Alguma vez você já teve a sensação de que está cercado por armadilhas de desinformação enquanto navega por um site ou rede social? Algumas informações falsas e teorias da conspiração são facilmente identificáveis. Mas, também existem tipos de desinformações mais sutis, prontas para pegar pessoas desprevenidas.
Neste módulo do Curso Conectados e Ligados, a equipe da Agência Lupa vai mostrar porque as pessoas costumam cair em desinformação e porque todos estão vulneráveis. Você vai aprender a verificar informação na internet, a consumir e produzir conteúdo com responsabilidade e a conversar com quem acredita em desinformação.
Os conteúdos desse módulo foram elaborados pela equipe da Agência Lupa especialmente para o Curso Conectados e Ligados! Para aproveitar todo o conteúdo deste módulo, assista aos vídeos, baixe o e-book e responda às perguntas do quiz no final da página!
Vídeos: como lidar com a desinformação na internet
No primeiro vídeo do módulo 4, Natália Leal, Diretora-executiva da Agência Lupa, explica quais são as diferenças entre os termos “desinformação” e “fake news” e porque devemos preferir o primeiro. Além disso, ela fala sobre a atuação da indústria da desinformação e o que podemos fazer para verificar informações na internet:
Agora que você já viu como a desinformação é disseminada e como verificar se uma informação é verdadeira, assista ao segundo vídeo deste módulo. Nele, a Natália Leal vai falar sobre como você pode conversar sobre desinformação com outras pessoas – principalmente aquelas que costumam acreditar em conteúdos duvidosos.
Depois de ver dois vídeos sobre desinformação, chegou a hora de saber como consumir e produzir informação com responsabilidade. Essa é uma tarefa difícil, já que passamos várias horas dos nossos dias em meio a uma avalanche de informações. Mas, a Natália mostra como é possível ter uma relação responsável e saudável com as informações na internet:
Depois de assistir a esses vídeos você já sente mais preparado para não cair em desinformação e conversar sobre o assunto? Então é hora de baixar o e-book e fazer o quiz que está no final do post. Esses conteúdos vão te ajudar a entender ainda melhor porque a desinformação pode ser tão atrativa e a conferir se as informações que você está consumindo são verdadeiras.
Faça o download do e-book
Pra se aprofundar nos estudos sobre desinformação, faça o download do e-book do Módulo 4! Se você não quiser ou não puder baixar o e-book, leia o texto a seguir e confira as recomendações da Agência Lupa.
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Texto
Em seguida, confira o texto escrito pela equipe da Agência Lupa!
Tipos de desinformação
Historicamente, a desinformação remonta a técnicas usadas em diferentes regimes de governo – totalitários ou não – para distorcer fatos e manipular a opinião pública.
Não há apenas um tipo de desinformação. Na realidade, estudos realizados pelo First Draft News, entidade americana que pesquisa e atua no tema, indicam que há, ao menos, sete:
- Sátira ou paródia: sem intenção de fazer mal, mas com potencial para enganar.
- Falsa conexão: quando as legendas não dão suporte ao conteúdo das imagens ou títulos aos fatos contidos nos textos.
- Conteúdo enganoso: má utilização da informação para levar o indivíduo a uma conclusão diferente da realidade.
- Contexto falso: quando o conteúdo verdadeiro é compartilhado com informações falsas contextuais.
- Conteúdo impostor: quando fontes verdadeiras são forjadas. Por exemplo: criação de sites muito parecidos com de grandes veículos ou contas falsas em redes sociais se passando por autoridades.
- Conteúdo manipulado: quando a informação verdadeira (em texto, áudio ou imagens) é manipulada para enganar, como em montagens e fotos alteradas digitalmente.
- Conteúdo fabricado: conteúdo novo, 100% falso, criado para enganar.
Mesmo assim, não há um conceito único para desinformação, nem mesmo para a International Fact-checking Network, a rede mundial de checadores de fatos, especializada no tema. O problema se dá entre a produção e a distribuição desses conteúdos. Quem o produz, dependendo da maneira de como o faz e como o distribui, pode até ser classificado como alguém com o intuito de manipular o debate público.
Um exemplo seria a elaboração de uma peça de desinformação, publicada no Twitter e com uso de bots para que ela ganhe relevância e atinja mais pessoas. Há uma série de elementos que evidenciam que houve intuito em desinformar. Porém, é difícil essa comprovação na maioria dos casos que se trata sobre a produção.
Sobre a distribuição, isso se torna mais complicado ainda, pois esses conteúdos são elaborados de forma que possam ser virais e motivem as pessoas a compartilharem. Elas, nesse caso, auxiliam uma estrutura de desinformação, mas não são seus elaboradores.
A indústria da desinformação
As redes sociais – Instagram, Facebook, Twitter –, as plataformas – Google, YouTube – e sites no geral são locais que fomentam a livre circulação de ideias. Aplicações como essas funcionam através de combinações de algoritmos e, via de regra, têm como um de seus objetivos que os indivíduos permaneçam conectados e navegando em seus espaços pela maior quantidade de tempo possível.
O algoritmo, pensando em fazer você ficar mais tempo naquela plataforma, seleciona por determinado período de tempo um número de publicações de pessoas ou páginas que você já demonstrou se envolver para exibir no seu feed, uma vez que é fisicamente impossível que você veja todas as publicações de todos os seus amigos e páginas.
Ampliando suas audiências e as mantendo cada vez mais presentes, essas plataformas e sites se tornam espaços estratégicos para veiculação de anúncios, gerando assim receita.
Atualmente, com sofisticados processos e ferramentas para coleta e tratamento de dados, as plataformas e anunciantes conseguem traçar os perfis de usuários com base no seu comportamento online e direcionar ainda mais seus anúncios. Dessa forma, para aumentar o tráfego do site ou a audiência da plataforma muitos não se importam em se ater aos fatos, usando chamadas sensacionalistas e desinformação para atrair público, aumentar sua relevância e margem de lucro.
Dicas da Lupa para combater a desinformação
- Leia além da manchete: o título da notícia reflete o que está no corpo do texto? É um título apelativo?
- Em situações de pânico, pense duas vezes. Momentos de tensão são propícios à proliferação de notícias falsas. Pause e reflita: será que me deixei emocionar? Pessoas se deixam levar mais pela emoção do que pela razão.
- Recebeu uma “notícia” inédita? Exclusiva? Urgente? Antes de repassar, veja se há outros canais de informação comprovando o dado. O furo jornalístico existe, mas se a notícia for de fato importante, não é possível que ela não esteja em vários veículos.
- Lembre-se de que fotos podem ser facilmente adulteradas. Ferramentas como TinEye, Google Images e Bing Images ajudam a identificar eventuais manipulações em imagens. Além disso, as legendas também podem estar erradas. Cheque os conteúdos.
- Nem todo áudio é verdadeiro! Encerre correntes com gravações de autores desconhecidos. E lembre-se: há excelentes imitadores.
- Verifique a data de uma informação. Será que a “notícia” que você recebeu não é velha?
- Duvide de URLs estranhas. Você já visitou esse site antes?
- Cheque a autoria. Ela existe? Você confia nesse autor? Ou nunca leu nada dele antes?
Pesquisas simples, no Google, podem ajudar
Ao se deparar com conteúdos que apelem para o senso de urgência, para as emoções, ou que peçam para que você compartilhe, já ligue o sinal de alerta para desinformação. Uma rápida pesquisa no Google vai te permitir identificar se outras fontes confiáveis estão tratando a questão e se não estiverem as chances de ser uma informação falsa aumentam.
Nessa perspectiva de realizar buscas, uma outra dica importante é: para conhecer um site, saia dele. Realize a leitura lateral, isto é, pesquise sobre o site em outros sites, não confie apenas no que ele diz sobre ele mesmo.
Como conversar com alguém que acredita em desinformação
Entenda o caráter emocional da desinformação
Já se sabe que boa parte da nossa tendência a acreditar em conteúdos falsos está relacionada ao fato de olharmos para esses conteúdos com a lente da emoção no lugar da razão. Sabendo disso, muitos produtores de desinformação utilizam estratégias que exploram essas reações emocionais.
- Viés de confirmação: é a tendência de acreditar em um conteúdo que reafirma crenças pré-existentes, o que aumenta a tendência de compartilhar o conteúdo, uma vez que este fortalece nossas crenças.
- Necessidade de pertencimento: como ser social, o ser humano precisa se sentir parte de algo maior. Ao se identificar com pessoas que pensam da mesma forma, esse sentimento de pertencimento fortalece grupos e discursos, positivos e negativos.
- Efeito Manada: quando um grupo de pessoas reage da mesma forma, no caso das informações, quando todo mundo compartilha uma mesma notícia, podendo gerar a sensação de que é verdadeira apenas por isso.
- Teorias da conspiração: surgem principalmente em momentos de crise e incerteza, como a da pandemia de Covid-19, e costumam oferecer explicações para questões ainda inexplicadas. Alguns características são: suspeita absoluta que impede que se acredite em qualquer outra explicação; presença de intenções nefastas; questionamentos das narrativas oficiais; auto identificação como vítimas perseguidas corajosas por enfrentarem os “conspiradores”; e, principalmente, ser imune a evidências, pois qualquer uma é reinterpretada como parte da conspiração.
Como ter aquela conversa sobre desinformação
Considerando então essas nossas características humanas, estabelecer uma conversa com aquele tio que vive compartilhando teorias da conspiração no grupo da família exige alguns cuidados e estratégias.
Abaixo listamos o que fazer e o que NÃO fazer em uma conversa com quem acredita e dissemina desinformação.
O que fazer:
- Mantenha a calma. Lembre-se que não se trata de uma disputa, e sim de ajudar aquela pessoa a fortalecer seu pensamento crítico e começar a enxergar os conteúdos de outra forma.
- Ouça o que a pessoa tem a dizer. Ouvir com atenção e exercitando a empatia, buscando entender as necessidades da pessoa e como se relacionam com o conteúdo.
- Faça perguntas. Demonstre que você ouviu seus pontos e pergunte sobre dados, fatos, fontes. Cuidado para não soar irônico ou agressivo.
- Ajude a esclarecer as nuances da desinformação. Demonstrar que nem sempre uma informação é totalmente verdadeira ou totalmente falsa é importante para o desenvolvimento do pensamento crítico.
- Explore a diferença entre fatos e opiniões. De forma leve e sem julgamentos, explique a diferença entre fato e opinião e que precisamos nos ater aos fatos e nos ampararmos em informações verdadeiras e confiáveis.
- Compartilhe o conhecimento sobre como conferir se uma informação é confiável.
- Sugira fontes de informações confiáveis, responsáveis e éticas em suas produções. O jornalismo profissional não deve ser colocado como dono da verdade, mas apresentado como profissionais que estudaram, aplicam a ética da profissão e uma metodologia. Nas redes sociais, sugira o acompanhamento de perfis verificados. Órgãos oficiais também devem sempre ser considerados – como a Fiocruz e o Instituto Butantan, no caso das vacinas, por exemplo.
O que não fazer:
- Não deboche ou menospreze. Os minutos iniciais de uma conversa são essenciais para o seu desenrolar. Gerar um sentimento negativo só serve para aumentar a resistência e desconfiança.
- Não tente competir. Responder contestando o outro lado de forma quase agressiva também não vai contribuir para um diálogo produtivo.
- Não seja irônico. Às vezes as perguntas podem sair com ar irônico, então esteja sempre atento com seu tom de voz, ritmo de fala e de conversa.
- Não tente estabelecer A VERDADE. Este é um conceito filosófico e complexo. Ainda que não defenda que a verdade seja algo pessoal, é melhor sempre tratar como “informação verdadeira”.
E lembre-se sempre que não será uma única conversa que mudará esse comportamento. Os objetivos são estabelecer pontes e estimular o pensamento crítico, fazer seu interlocutor refletir sobre as questões em um diálogo saudável já é um ótimo resultado.
Fontes de informação confiáveis: o que são e como identificar
A produção de conhecimento, seja em ciências exatas ou humanas, segue metodologias científicas sérias que costumam ser verificadas por outros especialistas antes de serem publicadas pela academia ou por institutos de pesquisa. A pesquisa científica e a metodologia acadêmica são os grandes balizadores das discussões em todos os campos, da política à engenharia, que se faz hoje.
Há pressupostos e consensos científicos que são pontos de partida para qualquer discussão como, por exemplo, que a Terra é esférica, que o cigarro faz mal à saúde e que o homem influencia na temperatura do planeta. Qualquer tentativa de se relativizar essas verdades comprovadas cientificamente não passam de mentiras. Não são opiniões. São teorias conspiratórias mentirosas. Então podemos partir de um ponto em que a razão precisa dominar a emoção na análise de um conteúdo.
Se estamos falando de números e estatísticas, é preciso confrontá-los com bancos de dados oficiais e confiáveis e seus contextos. Se estamos falando de fatos históricos, é preciso recorrer a registros e documentos históricos, além de historiadores para que mostrem em qual circunstância esse registro está inserido. Se falamos de aspectos legais, é preciso consultar as leis e a Constituição.
Correntes de WhatsApp, posts ou perfis de grupos em redes sociais não devem servir de fontes primárias de informação. Há bom e mau jornalismo e é preciso distinguir um do outro. Jornalismo, que é o registro diário dos fatos, também segue uma metodologia e o que separa o bom do mau jornalismo é justamente a existência desta metodologia.
Portanto, o melhor indicador de confiança está no próprio método científico – que também é utilizado pelos checadores – a verificação pelos pares.
Onde você pode encontrar informações de qualidade
Informações primárias, ou seja, aquelas que são originais, diretas da fonte, podem ser buscadas em:
- Bancos de dados públicos, como Data SUS.
- Instituições de pesquisa renomadas (nacionais e internacionais), como FAPESP, Centre for Educational Research and Innovation.
- Sites de universidades estaduais e federais, como Unicamp, UFRJ e UFRN.
- Instituições e órgãos públicos, como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan.
Como consumir informação com responsabilidade
A importância do pensamento crítico e como desenvolvê-lo
O pensamento crítico é aquela ação de interrogar um conteúdo ao se deparar com ele, seja um texto, um meme ou um vídeo. Se perguntar sobre quem o produziu e com qual propósito, por exemplo, já amplia a percepção sobre a mensagem que está sendo transmitida.
Com a enorme quantidade e velocidade da circulação de informações a que estamos expostos, não exercitar o pensamento crítico pode nos fazer cair em algumas armadilhas como as da desinformação. Desenvolver o pensamento crítico é um exercício constante que deve acontecer durante toda vida, e para isso aqui vão algumas dicas.
Antes de tudo, lembre-se de manter uma dieta informativa equilibrada. É essencial estar em contato com fontes e informações além das que nós concordamos, mas sempre confiáveis, para conseguir construir uma linha de raciocínio a partir de diferentes argumentos.
Ao entrar em contato com qualquer conteúdo, interrogue-o. Reflita sobre quem o produziu, quem financiou a produção e com qual propósito. Procure identificar se o conteúdo te convoca a fazer algo, ou te convencer de alguma coisa, ou se ele se endereça a algum grupo em especial. Repare na linguagem usada e nas técnicas empregadas, como a presença de trilha sonora, velocidade acelerada ou calma, quem apresenta o conteúdo. Veja se o conteúdo apresenta evidências e dados, se ele cita fontes para as afirmações que faz. Enfim, reflita sobre o que esse conteúdo desperta em você, qual sentimento.
Existem muitas questões possíveis de serem feitas e parte desse exercício é justamente ir ampliando esse repertório e descobrindo quais perguntas fazer a cada conteúdo.
Características para ajudar a identificar um conteúdo confiável
Seguindo no exercício do pensamento crítico, essas são características para auxiliar no processo de identificação da confiabilidade. Elas servem como ferramentas para avaliar os conteúdos, não garantem necessariamente que não existem conteúdos enganosos ou falsos que se encaixem, mas a soma dessas características já é um bom indicativo.
- Cita suas fontes, possibilitando que você possa conferir a fonte primária da informação e seus dados.
- É bem escrito e geralmente não apresenta erros de português, mas, principalmente, exibe uma boa construção textual, com argumentos seguindo uma linha lógica sem partir de falsas premissas.
- Utiliza linguagem adequada e não usa um tom exagerado ou de urgência. Importante notar que o tom é diferente de estilo, se trata do posicionamento consciente e da intenção de quem produz.
- Promete e cumpre. No geral, entrega todas as informações a que se dispõe, seja no título ou na introdução.
- Está também em outras fontes. A probabilidade de um conteúdo verdadeiro estar em diferentes fontes é alta, assim, fazer uma busca e encontrar outras fontes confiáveis com conteúdo parecido pode ser um bom indicativo de sua veracidade.
- Sua origem ser confiável. Identificar a autoria e sua confiabilidade é um ponto chave para reconhecer se um conteúdo é confiável.
Compromissos do jornalismo e ética jornalística
Assim como diversas profissões, o jornalismo também tem seu código de ética, um acordo nacional que estabelece os direitos e deveres dos profissionais, norteando e estabelecendo padrões que qualifiquem sua prática.
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros é um compromisso assumido por aqueles que seguem por essa profissão, composto por 27 artigos, entre eles:
Art. 7° – O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.
Checagem como uma das frentes do jornalismo profissional
A checagem de fatos é uma aliada essencial no combate à desinformação. A Lupa e outras agências de checagem no Brasil se dedicam a verificar informações e classificá-las, auxiliando a qualificar o debate público. Sendo um processo jornalístico, também exige uma metodologia de trabalho.
A Lupa faz parte de um órgão internacional externo que apura agências de checagem, a International Fact-Checking Network (IFCN) e portanto segue o seu código de ética que estabelece princípios como a transparência na metodologia de trabalho, nas fontes de informação e na forma de financiamento, além da política de correção pública e aplicada e do apartidarismo.
E aí, curtiu? Então clique aqui para baixar o e-book e guardar esse material nos seus arquivos! Depois, não se esqueça de responder o quiz sobre o Módulo 4 do Conectados e Ligados.
Responda ao quiz
Por fim, responda às questões abaixo e verifique se você realmente entendeu tudo sobre desinformação:
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