Tabagismo no Brasil: por que o número de fumantes voltou a crescer?

Por que o Brasil voltou a fumar? Descubra o impacto do tabagismo e dos cigarros eletrônicos (vapes) na saúde e na economia.

O Brasil sempre foi exemplo mundial na luta contra o cigarro.

Campanhas educativas, aumento de impostos, proibição de propagandas e ambientes fechados livres de cigarro fizeram com que o número de fumantes caísse drasticamente desde 2007. Essa queda foi resultado de um esforço coletivo entre governo, instituições de saúde e a sociedade.

No entanto, esse cenário começou a mudar. Dados da pesquisa, feita pelo Ministério da Saúde, mostram algo preocupante: pela primeira vez em quase duas décadas, o número de fumantes adultos aumentou no país. Esse crescimento representa um retrocesso que ameaça não só a saúde da população, mas também o sistema público de saúde e a economia do país.

Por que isso está acontecendo? Quais os impactos reais do cigarro e dos novos produtos como o cigarro eletrônico? E o que o Brasil pode fazer para voltar a reduzir o número de fumantes? Vamos entender melhor.

O que causou esse aumento?

A pesquisa, divulgada em função do Dia Mundial sem Tabaco (31 de maio), revelou que a porcentagem de adultos fumantes subiu de 9,3% em 2023 para 11,6% em 2024. Esse aumento de quase 25% em apenas um ano é algo inédito desde o início da pesquisa, em 2007. Mais grave ainda é que o aumento foi maior entre as mulheres: a taxa passou de 7,2% para 9,8% — um crescimento de 36%. Entre os homens, o aumento foi de 11,7% para 13,8%, ou seja, 18% a mais.

Esse crescimento aponta para uma tendência que já vinha sendo observada entre adolescentes: o tabagismo entre meninas tem crescido mais rapidamente. Isso exige campanhas de prevenção com recortes de gênero, pois meninas e mulheres estão sendo mais impactadas por essas novas formas de fumar.

AnoTotal (%)Homens (%)Mulheres (%)Crescimento Total (%)Crescimento Homens (%)Crescimento Mulheres (%)
20239,311,77,2
202411,613,89,8+24,7+17,9+36,1

Fonte: Ministério da Saúde (dados preliminares)

E onde entram vapes e pods nessa história?

Apesar da proibição de comercialização, importação e publicidade de dispositivos eletrônicos desde 2009, os DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar)— como vapes e pods — se popularizaram, sobretudo entre jovens de 18 a 24 anos. São dispositivos altamente viciantes, muitas vezes mais potentes que os cigarros convencionais, com até 1.800 tragadas por dia e concentração elevada de nicotina.

A indústria do tabagismo disfarça esses produtos como menos nocivos ou até úteis para parar de fumar. Mas os dados indicam o oposto: muitos usuários de vape jamais haviam fumado cigarro tradicional, o que revela seu potencial de criar uma nova geração de dependentes.

As consequências são sérias: de lesões pulmonares (como a EVALI) a doenças cardíacas, danos neurológicos e agravos à saúde mental. A seguir, uma síntese dos principais malefícios:

Área AtingidaProblema de SaúdeDescrição Simplificada
PulmõesEVALILesão pulmonar grave
PulmõesInflamaçãoIrritação dos pulmões
PulmõesInfecçõesMais chance de pegar doenças respiratórias
CoraçãoInfartoAumenta risco de ataque cardíaco
CoraçãoPressão AltaAcelera batimentos e eleva a pressão
CérebroDesenvolvimento AfetadoPrejudica jovens em fase de crescimento mental
Saúde MentalAnsiedade e DepressãoRelação com problemas emocionais
VícioAlta DependênciaMuito mais viciante que o cigarro tradicional
IntoxicaçãoDoses Altas de NicotinaAlguns têm até 57 mg/ml
SubstânciasProdutos Tóxicos e MetaisExposição a venenos e metais pesados

Apesar da proibição, a venda continua forte pela internet e pelo contrabando. No Congresso Nacional, há projetos com ideias opostas: alguns querem liberar o uso (PL 5008/2023), outros querem reforçar a proibição (PL 2158/2024). Especialistas em saúde pública apoiam a proibição total.

Qual o verdadeiro custo do tabagismo para a saúde e a economia do Brasil?

Um estudo do INCA (Instituto Nacional do Câncer) deste ano mostrou que, para cada R$1 de lucro da indústria do tabaco, o Brasil gasta R$5 para tratar doenças causadas pelo cigarro. Por ano, o país perde R$153 bilhões — R$67,2 bilhões com tratamentos e R$86,3 bilhões com a perda de produtividade no trabalho.

Além disso, o estudo mostra que a cada R$156 mil de lucro da indústria, uma pessoa morre de forma evitável. Isso mostra o tamanho do problema para o país, justificando medidas mais duras como impostos maiores e processos contra empresas do setor.

IndicadorValor (R$)O Que Significa
Gasto em saúde por R$1 lucroR$2,30Para cada real ganho, gastam-se R$2,30 em saúde
Custo Total por R$1 lucroR$5,10Incluindo perdas com afastamentos
Custo Anual TotalR$153 bilhõesSoma dos prejuízos causados pelo fumo
Gasto com TratamentosR$67,2 bilhõesDinheiro gasto com hospitais e médicos
Perda de ProdutividadeR$86,3 bilhõesAfastamentos, mortes precoces etc.
Lucro por morte evitávelR$156 milLucro que “vale” uma vida para a indústria

Argumentos para uma resolução da temática no Enem

O Brasil já provou que é possível conter o tabagismo. De 1989 a 2015, a prevalência caiu de 32% para cerca de 10%. No entanto, a indústria do tabaco se reinventa com táticas cada vez mais sofisticadas: lobby, redes sociais, produtos “alternativos” e estratégias para atrair jovens. Para retomar o controle e reverter o cenário atual, é preciso agir em múltiplas e integradas frentes, envolvendo diversas esferas da sociedade e do governo:

  • Aumentar impostos seletivos sobre produtos de tabaco, tornando-os menos acessíveis e mais alinhados com os custos sociais que geram.
  • Criar um fundo específico para o SUS, financiado por tributos sobre o tabaco, para sustentar ações de prevenção e tratamento.
  • Empoderar municípios com políticas locais de restrição ao uso, como proibição de fumo em espaços públicos abertos.
  • Reforçar a fiscalização e combater o contrabando, que mina a efetividade das políticas públicas.
  • Investir em campanhas de conscientização atualizadas e eficazes, especialmente voltadas aos jovens.
  • Implementar e fortalecer programas de educação sobre os riscos do tabagismo e do uso de DEFs desde os primeiros anos escolares.
  • Fortalecer parcerias com organizações não governamentais (ONGs), instituições de saúde e a sociedade civil organizada, bem como manter uma adaptação e avaliação constante das mesmas.

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Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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