Na Moral, já ouviu falar de Nietzsche? Esse camarada se aventurou numa jornada para desvendar a origem do Bem e do Mal.
Traçar as origens, essa é a função da genealogia. Ela se ocupa de estudar a origem de alguém, buscando através de estudos documentais os antepassados do sujeito em questão. O filósofo Friedrich Nietzsche adotou o conceito de genealogia para desenvolver a teoria da genealogia da moral.
A genealogia da moral de Nietzsche
Nietzsche vai usar da genealogia para estudar algo mais inusitado. Ao invés de estudar um sujeito, ele decidiu que iria estudar a moral. Isto porque ele era empenhado nessa coisa de bem e mal, certo e errado e tudo aquilo ligado à moral e aos bons e maus costumes.
Como Nietzsche era também um filólogo, ele decidiu colocar como centro dos seus estudos genealógicos os conceitos de bem e mal. Foi assim que seu deu sua busca pelas origens desses termos que tinham como finalidade a melhor compreensão da moral do seu tempo.
O conceito de moral para Nietzsche
A moral é uma espécie de GPS que usamos para que possamos decidir as questões da vida. Embora ela seja frequentemente representada como um conjunto de regras, o conceito de moral é bem mais amplo do que isso.
Ao invés de regras, é legal que você entenda a moral como um punhado de costumes adquiridos por meio da cultura de um povo. Ou ainda, o conceito de moral está fundamentalmente ligado ao conjunto de coisas que orienta o nosso agir.
Dado essa noção, Friedrich Nietzsche indagou acerca da origem desses costumes. Afinal, como é que toda uma sociedade segue um bando de costume sem se perguntar o porquê?
Para começar essa jornada rumo às origens da moral Nietzsche tentou unir a filosofia e a história. Assim, para desenvolver a sua genealogia da moral, o filósofo se debruçou sobre as discussões acerca desse conceito.
O problema da história enquanto verdade
Bom, o problema da história segundo Nietzsche começa quando ela se apresenta como uma verdade. Segundo ele, a história não passaria de uma narrativa contada por aqueles que a deturpariam em razão dos seus próprios interesses pessoais.
Assim, só seriam contados os fatos que beneficiariam uma classe de pessoas enquanto o restante da história seria omitido, quando não alterado.
O outro problema que Nietzsche elenca é seleção dos acontecimentos históricos. Ora, os acontecimentos históricos têm importâncias distintas, todavia, qual é o juiz que atribui importâncias aos fatos ocorridos? De acordo com Nietzsche, só seriam retidos os fatos cujo interesse fosse de alguma classe que se beneficiaria disso. Assim, a história deixa de ser algo imparcial e se transfigura em algo que serve aos interesses de privados.
Não paremos por aí. Os filósofos também têm, segundo Nietzsche, forte influência na história. Por exemplo, quando Hegel determina que as coisas no mundo acontecem de maneira Dialética, ele impõe uma teleologia que remete a um certo ordenamento da história.
Enfim, seguimos uma moral que é fruto da história, entretanto, essa mesma história não é confiável, pois está a serviço de interesses privados de classes dominantes. Ora, como confiar em tal moral sendo que seus alicerces são uma farsa?
O bem e o mal na genealogia da moral
Assumindo a imparcialidade da história, Nietzsche nos conduz para um show de destruição dos referenciais, que inclui a polêmica morte de Deus – tema central para o entendimento da Filosofia de Nietzsche – e a investigação acerca do Bem e do Mal.
A origem do termo Bom não decorre do atributo de quem faz o Bem. Segundo as investigações de Nietzsche, os bons são os nobres, poderosos, superiores em posição e pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons. Assim, o Filósofo entende que o conceito de Bom se dá em oposição a aquilo cujo pensamento não era nobre, isto é, ao plebeu.
Quando Nietzsche afirma que o conceito de Bom não está ligado à sua utilidade prática, ou seja, a uma ação Moral, ele quer demostrar que na realidade o Bom diz respeito ao nobre. Portanto, é o próprio nobre (Bom) que diz o que é Bom. Com isso, essa classe dominante passa a ditar os valores do mundo a partir dela própria.
Isso nos leva a pensar: se a Moral é o GPS que nos norteia, o Bem é o seu Norte. Todavia, se esse Norte na realidade não é aquilo que aparenta ser, toda minha jornada está sendo guiada na direção errada. Portanto, a Moral é uma farsa e viver de acordo com ela é uma ilusão.
Vale lembrar que a proposição de Nietzsche acerca da Moral vai de encontro a noção proposta por Immanuel Kant, uma vez que Kant afirmava que a Moral é um imperativo que deve ser categórico, portanto deve valer em qualquer situação que o indivíduo passa na vida.
Nietzsche discordava de Kant, pois dizia que existem duas morais: A Moral dos senhores e a Moral dos escravos. Para Nietzsche a Moral não é um imperativo categórico, ela é um objeto que sofreu influência ao longo da história.
Por fim, Friedrich Nietzsche tentou, ao elaborar uma Genealogia da Moral, destruir os alicerces da Moral escravizante. Isso é, o filósofo se opunha fortemente à uma vida cujo critério se guia por uma (farsa) Moral, que reduz a capacidade das pessoas e nos torna somente uma sombra do que poderíamos ser. Contrário a isso, o filosofo pregava uma vida cujo critério fosse ela própria.
Resumo sobre a filosofia de Nietzsche
Questões sobre Nietzsche e a genealogia da moral
Agora é contigo, teste seus conhecimentos sobre Nietzsche nas questões abaixo:
1) (UFSJ) -Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é fundamental entender a crítica que ele faz à metafísica. Nesse sentido, é CORRETO afirmar que essa crítica
a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contentamento, plenitude.
b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem metafísica através do método genealógico.
c) é o discernimento proposto por Nietzsche para levar à supressão da tendência que o homem tem à individualidade radical.
d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua razão, tem como conceber uma metafísica qualquer, que não tenha recebido a chancela da observação.
e) a metafísica é válida, pois trata de Deus e da liberdade humana.
2) Nietzsche empreendeu uma Genealogia da moral, com a qual desejou mostrar que os valores da tradição judaico-cristã eram basicamente niilistas. No prólogo do livro, Nietzsche enuncia sua nova exigência, segundo a qual:
a) Será preciso descobrir a verdade dos valores morais.
b) O próprio valor dos valores morais deverá ser questionado.
c) A vontade de vingança deverá operar contra a metafísica.
d) Os fracos deverão ser protegidos da vontade dos fortes.
e) A vontade de saber deverá prevalecer sobre todas as outras.
3) (UFSJ) – De acordo com a discussão que Nietzsche realiza sobre a origem dos valores morais, pode-se afirmar que:
a) na avaliação reativa, os fracos primeiro avaliam a si mesmos como bons e daí decorre a avaliação do outro, o forte, como mau
b) os gestos úteis foram inicialmente valorados como bons, tendo se tornado hábito passar a considerá-los como bons em si
c) a moral escrava tem sua origem no cristianismo, religião na qual a oposição entre bem e mal foi primeiramente constituída
d) a filologia mostra que as palavras usadas para designar a nobreza social adquiriram progressivamente o sentido de nobreza de espírito
Gabarito
1. B, 2. B, 3. D.