Quando pensamos em Idade Medieval, é comum lembrarmos de castelos europeus, cavaleiros, do domínio da Igreja e do feudalismo. Mas você já se perguntou o que estava acontecendo na África enquanto a Europa passava por esse período? Existiam reinos africanos naquela época? Como suas sociedades eram organizadas? Que relação eles tinham com o resto do mundo?
Até pouco tempo atrás, era comum a história da África estar presente durante os estudos a Antiguidade, com o Egito, e só voltasse a aparecer na época colonial, com a escravidão. Todo o período entre esses dois momentos e toda a diversidade do continente ficavam de fora dos livros de história, como se não existissem.
Mas essa realidade vem mudando cada vez mais. Hoje, os livros didáticos têm vários capítulos dedicados à história da África. E, é claro, o Enem e os vestibulares também cobram uma pluralidade de assuntos relativos ao continente africano. A aula de hoje é sobre um deles: as sociedades africanas que se desenvolveram na época equivalente à Europa medieval.
Divisão territorial da África
A África é um continente bastante grande e diverso. Por isso, ao longo da história existiram diferentes formas de classificar seu território. O que todas elas têm em comum é a utilização do deserto do Saara como um delimitador. O deserto atravessa o continente de leste a oeste e abrange 10 países. A parte norte, que engloba o deserto, pode ser chamada de África setentrional ou África saariana. Já a parte que fica ao sul do Saara é chamada de África subsaariana.
Mas o continente africano não nasceu assim, com o maior deserto do planeta. Há cerca de 5 mil anos, ele era uma região verde, fértil e habitada por vários povos. No entanto, mudanças climáticas fizeram o deserto surgir e ir se expandindo cada vez mais. Por isso, os povos que ali viviam tiveram que migrar para o sul ou para o norte.
Mahgreb
Assim, surgiram novas subdivisões que são importantes para entendermos o desenvolvimento dos diferentes reinos africanos. As populações que migraram para o norte se juntaram aos cartagineses, no território que vai do Mar Mediterrâneo até o início do Saara. Essa região é chamada de Maghreb.
Sahel
Uma parcela menor de pessoas migrou para o sul, pois a África subsaariana possuía maiores dificuldades de ocupação. Em algumas regiões, a terra era pouco fértil, e outras eram totalmente cobertas por florestas. Mesmo assim, algumas sociedades conseguiram encontrar condições de desenvolvimento. Dois exemplos são os reinos de Gana e do Mali, que prosperaram na borda sul do Saara, região conhecida como Sahel.
Sudão
Em documentos antigos de árabes, a região abaixo do Sahel era denominada Sudão. Eles a chamavam de “Bilad Al-sudan” (terra dos negros) porque era habitada por povos de cor negra. Historiadores também passaram a usar a palavra “Sudão” para se referirem a esse extenso território. Ainda existe a subdivisão entre Sudão ocidental e central. Mas, lembre-se: essa classificação territorial não é a mesma dos atuais países do Sudão e Sudão do Sul. Cuidado para não se confundir!
Nessas regiões, várias sociedades se desenvolveram, cada uma a sua maneira. As que tiveram maior destaque foram os reinos de Axum, do Congo, e dos iorubás. Na sequência, veremos um pouco sobre as formas de organização desses povos.
Organização política e social
As sociedades que se desenvolveram no território africano se organizavam política e socialmente de formas diversas. Alguns povos se concentravam em pequenos grupos enquanto outros formaram grandes reinos. Mas eles tinham algumas características em comum, como a união pelos laços de parentesco e fidelidade a um chefe.
Os grupos eram divididos em clãs cujos seus membros tinham um antepassado em comum. Era frequente a poligamia, pois a prática ampliava o número de laços de fidelidade e solidariedade.
Apesar de na maioria dos casos ser o homem a ter várias esposas, também existiram sociedades em que as mulheres é que tinham múltiplos parceiros. Essas famílias eram hierarquizadas e havia um chefe que respondia por cada uma delas.
Alguns desses grupos eram nômades e viviam da caça e da coleta. Mas também havia clãs que se uniam a outros e formavam aldeias fixas. Nesses casos, todos os líderes familiares obedeciam ao chefe da aldeia. Este, por sua vez, recebia parte da produção dos seus subordinados e em troca deveria zelar pelo seu bem estar.
Os agrupamentos poderiam crescer ainda mais, unindo aldeias em forma de uma confederação comandada por um conselho de chefes. Esse tipo de formação costumava reunir falantes de uma mesma língua, como os iorubás e os bantos.
Também existiam formações maiores, os reinos, que eram sociedades bem estruturadas e que giravam em torno de uma capital. Nela, havia abundância de pessoas, riquezas e de alimentos. Esses reinos também possuíam burocracia, uma corte e exércitos permanentes. Alguns exemplos são Gana e Mali.
Por fim, havia também grandes cidades-Estados muradas, que funcionavam de forma muito semelhante às capitais dos reinos. A diferença era a sua extensão, que se restringia ao território dentro dos muros.
Escravidão em território africano
A escravidão não foi uma prática exclusiva da colonização da América. Desde a Antiguidade, pessoas são escravizadas por serem vistas como inferiores. Prisioneiros de guerra eram feitos escravos em sociedades como a romana, a grega, e também nas africanas.
Desde grandes impérios até pequenas aldeias africanas utilizavam pessoas escravizadas para realizar diversos serviços. Eram utilizados na agricultura, no pastoreio, em trabalhos domésticos, nos exércitos, em construções e até mesmo em trabalhos burocráticos.
Não existia uma unicidade entre os povos africanos – da mesma forma como não houve com os europeus. Havia populações que se viam como adversárias, e, por isso, os vencedores submetiam os vencidos a trabalhos forçados. Mas essa não era a única forma de escravização que existia na África. Quem desrespeitasse regras ou não pagasse seus tributos poderia perder sua liberdade.
Mas uma forma de escravização na África merece receber maior atenção. A partir do século VIII, as sociedades do norte da África passaram por um processo de islamização. Desse momento em diante, esses povos passaram a organizar caravanas para capturar escravos na África Subsaariana. Eles comercializavam essas pessoas com os árabes por meio das rotas comerciais no Saara.
Como o Corão tinha regras que proibiam um muçulmano de escravizar outro muçulmano, africanos islamizados e árabes muçulmanos buscavam por populações que não haviam sido convertidas. Foi assim que milhões de africanos foram escravizadas antes mesmo do período colonial.
No entanto, como a prática já era conhecida por chefes locais, a negociação com os europeus no século XV foi facilitada. Um exemplo disso foi a presença de portugueses no Congo. Eles uniram-se a um herdeiro do rei e ajudaram-no a se tomar o trono. Em troca, o novo soberano facilitou a negociação de prisioneiros que se tornariam escravos na América.
Exercícios:
1 – (UDESC SC/2017)
Apesar das conhecidas interferências provocadas pelos mais de 300 anos de contato, muitas vezes violento, com os povos europeus, até o início do século XIX, o Continente Africano contava com poucos territórios sob domínio externo.
A respeito do Continente Africano no período que antecede o século XIX, assinale a alternativa correta.
a) Até o século XVII, as rotas comerciais, existentes nos reinos e impérios africanos, eram exclusivamente externas. As riquezas, como tecidos, plantas medicinais e, especialmente, ouro, só circulavam por via marítima.
b) Até o século XVII, a imposição da condição de escravidão aos homens e às mulheres, na África, ocorria apenas entre os Iorubas.
c) Os reinos africanos contavam com práticas de auxílio mútuo que garantiam crescimento e prosperidade. Eis porque inexistiam, até o século XIX, exércitos ou efetivos militares.
d) A língua preponderantemente falada no Continente Africano era o Khoisan, proveniente da região Sul, a partir do século XV foi substituída pelas línguas francesa e portuguesa.
e) No século XV, o Continente Africano apresentava grande diversidade. Politicamente, organizava-se em inúmeros reinos e impérios dentre os quais o dos Songai, Monomotapa, Congo, Daomé e o Ioruba. Grande parte destes povos recebia, direta ou indiretamente, influência da cultura árabe e da religião mulçumana.
2 – (UEPA/2015)
A escravização era uma prática conhecida de longa data no continente africano antes da chegada dos comerciantes portugueses, no século XV, ávidos por adquirir ouro e trabalhadores escravos em troca de produtos como armas, tecidos e contas de vidro. No entanto, o comércio de cativos instituído pelos europeus diferia de práticas preexistentes no continente africano. Esta diferença deve ser identificada com a prática da escravidão:
a) interna dos Reinos Africanos, pela qual o contingente de servos do estado se dedicava à produção agrícola.
b) resultante de guerras, que contrapôs os reinos africanos antigos às incursões militares estrangeiras.
c) mercantilista, motivada pelo interesse dos europeus em adquirir escravos e ouro ao longo da costa africana.
d) doméstica, praticada por povos tribais e a de infiéis, promovida quando da expansão muçulmana na África no século VIII d.C.
e) religiosa, promovida pelas autoridades cristãs europeias interessadas em converter os pagãos.
3 – (FGV/2009)
Durante a Antigüidade e a Idade Média, a África permaneceu relativamente isolada do resto do mundo. Em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, no norte do continente, dando início à exploração de sua costa ocidental.
(José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti, Toda a História)
Acerca da África, na época da chegada dos portugueses em Ceuta, é correto afirmar que
a) nesse continente havia a presença de alguns Estados organizados, como o reino do Congo, e a exploração de escravos, mas não existia uma sociedade escravista.
b) assim como em parte da Europa, praticava-se a exploração do trabalho servil que, com a presença europeia, transformou-se em trabalho escravo.
c) a população se concentrava no litoral e o continente não conhecia formas mais elaboradas de organização política, daí a denominação de povos primitivos.
d) os poucos Estados, organizados pelos bantos, encontravam-se no Norte e economicamente viviam da exploração dos escravos muçulmanos.
e) a escravidão e outras modalidades de trabalho compulsório eram desconhecidas na África e foram introduzidas apenas no século XVI, pelos portugueses e espanhóis.
1- Gab: E
2- Gab: D
3- Gab: A