Romance: o que é, as características e a história na literatura

Romance é um gênero narrativo semelhante ao conto, mas que costuma ser mais longo, ter personagens mais complexos e o enredo pode apresentar mais conflitos.

O romance foi um gênero narrativo bastante expressivo durante século XIX no Brasil. Vamos dar uma olhada sobre esse gênero que até hoje vive nas prateleiras das livrarias e, claro, ainda aparece no Enem.

O que é um romance?

O romance é um gênero narrativo que se assemelha ao conto na sua estrutura. Contudo, costuma ser mais longo. Por isso, as personagens podem ser mais complexas e o seu enredo pode apresentar mais de um conflito.

Por volta de 1830, os jornais franceses passavam por uma crise e precisavam aumentar o número de vendas, foi aí que entrou em cena o folhetim. Histórias com muitas aventuras e tramas instigantes eram publicadas no rodapé dos jornais.

Uma das “artimanhas” usadas pelos autores neste formato era interromper a história num momento de revelação ou suspense para segurar o leitor até o próximo capítulo. Achou parecido com as novelas de hoje? Pois é.

Não demorou muito para esse espaço de rodapé ser o mais lido e, consequentemente, aumentar as vendas de jornais. Você sabia que o mais famoso folhetim foi “O conde de Monte Cristo”?

o conde de monte cristo - romance
Capa do livro “O conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas. Foi publicado de 1844 a 1846.

Grandes nomes da literatura também publicaram obras nesse formato. Balzac, Alexandre Dumas, Camilo Castelo Branco e José de Alencar conquistaram boa parte de seus fiéis leitores nesse formato.

Características do romance

Como se trata de uma revisão sobre o tema romance, faremos um combinado, certo? A definição de romance aqui é bem parecida com a de conto ou novela, como já foi dito.

Por isso, ainda devemos entendê-lo como uma narrativa ficcional, que obedece aos elementos narrativos – narrador, personagens, tempo, espaço, conflito. Porém, acaba se tornando mais longo porque traz, por exemplo, mais detalhes sobe o assunto discutido ou sobre a vida dos personagens.

Além disso, o romance não precisar ter um enredo linear como no conto, pois como ele é mais longo, o autor pode fazer uso de flashbacks ou flash-forwards. Ou seja, o narrador pode parar a narrativa, contar algo do passado e revelar alguma coisa futura. Ou, como faziam os realistas, divagar sobre um tema em específico quebrando a linearidade e, em seguida, retomar a história.

A partir da segunda metade do século XX, a prosa se transformou mais um pouco e ganhou uma característica muito singular: o fluxo de consciência. Autores como Kafka, James Joyce e Clarice Lispector dominaram muito bem essa técnica.

O fluxo de consciência é quando o personagem começa a fazer um monólogo sobre determinado assunto. Pode ser sua vida, problemas por que passa ou até alguma definição filosófica.

Por assim dizer, o personagem começa a deixar transparecer seus sentimentos e estado de espírito. Situação que não raramente se encontra nos romances do século XIX, por exemplo.

Estilos de romance no Brasil

O nosso objetivo, agora, é mostrar algumas características dentro de alguns estilos de romance no Brasil. Com a vinda da família real para o Rio de Janeiro, os romances saíram dos jornais e ganharam ainda mais o gosto popular.

Neste período, os romances românticos tiveram um público leitor muito próximo e interessado nas “ida e vindas” dos protagonistas. Os leitores se divertiam com o jeito como eram retratados os costumes da época.

Romance urbano

Chamado de romance urbano ou de costumes, esse tipo de narrativa tem como principal característica a preocupação em trazer as paixões, os interesses e o comportamento de uma determinada classe social.

A estrutura típica é simples: um mocinho e uma mocinha que fazem de tudo para ficarem juntos porque estão apaixonados. Já leu alguma história assim? Sei que sim. Ah! Claro, o final tem que ter o “e foram felizes para sempre.”

Interessante frisar duas coisas neste momento. Graças ao romance romântico, a profissão de escritor cresce, pois eles dependiam da venda de seus textos. Então, se agradam ao público, vendem mais.

A segunda coisa é que, além das notícias, esses folhetins traziam o capítulo do romance de autores brasileiros e estrangeiros traduzidos. Ou seja, temos um novo tipo de leitor agora, aquele que se interessa por essas histórias e compra o jornal.

O contexto histórico nos prova que o número de leitores nessa época é baixo. O censo de 1872 traz a informação que somente pouco mais de 18% da população livre e quase 16% das pessoas escravizadas sabiam ler e escrever.

Daí o público leitor ser, em sua maioria, membros da elite e profissionais liberais da corte.

Romance indianista

Com a independência bem recente, o país ainda buscava uma identidade. Na literatura, isso também ocorreu na prosa e na poesia.

Na poesia, Gonçalves Dias tornou o índio na figura que mais representava a identidade nacional. José de Alencar também fez o mesmo em alguns de seus romances.

Os índios eram, sob o olhar de José de Alencar, um modelo de herói que os brasileiros e brasileiras poderiam ser orgulhar de descender. Alencar trouxe perfis de heróis indígenas cuja as ações são motivo de admiração, inspiração e, por vezes, espanto.

Peri, Iracema e Poti, por exemplo, têm nomes próprios, características bem particulares. Desbravam e conhecem bem as matas brasileiras e participam do processo de nascimento do Brasil, pois fazem parte de mitos e lendas que são – ou pretendiam ser – a gênese do nosso povo.

Em 1857, “O Guarani” foi publicado e é tido como o início do romance indianista. A estrutura você já sabe: um mocinho que se apaixona por uma mocinha, mas o amor é impossível.

O guarani - romance
Capa do romance “O Guarani”, de José de Alencar. O livro foi publicado em 1857.

Aqui, temos Peri que se apaixona por Cecília, filha de um fidalgo português chamado D. Antônio de Mariz. Sacou, né? Peri, um “selvagem” e Cecília, filha de um nobre.

Romance regionalista

Do Mato Grosso ao interior de Minas Gerais, correndo pela vastidão os pampas gaúchos, o romance romântico pinta a imagem de um país gingante pela própria natureza. (Mas que baita trocadilho!)

Nesse momento, o conhecimento sobre o Brasil aumentou, pois a descrição desses espaços e costumes traz um confronto entre dois mundos: rural e urbano.

O regionalismo evidencia as paisagens e os tipos de um Brasil desconhecido até então. Agora, é a vez dos vaqueiros dos pampas e os sertanejos do Nordeste.

São nessas obras que os leitores têm contato com um Brasil com valores e comportamentos bem diferentes daqueles da corte. O país que surge nos romances regionalistas é gigantesco em território e atrasado nos costumes.

Para o século XIX e XX temos os romances realistas, naturalistas, pré-modernistas e modernistas que serão abordados em outras aulas.

Videoaula

Para terminar, assista à videoaula a seguir, em que a professora Camila, de literatura, ensina mais sobre o gênero literário do romance.

Exercícios sobre o romance

1- (UFGD/2019)

Leia o seguinte texto.

 A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

Autor: Marcus Zusak

Tradutora: Vera Ribeiro

Sinopse: Ao perceber que a pequena Liesel Meminger, uma ladra de livros, lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. A mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler. Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a conivência do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que lhe dá lições de leitura. Alfabetizada sob vistas grossas da madrasta, Liesel canaliza urgências para a literatura. Em tempos de livros incendiados, ela os furta, ou os lê na biblioteca do prefeito da cidade. A vida ao redor é a pseudorealidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. Teme a dona da loja da esquina, colaboradora do Terceiro Reich. Faz amizade com um garoto obrigado a integrar a Juventude Hitlerista. E ajuda o pai a esconder no porão um judeu que escreve livros artesanais para contar a sua parte naquela História.

Disponível em: <https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/literaturainternacional/ romances/a-menina-que-roubava-livros-1859015>. Acesso em: 29 ago. 2018.

De acordo com o texto, assinale a alternativa correta.

a) A mãe da protagonista Liesel Meminger é adepta do Nazismo.

b) A protagonista aprende a ler com a madrasta.

c) O enredo do livro se passa no período da Segunda Guerra Mundial.

d) A dona da loja da esquina é opositora do Nazismo.

e) O pai adotivo da protagonista é adepto do Nazismo.

Texto comum às questões 2 e 3

Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto.

Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que jorrava das portas da Catedral, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles “caras” todos, que nem o olhavam. […]

Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da sofreguidão com que liam os placards dos jornais, tratando de assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitura; comparando o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a quase cousa alguma.

BARRETO, Lima. Clara dos
Anjos. Rio de Janeiro: Gar-
nier, 1990. p. 130-131.

2- (UEL/2019)

Com base no trecho e no romance, acerca das relações entre personagens e os estilos de época, considere as afirmativas a seguir.

I. Clara, ao nutrir ilusões quanto às intenções amorosas de Cassi, aproxima-se da condição sonhadora de personagens femininas românticas.

II. Clara, ao entregar-se a Cassi e ao ceder às suas investidas sexuais, exibe a dificuldade de resistir aos instintos, como ocorre com personagens femininas naturalistas.

III. Cassi, ao recorrer a falsas promessas e fugir das responsabilidades com Clara, destoa da caracterização afetiva e moral dos heróis masculinos românticos.

IV. Cassi, ao compreender a complexidade das injustiças sociais que se abatem contra ele e os demais suburbanos, acirra o espírito combativo, assim como os heróis modernistas.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

3- (UEL/2019)

Com base no trecho e no romance, considere as afirmativas a seguir.

I. A frase “Não era nada” estabelece conexão entre Cassi e o desfecho vivido por Clara, embora os motivos dessas avaliações tenham graus de relevância e sentidos diferentes para cada personagem.

II. Clara e Cassi são superprotegidos por suas mães; contudo, Clara é mantida em sua ingenuidade, sem exposição à realidade, enquanto Cassi é acobertado a cada maldade cometida.

III. O assassinato de Marramaque afeta Clara e Cassi sob perspectivas diferentes: Clara sofre com a morte do padrinho, enquanto Cassi é o mentor daquele crime.

IV. A ideia de “polidez” acentua diferenças entre Clara e Cassi: enquanto ele ostenta essa qualidade no subúrbio e no centro, ela, como autêntica suburbana, é tosca, carente de lapidação.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

1- Gab: C

2- Gab: D

3- Gab: D

Sobre o(a) autor(a):

Anderson Rodrigo da Silva é professor formado em Letras Português pela UNIVALI de Itajaí. Leciona na rede particular de ensino da Grande Florianópolis.

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