9 de julho: veja como foi a Revolução Constitucionalista de 1932 

O professor Felipe de Oliveira conta pra você tudo sobre “A Guerra dos Paulistas”. Foi quando São Paulo se rebelou contra o governo de Getúlio Vargas. Uma guerra de verdade, com batalhas, bombardeios e muita gente morta.

O movimento tentou impedir a continuação do governo provisório de Getúlio Vargas, instaurado em 1930.

Resumo especial sobre o dia 9 de julho 

Confira com o professor Felipe Carlos de Oliveira as imagens históricas dos combates e bombardeiros, os fatos históricos, os grupos políticos e os detalhes dessa revolta que faz parte da História do Brasil.

A Revolução Constitucionalista de 1932 é um dos maiores conflitos armados e um dos mais importantes acontecimentos políticos da história do Brasil no século XX. Os revolucionários exigiam uma nova Constituição e eleições presidenciais. Foram três meses de batalhas até o fim da guerra com a assinatura de um armistício. 

Como se deu a Revolução Constitucionalista de 1932

É sabido que os paulistas dominavam a política nacional, no contexto da República Velha. Em 1900, Campos Salles criou um grande arranjo para que paulistas e mineiros se revezassem na presidência da República. Tratava-se da Política ou República do Café com Leite. 

O Governo Federal controlava as oligarquias estaduais através da política de governadores, que tinha um importante instrumento de poder – a Comissão Verificadora de Poderes, pela qual um grupo de senadores, nomeados pelo presidente, poderia até mesmo anular a eleição de deputados ou senadores contrários ao presidente da República. 

Em 1930, no entanto, acontece uma ruptura da política do Café com Leite, quando o presidente, Washington Luís, apoiou o governador de São Paulo, Júlio Prestes, como candidato à presidência pelo Partido Republicano, em detrimento dos mineiros. 

Essa decisão leva Minas Gerais a se unir aos governadores do Rio Grande do Sul e da Paraíba, formando uma chapa de oposição, conhecida como Aliança Liberal. Getúlio Vargas é escolhido como candidato à presidência, enquanto João Pessoa, apoiado pelo governador de Minas, Antônio Carlos, é selecionado como vice-presidente.

O candidato de São Paulo, Júlio Prestes, vence a eleição, que acaba sendo contestada pelos tenentes sob alegação de fraude. 

Após a eleição consolidada, acontece o assassinato de João Pessoa, atribuído às oligarquias paulistas. 

Tem início uma luta armada, com apoio de Vargas e de Antônio Carlos, que acaba chegando ao Rio de Janeiro para derrubar o governo de Washington Luís e entregar o cargo para Getúlio, dando início à Era Vargas. 

Durante a Revolução de 1930, também acontece a suspensão da Constituição de 1891, e Vargas passa a legislar via decreto, de maneira autoritária. 

Grupos envolvidos e principais pautas do movimento

Combatentes constitucionalistas de São Paulo, durante o levante da Revolução Constitucionalista de 1932 | Reprodução/Wikicommons

No dia 9 de julho, o Brasil assistiu ao início de seu maior conflito armado e também à maior mobilização popular de sua história. 

Como se tratava de um movimento das elites paulistas, a princípio foi formado por cafeicultores e industriais, preocupados em recuperar a hegemonia política de São Paulo. Mas, ao incentivar manifestações populares, acabaram conquistando a adesão de mulheres, estudantes e operários. 

A principal pauta da Revolução Constitucionalista era a deposição de Vargas, já que ele demorava a convocar eleições para uma nova Assembleia Constituinte e para realizar uma nova Constituição que previsse eleições gerais no país.

Liga de Defesa Paulista (LDP)

Protesto na Praça da Sé em 25 de janeiro de 1932. No aniversário de São Paulo, o povo foi às ruas apesar da chuva. Domínio Público. 

Em 1931 já havia se formado a Liga de Defesa Paulista e um dos fatos marcantes do início dessa mobilização contra Vargas é a Manifestação de 25 de janeiro de 1932. 

No aniversário da cidade de São Paulo, populares foram às ruas reivindicando a convocação de eleições para uma assembleia constituinte e uma nova constituição, bem como o seu direito de voto e representatividade. 

Aos poucos, essas manifestações vão crescendo, levando Vargas a aprovar um código eleitoral com regras para aquilo que seria a eleição para a assembleia constituinte. 

Esse código eleitoral já prevê o voto secreto, a participação das mulheres e a Justiça Eleitoral. 

Mesmo com essa possibilidade, Getúlio Vargas ainda exercia um forte controle sobre a política estadual, já que os interventores nomeados não se comunicavam com os interesses das elites. 

Para tentar acalmar a oposição, Vargas acaba nomeando o interventor Pedro de Toledo, que também não conseguia governar por conta de indicações de Getúlio quanto aos secretários que ele deveria ter ao seu redor. 

Por isso, Pedro de Toledo acaba contrariando as orientações e forma um secretariado totalmente paulista, apesar da forte fiscalização do ministro Osvaldo Euclides de Sousa Aranha, enviado por Vargas. 

MMDC e o início da Revolução Constitucionalista

Disponível em: http://www.al.sp.gov.br

No dia 23 de maio, quando Pedro de Toledo forma esse secretariado paulista, Osvaldo Aranha está prestes a intervir em São Paulo. 

É então que acontece uma grande mobilização para defender o governo formado por paulistas. 

Tropas de tenentes ligadas a Vargas reprimem violentamente a manifestação, culminando na morte de quatro jovens: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que dão origem à sigla MMDC.  

No dia 9 de julho de 1932, o próprio interventor, Pedro de Toledo, se alia ao movimento de oposição e o Estado de São Paulo declara guerra ao governo de Vargas, dando início à Revolução Constitucionalista. 

O Estado de Maracaju

São Paulo procurava formar uma aliança com outros estados para exigir do governo provisório de Getúlio Vargas que o Brasil voltasse ao regime constitucional.

Tomando a dianteira, na esperança do apoio de outros Estados, como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, São Paulo deflagrou a 9 de julho o Movimento Constitucionalista, que contou com a adesão da maioria dos militares sediados no sul de Mato Grosso, bem como da maioria de  seus líderes civis.

O fato de existir um movimento divisionista no sul do Mato Grosso em relação ao governo de Cuiabá, juntamente com a disposição dos líderes civis e militares em apoiar o movimento contra o governo provisório propiciou que fosse instalado o Estado de Maracaju, tendo como capital a cidade de Campo Grande.

Publicidade do Governo Vargas

O Governo Vargas desejava desqualificar o movimento constitucionalista e inibir a adesão de outros estados à revolta paulista. 

Por isso, investiu em publicidade para afirmar que se tratava de um movimento separatista  formado por italianos simpatizantes do fascismo. 

Curiosamente, é Vargas quem dá um golpe de estado anos mais tarde, em 1937, usando como inspiração a legislação fascista vigente na Polônia para outorgar uma Constituição. 

De qualquer forma, a publicidade acabou surtindo efeito positivo para Vargas e contendo uma maior adesão ao movimento, que acabou tendo a participação efetiva apenas de forças do Mato Grosso, especificamente da parte Sul. 

Ofensivas paulistas e estrutura de guerra

Um dos dois canhões Schneider-Canet 150mm retirados do Forte Itaipu e utilizados pelos paulistas sob um vagão prancha na linha ferroviária nos combates da Revolução de 1932. Um foi utilizado na “Frente sul” de combate e outro na “Frente norte”. Domínio público.

A guerra dos paulistas contra Vargas exigiu a criação de uma estrutura para enfrentar as forças federais. 

Eles produziram caminhões e até trens blindados de maneira improvisada. Algumas fábricas passaram a produzir exclusivamente artigos bélicos para a guerra contra Vargas e, inclusive, tornaram-se QGs para abrigar os soldados envolvidos.

Os  paulistas também fizeram uso da aviação para enfrentar as tropas federais. 

Mas, a superioridade bélica federal acabou dificultando o avanço dos paulistas ao Rio de Janeiro e a possibilidade de derrubar Vargas.

O fim da guerra em outubro de 1932

Telegrama relatando o fim das hostilidades. Domínio público. 

O armistício, ou a paz, vem apenas em outubro de 1932, após três meses de guerra civil. 

No final, Getúlio Vargas impõe sua autoridade e, para evitar que um novo movimento como esse acontecesse, ele que já havia criado o Código Eleitoral, elege uma nova Assembleia Constituinte em 1933. 

No ano seguinte, acontece a promulgação de uma nova Constituição, que prevê leis trabalhistas, leis eleitorais e o voto classista. 

Dos mais de 200 deputados federais que o Brasil teria após essa Constituição, cerca de 40 seriam eleitos dentro dos sindicatos atrelados ao Estado através do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio.

Além de consolidar seu poder como presidente eleito pelo congresso de maneira indireta em 1934, para se perpetuar no poder, Vargas dá o Golpe do Estado Novo em 1937, alegando ameaça comunista, que se descobriu falsa. Assim, ele institui um regime ditatorial que dura 8 anos. 

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