Chamamos de Quinhentismo a literatura feita no (ou sobre o) Brasil, em tempos de descobrimento, durante o século XVI. Nela, destaca-se José de Anchieta.
Chamamos de Quinhentismo a literatura feita no (ou sobre o) Brasil, em tempos de “descobrimento“, durante o século XVI.
Entretanto, o Quinhentismo não se trata de uma escola literária, com características específicas, como ocorrerá a outros movimentos, como o Barroco. Além disso, não se trata de uma literatura genuinamente brasileira, afinal, quem produzia os textos eram os europeus.
Quinhentismo e o surgimento da literatura escrita no Brasil
Antes de tudo, podemos dizer que a literatura escrita, no Brasil, tem seu início 1500. Ela surge com a chegada da frota do português Pedro Álvares Cabral ao sul da Bahia, em 21 de abril de abril daquele ano. Isso porque os indígenas brasileiros, apesar de terem suas linguagens e suas histórias, viviam na oralidade, uma vez que não dominavam a tecnologia da escrita.
Porém, é interessante abrir parênteses para dizer que, à época, os indígenas não se chamavam de “índios”. Havia muitas tribos e etnias, sendo que as maiores eram a tupi (do Ceará até São Paulo) e a guarani (litoral sul e interior).
Do mesmo modo, nosso país não tinha o nome de “Brasil”, mas de “Pindorama Uichachué”. Tal nome significa “Terra das Palmeiras e dos Sabiás”. “Brasil” surge no século XVI, provavelmente por causa da árvore Pau-Brasil, com seu caule avermelhado, que parece brasa. Combina com o clima tropical daqui, não?
Enfim, cerca de mil e quinhentos homens povoavam as treze embarcações da expedição cujo destino era, na verdade, a Índia. Dentre eles, estava o escrivão Pero Vaz de Caminha. Foi em Porto Seguro que ele escreveu a famosa Carta do Achamento. Esta “certidão de nascimento do Brasil”, como é popularmente conhecida, foi redigida entre os dias 26 de abril e 1º de maio. Além disso, foi encerrada um dia antes da partida dos portugueses.
Literatura informativa: Pero Vaz de Caminha
São descritas, na Carta, diversas situações pelas quais os navegadores passaram durante o período nessa nova terra. O primeiro encontro entre os dois povos, por exemplo, tem o seguinte trecho:
“Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as suas vergonhas. Traziam nas mãos arcos e setas. Vinham rapidamente em direção ao batel. Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles assim fizeram. Nessa ocasião não se pode haver fala nem entendimento deles que servisse, pelo grande estrondo das ondas que quebravam na praia”.
O fragmento mostra como despertou curiosidade nos europeus a nudez que, para os indígenas era absolutamente normal. É dito, ainda, que, ao se depararem com o primeiro batel (bote) português, os nativos mostraram suas armas. A atitude foi apaziguada por um dos viajantes, Nicolau Coelho. Por fim, Caminha se refere à dificuldade de comunicação, em decorrência do barulho do mar.
Com certeza, Pedro Álvares Cabral e de seus subordinados imaginavam as possíveis riquezas que o lugar recém-descoberto poderia oferecer. Afinal, as grandes navegações não eram para fazer cruzeiro marítimo, com open food e open bar. Possibilitaram o lucrativo comércio de especiarias com a Índia, atividade iniciada com Vasco da Gama, entre 1497 e 1498.
Nesse ínterim, houve uma ocasião que chamou muito a atenção dos portugueses, no sentido material. Ocorreu quando eles fizeram uma experiência com dois indígenas. Colocaram-nos em um bote e os levaram à nau do capitão, que usava um colar. A seguir, a reação dos convidados, segundo Caminha:
“Um deles viu umas contas de rosário brancas, mostrou que as queria, pegou-as, folgou muito com elas e colocou-as no pescoço. Depois tirou-as e com elas envolveu os braços e acenava para a terra e logo para as contas e para o colar do Capitão, como querendo dizer que dariam ouro por aquilo. Nós assim o traduzíamos porque esse era o nosso maior desejo”.
Posteriormente, o escrivão relatou como foi a primeira missa, realizada na beira da praia, no domingo de Páscoa. Os nativos apenas observaram. Vêm à tona também alguns detalhes da vida dos moradores dali. Por exemplo: pinturas corporais, suas grandes moradias (ocas), o fato de não plantarem nada nem criarem animais para abate.
Posteriormente à primeira frota, muitas outras passaram por aqui. E diversos outros escrivães, portugueses ou não, escreveram sobre o Brasil. É isso que chamamos de Literatura de Informação, marca do Quinhentismo. Isso porque se tratava de documentos que informavam e entretinham aqueles que permaneciam do outro lado do Atlântico. Outra função desses textos era fazer propaganda do novo lugar, com intenção de incentivar a colonização.
Para compreender o processo de colonização e genocídio dos povos indígenas, clique aqui e leia nossa aula de Sociologia sobre etnocentrismo e relativismo cultural.
José de Anchieta
Quando o processo colonizatório já havia iniciado, chegam ao Brasil, em 1549, os primeiros jesuítas. Eles tinham a missão de catequizar os índios e fortalecer a fé nos portugueses que vinham para cá. Além disso, deveriam também instalar o ensino público. Ficou sendo o mais lembrado desse período José de Anchieta. Ele chegou por aqui ainda noviço, aos dezenove anos, e dedicou sua vida ao trabalho catequético na colônia.
Poemas e peças teatrais (principalmente) estão entre as obras que os integrantes da Companhia de Jesus escreveram. Foram escritas com a função evangelizadora e educadora, pois, além da ideologia do cristianismo, era ensinada toda a cultura portuguesa. Esses textos ficaram conhecidos como Literatura de Formação, outra marca do Quinhentismo.
Uma das peças de Anchieta é Auto de São Lourenço. Nela o autor, utilizando três idiomas (tupi, português e espanhol), fala do martírio de São Lourenço. O santo preferiu morrer queimado a renunciar à fé cristã.
Entre os poemas de Anchieta, destaca-se “A Santa Inês”, cujo objetivo era homenagear a mártir conhecida como a “padroeira da castidade”. Este é um bom exemplo das múltiplas funções que a literatura dos religiosos tinha. Ao mesmo tempo em que se fala de das entidades sagradas católicas, ensina-se a língua portuguesa. Além disso, era preciso dizer aos índios que a poligamia que praticavam não condizia com o comportamento de um “bom cristão”.
Não só a poligamia foi combatida pelos padres. Além disso, a prática da antropofagia, adotada por várias tribos brasileiras, deveria ser contida. Consistia em ingerir carne humana, como parte de um ritual. Para os índios, esse ritual tinha a função de extrair do outro suas qualidades, como força e inteligência.
Por fim, veja esta videoaula sobre Quinhentismo para fixar o conteúdo:
Resolva os seguintes exercícios sobre Quinhentismo:
1. (UFSM) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que:
a) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica.
b) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica.
c) Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira.
d) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese.
e) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo.
2. (UFV) Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede:
Dos vícios já desligados / nos pajés não crendo mais, / nem suas danças rituais, / nem seus mágicos cuidados.
(ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço)
Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em procissão:
a) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa.
b) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-se tão logo seja possível.
c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés.
d) Os meninos índios são figuras alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista.
e) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus.
3. (FUVEST) Entende-se por literatura informativa no Brasil:
a) o conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus sobre a natureza e o homem brasileiros.
b) a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI.
c) as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena.
d) os poemas do Padre José de Anchieta.
e) os sonetos de Gregório de Matos.
GABARITO: 01) B; 02) E; 03) A