Veja a Balaiada, a Cabanagem, a Revolta dos Malês, a Sabinada e a Guerra dos Farrapos. O Brasil está longe de ter uma história que se possa chamar de pacífica. Venha entender um pouco mais sobre o período mais conflituoso do nosso país: o Período Regencial.
Durante o Período Regencial, que durou de 1831 até 1840, o Brasil estava sendo governado por regentes até que D. Pedro de Alcântara atingisse a maioridade, como dizia a Constituição. Além disso, desde a independência, estava instaurado no país um clima de tensão entre as elites do Rio de Janeiro e das outras províncias. A Revolução Farroupilha ficou na história como um dos episódios emblemáticos deste período.
A tensão entre a sede do Império, no Rio de Janeiro, e as províncias, acontecia porque alguns procuravam centralizar a tomada de decisões para o país inteiro na capital, enquanto as elites de regiões mais distantes visavam mais autonomia.
Soma-se a este quadro o fato do Brasil não ter abolido a escravidão e não ter se industrializado, o que mantinha a profunda desigualdade social pautada no duro trabalho rural. Estes fatores formaram a base das revoltas regenciais que eclodiram no Brasil do século XIX.
Revoltas regenciais
Observando as diversas revoltas que se iniciaram nas diferentes regiões do Brasil Império durante o período regencial, é possível traçar algumas semelhanças e diferenças entre elas. As principais revoltas regenciais foram a Cabanagem, a Guerra dos Farrapos, a Sabinada, a Balaiada e a Revolta dos Malês.
Reivindicações de cada revolta
Nos casos como da Guerra dos Farrapos e da Sabinada, os grupos que iniciaram os movimentos de contestação ao governo central lutavam por maior autonomia e controle sobre seu território.
Já em revoltas regenciais como Cabanagem, na Revolta dos Malês e na Balaiada – rebeliões feitas por escravizados, libertos e camponeses –, o caso era outro. As contestações ocorriam por causa de castigos aplicados a trabalhadores, do recrutamento forçado de homens, da exploração comercial, da perda de terras para latifundiários e da própria escravidão. Era comum que as revoltas mencionadas ocorressem em um contexto de declínio econômico da sua respectiva região.
Mapa das revoltas regenciais
As revoltas regenciais ocorreram por todo o Brasil. Para facilitar a visualização dos acontecimentos, elaboramos um mapa das revoltas regenciais, indicando a localização aproximada de cada um dos movimentos. O mapa acima foi elaborado pelo Curso Enem Gratuito a partir da divisão político-administrativa atual do Brasil.
No mapa abaixo, você pode conferir como era a divisão do Brasil em províncias na época do Brasil Regencial. Note que a província da Cisplatina ainda está anexada ao território.Mapa do Brasil em 1821, dividido em províncias e ainda com a Cisplatina anexada. Imagem retirada de: https://bit.ly/3yw4W4S
Agora que você já entendeu o contexto das revoltas regenciais e localizou onde cada uma delas ocorreu, vamos explicar em detalhes os principais movimentos contestatórios do Período Regencial no Brasil.
Antes de ver cada movimento, entenda o contexto do Império naquele momento, com o professor Felipe Oliveira, do canal do Curso Enem Gratuito.
Cabanagem
O cenário desta revolta regencial é a província do Grão-Pará, no norte do Brasil, entre 1835 e 1840. Ela foi uma rebelião popular e recebeu este nome por conta do protagonismo dos ribeirinhos do norte do país, conhecidos como cabanos. Esse termo advém do fato de muitos morarem em modestas cabanas às margens dos rios. Os cabanos viviam, principalmente, da extração e coleta de produtos amazônicos, como o açaí e o guaraná.
Tais artigos eram, muitas vezes, utilizados em medicamentos, e por isso ficaram conhecidos como “drogas do sertão”. Apesar de essas matérias-primas serem valiosas para o preparo de outros produtos, os comerciantes (em especial, os portugueses) da região, que monopolizavam a economia, pagavam muito pouco por elas.
Entretanto, a revolta teve início com o protesto de fazendeiros e comerciantes da região que passaram a contestar as imposições do governo central, sobretudo em relação à indicação dos presidentes de província. Na onda dos protestos, a população cabana acabou aderindo ao movimento. Porém, eles incorporaram reivindicações específicas de sua realidade — assim como ocorreu em outras revoltas regenciais.
Isso culminou em três grandes revoltas, chegando ao ponto de os revoltosos tomarem a cidade de Belém. Contudo, em virtude de dissidências, afastamento das elites que passaram a apoiar o governo central, traições e mesmo uma organização problemática, os cabanos acabaram massacrados. Ao final da revolta, o número de mortos foi de cerca de 30 mil.
Guerra dos Farrapos – Revolução Farroupilha
No sul do Brasil, também em 1835, as elites latifundiárias da província de São Pedro do Rio Grande do Sul exerceram sua influência para organizar a tomada de Porto Alegre. O motivo desta revolta regencial era bem distinto dos cabanos: eles estavam insatisfeitos com a administração carioca, já que viviam em um período de declínio econômico.
Esses estancieiros (latifundiários) ganharam muito dinheiro produzindo e vendendo charque para o sudeste do país, sobretudo para a região das Minas. Mas em virtude dos impostos sobre o preço do sal, seu produto estava encarecido, fazendo com o que o charque argentino e uruguaio ganhasse proeminência no mercado brasileiro. A isso se somou a nomeação de Antônio Fernandes Braga para ocupar o cargo de presidente de província, o que não agradava em nada os ricos fazendeiros gaúchos.
A Guerra dos Farrapos (também conhecida no Sul como Revolução Farroupilha) destaca-se por algumas características específicas: foi a mais longa revolta em território brasileiro (durou dez anos) e também pelo fato de ter separado, durante este tempo, o sul do Brasil em relação ao resto do Império. Era, portanto, uma revolta separatista. Como figuras conhecidas, destacamos Bento Gonçalves, Giuseppe Garibaldi (que também lutou na unificação italiana) e Anita Garibaldi.
Como a Guerra dos Farrapos terminou
Os farrapos chegaram a dominar parte de Santa Catarina (até a cidade de Laguna), onde proclamaram a República Juliana, que recebeu esse nome por ter ocorrido no mês de julho. Porém, com a perda de forças ao longo do tempo, as lideranças aceitaram um acordo com o império. Esse desfecho contrasta com aquele adotado no Pará e em outras revoltas regenciais.
Entre os acertos estavam a incorporação dos combatentes ao Exército Imperial, aumento do imposto sobre o charque uruguaio, poder eleger o próprio presidente de província e perdão aos revoltosos (pelo menos a população livre).
É equivocado acreditar que os revoltosos tinham como pauta o fim da escravidão. A ideia chegou a aparecer na organização do movimento, mas foi descartada por ir contra os interesses econômicos dos proprietários. O que efetivamente houve foi o recrutamento de escravizados em troca de liberdade no fim do conflito.
Essa prática ocorreu em outras situações da história do Brasil, inclusive por parte das próprias forças imperiais. Em relação a isso, historiadores apontam para a Batalha dos Porongos, um “conflito” acertado no fim da guerra que serviu de pretexto para o extermínio dos lanceiros negros, que eram os escravizados recrutados que esperavam liberdade.
Representação de um lanceiro negro. Fonte: https://historiazine.com/lanceiros-negros-revolucao-farroupilha-22f4faf1d9df?gi=779e01907139
Sabinada
O nome desse conflito, ocorrido na Bahia entre 1837 e 1838, teve origem com o líder Francisco Sabino, um médico e jornalista que estava por trás da organização do movimento.
A sabinada também está entre as revoltas regenciais separatistas, mas os participantes desejavam uma independência temporária: até que o príncipe pudesse assumir o trono do Brasil. Os rebeldes estavam ligados às elites. Eram, principalmente, profissionais liberais (advogados, médicos, entre outros) e militares (principalmente de baixa patente). Mais uma vez, a exigência de maior autonomia em relação ao governo central motivava um conflito. Seu fim ocorreu com a rendição dos revoltosos às investidas das tropas imperiais.
Balaiada
Assim como na Cabanagem, a população pobre do Maranhão entrou em ebulição contra os maus tratos aplicados pelas elites locais. Os revoltosos eram popularmente chamados de balaios por conta da utilização de cestos de palha (chamados de balaios) utilizados na colheita do algodão e outros itens. A revolta ocorreu entre 1838 e 1841.
Entre as lideranças, destacam-se Manoel dos Anjos (artesão conhecido como Balaio) e Raimundo Gomes (um vaqueiro). Os revoltosos chegam a tomar a cidade de Caxias, mas não conseguiram resistir ao ataque de Luís Alves de Lima e Silva (posteriormente conhecido como Duque de Caxias) que os massacrou. Luís Alves tornou-se o presidente de província do Maranhão e foi condecorado com o título de barão.
Revolta dos Malês
Ocorrida em Salvador no ano de 1835, a Revolta dos Malês ganhou notoriedade por ter sido orquestrada por africanos muçulmanos escravizados. Além de todo o processo de desumanização sofrido pela escravidão como sequestro, castigos e apagamento de suas identidades, eles também eram forçados a abandonar sua religião em nome do cristianismo.
No mês de janeiro daquele ano, um grupo de cerca de 1500 malês se organizou para realizar um ataque surpresa contra a guarda e as autoridades. No entanto, o plano tinha sido denunciado por uma mulher negra liberta e os revoltosos foram pegos de surpresa, resultando em diversos mortos e, posteriormente, em muitos castigos.
A Revolta dos Malês tem duas grandes importâncias: ela serve para evidenciar como os negros africanos não podem ser vistos como um grande grupo homogêneo e também como, efetivamente, eles resistiram à escravidão. Muitas vezes, o sujeito escravizado é descaracterizado de sua origem e aparece na condição de passividade, visão que distorce a realidade histórica.
Videoaula sobre as Revoltas Regenciais
Revise o conteúdo sobre Revoltas Regenciais com a videoaula e, em seguida, responda aos exercícios.
Exercícios sobre as Revoltas Regenciais
Responsa sobre a Revolução Farroupilha, a Cabanagem, a Sabinada, a Balaiada, e a Revolta dos Malês para mandar bem nas questões de História do Enem.
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Pergunta 1 de 10
1. Pergunta
(IFMT/2018)
No século XIX, durante o período das regências, de 1831 a 1840, ocorreram inúmeras revoltas nas províncias brasileiras. As crises econômica, social e política foram os motivos de tantas revoltas, sobre as quais se pode afirmar que:
Correto
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Incorreto
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Pergunta 2 de 10
2. Pergunta
(UNITAU SP/2018)
Analisada como mais um movimento regional, típico do período regencial do Império do Brasil, a Cabanagem foi um movimento social que ocorreu em Belém do Pará, em 1835, e deixou mais de 30 mil mortos e uma população local que só voltou a crescer significativamente em 1860. No entanto, os cabanos e suas lideranças vislumbravam outras perspectivas políticas e sociais. Eles se autodenominavam “patriotas”, mas ser patriota não era necessariamente sinônimo de ser brasileiro.
RICCI, M. Cabanagem, cidadania e
identidade revolucionária. Tempo, vol.
11, n. 22, Niterói, 2007. Adaptado.
Sobre o movimento da Cabanagem e sobre a identificação de seus protagonistas como patriotas, é CORRETO afirmar:
Correto
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Incorreto
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Pergunta 3 de 10
3. Pergunta
(IFBA/2017)
O Período Regencial é considerado como um dos mais agitados da História do Brasil. A Independência ainda era recente e os debates acerca do grau de autonomia das Províncias eram muito presentes. Sobre esse contexto e as revoltas dele decorrentes, marque V para Verdadeiro e F para Falso. Em seguida, assinale a alternativa que representa a sequência correta:
( ) O grupo político dos liberais exaltados defendiam, dentre outras ideias, uma maior autonomia das Províncias.
( ) A Revolta dos Malês, que ocorreu em Salvador, 1835, demonstrou às elites o poder de contestação de africanos e escravos, desencadeando no aumento da repressão aos revoltosos.
( ) A Sabinada e a Cabanagem foram exemplos dos poucos movimentos ocorridos no Brasil durante a Regência. As demais Províncias vivenciaram esse período sem conflitos.
( ) Nesse período, o chamado Ato Adicional estabeleceu a criação das Assembleias Provinciais e da Regência Una, eletiva e temporária.
( ) A Farroupilha, que durou cerca de 10 anos, foi um movimento do período regencial que resultou na Independência do Rio Grande do Sul e sua união com o Uruguai.
A sequência correta é:
Correto
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Pergunta 4 de 10
4. Pergunta
(UFRR/2017)
Durante o Período Regencial, a atuação política dos partidos Liberal e Conservador não impediu ocorrência de diversos conflitos, entre eles a Cabanagem, que envolveu a população civil, políticos influentes e as forças militares leais aos governos regenciais, entre 1835 e 1840.
Sobre esse contexto pode-se afirmar, EXCETO:
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Pergunta 5 de 10
5. Pergunta
(Unievangélica GO/2017)
Leia o texto a seguir.
É ela um dos mais, se não o mais notável movimento popular do Brasil. É o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. Apesar de sua desorientação, apesar da falta de continuidade que o caracteriza, fica-lhe contudo a glória de ter sido a primeira insurreição popular que passou de simples agitação para uma tomada efetiva do poder.
PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil
e OutrosEstudos. São Paulo: Brasiliense, 1975. p. 69.
A descrição realizada pelo historiador Caio Prado Júnior corresponde às características da revolta ocorrida no Período Regencial conhecida como
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Pergunta 6 de 10
6. Pergunta
(ESPCEX/2017)
“… Caxias tinha visão certa de que pacificar é um esforço por costurar… de concessões recíprocas, de vontade sincera, tudo voltado para a conciliação… “
Neto, Jonas Correia em Revista Mi-
litar / Edição comemorativa do Bicen-
tenário de Caxias, 2003, pág 9
O fragmento de texto acima ressalta uma das características marcantes de Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, evidenciada durante sua carreira militar: ser um pacificador.
Das rebeliões listadas abaixo, ocorridas no Brasil durante os 1º e 2º Reinados, as que tiveram participação efetiva de Caxias foram a
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Pergunta 7 de 10
7. Pergunta
(UEFS BA/2016)
Em 1835, a Regência Una foi assumida por Diogo Feijó. Foi eleito em votação apertada, com pouco mais da metade dos votos, numa demonstração clara de que enfrentaria grande oposição em seu governo. Logo explodiram rebeliões em várias províncias, alguma reivindicando mais poder, outras com objetivos separatistas e até mesmo tendência republicana. Todas com maior ou menor mobilização popular. (VAINFAS ET AL. 2010. p. 207).
VAINFAS,Ronaldo ET AL. História. São Paulo: Saraiva, v. 2, 2010.
No clima de rebeliões do período descrito no texto, as maiores mobilizações populares ocorreram
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Pergunta 8 de 10
8. Pergunta
(IFRS/2016)
Durante a 1ª metade do século XIX, o contexto político brasileiro passou por períodos de significativa instabilidade. Dentre estes períodos, a Regência (1831 – 1840) foi o mais intenso, pois, em diversas províncias, deflagraram-se revoltas contra o governo central, tais como: Guerra dos Farrapos, Revolta dos Malês, Cabanagem, Balaiada, Sabinada.
Assinale a alternativa que melhor define as causas que levaram as províncias afastadas da capital a se revoltarem contra a Regência.
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Pergunta 9 de 10
9. Pergunta
(ESPM SP/2015)
A revolta começou a partir de uma série de disputas entre grupos da elite local.
A instabilidade política provocou a falta de confiança nas autoridades. As rivalidades acabaram resultando em uma revolta popular. Ela se concentrou no sul do Maranhão, onde atuavam grupos armados chefiados pelo vaqueiro Raimundo Gomes Vieira Jutaí, o Cara Preta, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, artesão que fazia cestos, e o preto Cosme, ex-escravo que liderava três mil escravos fugidos.
(Hélio Viana. História do Brasil)
O texto apresentado no enunciado deve ser relacionado a uma revolta ocorrida no Brasil durante o Período Regencial (1831-1840). Assinale a alternativa que apresente essa revolta:
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Pergunta 10 de 10
10. Pergunta
(IFBA/2018)
Para os Sabinos, o que prevalecia no Brasil após a independência do país era o “colonialismo de Corte”. O que isso significava?
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Sobre o(a) autor(a):
Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.
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