Ricardo Reis: características da obra e análise de poemas

Conheça mais sobre um dos heterônimos de Fernando Pessoa, o médico Ricardo Reis. Revise Literatura para gabaritar a prova de Línguas do Enem.

Para começo de conversa, você precisa lembrar que heterônimo é um autor personagem que é diferente de um pseudônimo, que é como um outro nome que o autor utiliza. O heterônimo possui: biografia própria, traços físicos, modos, estilo e obras distintas, e, no caso dos heterônimos de Fernando Pessoa, até mapa astral.

Quem “foi” Ricardo Reis

O Heterônimo Ricardo Reis nasceu na cidade do Porto, Portugal, no dia 19 de setembro de 1887. Formado em escola de jesuítas, estudou medicina. Monarquista, exilou-se no Brasil, por não concordar com a Proclamação da República Portuguesa.

No Prefácio de Ricardo Reis ao seu livro ODES, o poeta dedica a obra ao “meu mestre Alberto Caeiro”. Ricardo Reis foi apresentado a Álvaro de Campos por Alberto Caeiro (todos, heterônimos de Fernando Pessoa). Viveu no Brasil por volta de 1915, ano da morte de Alberto Caeiro.

Características da obra de Ricardo Reis

Os primeiros poemas assinado por Reis são de junho de 1914, e o último, novembro de 1935. Ricardo Reis é descrito como o mais seco e crítico dos poetas, censurando o caráter emotivo e pouco disciplinado de Campos e Caeiro.

Além disso, Reis é defensor da ascendência da razão e da ideia sobre o sentimento e a emoção, do desenvolvimento da suprema consciência que o homem tem de si mesmo.

Introdução à obra de Ricardo Reis

Para você começar bem esta revisão, veja agora com a professora de literatura Camila Zuchetto Brambilla, do canal do Curso Enem Gratuito, uma síntese bem prática:

As primeiras obras de Ricardo Reis foram publicadas em 1924, na revista Athena, fundada por Fernando Pessoa.

Análise dos poemas de Ricardo Reis

Para entender melhor a poesia de Ricardo Reis, vamos apresentar alguns de seus poemas.

Veja um dos mais conhecidos do Livro primeiro:

II
As Rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.

O poema procura pela moldura dos textos clássicos, compostos por alusões ao espírito e a cultura helênicos: a mitologia, as figuras do deus Apolo e de Adônis, da Natureza e os temas universais (como o Amor). Além disso, a linguagem culta e precisa, lapidada e sem qualquer espontaneidade, compreende ao estilo neoclássico.

A presença do Mito de Adônis, de quando as rosas passaram de todas brancas para vermelhas depois de Afrodite, amante de Adônis, se ter ferido num espinho de rosa tingindo-a com o seu sangue. Após a morte do deus, e ter instituído uma festa em honra de Adônis, cujos ritos consistiam nas plantações dos “jardins de Adônis”.

O hipérbato, principal recurso do poeta (Lembre-se de que o Hipérbato é a figura de linguagem que corresponde à inversão ou alteração da ordem sintática, por exemplo, em: “As Rosas amo dos jardins de Adônis, […]” – por: Amo as rosas do jardim de Adônis).

O emprego do gerúndio e do imperativo (ou conjuntivo com valor de imperativo) com caráter exortativo, por exemplo, nos versos. “Sombra errarás absurda, / Buscando o que não deste.” (gerúndio), ou “Flor, sê-me flor!” (imperativo).

O estilo de Ricardo Reis

Na ode citada vemos como há a referência a Adônis, de quem se cunha o termo hedonismo, que é o prazer sobre todas as coisas. Contudo, sem excessos, mas vivendo cada instante como se fosse o último. Prezando pela vida simples campestre (aurea mediocritas).

A fuga à dor como defesa contra o sofrimento, sobreposição da razão sobre a emoção. Ideais que conseguimos distinguir no texto de Reis em versos como a chave de ouro dessa ode “Que há noite antes e após/ O pouco que duramos.”

Epicurismo: doutrina baseada num ideal de sabedoria que busca a tranqüilidade da alma através das seguintes regras: Não temer a morte, levando o poeta ao fatalismo, tendo a morte como única certeza na vida, o que o leva a procurar os simples prazeres da vida em todos os sentidos, sem preocupações com o futuro (carpe diem).

IX

Coroai-me de rosas,
Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
De rosas —
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). p. – 18. 1ª publ. in Atena , nº 1. Lisboa: Out. 1924.

Estoicismo é a doutrina que tem como ideal ético a ausência de envolvimento emocional excessivo para atingir a liberdade. Para alcançar a felicidade, o estóico precisa relativizá-la, pois não pretende um estado de alegria, mas sim de um contentamento e plenitude inconsciente e profunda.

Precisa dominar as paixões, o que exige uma atitude de indiferença; recusa o amor para evitar ter desilusões, de modo a que nada perturbe a serenidade e a razão. A certeza da finitude de todas as coisas, a efemeridade da vida, o constante fluir para a morte e essa consciência não lhe gera nem angústia nem revolta.

Afinal, Ricardo Reis admite a limitação e a fatalidade da condição humana, e pretende chegar à morte de mãos vazias de modo a não ter nada a perder.

A flor que és
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor!
Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perere
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.

Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). 1ª publ. in Atena , nº 1. Lisboa: Out. 1924.

Mais tarde foram publicadas oito odes, entre 1927 e 1930, na revista Presença, de Coimbra. Os restantes poemas e prosas são de publicação póstuma. Duzentos e cinqüenta e seis textos, 41 deixados em manuscritos por Fernando Pessoa.

Vinte e oito odes publicadas em vida, alguns clássicos na obra de Pessoa como “Vivem em nós inúmeros”, obra considerada o testamento do ortônimo. A poesia em livro apareceu publicada pela primeira vez em 1946.

Resumo sobre Fernando Pessoa

Entenda a vida de Fernando Pessoa, poeta português, que desenvolveu uma obra multifacetada, e que foi expressa através de uma criação literária com Heterônimos que ele criou. Ricardo Reis foi apenas um deles.

Exercícios sobre a poesia de Ricardo Reis:

1- Identifique no poema características da poesia de Ricardo Reis e assinale:

IV
Não consentem os deuses mais que a vida.
Não consentem os deuses mais que a vida.
Tudo pois refusemos, que nos alce
A irrespiráveis píncaros,
Perenes sem ter flores.
Só de aceitar tenhamos a ciência,
E, enquanto bate o sangue em nossas fontes,
Nem se engelha connosco
O mesmo amor, duremos, Como vidros, às luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste,
Só mornos ao sol quente,
E reflectindo um pouco.

(Fonte: Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). p. 37.)

a) expressões exclamativas;
b) fatalismo
c) estoicismo
d) epicurismo
e) NDA

2- (UFRGS) Leia o poema abaixo do heterônimo Ricardo Reis.

“Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.”

Em relação ao poema, considere as afirmações abaixo.

I. Trata-se de uma ode do heterônimo clássico de Fernando Pessoa; daí a linguagem e o estilo elevados.
II. Expressa, em seus quatro primeiros versos, um tema recorrente da sua criação: a consciência da brevidade de tudo.
III. Expressa, em seus dois últimos versos, a ideia de que é preciso viver como se cada instante fosse o último, porque “o mais é nada”.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

3- Assinale a característica que se identifica no poema de Ricardo Reis:

V
Como se cada beijo
Fora de despedida,
Minha Cloé, beijemo-nos, amando.
Talvez que já nos toque
No ombro a mão, que chama
À barca que não vem senão vazia;
E que no mesmo feixe
Ata o que mútuos fomos
E a alheia soma universal da vida.

Fonte: (Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). p. 95.)

a) catolicismo

b) elitismo

c) epicurismo

d) narcisismo

e) comunismo

4- O que Ricardo Reis representava para Fernando Pessoa?

a) um mestre;
b) um discípulo;
c) o criador;
d) um parente:
e)um irmão;

Gabarito:

1. d
2. e
3. c
4. c

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