Como plantas “conversam” na natureza?
Descubra os sons, aromas, sinais elétricos e redes subterrâneas que tornam as plantas comunicadoras ativas no ecossistema.
Quando falamos em comunicação na natureza, geralmente pensamos em pássaros cantando, macacos vocalizando ou golfinhos emitindo sons complexos. Mas e as plantas? Por muito tempo, elas foram vistas como seres silenciosos e passivos, apenas existindo, sem reagir de forma ativa ao ambiente. Porém, estudos recentes estão revolucionando essa visão, mostrando que as plantas possuem seus próprios modos de comunicação – tão complexos quanto silenciosos para nós, humanos.
Pesquisas indicam que as plantas emitem sons, trocam sinais químicos, enviam impulsos elétricos e até participam de redes subterrâneas de comunicação mediadas por fungos. Essa verdadeira “internet da floresta” conecta diferentes espécies e garante a saúde do ecossistema como um todo.
Vamos explorar como funciona esse ecossistema invisível, que conecta plantas, animais, fungos e microrganismos em uma dança sofisticada de informações, defesas e cooperação.
Sons que revelam a vida secreta das plantas

Em 2023, cientistas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, publicaram um estudo na revista eLife mostrando que as plantas emitem sons ultrassônicos quando estão sob estresse, como durante a desidratação. Esses sons não podem ser ouvidos por humanos, mas são percebidos por animais como mariposas e morcegos.
No experimento, mariposas fêmeas evitaram colocar ovos em plantas de tomate que emitiam esses ruídos de estresse, possivelmente interpretando que a planta não seria um bom local para suas larvas. Em outro teste, quando as mariposas foram expostas a caixas com gravações de plantas estressadas e caixas silenciosas, escolheram a caixa barulhenta, indicando que estavam percebendo o som como sinal de vida. Mas ao terem seus órgãos auditivos neutralizados, essa preferência desapareceu.
Essa é a primeira evidência de que plantas e animais podem se comunicar acusticamente, abrindo caminho para novas pesquisas sobre como o som influencia a ecologia.
Como as plantas “falam”?
Além dos sons, as plantas também usam linguagens químicas, sinais elétricos e até uma espécie de “internet subterrânea” formada por fungos. Cada um desses canais tem funções essenciais:
Canal de comunicação | Mensageiros principais | Exemplos | Função ecológica |
---|---|---|---|
Sonora | Ondas ultrassônicas / vibrações | Mariposas e tomateiros; abelhas e prímulas; morcegos e flores com refletores acústicos | Alerta de estresse, atração de polinizadores, defesa |
Química (aérea) | Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) | Insetos herbívoros, vespas parasitoides, polinizadores | Alerta de perigo, atração de polinizadores, defesa |
Química (subterrânea) | Exsudatos radiculares | Micróbios do solo e raízes | Modulação do microbioma, nutrição, defesa |
Elétrica | Impulsos elétricos | Plantas vizinhas em contato | Defesa coordenada, aclimatação |
Redes micorrízicas | Hifas fúngicas / sinais químicos | Fungos e raízes de outras plantas | Transferência de nutrientes, comunicação de defesa |
A polinização pelo som
Mais de 20.000 espécies de plantas dependem da chamada polinização por zumbido. É o caso de espécies como tomate e berinjela, que liberam pólen apenas quando vibradas na frequência específica produzida pelas asas das abelhas.
Outro exemplo fascinante é a prímula noturna (Oenothera drummondii). Pesquisadores descobriram que, ao sentir o som das asas de abelhas, essa planta produz um néctar mais doce em apenas três minutos, tornando-se mais atrativa. A hipótese é que, ao identificar a presença de um polinizador próximo, a planta maximize suas chances de reprodução.
Essas interações são exemplos clássicos de coevolução – processo em que plantas e animais evoluem juntos, adaptando-se mutuamente para sobreviver.
Vibrações subterrâneas

A comunicação sonora não acontece apenas no ar. No subsolo, raízes de milho crescem em direção a fontes de vibração, e ervilhas detectam sons no solo para localizar água. Frequências específicas podem estimular ou retardar o crescimento de plantas; sons de lagartas mastigando folhas, por exemplo, fazem com que muitas espécies ativem defesas químicas, demonstrando que as plantas conseguem distinguir sons de perigo de sons neutros, como vento ou chuva.
Mensagens químicas
Além dos sons, as plantas utilizam compostos químicos para se comunicar. Elas liberam Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) para enviar sinais para outras plantas, insetos e microrganismos.
Quando atacadas por herbívoros, algumas plantas liberam COVs que alertam suas vizinhas sobre o perigo, fazendo com que elas produzam defesas antes de serem atacadas. É o caso do cheiro de grama cortada, que para nós parece apenas “cheiro de mato fresco”, mas para as plantas é um verdadeiro grito de socorro.
As flores também utilizam COVs para atrair polinizadores, criando aromas que agradam abelhas, borboletas ou até morcegos. Em outros casos, plantas liberam compostos que imitam feromônios sexuais de insetos para atraí-los. E algumas ainda exalam cheiros desagradáveis, como o de carniça, para atrair insetos que se alimentam de carne em decomposição e acabam polinizando suas flores.
Sinais elétricos
As plantas também transmitem informações por meio de sinais elétricos, semelhantes aos impulsos nervosos dos animais, mas mais lentos. Esses sinais percorrem longas distâncias dentro dos tecidos vegetais, alertando diferentes partes sobre estresses como falta de água, ataque de herbívoros ou excesso de luz.
O mais impressionante é que esses sinais podem se espalhar para plantas vizinhas em contato direto, permitindo uma defesa coordenada. Pesquisas mostraram que ao estimular eletricamente uma folha de dente-de-leão, plantas vizinhas conectadas começaram a apresentar mudanças fisiológicas, como alterações na fotossíntese, mesmo sem contato químico ou visual direto.
Esse tipo de comunicação pode inspirar tecnologias agrícolas, como as chamadas “plantas repórter”, que indicariam visualmente quando precisam de água ou nutrientes, ajudando no manejo sustentável das lavouras.
Redes micorrízicas
Debaixo do solo, existe uma verdadeira rede de conexões formada pelas hifas dos fungos micorrízicos, que se ligam às raízes de diferentes plantas. Essa rede, chamada de CMN (Common Mycorrhizal Network), permite a troca de nutrientes essenciais, como fósforo e nitrogênio, além de informações químicas.
Quando uma planta é atacada, outras podem receber sinais pela rede micorrízica e aumentar seus mecanismos de defesa. Mas há debates sobre quem emite esses alertas: a planta atacada ou o próprio fungo.
Uma hipótese recente sugere que os fungos monitoram suas plantas hospedeiras e transmitem sinais para outras plantas na rede, garantindo que todas se mantenham saudáveis e continuem fornecendo carbono, do qual os fungos dependem para sobreviver. Isso revela uma forma de “inteligência coletiva” no subsolo, vital para a resiliência dos ecossistemas.
Coevolução
Todas essas interações refletem um processo contínuo de coevolução. Abelhas e flores, morcegos e cactos, mariposas e tomateiros: cada adaptação em um provoca mudanças no outro.
Algumas plantas, por exemplo, desenvolveram defesas químicas amargas ou tóxicas contra herbívoros, e esses animais evoluíram mecanismos para neutralizar essas substâncias. Frutos carnosos evoluíram para atrair vertebrados dispersores de sementes, garantindo a expansão da espécie.
Por que tudo isso importa?
Essas formas de comunicação garantem o funcionamento dos ecossistemas. Sons, aromas, sinais elétricos e redes micorrízicas possibilitam defesas coordenadas contra pragas, atração de polinizadores, troca de nutrientes no solo e o equilíbrio ecológico.
A destruição de habitats, o uso excessivo de agrotóxicos e a poluição podem interromper esses canais invisíveis, gerando efeitos em cascata que comprometem toda a teia da vida.
No Enem, compreender esse “ecossistema invisível” ajuda a interpretar questões de Biologia sobre interações ecológicas, cadeias alimentares, impactos ambientais e até temas de redação que abordem sustentabilidade e conservação ambiental. Além disso, mostra como a ciência revela conexões surpreendentes que sustentam a vida na Terra, indo muito além do que os olhos podem ver.
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