos filósofos brasileiros?
Partindo do pressuposto que a filosofia nasceu há alguns milênios, quando os gregos criaram uma revolucionária forma de pensar, é fácil entender por que a produção filosófica se concentra por aquelas bandas.
Todavia, não estamos mais na época de Cabral, onde demorava-se meses para se comunicar com o outro lado do Atlântico. Com o avanço da tecnologia, foi possível disseminarmos conhecimento por todo o globo, possibilitando o surgimento da Filosofia nos mais variados cantos do planeta.
O Brasil hoje é palco para o desenvolvimento da Filosofia, seja voltada para algo mais regionalizado como, por exemplo, uma reflexão sobre a desigualdade social e a escolaridade dos brasileiros, ou para uma parada mais global, como a falta de consciência e o crescimento do racismo radical.
Encabeçando os problemas filosóficos dessas bandas, temos como principal nome Paulo Reglus Neves Freire, mais conhecido como Paulo Freire. O filósofo recifense é mundialmente renomado e sua atuação na filosofia política e na pedagogia lhe renderam o título de patrono da educação brasileira.
Quem foi Paulo Freire
Paulo Freire nasceu em 19 de setembro de 1921 no Recife. Ele foi um estudioso que vivenciou o desamparo da famigerada crise de 1929. Esse fato o ajudou a conduzir seu olhar para os desafortunados, público-alvo de vários de seus estudos, como o famoso método de alfabetização de adultos que leva seu nome.
Paulo Freire contribuiu com uma filosofia da educação que veio não só das abordagens mais clássicas decorrentes de Platão, mas também da fenomenologia-existencial, de pensadores marxistas e anticolonialistas modernos.
Vale ressaltar que Freire foi o brasileiro mais homenageado de todo mundo! Ele recebeu ao menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa de inúmeras universidades. Alguns exemplos são: a Universidade de Bolonha (considerada a mais antiga do mundo), a Universidade de Barcelona, a Universidade de Massachusetts, a Universidade Complutense de Madri, a Universidade de Havana e diversas outras.
Além dos títulos de Doutor Honoris Causa, ele também recebeu diversas homenagens, como o prêmio da UNESCO de Educação para a Paz em 1986. Aqui no Brasil foi homenageado postumamente em 2012 com a Lei nº 12.612, que declara o educador Paulo Freire patrono da educação brasileira.
Embora formado em Direito, optou por não seguir carreira como advogado. Freire era um livre pensador e por isso acabou flertando com a filosofia, mais especificamente com a filosofia da educação. Assim, foi dentro da educação que desenvolveu suas principais ideias, dentre elas, uma aclamada crítica ao papel elitista da escola.
De acordo com uma pesquisa envolvendo três estados brasileiros, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, Paulo Freire é o nome de escola mais comum nesses lugares. Fonte da imagem: quadrinista @thiagokrening
Experiência de alfabetização em Angicos
Diferindo do estereótipo do filósofo que vive no mundo da lua, Paulo Freire foi um sujeito da ação, dedicando sua vida não só aos estudos, mas à aplicação deles. O preâmbulo de seu projeto pedagógico começou no Rio Grande do Norte, na cidade de Angicos, quando em 1963 ele comandou um curso de alfabetização para 300 pessoas. O notório foi que tal empreitada deveria ser feita em pouco mais de um mês!
Esse projeto pedagógico fazia oposição ao que Freire chamou de educação bancária, alusão às metodologias que entendiam que os estudantes não possuíam conhecimentos prévios e que o professor deveria depositar o conhecimento nesses “receptáculos vazios”.
Contrariamente a essa perspectiva, a metodologia proposta por Freire se pauta na experiência do aluno, fazendo importantes ligações do conhecimento acadêmico com o cotidiano dos educandos. Essa empreitada de 40 horas envolvia ensinar os fonemas por meio de palavras que faziam parte do cotidiano dos trabalhadores, como marmita ou operário.
De acordo com Freire:
“Não há nem jamais houve prática educativa em espaço-tempo nenhum de tal maneira neutra, comprometida apenas com ideias preponderantemente abstratas e intocáveis. Insistir nisso e convencer ou tentar convencer os incautos de que essa é a verdade é uma prática política indiscutível com que se pretende amaciar a possível rebeldia dos injustiçados. Tão política quanto a outra, a que não esconde, pelo contrário, proclama, sua politicidade.”
A experiência na cidade de Angicos ganhou notoriedade internacional pois pretendia concluir em 40 horas o processo de alfabetização e a formar cidadãos mais conscientes de seus direitos e dispostos a defendê-los de maneira democrática. O sucesso foi tanto que o Plano Nacional de Alfabetização passou a levá-lo em conta, embora o projeto tenha sido arquivado e nunca mais retomado depois do golpe de 1964.
Projeto pedagógico político
Nesse sentido, pode-se afirmar que Paulo Freire desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político, já que a política é parte central da vida humana. Freire alegava, inclusive, não ser possível manter a imparcialidade dentro da sala de aula, tendo em vista que nós somos partes atuantes dessa política e por conta disso, orientados por alguma base ideológica.
A proposta de Freire, contrária à educação bancária, afirmava que todos nós sabemos alguma coisa e todos ignoramos alguma coisa. Por conta disso, estamos sempre ensinando e aprendendo.
O projeto de alfabetização de Angicos foi acusado de incitar um levante na cidade, já que os trabalhadores que lá estudaram, passaram a reivindicar carteira de trabalho assinada e repouso semanal.
Ora, às discussões ocorridas durante a experiência de alfabetização de Paulo Freire (ao ensinar a escrever palavras como: direitos, funcionário, patrão, etc.), os professores acabavam por levantar discussões pertinentes ao assunto, incentivando os alunos a ler artigos da CLT. Alega-se que isso serviu de base para as greves e paralizações na cidade.
Bom, se levarmos em conta que era necessário ser alfabetizado para votar e nesta ocasião, o “Paulão” estava alfabetizando a galera das classes menos favorecidas. Então, podemos dizer que ele estava formando eleitores que, dado sua base ideológica inclusiva, seriam críticos a um governo que mantém a desigualdade.
Prisão e carreira internacional
Todo esse reboliço fez com que Freire fosse preso. Após passar 70 dias na prisão, o filósofo se exilou no Chile, onde escreveu seu mais famoso livro: Pedagogia do Oprimido. Ainda no exílio, ele deu aulas nos Estados Unidos, organizou projetos de alfabetização na África, fez palestras na Suíça e só voltou ao Brasil depois da anistia.
Por fim, é preciso frisar que Paulo Freire foi um intelectual notório, figurando entre os maiores pensadores dessas bandas. Embora não possamos negar sua relevância, suas ideias ainda hoje permanecem polêmicas. Mas, como o próprio Freire apregoava, acima de tudo devemos entender e respeitar os outros.
Videoaula sobre Paulo Freire
Saiba mais sobre o pensamento de Paulo Freire no vídeo a seguir:
Exercícios sobre Paulo Freire
1 – (COTEC PFS/MG 2020)
Segundo Freire (1996), “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” Se essas tendências forem consideradas pelo profissional pedagogo, no exercício de suas atividades pedagógicas, serão perceptíveis, no ambiente de trabalho,
A) memorização de conteúdos como uma forma de preservação da cultura letrada e do conhecimento.
B) diálogos que incentivem à busca pela aprendizagem e incentivos às trocas de experiências.
C) capacitações para mistificação da realidade e treinamentos para a resolução de problemas.
D) experiências compartilhadas com o objetivo de reforçar suas crenças e influenciar as atitudes dos outros.
E) rigorosidade metódica, no processo de aprendizagem, para limitar o pensamento crítico do educando
2 – (CONTEMAX PPL/PB 2020)
Paulo Freire é o principal autor dessa tendência. Esta pedagogia propõe uma educação crítica a serviço da transformação social. Nessa corrente o papel da escola está baseado na formação da consciência política do discente para agir e modificar a realidade. Os conteúdos são extraídos por meio de Temas geradores retirados da problematização do cotidiano dos educandos. Os métodos de ensino são baseados em grupos de discussão e deve promover a vivência de relações efetivas. O professor e aluno são sujeitos do ato do conhecimento, a relação é de igual para igual. A aprendizagem ocorre por meio da troca de experiência em torno da prática social. Assinale a alternativa correta que apresente o nome dessa tendência pedagógica:
A) Tendência Progressista.
B) Tendência Liberal Estruturalista.
C) Tendência Progressista Libertadora.
D) Tendência Liberal Tradicional.
E) Tendência Liberal Niilista.
3 – (FCC AL/AP 2020)
Em tempos em que a sociedade brasileira encontra-se polarizada, dividida em extremos que pouco escutam e muito falam, o diálogo é fundamental e necessário, e encontra na teoria freireana alicerce fundamental. Diálogo pressupõe a escuta e o respeito ao outro, assim como a necessária compreensão de que não existem dicotomias de saberes quando se dialoga. É bem verdade que o diálogo freireano, ainda que sob forte componente filosóficohumanizador, integra-se fortemente ao campo educacional.
(RIBEIRO, 2018, Revista Horizontes)
Sobre Paulo Freire, é correto afirmar:
A) Defendia o método da repetição de palavras soltas ou de frases criadas de forma forçosa, como “Eva viu a uva”, para alfabetização.
B) Suas ideias não devem ser consideradas pelos professores brasileiros, pois nunca foram postas em prática e, portanto, não podem ser comprovadas.
C) Defendia que a educação bancária deveria ser aplicada em todas as escolas como forma de melhorar a educação.
D) Criticava a utilização da cartilha para o ensino da leitura e da escrita e, com a utilização de suas ideias, conseguiu alfabetizar 300 cortadores de cana em apenas 45 dias
E) Defendia o fim da escola e a construção de um novo sistema de ensino em que os oprimidos tivessem maior autonomia.
Gabarito
- B
- C
- D