Como entender a história de Luiz Gama e Luiza Mahin pode te ajudar no Enem
Descubra como novas pesquisas sobre Luiz Gama e Luiza Mahin renovam debates históricos e podem aparecer no Enem 2025.
Você já ouviu falar em Luiz Gama e Luiza Mahin? Luiz Gama foi um dos maiores abolicionistas do Brasil e é, inclusive, o Patrono da Abolição da Escravidão. Sua mãe, Luiza Mahin, é lembrada como um símbolo da resistência negra, homenageada no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Ambos, com suas vidas e legados, deram nome a temas essenciais como justiça, liberdade e resistência no Brasil.
Embora grande parte da história de Gama e Mahin tenha sido obscurecida por registros incompletos e versões contraditórias, estudos recentes de historiadoras como Lisa Earl Castillo e Wlamyra Albuquerque, com base em documentos do Arquivo Público do Estado da Bahia, têm preenchido lacunas e redefinido suas trajetórias. Esses achados, como testamentos e registros de batismo, revelaram e revisaram detalhes importantes, como o ano de nascimento de Gama e a condição escravizada de Luiza Mahin no nascimento do filho – algo antes desconhecido.
Neste texto, vamos explorar como Luiz Gama e Luiza Mahin são figuras fundamentais não só para a história do Brasil, mas também para o Enem. Acompanhar seus legados te ajudará a compreender temas como a abolição, a memória histórica e as contribuições negras na luta por liberdade, enriquecendo sua redação com um repertório além do senso comum.
Quem foi Luiz Gama?

Luiz Gama nasceu em 21 de junho de 1831, em Salvador, Bahia. Era filho de Luiza Mahin, uma mulher negra, e de Antônio Agostinho Carlos Pinto da Gama, um homem branco. Apesar de ter nascido livre — já que a lei brasileira proibia a escravização de pessoas nascidas no país após a proibição do tráfico transatlântico — ele foi vendido ilegalmente pelo próprio pai aos 10 anos de idade, como forma de quitar dívidas de jogo. Esse episódio marcou profundamente sua trajetória e influenciou sua atuação futura contra o sistema escravocrata.
Mesmo tendo permanecido analfabeto até os 17 anos, Luiz Gama iniciou um processo de autoeducação. Aprendeu a ler, escrever e, mais tarde, a interpretar as leis brasileiras. Com esse conhecimento, entrou com um processo na Justiça para comprovar sua condição de homem livre — e obteve sucesso. Esse caso se tornou um dos primeiros exemplos de “autolibertação judicial” da história brasileira.

A partir de então, Gama passou a atuar como rábula (advogado sem diploma formal), utilizando principalmente a Lei Feijó (1831) e, depois, a Lei do Ventre Livre (1871) para defender pessoas escravizadas ilegalmente. Sua estratégia consistia em provar que, por lei, muitos cativos tinham direito à liberdade. Ele oferecia defesa jurídica gratuita a pessoas negras, pobres ou fugitivas e, ao longo da vida, estima-se que tenha libertado mais de 500 pessoas.
Além da atuação jurídica, Luiz Gama também foi poeta e jornalista. Publicou o livro Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, onde utilizava o humor e a sátira para criticar o racismo e os costumes da elite da época. Em suas crônicas e artigos, defendeu ideias abolicionistas, republicanas e anticlericais, fazendo parte de jornais como Diabo Coxo e Cabrião, ao lado de figuras como Ângelo Agostini.
Luiz Gama faleceu em 1882, seis anos antes da abolição oficial da escravidão no Brasil. Seu legado, no entanto, segue sendo reconhecido. Em 2015, recebeu da OAB o título póstumo de advogado. Em 2018, teve seu nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, e, em 2021, tornou-se o primeiro negro brasileiro a receber o título de doctor honoris causa pela USP. Suas ações jurídicas, literárias e políticas o colocam como um dos principais nomes da luta abolicionista no país.
E Luiza Mahin?

Luiza Mahin é considerada uma das figuras mais emblemáticas da resistência negra no Brasil do século XIX, embora existam poucas fontes documentais sobre sua vida. Ela teria origem na região da Costa da Mina, atual Benim, pertencente à nação Nagô ou Jeje. Seu sobrenome, Mahin, provavelmente deriva da etnia Mahi. Há controvérsias sobre sua condição ao chegar ao Brasil: algumas fontes indicam que ela foi trazida como escravizada; outras sugerem que teria nascido livre ou sido alforriada ainda jovem.

Grande parte do que se sabe sobre Luiza Mahin vem de uma carta autobiográfica escrita por seu filho, Luiz Gama. Nela, ele descreve a mãe como uma mulher de forte personalidade, trabalhadora, vendedora de quitutes nas ruas de Salvador e com ideias consideradas rebeldes para a época. Segundo o relato de Gama, Luiza teria participado ativamente de revoltas escravas, como a Revolta dos Malês (1835) e a Sabinada (1837–1838), atuando de forma clandestina na articulação dessas insurreições. Esses movimentos, ao lado de outros levantes, demonstram a complexidade e a força das resistências negras no Brasil escravista.
No entanto, estudos mais recentes têm colocado em debate a participação direta de Luiza Mahin nesses movimentos. A historiadora Wlamyra Albuquerque, por exemplo, afirma que não há registros documentais que comprovem sua atuação nessas revoltas. Essa ausência de provas não anula sua importância histórica, mas reforça a dificuldade de documentar a vida de pessoas negras escravizadas ou marginalizadas, cujas trajetórias muitas vezes ficaram fora dos registros oficiais ou foram preservadas apenas pela oralidade e pela memória coletiva.
As pesquisas de Lisa Earl Castillo e Wlamyra Albuquerque trouxeram à tona documentos importantes, como registros de batismo, testamentos e escrituras, que indicam que Luiza Mahin era escravizada quando Luiz Gama nasceu. Isso contradiz o relato de Gama, que dizia ser filho de uma mulher africana livre. Esses achados reforçam a complexidade da história de Mahin e o impacto da escravidão na fragmentação de laços familiares e na construção das memórias individuais.
Apesar das incertezas sobre detalhes específicos de sua vida, Luiza Mahin se consolidou como um símbolo de resistência negra e da atuação política de mulheres afrodescendentes no Brasil. Em 2019, seu nome foi oficialmente inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, e ela vem sendo lembrada em produções culturais, como o romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, e nos desfiles de escolas de samba, que ajudaram a popularizar sua imagem como referência de força e insubordinação.
Como usar esse repertório na redação do Enem
As histórias de Luiz Gama e Luiza Mahin são um verdadeiro tesouro para o seu preparo para o Enem, especialmente quando pensamos em como elas se encaixam nas Competências da prova e podem turbinar sua redação. Entender essas conexões te dá uma vantagem estratégica, permitindo que você use esse repertório de forma inteligente, como por exemplo:
Competência 2
Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
As trajetórias de Luiz Gama e Luiza Mahin são exemplos concretos de conceitos como racismo estrutural, desigualdade social, luta por direitos, memória histórica e protagonismo negro. Ao inseri-los em sua redação, você demonstra a aplicação de conhecimentos históricos e sociológicos pertinentes ao tema, enriquecendo sua argumentação com um repertório qualificado e diversificado. Por exemplo, se o tema for sobre persistência do racismo, a história da venda de Gama ou o apagamento de Mahin são fortes argumentos de contextualização.
Competência 3
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Ao utilizar os feitos de Luiz Gama (sua atuação como rábula, libertando escravizados) ou o simbolismo de Luiza Mahin (como ícone de resistência feminina e negra), você está selecionando fatos históricos relevantes para construir seu argumento. A forma como você relaciona, por exemplo, a luta de Gama com a importância do acesso à justiça hoje, ou o apagamento da história de Mahin com a necessidade de valorização da memória, mostra sua capacidade de organizar informações para defender um ponto de vista coeso e original.
Possíveis abordagens
As vidas de Gama e Mahin oferecem excelentes argumentos para diversos temas de redação:
Direitos Humanos
A luta incansável de Luiz Gama pela liberdade e justiça para os escravizados é um potente exemplo de defesa dos direitos humanos. Você pode usá-lo para argumentar sobre a importância da garantia universal de direitos, a persistência da violação desses direitos no Brasil e a necessidade de ativismo social.
Racismo e Desigualdade Social
A venda ilegal de Luiz Gama pelo próprio pai e o apagamento da história de Luiza Mahin são reflexos diretos do racismo estrutural e da desigualdade social que marcam o Brasil. Eles servem como prova histórica de como a cor da pele e a origem social determinavam o destino de indivíduos e grupos, e como essas marcas ainda persistem.
Propostas de Intervenção
Ao sugerir soluções para problemas sociais, você pode embasar suas propostas de intervenção na valorização do legado desses personagens. Por exemplo, argumentar sobre a importância de políticas públicas que promovam a educação antirracista, a revisão curricular para incluir mais história e cultura afro-brasileira, ou iniciativas que garantam o acesso pleno à justiça para todos os cidadãos, combatendo o racismo institucional.