José Lins do Rego, o Zélins!

Conheça mais sobre o autor de Menino de Engenho e de outros romances regionalistas de 30 que tematizaram o ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste brasileiro, desde a opulência do ciclo até a sua decadência.

José Lins do Rego Cavalcanti nasceu no município de Pilar, localizado no estado da Paraíba, no dia 3 de junho de 1901. Estamos falando de um escritor brasileiro que, ao lado de nomes como Érico Veríssimo, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional.

A obra de José Lins do Rego

Em termos de escola literária, José Lins do Rego pertence à Segunda Fase do Modernismo Brasileiro (1930-1945). No quesito da escrita literária, Rego elegeu a prosa como sua atividade criativa, a qual rendeu uma produção significativa, especialmente livros de romance.

Seu romance de estreia, Menino de Engenho (1932), foi publicado com dificuldade. Todavia logo foi elogiado pela crítica, obtendo reconhecimento e apreciação de um significativo número de leitores.

José Lins escreveu cinco livros com nítidas referências ao Ciclo da cana-de-açúcar. O escritor problematiza em muitas de suas obras a decadência do engenho açucareiro nordestino, em uma perspectiva cada vez menos nostálgica e mais realista. À medida que publica novos livros, o realismo torna-se mais contundente.

O ciclo da cana-de-açúcar é retratado a partir da perspectiva (cada vez menos nostalgia e mais realismo) mencionada anteriormente, em narrativas regionalistas como Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Banguê (1934), O Moleque Ricardo (1935), e Usina (1936).

Sua obra regionalista, contudo, não se encaixa somente na denúncia sócio-política, mas, também na sensibilidade à flor da pele, na sinceridade diante da vida, na autenticidade que caracterizavam esse autor.

Confira o documentário sobre José Lins do Rego produzido pela TV Brasil e aprofunde os seus conhecimentos sobre a vida e a obra desse autor:

Os antepassados de José Lins do Rego , que eram em grande parte senhores de engenho, legaram ao garoto a riqueza do engenho de açúcar que lhe ocupou toda a infância. Seu contato com o mundo rural do Nordeste lhe deu a oportunidade de, nostálgica e criticamente, relatar suas experiências através das personagens de seus primeiros romances.

Rego era ativo nos meios intelectuais. Ao matricular-se em 1920 na Faculdade de Direito do Recife ampliou seus contatos com o meio literário de Pernambuco, tornando-se amigo de José Américo de Almeida (autor do romance A Bagaceira).

Em 1926, o autor partiu para o Maceió, onde se reunia com importantes nomes, tais como os escritores modernistas Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e Jorge de Lima. Quando partiu para o Rio de Janeiro, em 1935, conquistou ainda mais a crítica e colaborou para a imprensa, escrevendo para os Diários Associados e O Globo.

casa de José Lins do Rego
A fotografia acima é a Casa do Engenho Corredor (Pilar-PB), local onde José Lins do Rego nasceu.

É atribuída a José Lins do Rego a invenção de um novo romance moderno brasileiro. O conjunto de sua obra é um marco histórico na literatura regionalista por representar o declínio do Nordeste canavieiro. Alguns críticos acreditam que o autor ajudou a construir uma nova forma de escrever fundada na “obtenção de um ritmo oral”, que foi tornada possível pela liberdade conquistada e praticada pelos modernistas de 1922.

O estilo de José Lins do Rego

O romance Fogo Morto (1943) é outra obra-prima escrita por Rego, considerada por muitos críticos literários como um romance de grandes personagens e uma das mais representativas, não só da ficção dos anos 30 (os famosos romances regionalistas de 30),  mas de todo o Modernismo brasileiro.

O estilo de José Lins do Rego é inteiramente despojado e sem atitudes ou artifícios literários. Ele próprio via a si mesmo como um escritor instintivo e espontâneo, chegando a apontar que suas fontes da arte narrativa estavam nas ruas. A respeito disso, o próprio escritor revela:

“Quando imagino nos meus romances tomo sempre como modo de orientação o dizer as coisas como elas surgem na memória, com os jeitos e as maneiras simples dos cegos poetas.”

Apesar desta simplicidade linguística com que escreve, ele descreve com muita técnica os estados psicológicos de seus personagens, seguindo assim uma linha típica de muitos escritores realistas.

Você sabia que o livro Fogo Morto foi adaptado para o cinema? Conheça essa narrativa de um modo diferente, aliando estudo e diversão:

O universo rural na obra do escritor

O mundo rural do Nordeste, com as fazendas, as senzalas e os engenhos, serviu de inspiração para a obra do autor, que publicou seu primeiro livro – Menino de engenho – em 1932.

Em 1926 decidiu deixar para trás o trabalho como promotor público no interior de Minas Gerais e transferiu-se para Maceió, Alagoas. Lá conviveu com um grupo de escritores muito especial: Graciliano Ramos (o autor de Vidas Secas), Rachel de Queiroz (a jovem cearense, que já publicara o romance O Quinze), o poeta Jorge de Lima, Aurélio Buarque de Holanda (o mestre do famoso dicionário Aurélio), que se tornariam seus amigos para sempre.

Convivendo neste ambiente tão criativo, escreveu os romances Doidinho (1933) e Bangue (1934). Daí em diante a obra de Zélins, como era chamado, não conheceu interrupções: publicou romances, um volume de memórias, livros de viagem, de conferências e de crônicas. E Histórias da Velha Totonha, seu único livro para o público infanto-juvenil, lançado em 1936.

Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro. Seus livros foram adaptados para o cinema e traduzidos para vários idiomas, entre eles o alemão, o francês, o inglês e o espanhol. Zélins também foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, um reconhecimento pelo significado e pela contribuição de sua obra à cultura brasileira.

José Lins do Rego faleceu no dia 12 de setembro de 1957, aos 56 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista, na capital fluminense.

Retrato de José Lins do Rego
Retrato de Zélins (1939), por Candido Portinari

Romances do escritor:

  • Menino de engenho (1932);
  • Doidinho (1933);
  • Banguê (1934);
  • O Moleque Ricardo (1935);
  • Usina (1936);
  • Pureza (1937);
  • Pedra bonita (1938);
  • Riacho doce (1939);
  • Água-mãe (1941);
  • Fogo morto (1943);
  • Eurídice (1947);
  • Cangaceiros (1953);
  • Histórias da velha Totonha (1936);
  • Meus Verdes Anos (memórias) (1956).

Questões sobre José Lins do Rego

Questão 1 (Enem-2008)

A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada… Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras!

Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.

(José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).

Na construção da personagem “velha Totonha”, é possível identificar traços que revelam marcas do processo de colonização e de civilização do país. Considerando o texto acima, infere-se que a velha Totonha:

a) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar de suas condições de vida e de trabalho, que denotam que ela enfrenta situação econômica muito adversa.

b) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e realistas da história do país colonizado, livres da influência de temas e modelos não representativos da realidade nacional.

c) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civilização urbana europeia em concomitância com a representação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil.

d) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos, do próprio romancista, o qual pretende retratar a realidade brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia.

e) imprime marcas da realidade local a suas narrativas, que têm como modelo e origem as fontes da literatura e da cultura europeia universalizada.

Resposta: e.

Questão 2 (PUC-Campinas)

Sobre José Lins Rego, é correto afirmar que:

a) se definiu, certa vez, como “apenas um baiano romântico e sensual”, assumindo-se como contador de histórias de pescadores e marinheiros de sua terra.

b) retratou em sua obra a dura relação entre o homem e o meio, em especial a condição subumana do nordestino retirante.

c) sempre se declarou escritor espontâneo e instintivo, consciente de que sua obra continha muito de sua experiência pessoal em regiões da Paraíba e de Pernambuco.

d) escreve a saga da pequena burguesia depois de 1930, num tom leve e descontraído de crônica e costumes.

e) é considerado mais por ter publicado a obra marco da literatura social nordestina, A Bagaceira, do que pelos méritos de grande escritor.

Resposta: c.

Questão 3 (UEL-PR)

Refere-se a José Lins do Rego a seguinte afirmação:

a) Tão próximo do estilo oral, ele nos narra o que viu e o que sabe da vida do Nordeste, sobretudo da agonia dos engenhos e das personagens que não se livram do peso do passado.

b) Suas personagens podem parecer secas como a natureza da caatinga, mas isso não lhes elimina a complexidade psicológica, que este autor faz ver com seu estilo duro, preciso, objetivo.

c) Ninguém o superou em sua forma de ironizar, em sua capacidade de tratar dos assuntos mais graves com um humor impiedoso, fruto da inteligência e da melancolia.

d) Em seus contos de estreia já se podia prever o grande romancista, podia-se pressentir o fôlego maior de uma linguagem revolucionária, aberta à invenção e ao falar sertanejo das suas Gerais.

e) Seu regionalismo é saboroso e arrebatador, transportando-nos para o tempo heroico das sagas gaúchas e fazendo-nos viver as histórias violentas das famílias em conflito.

Resposta: A.

Sobre o(a) autor(a):

Texto produzido pelo Professor João Paulo Prilla para o Curso Enem Gratuito. JP é licenciado em Letras- Português, Inglês e respectivas Literaturas (2010) pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões e mestrando em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Ministra aulas de Literatura, Língua Portuguesa e Redação em escolas da Grande Florianópolis desde 2011.

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