Castro Alves ficou conhecido como o “poeta dos escravos” por abordar temas abolicionistas em suas obras. Ele surge na geração do Romantismo, mas ele inverte as regras do jogo: 1 – o sentimento da natureza é substituído pelo da humanidade; 2 – bem como a ordem do coração é trocada pela da razão. Veja agora no resumo de literatura Enem.
Castro Alves, conhecido como o “poeta dos escravos” (apelido dado por Machado de Assis), foi responsável por criticar a escravidão dentro do Romantismo. De acordo com o autor, o Brasil tomou a própria bandeira para cobrir tanta covardia contra toda uma nação.
É dessa maneira que a Terceira Geração Romântica Brasileira denunciou as atrocidades de sua época. Em outras palavras, a Terceira Geração Romântica Brasileira ou Condoreirismo pertence a grandes poetas que foram conscientes da sociedade em que viveram.
Da mesma forma, tais poetas se interessavam muito mais pelo conflito entre liberdade e escravidão do que ficar “chorando as pitangas” numa idealização amorosa.
Castro Alves defende a educação, as liberdades, e o fim da escravidão. Escreveu poemas que se eternizaram, como este trecho de Espumas Flutuantes (1870):
Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe—que faz a palma,
É chuva—que faz o mar.
Quem foi Castro Alves?
Primeiramente, precisamos saber quem foi Castro Alves e porque ele foi tão importante para a nossa literatura. Assim, vamos lá.
De antemão, o começo literário de Castro Alves se dá em um momento de transformação do contexto econômico e político brasileiro.
Nesse sentido, o crescimento da cultura urbana, os debates em torno de ideais democráticos e a revolta pela manutenção de sistema escravagista são pontos fortes na segunda metade do século XIX.
São justamente esses temas que influenciam o, então, adolescente Antônio Frederico de Castro Alves, que chega ao um Recife, para cursar a faculdade de Direito.
Sua produção literária mostra um distanciamento em relação aos textos da primeira e segunda gerações românticas.
Castro Alves no contexto do Romantismo
Confira agora com a professora Camila Brambilla, do canal do Curso Enem Gratuito, o contexto da geração condoreira entre os autores do Romantismo Brasileiro. Castro Alves está no centro destas dicas. Confira:
As dicas da professora Camila:
- A chamada Geração Condoreira, por ter como ícone a figura do Condor – pássaros que costuma formar ninho em lugares muito altos.
- Essa geração, como um todo, assume o ícone do poeta como um guia altivo – como o condor – que eleva o espírito e o olhar da sociedade por meio de sua visão e lirismo.
- Outra denominação para estes autores é que eles formam a geração “hugoana”, por ter como maior influência o francês Victor Hugo. A vasta obra do francês Victor Hugo abrange teatro, romance e inúmeros poemas, que possuem um acentuado apelo sentimental e social.
- As obras destes autores, portanto, possuem os traços característicos desse momento do Romantismo: o lirismo engajado e grandiloquente em prol da liberdade e da justiça social, como é nítido na obra de Castro Alves.
- Estes conceitos afastam os autores do isolamento e individualismo da segunda geração do romantismo para uma poesia mais social.
- Confira nesta aula acima, com a professora Camila, o que marca nitidamente Castro Alves e a terceira geração do Romantismo.
- Veja aqui o Aulão Enem de Literatura, com todas as escolas literárias do Brasil.
Características dos poemas de Castro Alves
Vamos ver exemplos de temas:
- o sentimento da natureza é substituído pelo da humanidade;
- bem como a ordem do coração é trocada pela da razão;
Esses dois pontos são a marca principal que diferencia Castro Alves dos outros poetas.
Dentre os livros de poesia que escreveu, os mais importantes, por assim dizer, são Espumas flutuantes (1870), publicado ainda em vida, A cachoeira de Paulo Afonso (1876) e Os escravos (1883), publicações póstumas.
Castro Alves: uma voz para as pessoas escravizadas
Como você viu no começo dessa aula, Castro Alves era considerado o “poeta dos escravos”. Isso porque o escritor aderiu à causa abolicionista e fez de muitos poemas o meio de divulgação, entre seus leitores, do sofrimento em que viviam os africanos escravizados.
Corajoso, o poeta chegou a desafiar seus leitores a acompanhá-lo em uma visita à senzala.
Tragédia no lar
[…]
Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas … cuidado ...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.
Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
Tu, grande, que nunca ouviste
Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tu’alma,
Em sedas adormecida,
Esta excrescência da vida
Que ocultas com tanto esmero?
[…]
Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! senhores, não mancheis…
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.
Castro Alves, Os escravos. 1883
Análise do poema
Notou que os últimos versos são irônicos? Pois são.
O eu lírico nos poemas de Castro Alves confronta a pureza dos sujeitos escravizados à imundície dos senhores.
Também são irônicos os versos que chamam a atenção das moças para que tenham cuidado e “não manchem os vestidos bordados” no chão imundo da senzala.
A mesma situação é retomada, na última estrofe, em relação às luvas brancas do nobre.
Portanto, por meio de cenas como essa, estudante, fica muito evidente a intenção do poeta: existe, na sociedade brasileira, uma sujeira profunda que precisa ser lavada.
Navio Negreiro
Embora a elite se mostre elegante nas festas e bailes que frequenta, não conseguirá se limpar da sujeira da alma causada pela exploração imperdoável de um povo.
Os textos mais populares sobre a escravidão estão no livro Os escravos, em que a maior parte dos poemas é dedicada ao assunto. Nesse sentido, dois deles merecem destaque: Vozes d’África e O navio negreiro.
O navio negreiro é um longo poema que trata sobre o sofrimento dos africanos confinados em um navio.
Cada um dos seis cantos que compõem o poema cria uma cena para mostrar essa travessia atlântica. A cena que dá início à obra é a de um barco que flutua sobre os mares.
Ao passo que pede ajuda ao albatroz, a águia do oceano, a voz do poema – o eu lírico – se aproxima do barco e descobre, aterrorizado, que o lugar paradisíaco escondia situações macabras.
Por fim, a última parte do poema traz uma interessante releitura da questão da nacionalidade, tão importante aos poetas românticos – lembra da primeira fase?
Ora, se os versos indianistas de Gonçalves Dias defendiam o orgulho da pátria, a poesia abolicionista de Castro Alves denuncia o país que empresta sua bandeira – símbolo maior da nação livre – para esconder os corpos torturados dos escravos.
Trecho de Navio Negreiro
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! …
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
Análise do trecho de Navio Negreiro
A musicalidade dos versos que se referem à bandeira brasileira é notável. Assim como a repetição da consoante b – Que a brisa do Brasil beija e balança – cria uma aliteração que sugere o tremular da bandeira.
Lembrando que “aliteração” é a figura de linguagem que consiste na repetição do som de uma consoante.
Logo depois de enumerar a inspiração representada pela bandeira nacional, o eu lírico conclui a estrofe com uma afirmação doída:
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!
Ou seja: melhor fosse nossa bandeira rasgada em campos de guerra do que servindo de manto de morte para um povo.
Um apelo final
Cristóvão Colombo, conquistador da América, e José Bonifácio de Andrada e Silva, patrono da Independência brasileira, são convocados a repensar seus gestos históricos.
A descoberta do caminho marítimo para a América e a Proclamação da Independência brasileira de quase nada valeram, pois significam a possibilidade de submissão de todo um povo.
Infelizmente, a poesia de Castro Alves ainda nos é muito atual. Mudaram-se os cenários, os países, os desejos, mas, os navios negreiros do nosso século são outros.
Nesse sentido, as vítimas continuam as mesmas. A leitura da poesia de Castro Alves – principalmente O navio negreiro – ainda revela a sua força poética. Portanto, fica “fácil” entender o motivo da adesão às causas abolicionistas.
Velhos e Novos Baianos
Maria Bethânia e Caetano Veloso musicaram parte do poema Navio negreiro. Que tal pôr os fones e ouvir a música agora?
Videoaula sobre Castro Alves
Bem, depois desse momento de reflexão e relaxamento ouvindo a música, é hora daquela videoaula sobre O poeta dos escravos e, claro, dos exercícios de Castro Alves.
Exercícios sobre Castro Alves
Até a próxima!
TEXTO: 1 – Comum à questão: 1
Em fins da década de 1780, navios negreiros haviam cruzado o Atlântico aos milhares, transportando milhões de escravos para plantations do Novo Mundo e ajudando a criar uma nova e pujante economia capitalista atlântica. De repente, em 1788-9, todos eles foram chamados de volta para casa por assim dizer, por abolicionistas, que tomaram consciência de que o que se passava nesses navios era moralmente indefensável e que a violência do tráfico devia ser conhecida em seus portos de origem, em Londres, Liverpool, Bristol – na Inglaterra; em Boston, Nova York e Filadélfia – nos Estados Unidos.
(REDIKER, Marcus. O Navio negreiro: uma história humana. São Paulo, 2011, p. 314)
Questão 01 – (PUCCamp SP)
A existência de navios negreiros, uma das marcas trágicas da escravidão, deduz-se destas imagens de um célebre poema de Castro Alves:
a) Amar o mar.
O mar me assalta, me perturba,
em mim suspira.
b) Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
c) Não cantarei o mar.
Que ele se vingue de meu silêncio, nesta concha.
d) Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
e) Nas ondas encapeladas
desliza o cisne, solitário,
de melancolia tomado.
Gab: D
Questão 02 – (Fac. de Ciências da Saúde de Barretos SP)
Leia os versos de Castro Alves e logo depois responda a questão.
Irmãos da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz…
Ai! soberba populaça,
Rebentos da velha raça
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.
(Apud Massaud Moisés. A Literatura Brasileira através dos textos, 2004.)
Os versos são exemplo de poesia
a) social, condenando a postura pacífica do povo brasileiro.
b) condoreira, externando as aspirações populares de equidade social.
c) lírica, enaltecendo a grandeza dos ideais cristãos e dos valores pátrios.
d) psicológica, sugerindo ao povo que deixe de lado o orgulho e a revolta.
e) religiosa, promovendo a mudança por meio de um povo em harmonia.
Gab: B
TEXTO: 2 – Comum à questão: 3
Navio negreiro (trecho)
Era um sonho dantesco… o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!…”
(…)
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!…
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus…
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
ALVES, C. O navio negreiro. In: ________. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção e apresentação Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1996.
Questão 03 – (IFGO)
O poema de Castro Alves, concluído em 1868, portanto, 18 anos depois da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravos, se apresenta na literatura brasileira como:
a) uma denúncia aos maus tratos, à miséria e à condição desumana a que eram submetidos os africanos durante a travessia marítima entre a África e o Brasil.
b) uma homenagem aos africanos que deixaram sua terra para contribuir com o progresso do Brasil.
c) um poema de exaltação à força e à beleza do povo africano.
d) um canto às raças que formam o povo brasileiro.
e) uma canção de protesto contra as injustiças sociais.
Gab: A