Como escrever um conto no vestibular?

No nosso curso também tem aulas específicas para o vestibular! Por isso, estude a estrutura do conto nessa aula.

Por ser uma narrativa curta e com estrutura relativamente definida, o conto é um gênero bastante conhecido e cobrado tanto nos conteúdos escolares quanto em provas de vestibular. Por isso, nesta aula vamos aprender um pouco sobre a estrutura, as principais características desde gênero e enfim como escrever um conto.

Como escrever um conto para os vestibulares

ilustração como escrever uma carta
Imagem 01: ilustração como escrever um conto. https://br.freepik.com/vetores-gratis/pacote-de-jovens-lendo_5306600.htm#page=1&query=conto&position=46

Para delimitar a função do conto é preciso entender que esse é um gênero narrativo. Ou seja, ele tem como principal função a de contar uma história que, nesse caso, é curta. Ou seja, o enredo é relativamente simples, com poucos espaços/cenários e poucos personagens.

Por isso, para complementar o que veremos nesta aula é importante que você estude um pouquinho sobre as narrativas. Revise os tipos de narradores e principais características desse tipo de texto, pois todos esses conceitos serão essenciais para você escrever um bom conto.

Para contar sua história, enfim, você pode utilizar de elementos dramáticos, cômicos, sensíveis ou as estratégias que julgar interessante, mas sempre pensando em maneiras de entreter e envolver o leitor. Os personagens, o tempo e o espaço em que a narrativa acontece devem ser apresentados para poder situar o leitor.

Mas – por se tratar de uma narrativa curta – eles também já devem auxiliar o narrador no desenvolver da trama. Por isso, costuma-se dizer que no conto nada deve sobrar ou faltar, mas cada elemento que aparece no decorrer do texto deve ter um sentido, como veremos no exemplo ao final desta aula.

A estrutura para escrever um conto

Estruturalmente esse gênero possui uma estrutura clássica que é cobrada na grande maioria das avaliações. Essa estrutura contempla uma história que apresente início, meio e fim.

Basicamente, o conto apresenta uma estrutura que se assemelha a uma montanha como a vista abaixo:

estrutura de como escrever um conto
Imagem 02: Estrutura do conto

Para que você compreenda melhor, vamos definir cada um dos elementos dessa estrutura e, depois disso, analisaremos um texto para ver na prática como eles aparecem.

Apresentação:

Normalmente o conto inicia com uma apresentação tanto dos personagens quanto do cenário em que o enredo se passará. Essa descrição normalmente não é literal, mas apresenta elementos que possibilitam com que o leitor conheça minimamente quem serão os personagens que participarão da trama.

Aqui, é importante que você já dê dicas sobre a personalidade e características dos personagens que justifiquem o encaminhamento das ações do enredo.

Aumento da tensão:

Apresentados os personagens, a história de fato começa a se desenvolver e para isso damos o nome de aumento da tensão. Isso quer dizer que você deve passar a narrar ações entre os personagens e, como propõe a denominação, crie uma tensão.

Ou seja, crie expectativas no leitor, o qual passará – com base nessas ações – a esperar o que acontecerá.

Na figura em que mostramos a estrutura do texto, esse momento constitui a “subida” da montanha não por acaso, pois o conto bem desenvolvido é aquele que consegue elevar a curiosidade do leitor.

Esse tipo de sensação que você deve apresentar no texto é aquela mesma que temos quando assistimos a um filme ou série e ficamos ansiosos querendo saber logo o que acontecerá. Esse elemento contempla a maior parte do texto no que diz respeito a quantidade de linhas.

Clímax:

Também não é por acaso que o clímax é demonstrado bem no topo da nossa montanha. O clímax de um conto é possivelmente o elemento mais importante desse tipo de texto.

É nesse momento que todas as dicas que você deu no decorrer do texto e todas as ações descritas se encontram, chegam ao seu ápice e que o leitor finalmente encontra uma resposta para suas angústias apresentadas no decorrer da leitura.

De maneira geral, o clímax se apresenta como uma quebra de expectativa, pois, caso contrário, o conto acaba perdendo um pouco seu encanto.

Então, já no planejamento do seu texto, pense em um clímax que traga uma grande surpresa para o leitor, como no conto que veremos como modelo nesta aula.

Desfecho e resolução:

Esses dois elementos muitas vezes aparecem juntos nos contos e acabam sendo escritos em poucas linhas no final dos textos. Ou, em alguns momentos, nem aparecem descritos, mas ficam subentendidos, como no conto que veremos como modelo.

A função desses elementos, de maneira geral, é apresentar o encaminhamento do que acontece após a quebra de expectativa (clímax) e, dessa maneira, resolver as ações e finalizar o texto.

Agora, vamos ver na prática como escrever um conto! Veja como as características que vimos nesta aula aparecem em um texto com a leitura e análise do conto O chapéu, do escritor gaúcho Charles Kiefer:

O chapéu

Planejei meticulosamente o assassinato de Manoel Soares. Podia fazê-lo com as próprias mãos; preferi, porém, contratar um pistoleiro. Para que Isabel não sofra, ou não sofra tanto, é imprescindível  tirá-lo do caminho. Se eu próprio o matasse, o complexo de culpa iria atormentá-la, tornando impossível o grande e mais intenso amor de sua vida, fogo em que se tem consumido lentamente (emagrece e chora em silêncio, tem os olhos ardidos e o corpo trêmulo), e entre um gemido e outro de prazer  eles haveriam de ouvir seu riso sarcástico e maldoso.

            Mas pra eliminá-lo da face da terra, arrancá-lo da cidade como se fosse uma erva maldita, foi preciso antes que eu o odiasse. Por isso, dia após dia – somos colegas de repartição -, procurei descobrir nele atitudes dissimuladas, falsidades, orgulho, mesquinharias que dessem motivação para levar adiante o meu intento. O ódio foi se  alimentando do conhecimento. Hoje pela manhã atingiu o limite máximo quando entreguei ao pistoleiro a quantia estipulada para o crime. – Exatamente às vinte horas, todas às noites, ele sai de seu apartamento à rua G, prédio 203.  Hoje é segunda-feira, portanto estará vestido de calça de linho branco, camisa azul-marinho e chapéu de feltro. Preste atenção ao chapéu. É um dos últimos homens a usá-lo nesta cidade. Atire assim que atravessar a porta de vidro do edifício.  O pistoleiro recuou e, sem dizer sequer uma palavra, saiu da sala.

            Os muitos anos de convívio,

            e o plano longamente arquitetado, me possibilitaram conhecer todos os hábitos de Manoel Soares. Sim, não há possibilidade de engano. Exatamente às vinte horas estará na calçada, tirará o chapéu e baterá com a mão no feltro, como que a retirar o pó, olhará indeciso para ambos os lados e, enfim, optará pelo direito, caminhará quarenta e cinco minutos, ora fumando, ora assobiando uma velha canção portuguesa, e depois retornará ao apartamento. Suponho que antes de dormir mergulhe a dentadura postiça num copo d’água, displicentemente.

            Hoje, durante o expediente, surpreendi-o agitado em diversas circunstâncias, esfregando as mãos com impaciência. Duas ou três vezes foi ao banheiro, atitude totalmente inabitual.  Pressente alguma coisa? E se na hora H resolver não fazer o passeio? E se estiver com cólica? Um medo inconsciente? E se no exato momento passar pela rua um sujeito qualquer vestido de forma semelhante e o meu contratado disparar sobre um inocente?  Não. Absolutamente não é hora de pensar em tais possibilidades. Manoel Soares será assassinado dentro de cinco minutos. O relógio da sala avança para o instante fatal.  Vou apanhar o chapéu e descer de encontro à bala que me espera.

(Texto retirado de: KIEFER, Charles. O Chapéu. In: QUIROGA, Horácio. Decálogo do perfeito contista. São Leopoldo, RS: Editora Unisinos, 1999.)

Análise do conto

Veja que, durante todo o texto o narrador nos encaminha para que o clímax seja uma surpresa. Ele apresenta elementos em que fala do alvo do pistoleiro na terceira pessoa, o que é essencial para que o ponto culminante do texto seja de fato uma quebra de expectativa.

Pois é só no clímax, na última linha do texto, quando o narrador diz que pegará seu chapéu, que entendemos que, na verdade, o matador tem como alvo o próprio narrador. É sobre isso que, no início desta aula, falamos quando dissemos que no conto nada de sobrar ou faltar.

Todos detalhes apresentados no decorrer da escrita – como a menção ao Manoel na terceira pessoa – são propositais para entreter o leitor e levá-lo ao clímax.

Elementos estruturais

Sobre os elementos estruturais que trabalhamos, repare que o texto segue exatamente a mesma estrutura de montanha que descrevemos: ele começa apresentando os personagens (Manoel Soares e sua esposa) e os descreve, apresentando suas características, personalidades e a suposta relação entre o narrador e eles. Isso configura o que chamamos de apresentação.

Depois, quase todo o texto segue com o aumento da tensão, pois o autor apresenta ações e pensamentos do narrador que nos faz querer saber logo o fim da narrativa.

Em vários momentos nos perguntamos se de fato Manoel será morto, perguntamos também quem seria Manoel e o porquê do narrador querer matá-lo. Esses questionamentos provam que, como previsto, existe uma expectativa de nossa parte enquanto leitores.

Por fim, o autor quebra a expectativa ao apresentar o clímax do conto em que ele demonstra que, na verdade, o narrador era o próprio Manoel. No próprio clímax, o autor já inclui o desfecho e resolução, que acabaram ficando implícitos.

Mesmo que não esteja descrito, sabemos o que acontecerá após o fim do texto: o autor, que é próprio Manoel, será morto pelo pistoleiro contratado por ele.

Com o que aprendemos nesta aula e com a leitura de diferentes contos, certamente você já pode se arriscar nesse gênero e escrever bons textos!

Mas, se ainda quiser saber mais, veja a nossa videoaula:

Sobre o(a) autor(a):

Os textos e exemplos acima foram preparados pela professora Daniela Cristina Garcia para o Curso Enem Gratuito. Daniela é formada em Letras (Língua portuguesa e literaturas) pela Universidade Federal de Santa Catarina e é mestre e doutoranda em Linguística (também pela UFSC). Dá aulas de Língua Portuguesa, com ênfase em redação, em escolas e cursos pré-vestibular de Florianópolis e possui experiência em correção de redação de vestibulares e exames.

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