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De onde vem a Festa de São João?

Descubra a história, os sabores, ritmos e curiosidades que fazem da Festa de São João uma das maiores tradições culturais do Brasil.


Quando junho chega, o Brasil se enche de cor, sabor e música boa. É só sentir o cheiro de milho cozido, ouvir o som animado da quadrilha ou ver as bandeirinhas no alto que já dá aquele quentinho no coração — sinal de que as festas juninas estão no ar!

Segunda maior celebração popular do país, só perdendo para o Carnaval, a Festa de São João vai muito além da diversão: ela é um retrato vivo da nossa cultura, da nossa história e da diversidade que faz do Brasil um lugar tão único.

Neste texto, a gente te convida a mergulhar nas origens dessa tradição tão querida, entender seus símbolos, se encantar com as músicas e sabores típicos, conhecer as diferentes formas como ela acontece em cada canto do país e descobrir curiosidades que tornam essa festa inesquecível.

Quais são as origens da Festa Junina?

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The Feast of Saint John, de Jules Breton (1875).

A Festa Junina é uma fusão de tradições. Sua história começa muito antes do cristianismo, nas antigas celebrações pagãs ligadas à natureza e ao solstício de verão no hemisfério norte. Por volta de 21 de junho, povos como celtas e germânicos realizavam rituais para agradecer a fertilidade da terra e garantir a fartura das colheitas. Para isso, acendiam fogueiras e dançavam ao redor do fogo, buscando proteção e abundância.

Com a expansão do cristianismo, a Igreja Católica não proibiu essas celebrações, mas as ressignificou, incorporando-as ao calendário cristão. A data do solstício foi associada à natividade de São João Batista, comemorada em 24 de junho. Outros santos, como Santo Antônio (13 de junho) e São Pedro (29 de junho), também foram incluídos, dando origem ao nome “Festa Junina”. Essa adaptação permitiu que elementos pagãos, como a fogueira, continuassem a existir, mas agora com um novo significado: homenagear o nascimento de São João.

Como a Festa Junina virou uma tradição brasileira?

A Festa Junina chegou ao Brasil através de colonizadores portugueses, ainda no período colonial. No início, mantinha um caráter mais religioso, com foco nas comemorações aos santos. Mas ao ser transplantada para o território brasileiro, ela logo se transformou.

Aqui, a celebração europeia encontrou outras tradições — especialmente indígenas e africanas — e passou por uma verdadeira fusão cultural. A comida mudou: o trigo foi substituído pelo milho, ingrediente abundante e típico da agricultura indígena. Ritmos, danças e expressões artísticas também ganharam novos contornos, influenciados pela cultura afro-brasileira.

A primeira descrição registrada da Festa de São João no Brasil é do século XVI, feita pelo jesuíta Fernão Cardim, que relatou com surpresa a animação das celebrações nas aldeias indígenas da Bahia.

“A primeira é as fogueiras de S. João, porque suas aldeias ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusquem o couro’’. (Tratado da Terra e Gente do Brasil, 326; Rio de Janeiro, 1925).

A partir desse encontro, a festa foi se espalhando pelo país, se adaptando a cada região e ganhando as formas únicas que conhecemos hoje.

O que significam os símbolos e rituais da festa?

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Foto: Reprodução/Prefeitura Baependi

Parte do encanto da Festa de São João está nos seus símbolos. São eles que ajudam a criar o clima mágico dos arraiais e carregam uma história que vai muito além da decoração. Cada detalhe — da fogueira ao mastro — tem origem e significado, misturando tradições religiosas, pagãs e culturais. Entender o que está por trás desses elementos torna a festa ainda mais especial.

  • A fogueira: Um dos símbolos mais antigos e importantes, a fogueira tem origem em rituais pagãos de purificação e proteção. Para os cristãos, a lenda diz que ela foi acesa por Isabel para avisar Maria sobre o nascimento de São João. Pular a fogueira, uma prática comum, vem desses rituais de renovação. Curiosamente, cada santo tem um formato de fogueira: redonda para São João, quadrada para Santo Antônio e triangular para São Pedro.
  • Bandeirinhas e balões: As bandeirinhas, que criam o clima festivo, eram usadas para homenagear os santos. Já os balões, hoje proibidos por questões de segurança, tinham a função simbólica de “levar pedidos aos céus”.
  • Quadrilha e expressões: A quadrilha é a dança típica dos festejos juninos, onde casais se unem em um verdadeiro espetáculo de sincronia. De origem francesa, a dança foi trazida pelos portugueses e adaptada no Brasil como uma forma de agradecer aos santos pela boa safra. No comando, o narrador guia a dança com palavras de origem francesa, adaptadas ao nosso linguajar: “anarriê” (de en arrière, para trás), “avancê” (de avancer, avançar) e “balancê” (de balancer, balançar o corpo).
  • Trajes caipiras: Os trajes com xadrez, remendos e vestidos rodados representam a valorização da cultura rural, com roupas alegres e coloridas que se tornaram parte essencial da festança.
  • Arraial: O arraial (ou “arraiá”) é o local onde acontecem as celebrações, ganhando um aspecto rural e festivo. É no arraial que se encontram todos os elementos da festa: trajes típicos, shows, a fogueira, comidas, espaços para dança e brincadeiras.
  • O Mastro: Erguido no centro da festa, o mastro simboliza a presença do santo homenageado. Decorado com flores e fitas, representa pedidos por boas colheitas, um costume herdado de antigos rituais de fertilidade da terra.

Por que o milho é o rei do arraiá?

A Festa Junina é um verdadeiro banquete para os sentidos, onde a culinária e a música desempenham papéis centrais, refletindo a riqueza cultural e a capacidade de adaptação do Brasil.

Ingrediente BasePratos Típicos e CuriosidadesInfluências Culturais
MilhoO rei da festa. Do milho verde cozido à pamonha, curau, bolo e pipoca, ele é a base de quase tudo. O que o Sudeste chama de curau, o Nordeste conhece como canjica; e a canjica do Sudeste é o mungunzá para os nordestinos. Essa variação de nomes mostra como um mesmo ingrediente foi adaptado de diferentes formas pelo país.Indígena (O milho é um alimento central na cultura indígena, que ensinou os colonos a cultivá-lo), Africana (Técnicas de cozimento e preparo de mingaus, como o cuscuz e a canjica).
AmendoimPaçoca, pé de moleque e amendoim torrado. A paçoca, em sua origem, era um alimento dos tropeiros e viajantes. O nome vem do tupi pa-soka, que significa “socado”, uma referência à forma como o amendoim e a farinha de mandioca eram preparados no pilão. Já o pé de moleque recebe esse nome porque, segundo a lenda, as doceiras vendiam o quitute e diziam: “pede, moleque!”.Indígena (O amendoim é nativo da América do Sul), Africana (Técnicas de doçaria e uso do melado de rapadura).
MandiocaMané Pelado e bolo de aipim. A mandioca, ou aipim, é outro ingrediente fundamental. O bolo Mané Pelado, feito com mandioca ralada, tem esse nome inusitado. A lenda mais famosa diz que ele era preparado por um homem que colhia a mandioca sem camisa, no meio do calor do campo, enquanto outros dizem que o nome se refere à mandioca “descascada”.Indígena (A mandioca é um dos pilares da culinária indígena brasileira).
Cana-de-AçúcarQuentão e vinho quente. Para esquentar as noites frias de junho, o quentão é a bebida mais famosa. Feito com cachaça, gengibre, canela e especiarias, ele tem o poder de aquecer o corpo e o espírito. O vinho quente, mais comum no Sul, é outra opção.Europeia (O uso de vinho e especiarias como canela), Africana (O cultivo da cana-de-açúcar foi fundamental para a produção da cachaça).
FrutasMaçã do amor e pinhão. A maçã do amor, envolta em caramelo vermelho, é um clássico que se tornou símbolo de casais nos arraiais. Já o pinhão, semente da araucária, é um quitute essencial nas festas juninas do Sul do Brasil, onde é cozido e servido com sal.Europeia (A maçã do amor é uma adaptação de doces com caramelo de feiras europeias), Indígena (O pinhão é um alimento ancestral e fundamental para os povos originários d

Quais ritmos dão o tom da Festa Junina?

A trilha sonora da Festa Junina é dominada por ritmos contagiantes que variam de região para região. No Nordeste, o forró é o coração da festa, embalando as danças e celebrações com a energia da sanfona, escaleta e triângulo. Já nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o sertanejo assume o protagonismo, transformando as quermesses em grandes bailes. Essa diversidade musical não só cria a atmosfera festiva, mas também mostra como a celebração se adapta e ganha vida em cada canto do Brasil.

Como o São João é celebrado em cada região do Brasil?

Mesmo sendo celebrada de norte a sul, a Festa Junina ganha formas, cores, ritmos e sabores diferentes em cada região do país. E é justamente essa diversidade que faz dela uma das festas mais ricas e simbólicas da nossa cultura. Em comum, há o clima festivo, a valorização das raízes populares e a força das tradições locais — mas cada lugar coloca seu tempero único nessa comemoração. 

Nordeste

O Nordeste é, sem dúvida, o epicentro das grandes festas juninas, com eventos que movimentam mais de R$ 1 bilhão e impulsionam significativamente o turismo interno e internacional.  

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Disputando a alcunha de “cidade com o maior São João do mundo”, Caruaru – PE (esquerda) e Campina Grande – PB (direita) recebem milhões de turistas todos os anos. (Foto: Prefeitura de Caruaru/Prefeitura de Campina Grande)
  • Campina Grande (PB): Conhecida pela grandiosidade de sua festa, este evento recebe milhões de pessoas anualmente ao longo de mais de 1 mês de festa, destacando-se pelas grandiosas apresentações de quadrilhas juninas.  
  • Caruaru (PE): Em 2024, o local recebeu 3,5 milhões de pessoas em 72 dias de festa, com centenas de artistas locais e nacionais se apresentando em diversos polos.  
  • São João na Bahia: Caracterizado pelo forró como estilo musical e de dança predominante, as festas juninas na Bahia são vastas em culinária típica. O estado se destaca por ter festas em praticamente todos os seus 417 municípios.  
  • Mossoró (RN): O “Mossoró Cidade Junina” (MCJ) apresenta quadrilhas juninas e uma encenação única da história do “Chuva de Bala”, que resgata a resistência do povo local ao bando de Lampião.  

Norte

  • Maranhão – Lá, o Bumba-meu-boi divide espaço com as quadrilhas. São mais de 400 grupos com diferentes “sotaques” (variações rítmicas e coreográficas). O Tambor de Crioula, de origem africana, também marca presença, celebrando a fé e a ancestralidade.
  • Amazonas – O destaque vai para o Festival de Parintins, onde os bois-bumbás Caprichoso (azul) e Garantido (vermelho) protagonizam uma disputa artística que mistura dança, teatro e elementos da cultura indígena local. Embora não seja uma festa junina no sentido tradicional, ela acontece no mesmo período e compartilha o espírito popular.
  • Pará – Em 2024, o estado lançou o Parárraiá, iniciativa que busca integrar Belém ao circuito nacional das festas juninas, valorizando a cultura nortista e sua forte ligação com o folclore e a religiosidade.

Sudeste

  • São Paulo – A capital abriga festas tradicionais em centros culturais, como o Centro de Tradições Nordestinas, e em paróquias com quermesses que duram todo o mês. No interior, a Festa Junina de Votorantim é uma das maiores do estado.
  • Minas Gerais – O Arraial de Belo Horizonte reúne centenas de apresentações e mantém viva a tradição das quadrilhas mineiras, com direito a concursos, comidas típicas e muita música.

Reconhecida por Lei

Em 2023, a Festa Junina foi oficialmente reconhecida como manifestação da cultura nacional por meio da Lei nº 14.555. Seu objetivo principal é valorizar e preservar as festas juninas como parte integrante da identidade cultural brasileira, incentivando sua realização e divulgação em todo o país. 

Curiosidades e simpatias

Se por um lado a Festa Junina é comida boa, música animada e danças tradicionais, por outro ela também guarda um lado místico e simbólico, cheio de simpatias, adivinhações e rituais populares. É nesse momento do ano que o imaginário coletivo ganha força — especialmente quando o assunto é o amor.

Quem vai casar primeiro?

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Colocar a imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo dentro de um copo d’água é uma antiga tradição junina. (Foto: Reprodução)

Durante o mês de junho, as adivinhações ganham força, especialmente entre os que querem saber quando (e com quem) vão se casar. Veja algumas das mais famosas:

  • Simpatia do anel no copo: na véspera de São João, coloca-se um anel pendurado por um fio dentro de um copo d’água. Depois de passar o copo sobre a fogueira, conta-se quantas vezes o anel bate nas laterais — esse número indicaria em quantos anos o casamento vai acontecer.
  • Simpatia do ovo: um ovo cru é quebrado em um copo com água e deixado no sereno da noite. A forma que a clara assume ao amanhecer pode indicar o futuro: uma igreja (casamento), um navio (viagem), uma joia (riqueza), entre outros sinais.
  • Nomes na água: enrolam-se pedacinhos de papel com nomes e colocam-se dentro de um copo com água. O papel que se abrir primeiro revelaria o nome do futuro amor.
  • Faca na bananeira: espeta-se uma faca nova no tronco de uma bananeira na véspera de São João. No dia seguinte, a seiva que escorre pela lâmina formaria a letra inicial do nome do futuro parceiro.

Santo Antônio (o “Santo Casamenteiro”)

Entre os santos juninos, Santo Antônio é o mais procurado por quem está em busca de casamento — por isso ganhou o título de santo casamenteiro. No Brasil, desenvolveu-se toda uma cultura em torno desse santo, com simpatias que vão desde o pedido delicado até verdadeiros “castigos”.

  • Virar o santo de cabeça pra baixo: uma das simpatias mais populares é colocar a imagem de Santo Antônio virada de cabeça pra baixo, dentro de um copo, atrás da porta ou até enterrada em um vaso. A promessa é só “desvirar” quando o pedido de casamento for atendido.
  • Santo Antônio no mel: a imagem do santo é colocada sobre um pires com mel, junto com papéis com nomes e uma vela vermelha. O mel é usado depois para um banho ritual, feito na véspera do dia 13 de junho.
  • Oração para “amarrar” o noivo: orações populares pedem ao santo que una o casal de vez — e com urgência. Muitas citam o hábito ou o cordão do santo como formas simbólicas de “prender” o amado.

As simpatias, especialmente aquelas voltadas para o amor, mostram o quanto a cultura popular brasileira é criativa e aberta a múltiplas influências. Algumas dessas práticas têm origem em antigos rituais europeus, mas ganharam novas formas no Brasil, muitas vezes reinterpretadas e adaptadas pela fé e pela imaginação do povo. A ideia de castigar Santo Antônio até que o pedido seja atendido é uma forma de “negociação simbólica” com o sagrado, que existe em várias tradições populares ao redor do mundo.

Essas práticas revelam também uma certa “heterodoxia”: são formas de viver a fé que escapam da rigidez da doutrina oficial, mas que mostram o quanto o povo brasileiro se apropria da religião de modo afetivo, simbólico e muito pessoal.

Andar nas brasas da fogueira

Uma simpatia antiga e bastante impressionante, realizada na noite de 23 de junho (véspera do dia de São João), consiste em caminhar descalço sobre as brasas da fogueira. Essa prática é realizada tanto por sacerdotes católicos quanto por leigos, sendo que estes últimos o fazem principalmente para pagar alguma promessa. O rito remonta a um antigo culto à deusa romana Ferônia, onde homens de certas famílias andavam descalços sobre brasas ardentes sem se queimar. 

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Autor(a) Luana Santos

Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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