A reportagem como gênero textual

EXTRA! EXTRA! Ao final desta aula, você saberá o que é uma reportagem como gênero textual, suas principais características estruturais e finalidade. Vem com a gente aprender mais sobre reportagem, um gênero que aparece em muitos vestibulares pelo país.

Além das notícias, escritas de maneira bem sucinta para trazer informações relevantes sobre acontecimentos atuais, a reportagem como gênero textual tem seu espaço garantido em revistas e jornais, sejam eles virtuais ou não.

Então, veja abaixo um fragmento desse gênero:

Clarice Lispector, a escritora inqualificável no estilo e na forma

Dona de uma personalidade enigmática e de uma linguagem poética e inovadora, autora foi reconhecida como uma das mais importantes literatas do século XX e forjou para si uma lenda que segue atual

“Não escrevo para agradar ninguém”, repetiu Clarice Lispector inúmeras vezes, sempre que alguém se queixava de não entender o que ela queria dizer em suas obras. Jamais se importou com o que pensariam, especialmente depois que um jornal de Pernambuco rejeitou os contos que, ainda menina, enviava à seção de ficção infantil da publicação. Porque, enquanto as outras crianças enviavam textos narrativos, os seus continham apenas “sensações”.

Sempre teve certeza de que se dedicaria a escrever, e de fato atuou não só como escritora, mas também como jornalista, escrevendo artigos de opinião, de cozinha e de moda. Lispector desejava ser considerada uma mulher normal, e aparentemente era, como mãe de dois filhos, esposa e cidadã de classe média. Entretanto, destacava-se em tudo, porque não era normal em nada do que fazia, e sim uma artista genial, impossível de enquadrar, reconhecida em seus círculos íntimos e nos ambientes literários do Brasil, mas quase nada no exterior, apesar de ter viajado muito durante seu pouco mais de meio século de vida.

Clarice Lispector é considerada, junto com Guimarães Rosa, a grande escritora brasileira da segunda metade do século XX, graças ao seu estilo, entre a poesia e a prosa. Uma marca que enchia os detalhes cotidianos de espiritualidade e que se caracterizava por utilizar a primeira pessoa na narrativa. Não se parecia com ninguém, e sua visão não recorda nenhum movimento, embora pertença à terceira fase do modernismo brasileiro, da chamada Geração de 45.” […]

Fonte: El País

Eita! Você deve ter notado que este exemplo é maior, certo? Estamos acostumados a nos depararmos com esse tipo de texto – mais longo, detalhado – em jornais e revista. São as reportagens. Aliás, em 2020 comemora-se o ano do centenário de Clarice Lispector, então, aproveite e leia a reportagem toda. Há grandes chances de cair algo no ENEM sobre ela.

O que é uma reportagem?

A reportagem como gênero textual é um gênero discursivo que tem por finalidade apresentar informações sobre assuntos específicos e por caracterizar acontecimentos a partir de um olhar direto dos fatos. Portanto, ela é fruto da atividade do repórter. Sendo assim, da mesma maneira que acontece com a notícia, a reportagem é um gênero discursivo associado à atividade jornalística. Ou seja, ela tem por finalidade trazer informações mais detalhadas sobre um determinado conteúdo.

A diferença entre reportagem e notícia

Devemos entender que a reportagem como gênero textual pode ser considerada a própria essência de um jornal e se difere da notícia pelo conteúdo, extensão e profundidade. De moro geral, a notícia descreve o fato e, no máximo, seus efeitos e suas consequências.

Enquanto isso, a reportagem busca mais: tem na notícia seu ponto de partida. Ela desenvolve uma sequência investigativa que não cabe na notícia. Assim, busca não somente as origens do acontecimento, mas, também, suas razões e efeitos.

Características de uma reportagem

Os elementos principais da reportagem como gênero textual são:
  • Pesquisar o máximo de informações sobre um fato, por meio de uma investigação mais aprofundada fruto do trabalho de um repórter;
  • A reportagem admite vários graus de subjetividade, a depender do estilo do tópico abordado;
  • Uma reportagem sobre um esporte ou uma escritora por exemplo, pode ser escrita a partir de uma perspectiva mais pessoal;
  • Entretanto, uma reportagem investigativa sobre algum crime político ou financeiro, por exemplo, deverá ser escrita de modo mais objetivo.

Por onde andam as reportagens?

Reportagens costumam circular nos espaços destinados aos textos jornalísticos e passam por alguma alteração em sua estrutura a depender do veículo para o qual foram preparadas. Portanto, temos reportagens feitas para a televisão, para os jornais impressos, para as revistas e para os portais da internet.

Neste caso, nosso foco são as reportagens que circulam em jornais e revistas. Nelas, diferente das reportagens televisivas, a importância da imagem é minimizada em relação à importância do texto, já que são criadas para serem lidas.  Sendo assim, neste caso, imagens e informações iconográficas costumam ilustrar aspectos específicos do que está sendo abordado no texto.

Quem lê reportagens?

Você já deve saber, estudante, que não se pode definir, de maneira estreita, um perfil específico para os interlocutores de reportagens, pois esse perfil sempre estará ligado ao tópico abordado e ao veículo – jornal, revista, site – em que serão publicadas.

Então, dito isso, fica mais fácil imaginarmos quem será o leitor de de uma reportagem de acordo com a temática apresentada. Por exemplo, os interlocutores das reportagens de corrida de rua serão, provavelmente, pessoas que gostam deste tipo de atividade.

Entretanto, as reportagens que tratam de temas mais gerais, relacionados a questões sociais e políticas, por exemplo, apresentam um perfil mais geral: seus interlocutores são as pessoas que querem se manter informadas e não se satisfazem em acompanhar apenas notícias diárias.

A estrutura de uma reportagem como gênero textual

Então, já posso adiantar que não temos uma estrutura fixa para esse tipo de gênero discursivo. Contudo, o primeiro parágrafo tem um caráter de introdução, assim o leitor pode recuperar o tema e o contexto em que o texto está inserido.

Linguagem

Como é de se esperar em outros textos jornalísticos, espera-se, também, que a linguagem utilizada na reportagem seja adequada à norma culta. Contudo, o grau de formalidade pode variar de acordo com o estilo da publicação e com o veículo – jornal, revista, site – em que o texto for circular.

Por exemplo, em uma reportagem feita para ser apresentada em um programa televisivo, é preferível que se tenha um grau de informalidade maior do que o de um texto redigido para publicação em uma revista semanal ou em um jornal de circulação nacional.

Além disso, outro aspecto característico da linguagem das reportagens que podemos apontar é a presença, no texto, de diferentes vozes. Essas vozes representam as pessoas envolvidas na questão abordada e que foram entrevistadas pelo repórter durante a fase de apuração dos dados. Olha só:

Clarice Lispector morreu na capital fluminense em 9 de dezembro de 1977, na véspera de completar 57 anos, vítima de um câncer. Sua despedida no hospital, a uma enfermeira, foi: “Morre meu personagem!”, talvez a melhor definição de sua literatura. Foi enterrada dois dias depois no cemitério do Caju, pelo rito judaico ortodoxo, envolta em linho branco. Sua lápide, simples, leva seu nome hebraico: Chaya Bat Pinkhas, que significa “Chaya, filha de Pinkhas”.

Esse fragmento foi retirado da reportagem que ilustra nossa revisão. Temos as aspas: um recurso muito utilizado em textos jornalísticos que trazem uma citação. No parágrafo referido, as aspas vêm para trazer duas citações diferentes: uma traz as últimas palavra de Clarice Lispector “Morre meu personagem!” e a outra traz a tradução do que está escrito na lápide da escritora.

Como escrever

Para escrever uma reportagem, o jornalista se utiliza desses seguintes passos:

  • Organiza as informações obtidas durante a pesquisa e define o foco do seu texto
  • Pensa que tipo de perguntas quem se interessa pelo assunto poderá fazer
  • O primeiro parágrafo de um texto jornalístico é muito importante para capturar o interesse do leitor. Então, o jornalista pensa qual poderia ser o melhor começo para a sua reportagem
  • Organiza o material iconográfico – tabelas, gráficos, mapa mental – caso tenha, e seleciona as imagens que poderão acrescentar informações ao texto e ilustrar aspectos essenciais a serem apresentados.

Videoaula

Então, para este assunto, é isso! Agora, assista a videoaula abaixo e resolva as questões sobre o gênero discursivo reportagem.

Até a próxima!

Exercícios

TEXTO: 1 – Comum à questão: 1    
NO ANIVERSÁRIO DA LEI
MARIA DA PENHA, 5 FEMINICÍDIOS
NAS ÚLTIMAS 48H.

Casos foram registrados no DF, PE, SC e RJ. Enquanto norma completa 12 anos nesta terça (07/08), aumento de pena para agressor trava na Câmara.

Criada para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, a Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) completa 12 anos nesta terça-feira (07/08). A necessidade de melhorar a legislação e dar maior proteção é urgente. Casos de feminicídio que chocaram o país estampam as manchetes nesta semana.

NÚMEROS ASSUSTADORES

Em 2017, com base em dados compilados pela Agência Patrícia Galvão – organização referência nos campos dos direitos das mulheres –, foram registrados 4.473 homicídios dolosos de mulheres. Isso significa que, a cada duas horas no Brasil, há um assassinato de uma pessoa do sexo feminino.

O número, porém, pode ser maior, uma vez que a falta de padronização e registros embaraça o monitoramento de feminicídios no país. O estado recordista de homicídios contra mulheres é o Rio Grande do Norte, com 8,4 a cada 100 mil mulheres. Já o Mato Grosso tem a maior taxa de feminicídio: 4,6 a cada 100 mil.

Texto adaptado. Disponível em:<https://
www.metropoles. com/brasil/no-aniver-
sario-da-lei-maria-da-penha-4- feminici-
dios-nas-ultimas-48h>. Acesso em 07 de
agosto de 2018.

Questão 01)

A partir dos trechos da reportagem acima, pode-se afirmar que:

I. Apesar da criação da Lei Maria da Penha, muito ainda é preciso ser feito contra a violência doméstica à mulher

II. Há um baixo índice de homicídio doloso de mulheres.

III. Problemas burocráticos atrapalham o monitoramento dos casos de feminicídio.

IV. O Mato Grosso não apresenta uma taxa relevante de feminicídio.

Marque a alternativa:

  1. a) se I e II estiverem corretas.
  2. b) se apenas II estiver correta.
  3. c) se I e III estiverem corretas.
  4. d) se I e IV estiverem corretas.
  5. e) se apenas IV estiver correta.

Gabarito: C

Questão 02)    

Filha do compositor Paulo Leminski lança disco com suas canções
“Leminskanções” dá novos arranjos a 24 composições do poeta

Frequentemente, a cantora e compositora Estrela Ruiz é questionada sobre a influência da poesia de seu pai, Paulo Leminski, na música que ela produz. “A minha infância foi música, música, música”, responde veementemente, lembrando que, antes de poeta, Leminski era compositor.

Estrela frisa a faceta musical do pai em Leminskanções. Duplo, o álbum soma Essa noite vai ter sol, com 13 composições assinadas apenas por Leminski, e Se nem for terra, se transformar, que tem 11 parcerias com nomes como sua mulher, Alice Ruiz, com quem compôs uma única faixa, Itamar Assumpção e Moraes Moreira.

BOMFIM, M. Disponível em:
http://cultura.estadao.com.br.

Acesso em: 22 ago.
2014 (adaptado).

Os gêneros textuais são caracterizados por meio de seus recursos expressivos e suas intenções comunicativas. Esse texto enquadra-se no gênero

  1. a) biografia, por fazer referência à vida da artista.
  2. b) relato, por trazer o depoimento da filha do artista.
  3. c) notícia, por informar ao leitor sobre o lançamento do disco.
  4. d) resenha, por apresentar as características do disco.
  5. e) reportagem, por abordar peculiaridades sobre a vida da artista.

Gabarito: C

Sobre o(a) autor(a):

Anderson Rodrigo da Silva é professor formado em Letras Português pela UNIVALI de Itajaí. Leciona na rede particular de ensino da Grande Florianópolis.

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