Muitos atletas de modalidades aeróbias optam por treinar em altitudes elevadas para melhorar o desempenho, onde os níveis de oxigênio são menores. Entenda o porquê e como funcionam as adaptações fisiológicas na prática de exercício físico em altitudes elevadas!
O nosso organismo, quando exposto a grandes altitudes, sofre adaptações fisiológicas, sejam elas agudas ou crônicas. A mais comum e conhecida é o aumento das hemácias no nosso sangue, facilitando o transporte de oxigênio (O2). Mas além disso, muitas outras alterações e ajustes ocorrem, especialmente na prática de exercício físico em altitudes elevadas. Vamos entender um pouco mais?
O funcionamento do organismo em altitudes elevadas
Para iniciarmos o raciocínio, vamos entender o que acontece com a oferta de oxigênio em altitudes mais elevadas que o nível do mar.
Na verdade, os níveis de oxigênio acabam sendo os mesmos em altitudes elevadas e no nível do mar. O que diminui é a pressão barométrica, ou seja, há menos moléculas de oxigênio por unidade de volume. Resumidamente falando, a pressão de oxigênio diminui.
Existe uma classificação da altitude, onde entende-se por: nível do mar (de 1000 a 2000 metros), baixa altitude (de 2000 a 3000 metros), grande altitude (de 3000 a 5000) e altitude extrema (5000 a 8848).
Os efeitos fisiológicos agudos, aqueles que acontecem imediatamente à exposição em altitude, ocorrem aproximadamente a partir dos 1600 metros de altitude.
Qualquer indivíduo, treinado ou não, tem a resposta fisiológica de hiperventilação (aumento da frequência respiratória) e o aumento da frequência cardíaca, resultando no aumento do débito cardíaco, que corresponde ao volume sanguíneo bombeado pelo coração por minuto.
Porém, quando mais tempo se fica exposto em altitudes, mais adaptações fisiológicas acontecem. A esse processo, denominamos “aclimatação”.
Como funciona a aclimatação
A aclimatação ocorre para que o transporte de oxigênio se torne mais eficiente, uma vez que sua pressão está menor em locais de grande altitude.
“Hipóxia” é o termo utilizado para caracterizar taxas menores de oxigênio, seja no ambiente ou no nosso organismo.
Devido à hipóxia, a nossa capacidade aeróbia é prejudicada. Entende-se por capacidade aeróbia a habilidade do sistema cardiorrespiratório em absorver e transportar oxigênio e posteriormente ser bem utilizado pela musculatura para geração de energia.
Para suprir essa dificuldade, o corpo precisa otimizar sua quantidade disponível de hemácias. Isso é solucionado principalmente pelo aumento da síntese e da produção do hormônio eritropoetina (EPO).
A função da eritropoetina é agir na medula óssea aumentando e otimizando a produção de hemácias, ou eritrócitos, que relembrando: transportam o oxigênio para todo nosso corpo através do sangue. Esse processo é denominado “policitemia”.
A eritropoetina é produzida pelos rins. Porém, um dos seus efeitos, é aumentar a viscosidade do sangue, aumentando assim o trabalho cardíaco. Esse hormônio pode ser produzido sinteticamente, geralmente usada em tratamentos de algumas doenças.
Porém, alguns atletas acabam usando a eritropoetina sintética para a melhora do desempenho esportivo. Mas, de acordo com as normas do Comitê Olímpico Internacional (COI), essa prática é considerada doping.
As substâncias monitoradas ou proibidas, consideradas doping, são vigiladas pela World Anti-Doping Agency (WADA), do português Agência Mundial Antidoping. A entidade surgiu como uma comissão do Comitê Olímpico Internacional, mas hoje é uma organização independente.
Outras adaptações fisiológicas crônicas à altitude, é o equilíbrio acidobásico dos líquidos. A síntese dos hormônios catecolaminas (adrenalina e catecolamina), aumenta. Esses hormônios promovem um aumento da contratilidade do miocárdio (músculo cardíaco) e da frequência cardíaca, aumentando consequentemente o transporte de oxigênio.
Todas essas adaptações fisiológicas adquiridas em altitude são perdidas depois de cerca de 20 dias ao nível do mar.
A aclimatação em ambientes de altitudes é um processo muito importante. Recomenda-se 15 dias de estadia para altitudes de 2500 metros. Partindo disso, adiciona-se uma semana para cada 610 metros.
Complicações na prática de exercício físico em altitudes elevadas
Complicações à saúde são recorrentes em ambientes de altitudes elevadas, principalmente quando a aclimatação recomendada não é seguida.
As patologias mais comuns são: o mal agudo das montanhas, edema pulmonar das grandes altitudes e edema cerebral das altas altitudes. Alguns sintomas agudos são dor de cabeça, náuseas, dispneia e insônia.
Essas patologias, algumas vezes, possuem difícil diagnóstico, pois confundem-se com os sintomas que já ocorrem no processo de aclimatação normalmente.
O recomendado é descer a menores altitudes o mais rápido possível, sempre ter um cilindro de oxigênio a disposição, para casos de emergência, e sempre respeitar o tempo de aclimatação.
Para se chegar ao cume do Everest (8848 metros), por exemplo, a aclimatação deve ser muito bem feita. Na verdade, a preparação física começa meses antes da escalada. Para se chegar ao tão sonhado acampamento base do Everest, que fica a 5200 metros, a passagem por 10 vilas anteriores para aclimatação é necessária.
Após se chegar ao acampamento base é que a escalada começa realmente, em temperaturas baixíssimas. Nesse ponto, a disponibilidade de oxigênio diminui em 50%. Ainda seguem 10 acampamentos para aclimatação e acomodação. O 8º trecho é chamado de Zona da morte, onde todos os segundos são contados.
A partir do 8º trecho o ar é tão rarefeito e as temperaturas tão baixas que o tempo de permanência é apenas 12 horas. Ou seja, precisa-se subir até o topo e descer nesse intervalo de tempo. Por esse motivo, muitas pessoas desistem nessa região.
Muitas pessoas infelizmente não resistem ao trajeto do Everest, justamente pelas suas condições extremas de altitude e temperatura. Muitas tempestades com ventos fortes ocorrem nesses locais, dificultando ainda mais a escalada.
Além da aclimatação, a nutrição é outro ponto importante a ser observado. A taxa metabólica basal (TMB), que corresponde a energia mínima necessária para nos mantermos vivos, aumenta entre 400 e 600 calorias por dia. Logo, para evitar perda de peso excessiva, sugere-se uma atenção a mais na nutrição.
Como curiosidade, a exposição em hipóxia ambiental, há uma diminuição do pensamento analítico. Como consequência disso, há um comprometimento na capacidade de se tomar decisões e na habilidade de reação.
Devido a essa diminuição do pensamento analítico, os esportes praticados em altitudes possuem um maior risco de acometimento de lesões, uma vez que a atenção e a coordenação motora diminuem.
Treinamento em altitude como estratégia
Alguns atletas de modalidades aeróbias utilizam como estratégia o treinamento em grandes altitudes, como justificativa de um aumento da quantidade de hemácias, otimizando o transporte de oxigênio.
Porém, alguns estudos apresentam que há limitações nessa estratégia. Uma vez que o desempenho aeróbio é comprometido em altitudes, o atleta não consegue chegar na sua capacidade máxima, necessária para adaptações fisiológicas ao treinamento significativas. Treinando em capacidade submáxima, quando retorna-se ao nível do mar, os resultados não são significantes.
Concluímos então que, em repouso ou durante o exercício, ocorrem adaptações fisiológicas agudas e crônicas em nosso organismo. Para altitudes muito elevadas, se faz muito necessário uma aclimatação e seguir, sempre, as recomendações de segurança.
Vídeo sobre exercício em altitudes elevadas
E aí, deu vontade de escalar o Everest? Assista a seguir esse vídeo com dicas valiosas para essa escalada, e depois… pense novamente se ainda quer! Após isso, conclua seu estudo com algumas questões relacionadas ao tema.
Exercícios sobre exercício físico em altitudes elevadas
1) (Vunesp-2008)
(…) a Fifa decidiu ratificar a proibição de jogos internacionais em estádios localizados em altitudes acima de 2 750 metros. Para a Fifa, partidas internacionais acima desta altitude serão disputadas apenas após um período mínimo de adaptação de uma semana para os atletas. No caso de um jogo a mais de 3 mil metros do nível do mar, este período de aclimatação sobe para pelo menos duas semanas.
(Fonte: Globo Esporte)
Com base nos conhecimentos sobre circulação e respiração humanas, justifique a posição anterior da Fifa que permitiria que jogos de futebol fossem realizados em locais de elevada altitude apenas após um período de adaptação dos atletas.
2) (FGV – 2007)
Suponha a seguinte situação: o preparador físico de um time brasileiro de futebol propôs uma nova estratégia para treinamento de seus atletas. Os jogadores realizariam exercícios físicos respirando através de equipamento que simulava condições de baixa pressão atmosférica. Este treinamento deveria preceder, em semanas, as viagens para os jogos que iriam se realizar em cidades de alta altitude, como La Paz, na Bolívia. Segundo o preparador físico da equipe, este treinamento poderia melhorar a condição física do atleta quando dos jogos. Questionado sobre o porquê desse treinamento, o preparador físico explicou que:
I. Para o ar penetrar no tubo respiratório e chegar aos pulmões, é necessário haver uma diferença entre a pressão atmosférica e a pressão existente na cavidade torácica. Quanto menor a diferença, menor a quantidade de ar que chega aos pulmões.
II. Em cidades de alta altitude, como La Paz, a pressão atmosférica é menor que a pressão existente na cavidade torácica, o que impede a captação de ar pelos pulmões.
III. O treinamento fortaleceria a musculatura intercostal e o diafragma dos atletas, permitindo que pudessem inspirar mesmo sob as condições de baixa pressão atmosférica das cidades onde os jogos se realizariam.
IV. Para que o oxigênio atmosférico chegue aos tecidos do corpo, é necessário que se ligue às proteínas da superfície da membrana das hemácias, o que ocorre nos alvéolos pulmonares.
V. O treinamento estimularia o organismo a aumentar a produção de hemácias. O atleta submetido a esse treinamento, ao chegar a cidades de alta altitude, já teria um aumento na concentração de hemácias, facilitando a captação do pouco oxigênio presente nos alvéolos pulmonares.
São corretas as afirmações:
a) I e V, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, III e V, apenas.
d) I, II, III e IV, apenas.
e) I, II, III , IV e V.
3) Um viajante saudável realizou diversos exames antes de viajar uma região de grande altitude. Depois de passar dois meses nessa região, permanecendo saudável, seus exames foram refeitos e encontrou-se, em relação aos exames anteriores,
a) valores iguais, por permanecer saudáveis.
b) diminuição da pressão sanguínea.
c) aumento do número de leucócitos.
d) diminuição do número de plaquetas.
e) aumento do número de hemácias.
4) (ETEC-SP)
O futebol faz parte do cotidiano da maior parte dos brasileiros. É um dos assuntos nas rodas de conversa nos mais variados locais, além de ser um grande divertimento para quem vai aos estádios para assistir as partidas.
Um torneio de futebol importante é a Copa Libertadores da América, da qual participam equipes de quase todos os países da América do Sul.
Uma das preocupações das equipes brasileiras participantes da Copa é jogar na cidade de La Paz, na Bolívia.
Essa preocupação existe, pois essa cidade está situada:
a) a mais de 3000 metros de altitude, na Cordilheira do Himalaia, o que provoca temperaturas abaixo de 0º, podendo trazer consequências aos atletas.
b) a mais de 3000 metros de altitude, o que torna o ar mais rarefeito, dificultando a prática esportiva.
c) ao nível do mar, nas margens do Oceano Pacífico, ficando exposta às grandes ondas e a maresia provocadas pela corrente marítima de Humboldt.
d) ao nível do mar, nas margens do Oceano Atlântico, tronando-se, portanto, suscetível a terremotos constantes.
e) ao nível do mar, nas margens do Caribe que, no verão, é assolada por tornados e furacões devastadores.
GABARITO
- Os níveis de oxigênio em altitudes elevadas são menores. A aclimatação aos atletas é extremamente necessária, ocorrendo assim uma maior produção de hemácias através de adaptações fisiológicas, otimizando o consumo de oxigênio, que fica prejudicado devido a altitude.
- A
- E
- B