O que é cibercultura e net-ativismo

A Internet alterou tantos aspectos da sociedade que muitos pensadores falam que estamos vivendo um novo tipo de cultura compartilhada: a cibercultura. Isso porque os dispositivos digitais e a Internet estão tão presentes em nossas vidas que não há mais uma divisão entre o mundo físico e o mundo virtual. Dessa forma, o espaço virtual oferece uma nova oportunidade de transformação social e política: o net-ativismo.

Neste módulo do Curso Conectados e Ligados você vai aprender o que são cibercultura e net-ativismo. Os conteúdos desse módulo foram elaborados pela equipe da Rede Internacional de Pesquisa Atopos, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Para aproveitar todo o conteúdo deste módulo, assista aos vídeos, baixe o e-book e responda às perguntas do quiz no final da página!

Vídeos: cibercultura e net-ativismo

Você já sabe que a linguagem que utilizamos na Internet não é a mesma que devemos adotar em uma redação do Enem, por exemplo. No entanto, a linguagem digital vai muito além daquilo que escrevemos nas redes sociais.

No primeiro vídeo deste módulo você vai entender como a linguagem é fundamental para entender o que é cibercultura. Quem vai apresentar o conceito são Isabella Moura, Michele Dias e Marcella Schneider, todas integrantes do Grupo Atopos.

Agora que você já viu o que é cibercultura, assista ao segundo vídeo deste módulo. Nele você vai entender o que é net-ativismo, como surgiu e de que forma está promovendo transformações na sociedade. Quem apresenta o vídeo são o Matheus Soares, a Marina Magalhães e o Bruno Magalhães, também do Grupo Atopos.

Para saber mais sobre cibercultura e net-ativismo baixe o e-book e faça o quiz que está no final do post! Esses conteúdos vão te auxiliar a refletir sobre as possibilidades abertas pelas diversas formas de atuação na Internet.

Faça o download do e-book

Pra se aprofundar nos estudos sobre cibercultura e net-ativismo, faça o download do e-book do Módulo 5! Se você não quiser ou não puder baixar o e-book, leia o texto a seguir e confira as recomendações do Centro de Pesquisa Atopos.
Baixe o E-book

Texto

Em seguida, confira o texto preparado pela equipe do Atopos.

Cibercultura

Para entender a cibercultura, é preciso primeiro compreender conceitos como o da linguagem digital, da interatividade, hipertextualidade e hipermídia. Primeiramente, a linguagem digital é uma linguagem simples que surgiu junto com as tecnologias de informação e comunicação. É uma linguagem de síntese e dinâmica, que muda com facilidade. Além disso, ela pode ser tanto uma sequência de documentos interligados, chamados de hipertextos, quanto uma sequência de textos junto com outros tipos de mídias, como fotos, vídeos e sons, chamados de hipermídia, que auxiliam na leitura dos textos.

Ainda sobre a linguagem digital, nossa tradição ocidental se baseia na comunicação entre sujeitos humanos e utiliza linguagens capazes de interpretar o mundo em que habitam. Com o surgimento da Internet, essa linguagem teve que se adaptar, criando uma nova arquitetura linguística para que as pessoas pudessem, agora, interpretar esse novo mundo hiperconectado. Ou seja, diante do limite da linguagem ocidental, as pessoas precisaram inventar novas palavras e significados para diálogos sob esse novo contexto.

A partir disso, teve início a chamada Crise das Linguagem Ocidental, que teve duas transformações sociais importantes: a crise ecológica e a inovação tecnológica digital. A primeira é referente às mudanças no nosso meio ambiente, como aquecimento global, destruição da camada de ozônio, entre outros. A segunda, por sua vez, é referente à grande tecnologia e conectividade generalizada que não atinge apenas os seres humanos, mas também toda a biosfera. A crise, então, surgiu pela incapacidade da linguagem antiga explicar esses novos fenômenos.

Outros conceitos importantes são:

  1. Linguagem hipermídia: a fusão de mídias que agrega não só hipertextos, mas também multimídia numa só linguagem.
  2. Interatividade: participação ativa do leitor ao mesmo tempo em vários links.
  3. Hipertextualidade: o leitor pode construir sua própria trajetória ao interagir com os links.

A cibercultura, portanto, surge a partir da junção dos meios de comunicação digitais, a partir do surgimento da Internet. Com a Web 1.0, as primeiras páginas da Internet surgiram, como é o caso do Yahoo, onde havia uma grande quantidade de informações com alcance global. Já com a Web 2.0, não apenas podíamos ver o conteúdo na Internet, mas também publicar e compartilhar conteúdos, por exemplo, através de blogs. Tudo isso foi alterando a forma da nossa cultura digital de forma rápida. Atualmente, na Web 3.0, não só humanos podem compreender a linguagem digital, mas também máquinas. Temos aparelhos de comunicação digital portátil, que podemos levar para todos os locais, garantindo, para nós humanos, a capacidade de sincronizar nossos movimentos com o dos objetos.

Citação online e offline - cibercultura

Além disso, essa hiperconexão nos permite sermos não só sujeitos passivos na Internet, mas também sujeitos ativos, capazes de criar conteúdo nas redes, o que traz uma carga maior de responsabilidade. A Cultura Digital, dessa forma, é a própria cultura dessa nova sociedade, não há nenhuma separação entre o online e o offline, uma vez que são as mesmas pessoas que interagem nesses dois mundos. Podemos levar nossa linguagem digital para o mundo offline e vice-versa.

Para legislar sobre isso, no Brasil, temos regulamentos responsáveis por criar um ambiente digital saudável e cuidar dos usuários, como, por exemplo, o Marco Civil da Internet, de 2014, e a Lei Geral de Proteção de Dados, de 2018. Elas são importantes porque sinalizam a possibilidade de participação social pela Internet, regulando a cidadania digital, ou seja, a vivência e a construção de direitos e deveres entre os humanos e não-humanos conectados à rede. A Internet, dessa forma, é um espaço de todos e vai além das próprias redes sociais, podendo ser ambiente para mobilizações sociais, como o caso do #blacklivesmatter, e de criação de novos conteúdos para a rede, como é o caso dos grupos criadores de programas de código aberto. Por fim, as tecnologias devem ser usadas de maneira criativa e crítica para ajudar a sociedade.

Net-Ativismo

Estamos vivendo em um mundo tão extremamente conectado que, às vezes, é difícil de lembrar que houve épocas não muito distantes em que a comunicação entre as pessoas era muito mais lenta e requeria muito mais esforço para ser feita. Por exemplo, com uma simples mensagem em nosso Twitter, podemos atingir milhares de pessoas não só em nosso país, como em outros, levando, por exemplo, denúncias como casos de racismo, machismo, homofobia e repressão do Estado.

Antigamente, contudo, as coisas eram bem diferentes. Caso quiséssemos denunciar algo, precisaríamos dialogar com pessoas que moravam perto ou com pessoas como familiares e amigos, e tentar falar em rádios ou televisões para tentar conquistar alguma relevância. Ou seja, saímos de uma realidade, onde era preciso ir de casa em casa para poder divulgar suas ideias para uma onde apenas com um simples toque no nosso teclado podemos nos comunicar com diversas pessoas.

Essas novas formas de conseguir mobilizar as pessoas ganhou o nome de net-ativismo. São várias pessoas que se reúnem através de redes de colaboração e nas redes da Internet, ou seja, utilizando-se do Facebook, Twitter, YouTube, Instagram, bots e, até mesmo, vírus de computador, entre outros. Além disso, não há quem mande, todos têm igual poder e relevância dentro do grupo. Toda essa reunião pode trazer questionamentos sobre a política e, às vezes, o movimento pode resultar em uma participação mais efetiva, como protestos nas ruas.

O net-ativismo não surgiu da noite para o dia, ele foi se moldando aos avanços da tecnologia ao longo dos anos. A primeira fase é chamada de preparatória e ocorreu por volta de 1990 com o início da rede mundial de computadores, onde era só possível compartilhar textos entre os usuários. Movimentos como Mídia Tática e personagens coletivos como Hakim Bey e Luther Blissett surgiram, falando sobre arte, tecnologia e contracultura para criticar o Estado, a imprensa e o capitalismo. Eles foram os “trolls” originários, publicando teorias e manifestos, além de inventarem boatos e sites falsos para confundir a imprensa.

Já a segunda fase, chamada de fase de experimentação de novas formas de conflitos, ocorreu na metade dos anos 90, tendo como principal ícone o movimento Zapatista, no México, uma movimento de indígenas locais contra o governo mexicano. Nessa época, a internet teve papel importante, no qual os mexicanos transmitiram reuniões pela internet e difundiram comunicados online, conseguindo atingir várias pessoas, inclusive de fora do país.

Movimento Zapatista - cibercultura e net-ativismo

A terceira fase é a atual, denominada de fase da Web 2.0 e das redes sociais digitais. Surgiu após os anos 2000 e utiliza-se de uma internet avançada para poder disseminar suas ideias. Exemplo importante é o Anonymous, que faz críticas ao autoritarismo e à censura utilizando-se do anonimato. Contudo, apesar de ter sido um movimento com várias nuances e aspectos, uma coisa é comum a todos: críticas à política e aos políticos de seu país.

Como dito anteriormente, todos esses movimentos se concentram em plataformas digitais que, segundo a professora José Van Dijck, da Universidade de Utrecht, Holanda, são, atualmente, tão fortes que podem se tornar mais poderosas que países inteiros. Todas essas tecnologias impactam diretamente ao ponto de, nas últimas décadas, surgirem Partidos Digitais ou Partidos Rede, que são organizações políticas provenientes de net-ativismos. Eles querem questionar e propor alternativas para a participação do cidadão nos poderes estatais. Eles defendem estruturas baseadas em cooperação, transparência, novas formas de participação democrática, economia colaborativa e desenvolvimento sustentável.

Quer se aprofundar?

Se você curtiu o conteúdo desse módulo, aqui estão algumas sugestões para entender melhor o que é a cibercultura e o net-ativismo. Dá uma olhada:

E aí, curtiu? Então clique aqui para fazer o download do e-book e guardar esse material nos seus arquivos! Depois, não se esqueça de responder o quiz sobre o Módulo 5 do Conectados e Ligados.

Responda ao quiz

Por fim, responda às questões abaixo e verifique se você realmente entendeu tudo sobre cibercultura e net-ativismo!

.

Sobre o(a) autor(a):

Somos pesquisadores e influenciadores digitais comprometidos com a proteção da democracia, a promoção do discurso online e a construção de soluções para o combate à desinformação. Juntos, formamos um instituto de nativos da internet que tem o objetivo de estabelecer um ambiente digital saudável para o desenvolvimento individual e coletivo.

Compartilhe: