O que é metanol, a substância presente em bebidas adulteradas que pode ser fatal
Entenda o que é o metanol, por que ele é usado em bebidas adulteradas e os riscos graves que essa substância representa para a saúde.
Nos últimos meses, o Brasil acendeu um alerta máximo de saúde pública. Casos de intoxicação e mortes, confirmados em estados como São Paulo, têm uma causa chocante e perigosa: a adulteração de bebidas alcoólicas com metanol.
Este composto, essencial para a indústria, se transformou em uma ameaça letal nas mãos de criminosos que buscam lucros ilícitos. Mas, afinal, o que é o metanol e por que ele é tão devastador? A resposta está na sutil, mas fatal, diferença entre ele e o álcool que consumimos.
Neste artigo, vamos desvendar a química dessa substância, explicar a rota metabólica que a transforma em veneno e o que você precisa saber para se proteger. Bora?
Por que isso virou um problema de saúde pública no Brasil?
Segundo o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do estado de São Paulo, até a noite de terça-feira (30 de setembro) foram registrados sete casos de ingestão confirmados, cinco óbitos em investigação e 22 casos suspeitos de intoxicação. Pernambuco já registrou duas mortes suspeitas de intoxicação.
O que torna a situação tão grave é a mudança no perfil dos casos. Antes, a intoxicação por metanol era rara — cerca de 20 ocorrências por ano em todo o país — e geralmente ligada a pessoas em vulnerabilidade social que consumiam álcool de posto. Agora, a contaminação está acontecendo em bares, adegas e festas, por meio de bebidas destiladas populares como gin e vodca, atingindo um público muito mais amplo.
Diante desse cenário, o Ministério da Saúde classificou a situação como “anormal”, e o Ministério da Justiça determinou que a Polícia Federal investigue a origem do metanol e possíveis redes criminosas por trás da adulteração. Há suspeitas de ligação com máfias de combustíveis que importam a substância, o que reforça a dimensão do problema.
Essa crise de saúde pública revela duas fragilidades importantes:
- os consumidores não conseguem perceber a adulteração apenas pela visão, cheiro ou sabor;
- falta uma rastreabilidade eficaz sobre o uso do metanol na indústria.
Em outras palavras, o metanol deixou de ser um risco restrito a grupos específicos e se transformou em uma ameaça nacional, colocando em alerta autoridades de saúde, segurança e fiscalização.
Metanol x Etanol: qual a diferença?
- Metanol (CH₃OH): álcool mais simples, com apenas um átomo de carbono. Também chamado de “álcool de madeira”.
- Etanol (CH₃CH₂OH): tem dois átomos de carbono e é o álcool seguro para consumo humano.
Essa pequena diferença na estrutura química muda completamente a forma como cada um é metabolizado pelo nosso corpo. O etanol é transformado em ácido acético (um composto que o organismo consegue eliminar). Já o metanol vira formaldeído e depois ácido fórmico, substâncias altamente tóxicas.
O pior é que, fisicamente, eles são quase idênticos: líquidos transparentes, inflamáveis e com cheiro parecido. Isso explica por que o consumidor não tem como perceber sozinho quando uma bebida está adulterada.
O lado industrial do metanol
Apesar dos riscos, o metanol tem usos muito importantes: está presente na fabricação de plásticos, resinas, solventes, tintas e até em combustíveis de carros de corrida, como os Dragsters.
E há ainda um aspecto promissor: o chamado metanol verde. Produzido a partir de fontes renováveis, ele vem sendo apontado como alternativa para reduzir a emissão de carbono em setores de alto impacto, como o transporte marítimo.
Para diferenciar os tipos, o mercado usa uma classificação por cores:
- Metanol cinza: mais barato, feito a partir de gás natural. É esse que costuma ser desviado para adulteração criminosa.
- Metanol azul: produzido também de gás natural, mas com captura e armazenamento de carbono, o que reduz os danos ambientais.
- Metanol verde: obtido com energia renovável, é o mais limpo e sustentável.
Companhias globais, como a Maersk, já investem no metanol verde para descarbonizar suas frotas de navios.
Por que o metanol é tão tóxico?
O perigo está no que ele se transforma dentro do corpo. Veja a sequência:
- O organismo usa a mesma enzima que metaboliza o etanol para quebrar o metanol.
- Esse processo gera formaldeído (um composto já tóxico por si só).
- Em seguida, o formaldeído é convertido em ácido fórmico, responsável pelos maiores danos.
O ácido fórmico causa uma acidose metabólica grave, ou seja, o sangue fica excessivamente ácido, prejudicando funções vitais. Ele também ataca especificamente o nervo óptico, o que explica por que um dos sintomas mais marcantes da intoxicação é a perda da visão.
Sintomas da intoxicação por metanol
- Primeiras horas (12 a 24h): sinais leves, como fala enrolada e reflexos lentos, semelhantes a uma bebedeira comum.
- Fase intermediária: náuseas, vômitos, dor abdominal, dificuldade para respirar.
- Fase grave: visão turva, sensibilidade à luz, cegueira, confusão mental, convulsões e até falência de órgãos.
Essa demora nos sintomas faz com que muitas vítimas só procurem ajuda quando já é tarde demais.
A crise brasileira: bebidas adulteradas e a resposta das autoridades
O metanol custa muito menos que o etanol de grau alimentício. Essa diferença cria um incentivo para fábricas clandestinas e distribuidores ilegais adulterarem bebidas. O consumidor, atraído por preços muito baixos, acaba exposto a um risco altíssimo.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, junto com o Ministério da Saúde, já emitiu alertas formais e reforçou as ações de fiscalização. Mais de 160 mil unidades de bebidas adulteradas foram apreendidas em 2025.
Como o consumidor pode se proteger
- Desconfie de preços baixos demais.
- Observe bem o lacre da garrafa (se estiver torto, violado ou mal feito, não compre).
- Cuidado com erros de impressão em rótulos e embalagens.
- Se suspeitar de adulteração, não consuma e denuncie.
Tratamento: por que o tempo é decisivo
A intoxicação por metanol é uma emergência médica. Quanto mais cedo o paciente receber atendimento, maiores as chances de sobrevivência sem sequelas.
Os pilares do tratamento são:
- Estabilizar o paciente e corrigir a acidose: geralmente com bicarbonato de sódio.
- Bloquear a ação do metanol: usando fomepizol (antídoto de primeira escolha) ou, em alguns casos, o próprio etanol, que compete com o metanol na enzima responsável pela metabolização.
- Eliminar as toxinas do corpo: a hemodiálise é o método mais eficaz, removendo tanto o metanol quanto os compostos tóxicos já formados.
O grande desafio é que nem sempre as vítimas chegam a tempo ao hospital, justamente porque os sintomas graves demoram a aparecer.
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