Intemperismo e erosão: agentes externos do relevo

Quem são os agentes responsáveis por esculpir a superfície terrestre? Quais são os fenômenos que transformam as paisagens que observamos no nosso dia a dia? Perguntas como essas levaram cientistas a desenvolverem vários estudos que nos possibilitaram chegar a algumas respostas. Leia a aula a seguir e aprenda um pouco mais sobre essa importante temática!

Nas áreas continentais e oceânicas, a crosta terrestre é extremamente desnivelada. Há formações como montanhas, planícies, planaltos e depressões que caracterizam o que conhecemos como relevo. Diversos processos, como o intemperismo e a erosão, modelaram e continuam modelando o relevo ininterruptamente.

As variações topográficas provêm de agentes naturais que modificam a superfície do nosso planeta, sendo classificados em agentes internos (endógenos) e agentes externos (exógenos) do relevo.

Esses agentes desencadeiam processos que, em conjunto, formam as paisagens que podemos verificar na superfície ao redor do mundo. Nessa aula, vamos nos ater aos agentes externos do relevo, que atuam continuamente transformando as rochas e seus produtos.

Eles modificam o relevo a partir “de fora” da crosta terrestre e lhe dão o aspecto que apresentam atualmente, ao esculpir a paisagem. Temos dois tipos de agentes externos: o intemperismo e a erosão. Vamos conhecer suas características a seguir.

Intemperismo

O intemperismo é o processo pelo qual as rochas são decompostas ou degradadas na superfície da Terra. O intemperismo é o primeiro passo no aplainamento das montanhas que foram soerguidas por processos da tectônica de placas.

Mesmo durante o lento soerguimento das montanhas, fatores como temperatura, vento, chuvas, rios, oceanos, geleiras, neve, microrganismos, cobertura vegetal, dentre outros, desgastam essas regiões.

O intemperismo é um dos principais processos do ciclo das rochas. Ele modela a topografia da superfície terrestre e altera materiais rochosos, transformando todos os tipos de rochas em sedimentos e formando solos.

Os agentes do intemperismo podem, portanto, ser classificados em três tipos. Todos eles são aliados – isto é, se ajudam – no processo de desintegração das rochas. Cada um deles é mais ou menos presente de acordo com o ambiente que está sofrendo a alteração.

Intemperismo químico

O intemperismo químico ocorre quando os minerais de uma rocha são quimicamente alterados ou dissolvidos. Isso acontece quando esses minerais reagem com a água (da chuva, dos rios, dos oceanos ou da própria atmosfera), com o ar ou com outras substâncias que entrem em contato com as rochas.

Assim, além da dissolução desses materiais, alguns constituintes das rochas se combinam com outras substâncias, como oxigênio e gás carbônico, formando outros minerais.

intemperismo químico
Imagem 1: Fotografia de uma rocha hematita. A rocha apresenta coloração alaranjada porque está oxidada, ou seja, o ferro presente na rocha reagiu com o ar e oxidou (enferrujou).

Intemperismo físico

O intemperismo físico é responsável pela fragmentação da rocha por processos mecânicos. Esses processos, podem ser, por exemplo, o atrito dos ventos com as rochas ou a lixiviação produzida pelas águas das chuvas, rios ou mares.

Apesar de carrearem os minerais, esses processos mecânicos não chegam a mudar a sua composição química. Em geral, esse tipo de intemperismo quebra os blocos rochosos em pedaços cada vez menores. Assim, eles ficam mais suscetíveis à erosão e ao transporte desses sedimentos para outras regiões.

intemperismo físico
Imagem 2: Fotografia de uma onda do mar batendo em rochas. Os movimentos das águas atritam com as rochas, desgastando-as.

Intemperismo biológico

No intemperismo biológico, a rocha é fragmentada ou quimicamente alterada pela ação de seres vivos. Em muitos casos, esse tipo de intemperismo interage com os processos químicos e físicos que estão desgastando as rochas, complementando-os.

Para entendermos melhor o intemperismo biológico, vamos pensar em alguns exemplos. As bactérias e algas podem penetrar nas fraturas, produzindo novas microfraturas que tendem a aumentar com o tempo. As raízes de plantas também podem atuar na desagregação de fragmentos de rochas ao tentarem buscar caminhos por entre as fendas para se fixarem. Além disso, organismos pioneiros, como líquens e briófitas, podem liberar substâncias químicas para facilitarem sua fixação sobre as rochas e assim desgastá-las.

líquens - intemperismo biológico
Imagem 3: Líquens fixados sobre uma rocha. Os líquens são organismos pioneiros na sucessão ecológica. Para isso, liberam substâncias ácidas sobre as rochas para facilitar sua fixação.

O processo pelo qual diversos minerais, como o feldspato (mineral mais abundante da crosta terrestre), se decompõem é semelhante ao da filtragem do café. Ao passar pelo pó, a água dissolve certas substâncias e as carrega formando o café na jarra, um líquido contendo vários solutos. Ao mesmo tempo, deixa para trás um resíduo alterado, a borra do café. Esse evento está esquematizado abaixo:

café passado e intemperismo
Imagem 4: Semelhanças entre o intemperismo e o café passado

Todas as rochas, em maior ou menor medida, mais devagar ou mais lentamente, se alteram. O modo como isso ocorre é variável e depende de quatro fatores que controlam o intemperismo. São eles: as propriedades da rocha-matriz, o clima, a presença ou ausência de solo, e o tempo de exposição das rochas à atmosfera.

As propriedades da rocha-matriz

A mineralogia e a estrutura da rocha-matriz interferem no intemperismo. Isso porque os minerais se transformam com taxas diferentes e a estrutura cristalina das rochas influencia o quão suscetível ela será em relação ao faturamento e fragmentação.

Podemos observar boas evidências de como as rochas se alteram indo ao cemitério. Isso mesmo! Lápides antigas podem nos mostrar a variação das taxas de alteração das rochas. Uma lápide de calcário vai se alterar muito mais rapidamente que uma lápide de ardósia, por exemplo. Isso acontece porque esses dois tipos de rochas têm taxas de intemperismo muito distintas.

Clima: chuva e temperatura

As taxas de intemperismo químico e físico não variam só com as propriedades da rocha-matriz. O clima tem grande influência, principalmente no que se refere à temperatura e ao volume de chuvas.

O intemperismo químico é mais rápido quando há chuva intensas e temperaturas altas. Já climas inversos, que podem minimizar o intemperismo químico, têm a capacidade de acentuar o intemperismo físico.

A água congelada de climas mais frios pode abrir fissuras nas rochas. Em locais de clima temperado, a alternância entre aquecimento e resfriamento faz com que as rochas expandam e contraiam, o que facilita sua fragmentação.

Presença ou ausência de solo

O solo é um produto do intemperismo. Mesmo assim, sua presença ou ausência pode afetar o intemperismo químico e físico dos materiais. A produção do solo, mesmo sendo parte do processo, impulsiona o próprio intemperismo.

Isso porque, uma vez produzido, o solo acelera a alteração da rocha. Esse processo ocorre pela sua característica de reter água da chuva, hospedar vegetais, bactérias e outros organismos.

Assim, como já vimos acima, o metabolismo desses organismos gera um ambiente ácido que facilita o intemperismo químico. Já as raízes de plantas e buracos feitos por outros organismos no solo promovem o intemperismo físico, fraturando as rochas.

Tempo de exposição

As rochas expostas há mais tempo na superfície terrestre, por alguns milhares de anos, formam uma espécie de manto de intemperismo. Esse manto é uma camada externa de material alterado que vai de alguns milímetros até muitos centímetros, envolvendo a rocha inalterada.

Por que isso acontece? Porque quanto maior o tempo de alteração de uma rocha, maior será sua decomposição química e maior será a intensidade de sua desagregação física.

Erosão

Outro importantíssimo agente externo/exógeno do relevo é a erosão, responsável pelo transporte de fragmentos ou sedimentos decorrentes do intemperismo de rochas ou minerais.

Através da erosão, as partículas produzidas pelo intemperismo são deslocadas e removidas de sua origem, geralmente por correntes de água e ar. De modo geral, esse transporte se dá, principalmente, pela ação dos seguintes fatores:

– Pluvial ou laminar: é a erosão que ocorre por conta da ação da água da chuva.

– Fluvial: é a erosão que ocorre pelo movimento da correnteza dos rios.

– Eólica: é a erosão ocasionada pela ação do vento.

– Glaciária: ocorre devido a ação do gelo.

A erosão pode ser um problema bastante grave tanto nas cidades quanto nas zonas rurais. Esse processo natural de desgastes das rochas e dos solos pode ser acentuado pela ação humana.

A retirada de vegetação dos solos, deixando-os expostos, torna-os mais suscetíveis à erosão. Nos ambientes urbanos isso pode significar desabamentos em regiões de construções em encostas.

Já nos ambientes rurais, a erosão pode causar, além do desabamento de encostas, o empobrecimento dos solos. Isso acontece pelo fato de a erosão agir especialmente nas camadas mais superficiais dos solos, onde se concentra a maior parte dos minerais importantes para os vegetais.

Interação entre os agentes de formação do relevo

O intemperismo físico e a erosão são processos que interagem entre si. Se vinculam na maneira como a água, o gelo e o vento atuam para deslocar as partículas de rochas e afastá-las da sua origem.

Depois que o intemperismo físico fratura os blocos rochosos em fragmentos menores, estes tornam-se mais suscetíveis à erosão e transportáveis.

Dispersão de massa

Além do intemperismo e da erosão, podemos considerar ainda a dispersão de massa. Ela inclui todos os processos pelos quais materiais terrestres, alterados ou não pelo intemperismo, movem-se encosta abaixo em grandes volumes, em eventos geralmente isolados, sofrendo influência da gravidade.

Os produtos da dispersão de massa, isto é, as partículas liberadas por intemperismo e grandes massas de rochas inalteradas, também são transportados para pontos de partida de canais de corrente e rios. Sendo assim, podem ser transportados de modo eficiente morro abaixo, inclusive, através de áreas continentais e até o oceano.

Quer entender melhor os agentes externos do relevo? Então assista à esta videoaula do prof. Carrieri:

Referências:

GROTZINGER, John P.; JORDAN, Thomas H. Para entender a terra. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.

TAMDJIAN, James Onnig; MENDES, Ivan Lazzari. Geografia geral e do Brasil: estudos para a compreensão do espaço. São Paulo: FTD, 2013.

TEIXEIRA, Wilson. Decifrando a Terra. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.

Sobre o(a) autor(a):

O texto acima foi preparado pelo professor João Marcelo Vela para o Curso Enem Gratuito. João é licenciado e mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Dá aulas de Geografia e Filosofia em escolas da Grande Florianópolis desde 2015, além de atuar como articulador de Ciências Humanas. E-mail para contato: [email protected]

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