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Por que o Brasil não consegue sobreviver apenas de energia renovável?

O futuro da energia no Brasil depende de um mix de diferentes tipos de energia, aliado a tecnologia e planejamento inteligente.


O Brasil é um gigante da energia limpa, e isso é um orgulho. Mas, com o avanço rápido de fontes como a solar e a eólica, surge uma questão importante: será que podemos depender apenas delas?

A resposta, como você verá a seguir, é mais complexa do que parece. Vem descobrir por que o futuro da energia no nosso país depende de um mix inteligente de fontes, planejamento e muita tecnologia.

Antes de tudo, quais os tipos de energia?

Para entender a matriz energética brasileira, é fundamental saber o que é cada tipo de energia e como ela funciona.

Hidrelétrica

É a energia gerada pela força da água em movimento. Usinas como Itaipu represam rios e usam a pressão da água para girar grandes turbinas, que, por sua vez, acionam geradores para produzir eletricidade. É uma fonte renovável, mas a construção das usinas pode causar um grande impacto ambiental e social.

Eólica

A energia do vento. Aerogeradores (aquelas grandes turbinas de vento) usam a força do vento para girar suas pás, acionando um gerador que converte essa energia mecânica em eletricidade. É uma fonte renovável e limpa, pois não emite gases poluentes durante a operação, mas depende da constância dos ventos.

Solar fotovoltaica

Energia gerada a partir da luz do sol. Painéis solares captam a luz e a convertem diretamente em eletricidade. É uma fonte renovável e pode ser instalada em larga escala (parques solares) ou em residências, mas sua produção só acontece durante o dia.

Termelétrica

A energia gerada pela queima de combustíveis, como gás natural, carvão, diesel ou biomassa. Essa queima aquece a água para criar vapor, que move turbinas para gerar eletricidade. Sua principal vantagem é a flexibilidade e segurança, podendo ser acionada rapidamente, mas sua desvantagem é a emissão de gases poluentes.

Biomassa

É a energia gerada pela queima de materiais orgânicos, como bagaço de cana-de-açúcar, resíduos agrícolas e florestais. É considerada uma fonte renovável, pois o carbono emitido é absorvido pelas plantas durante seu crescimento, mas a queima pode gerar outros poluentes.

O paradoxo da abundância

O Brasil se destaca globalmente por sua matriz energética limpa e diversificada. Enquanto a maioria dos países ainda depende de petróleo e carvão, cerca de 48% da nossa matriz total já vem de fontes renováveis. Quando olhamos para a geração de eletricidade, esse número impressiona ainda mais: 84,95% da capacidade fiscalizada em operação é renovável.

Essa matriz limpa, historicamente dominada por hidrelétricas, está passando por uma grande transformação. A participação da energia hídrica, que já foi de mais de 84%, hoje se estabilizou em 52,39%. Essa mudança reflete o avanço sem precedentes de novas fontes. Em 2024, por exemplo, mais de 91% da nova capacidade instalada no país veio das fontes solar e eólica. A projeção é que essas novas fontes superem a fatia das hidrelétricas até 2029.

A intermitência das fontes limpas

A principal característica das fontes eólica e solar é a intermitência. A produção depende da velocidade dos ventos e da incidência de sol, que variam ao longo do dia e com as condições climáticas. Essa variabilidade torna a geração menos previsível e controlável, criando novos desafios para a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN).

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por gerenciar a rede, precisa lidar com a sobreoferta de energia solar ao meio-dia e a escassez à noite, quando a demanda aumenta. Um exemplo claro das fragilidades foi o apagão de 2023. A análise técnica do ONS mostrou que o problema não foi a presença das fontes renováveis, mas sim um “desalinhamento no tratamento de dados” e problemas em dispositivos de controle de tensão, evidenciando a necessidade urgente de modernizar a infraestrutura e os modelos de simulação para integrar essas fontes de forma segura.

Gargalos e custos ocultos

Apesar do rápido crescimento das usinas renováveis, a infraestrutura de transmissão de energia não evoluiu no mesmo ritmo. Essa falta de sincronia resultou em gargalos críticos, especialmente no Nordeste, região rica em recursos renováveis. O resultado é um paradoxo: há sobreoferta de energia na região, mas a capacidade de escoá-la para os grandes centros de consumo é insuficiente.

Essa situação gera perdas financeiras e de energia significativas:

  • Curtailment: O ONS é obrigado a desligar geradores eólicos e solares para evitar sobrecarga na rede. Em setembro de 2023, o curtailment na fonte eólica atingiu 14% da geração do mês.
  • Vertimento turbinável: Nas hidrelétricas, a água que poderia ser usada para gerar energia é simplesmente liberada, sem passar pelas turbinas, porque o sistema já está suprido por outras fontes.

Para resolver esses gargalos, o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) projeta a necessidade de R$ 128,6 bilhões em investimentos para construir 30 mil km de novas linhas de transmissão até 2034.

O papel estratégico do backup

A necessidade de acionar fontes de reserva é o principal motivo pelo qual o Brasil não pode depender apenas de energias renováveis intermitentes. As hidrelétricas, além de gerarem energia, funcionam como “baterias naturais”, usando seus reservatórios para compensar as variações na produção eólica e solar. No entanto, sua confiabilidade é vulnerável a eventos climáticos extremos, como a seca.

Usina Termelétrica Candiota III. (Foto: Divulgação/GTE Eletrosul)

Nesses momentos, as usinas termelétricas se tornam indispensáveis. Elas funcionam como um “sistema de backup crucial”, podendo ser ativadas rapidamente para suprir déficits de geração. Durante a crise hídrica de 2021 e nas ondas de calor de 2024, as termelétricas foram essenciais para evitar apagões, mesmo sendo mais caras e poluentes. A discussão, portanto, não é sobre se elas são boas ou ruins, mas sobre reconhecer seu papel estratégico para a estabilidade do sistema.

Quais as possíveis soluções para o futuro?

A solução a longo prazo para o desafio da intermitência reside no desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia em larga escala.

  • Hidrelétricas Reversíveis (UHRs): Conhecidas como “baterias de água”, são a maior tecnologia de armazenamento do mundo. Durante o dia, a água é bombeada para um reservatório superior e liberada à noite para gerar eletricidade.
  • Sistemas de Baterias (BESS): Tecnologia de armazenamento modular e escalável que pode desempenhar um papel central na estabilização da rede elétrica. O governo brasileiro planeja realizar o primeiro leilão de baterias em 2025.

Além disso, a modernização regulatória é fundamental. A regulamentação atual precisa ser adaptada para incentivar inovações e garantir a segurança do sistema, remunerando “serviços ancilares” que são essenciais para a estabilidade da rede. O Brasil tem todos os recursos para um futuro energético ainda mais limpo, mas a jornada depende de um esforço coordenado em engenharia, planejamento e regulamentação.

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Autor(a) Luana Santos

Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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