Ele é considerado o maior escritor brasileiro do século XX. Além disso, é o que mais cai nas provas de Linguagens do Enem! Veja o legado literário e os poemas clássicos para se garantir sobre Drummond.
Nesta aula de Literatura você vai estudar um panorama da vida e da obra poética produzida por Carlos Drummond de Andrade. Poeta versátil e multifacetado, Drummond transitou por diversos temas, contemplando o amor, as relações humanas, aspectos de sua vida, de sua infância em Minas Gerais, bem como questões sociais de seu tempo.
Apelidado de Urso Polar, Gauche, Poeta Itabirano ou Poeta de Sete Faces, é um dos principais escritores brasileiros de todos os tempos.
Carlos Drummond de Andrade
Seu legado literário o imortalizou e o faz ser considerado por muitos críticos como o maior escritor brasileiro do século XX.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Você certamente já se deparou com algum fragmento do famoso poema acima. Nunca uma pedra fora antes tão poetizada na literatura brasileira.
No meio do caminho tinha uma pedra
Aparentemente banal ou redundante, o poema acima nos revela muitos outros sentidos além do fato de uma pedra estar no meio do caminho do eu lírico. O poema intitulado No meio do caminho, é de autoria de um dos maiores expoentes da nossa poesia: Carlos Drummond de Andrade.
O poeta de Itabira
O escritor nasceu em Itabira, interior de Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902. O cenário e hábitos da pequena cidade mineira são uma das alusões constantes de sua poesia ao longo de toda sua produção. Isso pode ser constatado no poema abaixo, um dos mais famosos de sua autoria:
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Quando adolescente, foi aluno interno no Colégio Anchieta, em Friburgo, do qual foi expulso em 1919, devido a um incidente com o professor de português. Mais tarde, formou-se em Farmácia. Contudo, acabou por não exercer a profissão de farmacêutico.
A poesia no Rio de Janeiro
Drummond deu aulas de Português e Geografia até 1929, ano que se tornou funcionário público. Em meados da década de 1930, assumiu um cargo no Ministério da Educação e, por isso, passou a morar no Rio de Janeiro, cidade que se orgulha de ter sido lar do poeta.
Em 1930, Drummond publicou seu primeiro livro, Alguma poesia. A partir de então, envolvido com intelectuais como Manuel Bandeira e Guimarães Rosa, passou a figurar entre os grandes nomes da literatura moderna no país. Da década de 1950 em diante dedicou-se somente à literatura.
A poesia de Drummond é produto de uma linguagem bastante coloquial, com palavras familiares e pontuada de termos e seleções verbais capazes de lhe fornecer peculiaridades de alto valor expressivo.
Quanto à temática, entre suas vertentes, nota-se a escolha frequente do poeta pela poesia voltada para a realidade humana e avessa às diversas formas de evasão.
O poema abaixo comprova essa postura drummondiana:
Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
A temática do amor na poesia de Drummond
O amor também é um tema presente na obra do poeta. Entretanto, ao contrário dos poetas românticos, Drummond concebe o amor sem uma perspectiva idealizada.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
No poema acima, o poeta mostra que na sociedade a ele contemporânea o amor representa um sentimento transitório. Além disso, Drummond aponta o desencontro das pessoas no que diz respeito às relações amorosas. O título do poema também é significativo, visto que ele retoma um tipo de dança em que os pares são trocados constantemente.
Além do amor, Drummond também poetizou o cotidiano, a família, o isolamento, a monotonia presente nas coisas e na vida de modo geral. Sua abordagem, porém, varia, manifestando-se ora repleta de reflexão filosófica, ora perpassada por ironia e humor, traços marcantes de sua poética e presentes no poema abaixo:
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar… as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus.
A análise da realidade humana, e que frequentemente Drummond se propõe, assume um cunho mais social e politizado, consagrado na obra Rosa do povo, em que o autor, por exemplo, aborda a Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos.
Curiosidade: Você sabia que Drummond previu os desastres ocorridos com as barragens em Minas Gerais em um de seus poemas? Confira a matéria e o poema na reportagem preparada pelo Jornal Hoje, da Rede Globo.
A obra de Drummond alcança um patamar de solidão, que o desprende do próprio solo da história, levando o leitor a uma atitude livre de referências ou de marcas ideológicas
Metalinguagem
Como viria a ser característico de poetas da Segunda Fase do Modernismo Brasileiro, a obra de Drummond também enfoca o mundo das palavras e da escrita poética, em uma manifestação da vertente metalinguística. O poema Oficina irritada é um exemplo de exploração dessa temática na obra do poeta:
Oficina irritada
Eu quero compor um soneto duro
Como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
Seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
Não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
Ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
Há de pungir, há de fazer sofrer,
Tendão de vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
Cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
Claro enigma, se deixa surpreender.
O poema mais lembrado quando se fala em Drummond é, sem sombra de dúvidas, o Poema de sete faces:
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade morreu em 17 de agosto de 1987, aos 84 anos de idade, no Rio de Janeiro. Sua poesia continua sendo admirada e difundida, imortalizando a figura e o legado do poeta itabirano. E, segundo muitos estudiosos e críticos literários, Drummond pode ser considerado o mais influente, senão o maior, poeta brasileiro do século XX.
Drummond e o Modernismo
Veja agora no resumo do professor Anderson Rollo como a trajetória e as principais obras de Carlos Drummond de Andrade estão dentro do Modernismo no Brasil:
Exercícios sobre Carlos Drummond de Andrade
Questão 1 (Enem-2012)
Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma:
a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
b) aproximação exagerada da estética abstracionista.
c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem.
d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”.
e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.
Resposta correta: A.
Questão 2 (Enem-2006)
No poema “Procura da poesia”, Carlos Drummond de Andrade expressa a concepção estética de se fazer com palavras o que o escultor Michelangelo fazia com mármore. O fragmento a seguir exemplifica essa afirmação.
“(…)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(…)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?”
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.
Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema constante entre autores modernistas:
a) a nostalgia do passado colonialista revisitado.
b) a preocupação com o engajamento político e social da literatura.
c) o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando sentidos novos.
d) a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição poética.
e) a contemplação da natureza brasileira na perspectiva ufanista da pátria.
Resposta correta: c.
Questão 3 (Enem-2006)
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Gois, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em:
a) situações formais e informais.
b) diferentes regiões do país.
c) escolas literárias distintas.
d) textos técnicos e poéticos.
e) diferentes épocas.
Resposta correta: a.
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Pergunta 1 de 10
1. Pergunta
(PUC Campinas SP/2020)
Literatura e realidade
Hoje está na moda dizer que uma obra literária é constituída mais a partir de outras obras, que a precederam, do que em função de estímulos diretos da realidade, pessoal, social ou física. Deve haver boa dose de verdade nisso. Todas as vezes, dizia Proust1, que um grande artista nasce, é como se o mundo fosse criado de novo, porque nós começamos a enxergá-lo conforme ele o mostra.
Para o Naturalismo, a obra era essencialmente uma transposição direta da realidade, como se o escritor conseguisse ficar diante dela na situação de puro sujeito em face do objeto puro, registrando (teoricamente sem interferência de outro texto) as noções e impressões que iriam constituir seu próprio texto. Essa estética repousa na utopia da originalidade absoluta pela experiência imediata, que levava o escritor a desconfiar da influência mediadora de obras alheias.
Mas nós sabemos que, embora filha do mundo, a obra é um mundo, e que convém antes de tudo pesquisar nela mesma as razões que a sustêm como tal. A sua razão específica é a disposição dos núcleos de significado, formando uma combinação singular, segundo a qual a realidade do mundo foi reordenada, transformada, desfigurada ou até posta de lado, para dar nascimento ao outro mundo que a obra constitui.
Ver criticamente a obra é escolher um dos momentos do processo como plataforma de observação. Num extremo, é possível encará-la como uma duplicação da realidade, de maneira que o trabalho imitativo fique reduzido a um registro sem grandeza, pois se era para fazer igual, por que não deixar a realidade em paz? Já no outro extremo é possível ver a obra como um objeto manufaturado com arbítrio soberano, que alcança significação na medida em que nada tem a ver com a realidade. Mas seria melhor a visão que pudesse rastrear na obra o mundo como material de origem, para surpreender no processo vivo da montagem a singularidade da forma segundo a qual se dá a ver um mundo novo.
Obs.:1 Marcel Proust (1871-1922): romancista, ensaísta e crítico literário francês, autor de Em Busca do Tempo Perdido, publicada em sete volumes.
(Adaptado de: CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade.
Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2013, p. 107-108)
Para o Naturalismo, a obra era essencialmente uma transposição direta da realidade, como se o escritor conseguisse ficar diante dela na situação de puro sujeito em face do objeto puro, registrando (teoricamente sem interferência de outro texto) as noções e impressões que iriam constituir seu próprio texto.
Observado o que se tem no período acima transcrito (parágrafo 2), considerado o contexto, comenta-se com correção:
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Incorreto
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Pergunta 2 de 10
2. Pergunta
(PUC Campinas SP/2022)
Como epígrafe de seu livro Claro enigma, de 1951, Carlos Drummond de Andrade valeu-se de uma frase do poeta francês Paul Valéry, que pode ser traduzida como “Os acontecimentos me aborrecem”. Tal declaração faz jus ao sentido mais especulativo e reflexivo de uma poesia na qual o poeta prefere se ver:
Correto
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Pergunta 3 de 10
3. Pergunta
(Fac. Medicina de Petrópolis RJ/2020)
O relógio
Nenhum igual àquele.
A hora no bolso do colete é furtiva,
a hora na parede da sala é calma,
a hora na incidência da luz é silenciosa.
Mas a hora no relógio da Matriz é grave
como a consciência.
E repete. Repete.
Impossível dormir, se não a escuto.
Ficar acordado, sem sua batida.
Existir, se ela emudece.
Cada hora é fixada no ar, na alma,
continua sonhando na surdez.
Onde não há mais ninguém, ela chega e avisa
varando o pedregal da noite.
Som para ser ouvido no longilonge
do tempo da vida.
O texto exemplifica o seguinte aspecto da obra do poeta modernista Carlos Drummond de Andrade:
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Pergunta 4 de 10
4. Pergunta
(Fuvest SP/2020)
Cantiga de enganar
(…)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe.
Meu bem, façamos de conta.
De sofrer e de olvidar,
de lembrar e de fruir,
de escolher nossas lembranças
e revertê‐las, acaso
se lembrem demais em nós.
Façamos, meu bem, de conta
– mas a conta não existe –
que é tudo como se fosse,
ou que, se fora, não era.
(…)
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada:
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Pergunta 5 de 10
5. Pergunta
(ENEM MEC/2020)
Carlos é hoje um homem dividido, Mário, e isso graças às suas cartas.
Às vezes ele torce pelas palmeiras paródicas do Oswald de Andrade (a ninguém cá da terra passou despercebido o título que quer dar ao seu primeiro livro de poemas — Minha terra tem palmeiras). Às vezes não quer esquecer o gélido cinzel de Bilac e a prosa clássica dos decadentistas franceses, e à noite, ao ouvir o chamado da moça-fantasma, fica cismando ismálias em decassílabos rimados. Às vezes sucumbe ao trato cristão da condição humana e, à sombra dos rodapés de Tristão de Ataíde, tem uma recaída jacksoniana. Às vezes não sabe se prefere o barulho do motor do carro em disparada, ou se fica contemplando o sinal vermelho que impõe stop ao trânsito e silêncio ao cidadão. Às vezes entoa loas à vida besta, que devia jazer para sempre abandonada em Itabira. Mas na maioria das vezes sai saracoteando ironicamente pela rua macadamizada da poesia, que nem um pernóstico malandro escondido por detrás dos óculos e dos bigodes, ou melhor, que nem a foliona negra que você tanto admirou no Rio de Janeiro por ocasião das bacanais de Momo.
SANTIAGO, S. Contos antológicos de Silviano Santiago. São Paulo: Nova Alexandria, 2006.
Inspirado nas cartas de Mário de Andrade para Carlos Drummond de Andrade, o autor dá a esse material uma releitura criativa, atribuindo-lhe um remetente ficcional. O resultado é um texto de expressividade centrada na:
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Pergunta 6 de 10
6. Pergunta
(FPS PE/2019)
Morte do leiteiro
Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim. (…)
Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.
Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.
Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente. (…)
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade. (…)
Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. In. Nova reunião: 23 livros de poesia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 151-153. Excerto.
A produção de Carlos Drummond de Andrade faz parte do Segundo Momento Modernista. A Europa vive o avanço do nazifascismo e a II Guerra Mundial; e o Brasil vive o Estado Novo de Getúlio Vargas. É nesse período conturbado que Drummond passa a questionar o “estar-no-mundo” com uma poesia pungente e também politizada. Assinale o trecho poético que representa bem essa fase da produção de Drummond.
Correto
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Pergunta 7 de 10
7. Pergunta
(PUC Campinas SP/2019)
O caso é que eu tinha convidado um grupo de amigos para ouvir a gravação em K-7 do último e belíssimo poema de Ferreira Gullar, chamado Poema sujo, que o poeta lera para mim em seu exílio em Buenos Aires, em outubro de 1975. Um poema de largo fôlego, em que ele atinge uma universalidade como não se via na poesia brasileira desde que Drummond escreveu Sentimento do mundo e A rosa do povo. Eu, sinceramente, já havia perdido a memória da emoção poética num tal grau de intensidade. Minha emoção poética se transferira muito mais – em vista do verbo leucêmico ou verborrágico dos poetas novos, sua esterilidade ou mero tecnicismo – para as letras de Chico, Caetano e Gil, com músicas e palavras casadas em perfeito conúbio (…).
(MORAES, Vinicius. “Poema sujo de vida”. In: GULLAR, Ferreira. Poesia completa, teatro e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, p. xxxix).
Originalmente publicado na Revista Manchete, em 1976
A referência feita por Vinicius de Moraes no texto a dois livros de poemas de Carlos Drummond de Andrade faz lembrar que, em ambos, o poeta mineiro determinou-se a:
Correto
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Pergunta 8 de 10
8. Pergunta
(FMABC SP/2018)
Considere estes versos iniciais do poema “Mãos dadas”, de Carlos Drummond de Andrade:
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles considero a enorme realidade.
Com base nesses versos, que bem traduzem o contexto do livro Sentimento do mundo, é correto afirmar que:
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Pergunta 9 de 10
9. Pergunta
(Fac. Santo Agostinho BA/2018)
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Receita de Ano Novo. São Paulo: Editora Record, 2008.
Carlos Drummond de Andrade, autor do texto, “Receita de Ano Novo”, é um dos principais escritores do 2.º momento do Modernismo. Entre as características da poesia modernista, NÃO se observa no texto:
Correto
Parabéns! Siga para a próxima questão!
Incorreto
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Pergunta 10 de 10
10. Pergunta
(PUC RS/2016)
Sobre Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar:
Correto
Parabéns! Siga para a próxima questão!
Incorreto
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