Gaza: por que barcos com ajuda humanitária estão sendo atacados?

Barco com Greta Thunberg e ativistas é interceptado por Israel a caminho de Gaza. Saiba por que a ajuda humanitária está sendo bloqueada.

(Foto: Reprodução/Freedom Flotilla Coalition)

Nas últimas horas, a ativista Greta Thunberg, a eurodeputada Rima Hassan e o brasileiro Thiago Ávila voltaram a ganhar destaque internacional — desta vez, por uma tentativa frustrada de levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A embarcação Madleen, parte da missão civil organizada pela Freedom Flotilla Coalition, foi interceptada por drones e lanchas da marinha israelense antes de se aproximar do território palestino. O barco levava comida, medicamentos e voluntários de diversos países.

A repressão à ação, que ocorreu na madrugada entre 8 e 9 de junho de 2025, reacende um debate urgente: por que navios desarmados com ajuda humanitária estão sendo atacados? O que o direito internacional diz sobre isso? E por que esse tema importa — seja para quem estuda atualidades para provas e vestibulares, seja para quem quer entender os desdobramentos políticos e sociais dos conflitos no Oriente Médio?

Neste texto, vamos entender o que está por trás desses bloqueios, qual o papel do direito internacional nos ataques a missões civis, e por que acompanhar essas movimentações é essencial para compreender o cenário global atual.

Qual a razão do recente bloqueio à Faixa de Gaza?

A Faixa de Gaza é um território palestino de cerca de 365 km², com mais de dois milhões de habitantes. Desde 2007, após a vitória do Hamas nas eleições legislativas e seu posterior controle da região, Israel impôs um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo. O Egito, que controla a fronteira sul (em Rafah), também impôs restrições. Oficialmente, Israel justifica o bloqueio como medida de segurança para conter o contrabando de armas e enfraquecer o Hamas. Na prática, isso significou um colapso nas condições de vida da população civil.

Segundo dados da ONU e de organizações como Human Rights Watch e Médicos Sem Fronteiras, os impactos são profundos:

  • Em, 2024, a taxa de desemprego ultrapassava 80%;
  • Mais de 2 milhões de pessoas correm risco crítico de fome;
  • Mais de 71 mil crianças entre 6 meses e 5 anos de idade podem sofrer de desnutrição aguda entre agora e março de 2026;
  • Mais de 90% da população depende de ajuda humanitária.

O agravamento mais recente veio após os ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, quando mais de 1.200 civis israelenses morreram. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar devastadora e anunciou um “bloqueio total” a Gaza, cortando fornecimento de água, eletricidade, combustível, alimentos e medicamentos.

Relatórios da Anistia Internacional, da ONU e de outras entidades qualificam o bloqueio como “punição coletiva” — algo proibido pelas Convenções de Genebra e por princípios básicos do direito internacional humanitário.

O que são as Flotilhas da Liberdade?

Ativistas pró-palestinos agitam bandeiras turcas e palestinas durante a cerimônia de boas-vindas ao navio de cruzeiro Mavi Marmara no porto de Sarayburnu, em Istambul, Türkiye, em 26 de dezembro de 2010. (Foto: Reuters)

As Flotilhas da Liberdade são expedições organizadas por redes internacionais de ativistas, ONGs, parlamentares e movimentos de solidariedade. Elas têm dois objetivos principais:

  1. Entregar ajuda humanitária essencial à população de Gaza;
  2. Chamar atenção da comunidade internacional para o bloqueio, exercendo pressão política e simbólica.

O caso mais emblemático aconteceu em 2010, com o navio Mavi Marmara, que fazia parte de uma flotilha com seis embarcações civis. Em 31 de maio daquele ano, forças israelenses interceptaram os barcos em águas internacionais. A operação terminou com nove ativistas mortos e dezenas de feridos. O episódio gerou repercussão mundial e afetou profundamente as relações entre Israel e a Turquia.

Desde então, outras tentativas foram feitas — todas interceptadas, frequentemente fora das águas territoriais israelenses.

Os incidentes de 2025: Conscience e Madleen

Maio de 2025 – Ataque ao Navio Conscience

Bombeiros tentam apagar o fogo a bordo do navio Conscience, da Frota da Liberdade por Gaza. (Foto: Reuters)

O Conscience, uma das embarcações da Freedom Flotilla Coalition, foi atingido por dois drones enquanto navegava em águas internacionais, próximo a Malta. O ataque causou um incêndio e danificou severamente o casco do navio. Quatro pessoas ficaram levemente feridas. Nenhum país assumiu a autoria oficialmente, mas ativistas acusaram Israel de usar uma nova tática: evitar abordagens militares diretas e utilizar ataques à distância para minar a missão sem gerar repercussão imediata.

O silêncio oficial israelense sobre o ataque só aumentou as suspeitas. Segundo especialistas, essa mudança reflete um esforço estratégico para neutralizar ações humanitárias sem o custo político de confrontos diretos.

Junho de 2025 – A Interceptação do Madleen

Os 12 ativistas que compõem a equipe a bordo do Madleen: Greta Thunberg, Thiago Ávila, Yanis Mhamdi, Omar Faiad, Suayb Ordu, Pascal Maurieras, Reva Viard, Mark van Rennes, Rima Hassan, Sergio Toribio, Yasemin Acar e Baptiste Andre. (Foto: Reprodução)

No dia 1º de junho, o barco Madleen partiu da Sicília rumo a Gaza, carregando 12 tripulantes, entre eles nomes de destaque como:

  • Greta Thunberg (ativista climática sueca);
  • Rima Hassan (membro do Parlamento Europeu);
  • Thiago Ávila (ativista brasileiro).

A embarcação levava arroz, farinha, fórmula infantil e medicamentos — ajuda descrita como “simbólica”, mas com forte apelo político e midiático. O objetivo era duplo: entregar os insumos e expor, novamente, a violência e ilegalidade do bloqueio.

Hoje, 9 de junho de 2025, ainda em águas internacionais (a cerca de 185 km da costa de Gaza), o navio foi interceptado por drones e lanchas israelenses. Segundo relatos da Relatora Especial da ONU Francesca Albanese, os ativistas tiveram o sinal de comunicação bloqueado, foram cercados por barcos rápidos e expostos a uma substância lançada por aeronaves. Todos os ocupantes foram detidos e levados ao porto de Ashdod, em Israel.

Antes da interceptação, Thiago Ávila publicou um vídeo: “Se você está vendo este vídeo, significa que fui detido ou sequestrado por Israel ou outra força cúmplice ao redor do Mediterrâneo em nosso caminho para Gaza para quebrar o cerco”.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores de Israel, o grupo será deportado.

A reação internacional

O Ministério das Relações Exteriores de Israel minimizou a missão, chamando o barco de “iate de celebridades” e acusando os ativistas de servirem à propaganda do Hamas. Greta Thunberg foi acusada de antissemitismo pelo Ministro da Defesa. O Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, ordenou que os ativistas fossem colocados em isolamento e submetidos a vídeos do ataque do Hamas de 2023.

Do outro lado, diversos governos e organizações reagiram:

  • O Itamaraty brasileiro exigiu a liberação imediata dos detidos e reafirmou o direito à livre navegação;
  • A Anistia Internacional denunciou a interceptação como ilegal;
  • A ONU iniciou investigações sobre possíveis violações ao direito marítimo internacional.

O que diz o Direito Internacional?

O direito marítimo garante a liberdade de navegação em águas internacionais. Interceptar barcos civis e desarmados fora da zona de soberania marítima (geralmente até 12 milhas náuticas da costa) é considerado, por especialistas, uma violação das normas internacionais.

Além disso, impedir ou restringir ajuda humanitária viola tratados como:

Por que esse tema é importante para o Enem?

O caso das flotilhas reúne diversos temas que aparecem com frequência em provas e redações:

1. Geopolítica e Conflitos Contemporâneos

  • O conflito Israel-Palestina;
  • Relações internacionais e diplomacia global;
  • Interesses estratégicos no Oriente Médio.

2. Direitos Humanos e Direito Internacional

  • Liberdade de navegação;
  • Ações humanitárias em zonas de conflito;
  • Conceitos como soberania, punição coletiva, genocídio.

3. Ativismo e Sociedade Civil Global

  • O papel dos movimentos sociais na política internacional;
  • A força simbólica de ações diretas não violentas;
  • Pressão da opinião pública e das redes sociais.

4. Disputa de Narrativas e Propaganda

  • Como governos constroem discursos para justificar ações;
  • A guerra da informação;
  • O papel da mídia independente e dos influenciadores.

Quer saber mais?

Para não perder informações sobre o Enem, Sisu, Prouni e outros programas, participe do nosso canal no WhatsApp do Curso Enem Gratuito. Lá você recebe prazos, dicas e atualizações de forma rápida e prática.

Clique aqui para participar!

Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

Compartilhe:

[addtoany]