Érico Veríssimo e suas principais obras

Conheça mais sobre a vida e a obra desse escritor que é um dos mais lidos do nosso país. Além disso, Érico Veríssimo foi ousado ao deslocar o centro do romance regionalista de 30 do Nordeste para as paisagens do Sul do Brasil.

Nesta aula você vai conhecer vários aspectos sobre a vida e a obra do escritor gaúcho Érico Veríssimo. O autor privilegiou o cenário das terras gaúchas em suas narrativas, fazendo com que o romance regionalista de 30 também contemplasse outras regiões do Brasil, deslocando-se Nordeste e dos problemas sociais existentes nessa região.

Veríssimo foi um escritor muito versátil, visto que produziu romances, contos, novelas, autobiografias, ensaios, compilações, traduções, narrativas de viagens, além de produzir obras literárias voltadas ao público infantojuvenil.

Quem foi Érico Veríssimo

Érico Veríssimo foi um escritor gaúcho que desenvolveu uma literatura regionalista de caráter mais citadino. O escritor nasceu no município de Cruz Alta, no dia 17 de dezembro de 1905.

De família abastada, passaram por dificuldades financeiras, o que obrigou seu pai a fechar a farmácia que possuía. Érico foi um excelente aluno na escola; envolveu-se ainda cedo com a literatura lendo autores como Aluísio Azevedo, Joaquim Manuel de Macedo e Walter Scott.

retrato de erico verissimo

Trabalhou como balconista e, depois, no Banco Nacional do Comércio. Mudou-se para Porto Alegre em 1924. Nesse período, tornou-se professor de Literatura e Língua Inglesa, além de publicar pequenos contos em jornais da capital. Foi contratado como secretário de redação da revista do Globo. Para complementar o seu salário começou a traduzir obras do inglês para o português e, nesse mesmo período, publicou seus primeiros romances: Clarissa e Caminhos Cruzados.

Na década de 1940, Érico Veríssimo morou nos Estados Unidos, ministrando aulas de Literatura Brasileira e fazendo palestras. Foi no final dessa década que começou a escrever a sua obra-prima, o romance O tempo e o vento que somente foi finalizada na década de 1960. O autor morreu em Porto Alegre, em 28 de novembro de 1975, vítima de um enfarte do miocárdio.

Aspectos centrais de sua obra

Escritor de estilo simples, excelente contador de histórias, uma das grandes expressões da moderna ficção brasileira. Na sua maneira cinematográfica de apresentar as histórias, Érico Veríssimo ampliou o romance, focalizando o homem contemporâneo divorciado da religião, na busca de uma solução nem sempre otimista. Autor de grande prestígio junto ao público, pois sua obra é bastante lida tanto no Brasil como no exterior.

Fases da produção literária

Érico Veríssimo nos deixou uma vasta obra. Diante disso, costuma se dividir didaticamente a sua produção literária em três fases específicas:

Anos 1930 a 1940: os romances urbanos ou o “Ciclo de Clarissa”

São histórias que envolvem a pequena burguesia gaúcha na luta diária por uma vida melhor. Um livro dá continuidade ao outro, e a protagonista comum a praticamente todas essas obras é Clarissa, professora sonhadora e batalhadora.

Porto Alegre Século XX
Os romances urbanos ou o “Ciclo de Clarissa” são ambientados, predominantemente, em Porto Alegre, na primeira metade do século XX.

Clarissa é retratada nas mais diversas fases de sua vida: o estudo na capital, a volta à cidade natal de Jacarecanga, retorno à capital, o namoro e o casamento com o seu primo Vasco. Além de Clarissa, merecem destaque nessa fase literária as obras Caminhos cruzados, Música ao longe, Um lugar ao sol e Olhai os lírios do campo.

Anos 1940 a 1960: o ciclo sulino, painel da história e das tradições gauchescas

É nesta fase que Érico Veríssimo escreve a sua obra-prima, a trilogia intitulada O tempo e o vento.

pampa gaúcho
O pampa gaúcho é a paisagem retratada na obra mais representativa de Érico Veríssimo: O tempo e o vento.
O tempo e o vento: a obra-prima de Érico Veríssimo

O tempo e o vento é considerada a grande epopeia gaúcha. Composta de três partes e de sete volumes, a obra traça um amplo painel da história do Rio Grande do Sul. O Continente, O Retrato e O Arquipélago mostram duzentos anos de história do Rio Grande do Sul, entre 1745 e 1945.

Trata-se do romance histórico mais representativo da história brasileira e, devido ao seu formato, o livro é considerado um épico. Isso porque a narrativa se debruça sobre a história de um povo, contando a sua formação, as suas aventuras e desdobramentos.

Não é à toa que muitos leitores que querem aprender sobre a história do estado do Rio Grande do Sul utilizem esse livro como material de estudo. Na visão da crítica especializada, do campo da História e da Literatura também, O tempo e o vento contempla toda a história do Rio Grande do Sul compreendida no período 1745-1945. Um baita material de estudo, tchê!

O Tempo e o Vento Erico Verissimo
A arvore genealógica dos protagonistas da obra O tempo e o vento: 200 anos de História(s), amores e lutas.

Nos tempos coloniais, a luta era entre portugueses e castelhanos. Os farrapos e imperialistas se defrontaram nas lutas separatistas. Na Revolução Federalista, a briga foi entre maragatos e florianistas. As revoluções, a conquista dos pampas, as lutas contra os castelhanos assassinos, a valentia de heroínas e outras façanhas pintam a evolução social, econômica e política do Rio Grande do Sul.

O tempo e o vento é uma obra de tamanha importância para a cultura e para a literatura brasileira que já fora adaptada duas vezes para a televisão (como telenovela, em 1967, pela extinta TV Excelsior; e como minissérie, em 1985, pela TV Globo) e uma vez para o cinema, em 2013. Na imagem acima vemos um cartaz divulgando o filme, com o ator Thiago Lacerda (o capitão Rodrigo Cambará) e as atrizes Marjorie Estiano e Fernanda Montenegro (a jovem/idosa Bibiana Terra Cambará).

A guerra particular da família Terra-Cambará contra a família Amaral é a linha condutora principal dos acontecimentos que se sucedem numa estrutura típica de novela, sem um conflito central. A lenda, o mito de um povo heroico movido pelo orgulho e pelo ódio, pelo amor pela fidelidade, isto é a síntese máxima de O tempo e o vento.

Vídeoaula sobre Érico Veríssimo

Nesta aula, a professora Camila te leva para conhecer mais de Érico Veríssimo.

Dica: O Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, produziu em 2012 um pequeno webdocumentário para celebrar os 50 anos da obra O tempo e o vento:

Anos 1960 a 1970: o engajamento político e social

Após o Golpe Militar de 1964 e, principalmente, a partir do AI 5 (1968), houve um cerceamento das liberdades individuais. Muitos artistas procuraram se utilizar de suas manifestações artísticas para denunciar as arbitrariedades. Érico Veríssimo deu a sua contribuição nesse sentido ao publicar obras como: O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e, principalmente, a obra Incidente em Antares.

Trata-se de uma obra em que Veríssimo utilizou o fantástico como recurso para fazer denúncia social. No dia 13 de dezembro de 1963, sete mortos que não foram sepultados devido a uma greve geral levantam-se de seus caixões e descem à cidade de Antares. Após apavorarem familiares, amigos e desafetos, os cadáveres se postam no coreto da praça. Diante da multidão reunida, eles passam a polemizar e a discutir com os vivos. Corrupção, suborno, adultério, pederastia, violência, são algumas das acusações que os defuntos fazem.

Em toda a obra, o autor faz uma miscelânea de fatos históricos e pessoas reais (como Getúlio Vargas, Jânio Quadros…) com fatos, lugares e personagens fictícios. Tanto os acontecimentos narrados como as personagens têm uma forte carga simbólica, pois é evidente a intenção do autor de criticar o autoritarismo, o desrespeito aos direitos humanos, a ignorância e cegueira das oligarquias, a imprensa tendenciosa, a Igreja acomodada, entre outros.

E como ficam as críticas contundentes à sociedade de Antares? E os defuntos? E a repercussão? Bem, os poderosos movem uma bem-sucedida “Operação Borracha”: os defuntos são expulsos da cidade e enterrados e ninguém mais comenta sobre o episódio. Ninguém viu nada e ninguém soube de nada. O tempo foi passando e, nas palavras do narrador: “[…] os ventos que sopraram com frequência naquele fim de dezembro, ajudaram muito o tempo na sua operação de limpeza e esquecimento.”

E tudo continuou do mesmo jeito em Antares, uma grande e incômoda metáfora do Brasil.

Atores de Antares (obra de Érico Veríssimo)

Na imagem acima, os sete defuntos da adaptação de Incidente em Antares realizada pela TV Globo, em 1994, em formato de minissérie. Uma contundente metáfora do nosso país.

Encerramos esse post com as palavras do escritor:

“Sei que não sou nunca foi writer´s writer, um escritor para escritores. Não sou inovador, não trouxe nenhuma contribuição original para a arte do romance. Tenho dito, escrito repetidamente que me considero, antes de mais nada, um contador de histórias.”

Questões sobre Érico Veríssimo

Questão 1 (UFV-MG)

Considere o texto:

“O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia. (…) Bem, mas não convém antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma ideia mais clara do palco, do cenário e principalmente das personagens principais, bem como da comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais da espécie humana.”

(Incidente em Antares, Érico Verissimo)

Assinale a alternativa que evidencia o papel do narrador no fragmento acima:

a) O narrador tem senso prático, utilitário e quer transmitir uma experiência pessoal.

b) É um narrador introspectivo, que relata experiências que aconteceram no passado, em 1963.

c) Em atitude semelhante à de um jornalista ou de um espectador, escreve para narrar o que aconteceu com x ou y em tal lugar ou tal hora.

d) Fala de maneira exemplar ao leitor, porque considera sua visão a mais correta.

e) É um narrador neutro, que não deixa o leitor perceber sua presença.

Resposta correta: c.

Questão 2 (Enem-2018)

“Rodrigo havia sido indicado pela oposição para fiscal duma das mesas eleitorais. Pôs o revólver na cintura, uma caixa de balas no bolso e encaminhou-se para seu posto. A chamada dos eleitores começou às sete da manhã. Plantados junto da porta, os capangas do Trindade ofereciam cédulas com o nome dos candidatos oficiais a todos os eleitores que entravam. Estes, em sua quase totalidade, tomavam docilmente dos papeluchos e depositavam-nos na urna, depois de assinar a autêntica. Os que se recusavam a isso tinham seus nomes acintosamente anotados.”

VERISSIMO. E. O tempo e o vento. São Paulo: Globo. 2003 (adaptado).

Erico Veríssimo tematiza em obra ficcional o seguinte aspecto característico da vida política durante a Primeira República:

a) Identificação forçada de homens analfabetos.

b) Monitoramento legal dos pleitos legislativos.

c) Repressão explícita ao exercício de direito.

d) Propaganda direcionada à população do campo.

e) Cerceamento policial dos operários sindicalizados.

Resposta correta: c.

Questão 3 (Enem-2002)

Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor.

“Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. (…) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (…)

Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”

(VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.)

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura:

a) criar a fantasia.

b) permitir o sonho.

c) denunciar o real.

d) criar o belo.

e) fugir da náusea.

Resposta correta: c.

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