Descubra as autoras mais cobradas no Enem! Conheça suas principais obras, contribuições literárias e como seus textos aparecem na prova.
O Enem tem um histórico de trazer discussões relevantes para a sociedade, incluindo temas ligados às mulheres, suas conquistas e desafios. Para quem está se preparando para a prova, entender quais autoras mais cobradas do Enem e quais temas ligados ao feminismo já foram abordados pode ser um diferencial.
Mulheres na Literatura
Durante séculos, a literatura foi um espaço predominantemente masculino, e as mulheres que desejavam escrever enfrentavam desafios impostos por uma sociedade patriarcal. No Brasil, esse cenário não foi diferente. O preconceito contra escritoras levava muitas a adotarem pseudônimos masculinos ou nomes neutros para conseguirem publicar suas obras e serem levadas a sério.
Um exemplo marcante desse período foi Maria Firmina dos Reis (1822-1917), pioneira na literatura abolicionista e autora do romance “Úrsula” (1859), considerado o primeiro livro publicado por uma mulher no Brasil. Por receio de represálias devido ao teor crítico da obra, que denunciava a escravidão e dava protagonismo a uma mulher negra, Maria Firmina assinou a publicação apenas como “Uma Maranhense”.
Com o passar dos anos, mais mulheres começaram a conquistar espaço na literatura, especialmente no final do século XIX e início do XX. A imprensa teve um papel fundamental nesse avanço, pois as escritoras passaram a colaborar com jornais e revistas, mesmo que ainda sob anonimato ou pseudônimos.
Entre os principais nomes dessa fase, destacam-se:
- Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) – escritora e cronista, foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, mas foi impedida de ocupar uma cadeira por ser mulher. Suas obras abordavam temas sociais e questões femininas.
- Raquel de Queiroz (1910-2003) – quebrou barreiras ao se tornar a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977. Seu romance “O Quinze” (1930), que retrata a seca do Nordeste, é um marco na literatura brasileira.
- Cecília Meireles (1901-1964) – poeta de grande relevância, foi a primeira mulher a ganhar reconhecimento na literatura modernista brasileira, com obras como “Romanceiro da Inconfidência” e “Viagem”
Videoaula sobre Autores que Caem no Enem
Em seguida, assista à curadoria que fizemos com a professora Camila, no nosso canal do Youtube, dos autores que você precisa ler ao estudar para o Enem:
Mulheres na Redação do Enem
A redação do Enem costuma trazer temas sociais e estruturais que impactam a sociedade, e questões relacionadas às mulheres estão entre os mais recorrentes. Alguns exemplos de temas que já apareceram:
- A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira (2015)
- Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil (2023)
A dica para os candidatos é se preparar estudando sobre os direitos das mulheres no Brasil, leis como a Maria da Penha e estatísticas de desigualdade de gênero.
Autoras que Mais Costumam Cair nas Questões do Enem
Na parte de Linguagens e Códigos, História e Ciências Humanas, algumas figuras femininas aparecem com frequência, seja por sua contribuição literária, histórica ou científica.
Escritoras Mais Cobradas
O Enem valoriza a diversidade da literatura brasileira e mundial, trazendo escritoras que abordam questões sociais. Algumas autoras que costumam aparecer são:
Clarice Lispector

Chaya Pinkhasivna Lispector (1920-1977), ou simplesmente Clarice, nasceu na Ucrânia e veio para o Brasil com apenas dois meses de idade. Ela e a família mudaram-se para a cidade do Recife, em Pernambuco, e logo começou a escrever pequenos contos. Aos 19 anos, publicou seu primeiro romance, que provocou a crítica da época por sua narrativa não linear.
Considerada uma das maiores escritoras brasileiras, sua obra explora a subjetividade, a introspecção e a condição feminina. Seus livros, como A Hora da Estrela e Laços de Família, costumam ser citados no Enem por sua riqueza estilística e temática existencialista.
Período literário:
A autora é associada ao modernismo brasileiro, mais especificamente à terceira geração modernista, também chamada de Geração de 45. Essa fase da literatura brasileira é marcada por uma retomada da preocupação com a forma, um aprofundamento psicológico das personagens e uma escrita mais introspectiva.
Principais obras:
- Perto do Coração Selvagem (1943): Romance de estreia de Clarice Lispector, a obra é marcada pela escrita introspectiva e pela influência do modernismo. A história acompanha Joana, uma jovem que desafia padrões sociais e vive um intenso conflito existencial. O livro destaca o fluxo de consciência e a subjetividade da personagem.
- A Paixão Segundo G.H. (1964): Considerada uma das obras mais complexas da autora, o romance narra a experiência transformadora de G.H., uma mulher de classe média alta que, ao matar uma barata em seu quarto de empregada, entra em um estado de profunda reflexão sobre a existência e a identidade. O livro explora o desconforto, a solidão e a busca por sentido na vida.
- A hora da estrela (1977): Um dos livros mais conhecidos de Clarice Lispector, apresenta Macabéa, uma jovem nordestina que vive no Rio de Janeiro em condições precárias. A narrativa, conduzida pelo escritor fictício Rodrigo S.M., destaca a invisibilidade social da protagonista e levanta reflexões sobre destino, marginalização e identidade.
Já fizemos um vídeo no nosso canal do YouTube especialmente sobre essa autora:
Exemplo de questão do ENEM:
(ENEM 2013):
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[…]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
c) interrompe a narrativa para refletir sobre o próprio ato de narrar e sobre os dilemas existenciais das personagens.
d) antecipa os acontecimentos, revelando ao leitor o desfecho da história antes mesmo de apresentá-la por completo.
e) dirige-se diretamente ao leitor, pedindo-lhe que tire suas próprias conclusões sobre os eventos narrados.
Resposta: alternativa C.
Cora Coralina

Poetisa e contista brasileira, se tornou uma das vozes mais importantes da literatura nacional, escrevendo sobre o cotidiano, a vida simples e a força das mulheres. Nascida Ana Lins dos Guimarães Peixoto (1889-1985), foi só aos 15 anos, após lançar seu primeiro conto, que lançou o pseudônimo que a fez conhecida nacionalmente. O primeiro romance, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, foi publicado apenas 60 anos depois, aos 75 anos da autora. Dona de uma linguagem simples e afeita à tradição oral, tratou em sua obra sobre a memória de Goiás e seus inúmeros personagens.
Período Literário:
Cora Coralina não pertence a um movimento literário específico, mas sua obra se aproxima da segunda geração do modernismo brasileiro, com uma linguagem simples, temática regionalista e valorização da cultura popular.
Principais obras:
- Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965): Este livro reúne poemas sobre a cidade de Goiás, sua infância e o cotidiano simples. A escrita de Cora Coralina valoriza a cultura popular e os pequenos gestos da vida, mostrando resistência e sensibilidade.
- Meu Livro de Cordel (1976): Traz versos inspirados na tradição oral nordestina, com forte tom narrativo e linguagem acessível. Suas poesias misturam humor, reflexão e o olhar feminino sobre a sociedade.
- Estórias da Casa Velha da Ponte (1985): Coletânea de contos e crônicas que exploram histórias de Goiás, suas figuras populares e o universo do interior brasileiro. A obra resgata memórias e personagens marcantes.
Exemplo de questão do ENEM:
(Enem-2020)
O cântico da terra
Eu sou a terra, eu sou a vida.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
CORALINA, C. Textos e contextos: poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: Global, 1997 (fragmento).
No contexto das distintas formas de apropriação da terra, o poema de Cora Coralina valoriza a relação entre:
- grileiros e controle territorial.
- meeiros e divisão de trabalho.
- camponeses e uso da natureza.
- indígenas e o manejo agroecológico.
- latifundiários e a fertilização do solo.
Resposta: alternativa C.
Conceição Evaristo

Escritora contemporânea que trabalha questões raciais e de gênero, a poeta e ensaísta tem uma literatura marcada pelo conceito “escrevivência”, no qual narra experiências pessoais e coletivas das mulheres negras e das periferias. Com uma narrativa marcada pela não-linearidade, a obra da autora trabalha o realismo poético através da ancestralidade.
Originalmente de Minas Gerais e nascida em 1946, foi a partir de sua mudança para o Rio de Janeiro — quando começou a trabalhar como professora e a se dedicar à educação — que as reflexões sobre questões étnicas passaram a ser mais presentes em sua vida. É considerada uma das escritoras brasileiras mais conhecidas e reverenciadas da atualidade.
Período Literário:
Atua no cenário contemporâneo da literatura afro-brasileira, trazendo uma forte carga de resistência, denúncia social e representatividade negra.
Principais obras:
- Ponciá Vicêncio (2003): O romance narra a trajetória de Ponciá, uma mulher negra que deixa sua cidade natal em busca de um futuro melhor. A obra aborda racismo, desigualdade e memória, evidenciando as dores e desafios de sua protagonista.
- Becos da Memória (2006): Inspirado nas vivências da própria autora, este livro apresenta histórias de uma comunidade negra marginalizada. Os relatos evidenciam desigualdade social, opressão e resistência.
- Olhos d’Água (2014): Coletânea de contos que exploram as experiências de mulheres negras, o impacto do racismo e a violência social. A escrita traz uma perspectiva intimista e poética sobre a vida nas periferias.
Exemplo de questão do ENEM:
(Enem-2023)
Alguém muito recentemente cortara o mato, que na época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de Ponciá Vicêncio e de Luandi. Havia também vestígios de que a terra fora revolvida, como se ali fosse plantar uma pequena roça. Luandi sorriu. A mãe devia estar bastante forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar. O pai de Luandi, no dia em que queria agradar à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar de casa. Luandi não entendia as palavras do canto; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre. Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com as palmas das mãos em um atabaque imaginário. Estava de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando, dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.
EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.
A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar” como patrimônio linguístico que:
a) representa a memória de uma língua africana extinta.
b) exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.
c) preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral.
d) resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis
e) remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.
Resposta: alternativa C.
Carolina Maria de Jesus

Autora de Quarto de Despejo, um relato autobiográfico que denuncia a desigualdade social e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras e pobres. Carolina (1914-1977) era ex-moradora da favela do Canindé, em São Paulo, ficou conhecida por seus relatos sobre a pobreza e a desigualdade social. Em 1960, recebeu o diploma de membro honorário da Academia de Letras da Faculdade de Direito da USP. Publicada em 14 países, é considerada uma das primeiras autoras negras publicadas no Brasil e uma das mais importantes do cenário literário brasileiro.
Período Literário:
Faz parte da literatura marginal/periférica, trazendo um olhar crítico e realista sobre a vida nas favelas e a exclusão social.
Principais obras:
- Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960): O livro é um diário autobiográfico onde a autora narra seu cotidiano na favela do Canindé, em São Paulo. Ela descreve a fome, a busca por trabalho e a luta para criar seus filhos. A obra impactou profundamente a sociedade brasileira ao expor a dura realidade das classes marginalizadas.
- Casa de Alvenaria (1961): Continuação de Quarto de Despejo, retrata a vida de Carolina após a fama. Apesar de ter saído da favela, enfrenta preconceito e dificuldades financeiras. A obra mostra que a ascensão social não garantiu a aceitação da escritora pela elite.
- Diário de Bitita (1986, publicado postumamente): Traz memórias de sua infância e juventude, explorando o racismo e a exclusão vividos desde cedo. O livro reforça o olhar crítico da autora sobre a sociedade brasileira.
Exemplo de questão do ENEM:
(Enem-2022)
10 de maio
Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. […] O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidade de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades… O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.
JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
A partir da intimação recebida pelo filho de 9 anos, a autora faz uma reflexão em que transparece a:
a) lição de vida comunicada pelo tenente.
b) predisposição materna para se emocionar.
c) atividade política marcante da comunidade.
d) resposta irônica ante o discurso da autoridade.
e) necessidade de revelar seus anseios mais íntimos.
Resposta: alternativa D