Dia da Consciência Negra: história, resistência e cultura afro-brasileira

Conheça a origem e a história do Dia da Consciência Negra no Brasil e confira dicas de obras para refletir sobre a data.

Você sabia que o Brasil é o país com a maior população negra fora da África? E que essa população representa mais da metade da nossa população? Mesmo assim, essa história muitas vezes é apagada dos livros e das escolas. Mas por que será que isso acontece? 

No dia 20 de novembro, celebramos o Dia da Consciência Negra, uma data que serve para lembrar da luta, da resistência e das conquistas do povo negro no Brasil. 

A instituição da data como feriado nacional é mais uma oportunidade para parar e refletir sobre o passado, presente e futuro de milhões de brasileiros. 

Hoje, a gente vai te contar um pouco mais sobre a história dessa data, a importância de celebrá-la e, ainda, te dar algumas dicas de filmes, documentários e livros para conhecer a cultura negra além da superfície. Vamos começar? 

Como surgiu o Dia da Consciência Negra? 

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é o resultado de um longo processo de luta e reconhecimento da história e da cultura afro-brasileira. 

Suas raízes se encontram nos movimentos sociais que, a partir da década de 1970, buscaram visibilizar as contribuições dos negros para a formação do Brasil e combater o racismo.

A escolha da data não foi por acaso. Ela coincide com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da resistência negra à escravidão no Brasil. 

Zumbi e o Quilombo dos Palmares representam um símbolo de luta pela liberdade e por uma sociedade mais justa, tornando-se figuras centrais na identidade negra brasileira.

Zumbi dos Palmares: símbolo de resistência

Zumbi dos Palmares é uma figura central na história do Brasil, reconhecido como um dos maiores símbolos de resistência à escravidão

Líder do Quilombo dos Palmares, o maior e mais longevo quilombo do período colonial brasileiro, Zumbi encarnou a luta por liberdade e a construção de uma sociedade mais justa.

O Quilombo dos Palmares surgiu no século XVII, a partir da fuga de escravizados dos engenhos de açúcar da Zona da Mata nordestina. 

Escondidos na Serra da Barriga, em Alagoas, os quilombolas construíram uma sociedade complexa e autossuficiente, com sua própria organização social, política e econômica. 

Palmares chegou a abrigar mais de 30 mil pessoas, desafiando o poder colonial português por quase um século.

Zumbi emergiu como líder de Palmares em um momento determinante, quando o quilombo enfrentava constantes ataques das forças portuguesas. 

Sua habilidade militar, inteligência estratégica e carisma o tornaram uma figura inspiradora para os quilombolas. Sob sua liderança, Palmares resistiu por quase vinte anos, infligindo diversas derrotas aos portugueses e demonstrando a fragilidade do sistema escravista.

Apesar de toda a resistência, Palmares foi destruído em 1695. Zumbi foi morto em combate, mas sua memória permanece viva. Sua figura se transformou em um mito, que representa a luta por liberdade e a esperança em um futuro melhor.

A história de Zumbi nos inspira a continuar a lutar por um mundo mais igualitário, onde todos tenham os mesmos direitos e oportunidades.

Lei torna o dia 20 de novembro feriado nacional 

O intelectual e ativista Oliveira Silveira foi um dos principais articuladores da celebração do Dia da Consciência Negra. 

Através de suas pesquisas, ele identificou em Zumbi dos Palmares uma figura que poderia unir e inspirar a população negra. Em 1971, junto com outros ativistas, ele propôs que o dia 20 de novembro fosse dedicado à valorização da cultura e da história afro-brasileira.

A ideia de celebrar o Dia da Consciência Negra ganhou força ao longo dos anos, sendo inicialmente adotada em escolas e universidades. 

Em 2003, um marco importante foi a aprovação da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Essa lei contribuiu para a valorização da cultura negra e para a conscientização da sociedade sobre a importância de reconhecer a diversidade racial do Brasil.

Em 2011, a luta por reconhecimento ganhou mais um capítulo com a aprovação da Lei 12.519/2011, que instituiu o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. 

A partir dessa lei, a data passou a ser oficialmente reconhecida em todo o território nacional. No entanto, a adoção do feriado ficou a critério de cada município e estado.

Após anos de mobilização, em 2023, o Dia da Consciência Negra se tornou feriado nacional com a sanção da Lei 14.759. Essa conquista representa um avanço significativo na luta por igualdade racial e reconhecimento da história e da cultura afro-brasileira.

Leia também: Resistência africana: origem e legado histórico cultural

Dicas de obras para celebrar o Dia da Consciência Negra

Uma das melhores formas de celebrar o Dia da Consciência Negra é mergulhando nas obras de artistas negros que, através da literatura, do cinema e da música, contam suas histórias e nos convidam a refletir sobre a nossa sociedade.

Preparamos algumas sugestões para te ajudar a aprofundar seus conhecimentos sobre a história e a cultura afro-brasileira.

Livros

  • Olhos d’água (Conceição Evaristo): coletânea de contos que retrata a vida de mulheres negras e aborda temas como racismo, violência, amor e esperança. A obra de Conceição Evaristo é fundamental para entender a experiência negra feminina no Brasil.
  • Lugar de Fala (Djamila Ribeiro): ensaio sobre a importância da interseccionalidade e da representatividade para as mulheres negras. Djamila Ribeiro faz um chamado à reflexão sobre o racismo, o sexismo e outras formas de opressão.
  • O Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus): um diário que retrata a vida de uma mulher negra e pobre nos anos 1950, em São Paulo. A obra de Carolina Maria de Jesus é um documento histórico fundamental para entender a realidade das favelas brasileiras.

Filmes

  • Medida Provisória (2020): filme de ficção científica que aborda o tema do racismo de forma contundente. A trama se passa em um futuro próximo, onde uma lei obriga todas as pessoas negras a serem deportadas para a África.
  • Doutor Gama (2019): filme biográfico sobre a vida do escritor, advogado, jornalista e abolicionista Luiz Gama, uma das figuras mais relevantes da história brasileira. Ele utilizou todo seu conhecimento sobre as leis e os tribunais para libertar mais de 500 escravos durante sua vida. 

Documentários

  • Môa, Raiz Afro Mãe (2019): o documentário que começou pouco antes do assassinato político de mestre Môa do Katendê, conta e canta a história desse importante e polifônico educador da cultura afro-brasileira, que em vida não teve o reconhecimento merecido, enquanto celebra a reconexão com nossa identidade cultural.
  • O Enigma da Energia Escura (2021): a série documental de Emicida e Evandro Fióti gera reflexão a partir de assuntos como economia e desigualdade racial; negritude, cultura e resistência; eugenia e branquitude.
  • Sankofa: A África que te Habita (2020): série documental que narra a expedição de César Fraga, fotógrafo afrodescendente, e Maurício Barros de Castro, escritor e professor pesquisador da diáspora africana, por dezenas de cidades e povoados de 9 países do continente africano em busca de lugares de memória do tráfico transatlântico de pessoas negras. 

Celebrar o Dia da Consciência Negra é mais do que relembrar um momento histórico; é um ato de resistência e afirmação da identidade negra. Conhecer suas histórias, artes e lutas resgata um passado que foi silenciado. 

As obras que indicamos são apenas algumas das muitas possibilidades para aprofundar nossos conhecimentos e combater o racismo. Que este dia nos inspire a continuar a luta por um Brasil mais rico, diverso e vibrante. 

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