A novela como gênero literário: características e subgêneros

A novela é um gênero literário narrativo que faz sucesso com o público desde o século XVII, com Dom Quixote, até hoje, com novelas televisivas. Venha entender o que é a novela, suas características e subgêneros nesta aula de Literatura para o Enem!

Quando se fala em novela, é comum as pessoas pensarem nas novelas de televisão, que, há décadas, entretêm públicos diversos no Brasil e no exterior. Caso a gente retorne à primeira metade do século XX, o sucesso eram as radionovelas, como se vê no livro Quarto de despejo: diário de uma favelada. A autora, Carolina Maria de Jesus (foto), fala de seu gosto por “dramas”, ou seja, pelas histórias que ouvia cotidianamente em seu rádio.

Assim, vemos como a novela via sistema audiovisual mostra a força que esse gênero narrativo tem. Pois, mesmo tendo sua origem ainda na Idade Média, suas características permanecem entre nós até hoje.

Primeiras novelas

Acredita-se que as primeiras novelas tenham sido as de cavalaria, que relatavam aventuras. Elas ressaltavam a figura do cavaleiro medieval em confronto heroico com os mouros (muçulmanos). A estrutura de novelas como A demanda do Santo Graal, do século XII, seria inspiração para as posteriores.

Isso porque trata-se de uma literatura simples, de andanças, em que acontece uma sucessão linear de variadas situações (aqui, batalhas), com a participação de uma quantidade considerável de personagens.

Características de uma novela

Ao final de cada episódio de uma novela, por algum motivo (pode ser a morte), o protagonista é substituído por alguém que tinha papel secundário. Segundo Massaud Moisés, no Dicionário de termos literários, esse é um tipo de personagem que a novela, em geral, pode apresentar.

O outro seria, segundo o referido estudioso, aquele que permanece no decorrer na narrativa, “servindo de elo de ligação entre as suas unidades e de elemento catalizador para as sucessivas peripécias”. Como o que ocorre no famoso Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, escrito no século XVII.

Nessa sátira às novelas de cavalaria, o fidalgo Dom Quixote, de tanto ler histórias de cavaleiros, revolve sair pelo mundo em busca de aventuras. Ao seu lado está o seu fiel escudeiro, Sancho Pança. O problema é que o protagonista não consegue concretizar aquilo que estava idealizando. Temos, aí, outro aspecto típico da novela: o total desapego ao real, ao plausível, ao verossimilhante. O que interessa é o mundo da imaginação.

dom quixote - novela
Monumento a Dom Quixote, em Madri. Disponível em: https://www.aquelelugar.com.br. Acesso 10 mar. 2020.

Os lugares, inclusive, podem ser fictícios, pois não passarão de pano de fundo para o que realmente importa na novela: a ação. Além disso, as descrições serão mínimas. O narrador se deterá para descrever lugares (ou pessoas) apenas quando julgar estritamente necessário à trama.

Não será dada muito importância também para o tempo, no sentido de que o narrador (em 1ª ou 3ª pessoa) evitará digressões, idas e vindas temporais, comuns em romances como Dom Casmurro, de Machado de Assis. O foco é no presente e a trama vai sendo desenvolvida de maneira contínua, linear, com um pequeno clímax, por assim dizer, no final de cada capítulo.

Até que, ao final da última parte, é desvendado o mistério maior. Esta é, como se sabe, a chave para manter o leitor preso à história até o seu desfecho. As novelas televisivas procuram sempre utilizar essa estratégia a fim de amarrar o expectador.

Subgêneros das novelas

Esse formato despojado da novela, interessado em capturar leitores pela aventura, entre seu início medieval e as modalidades tecnológicas dos séculos XX e XXI, teve um histórico em que diversos subgêneros apareceram.

Novelas sentimentais

No século XVI, por exemplo, surgiram as novelas sentimentais, como o espanhol Tratado de Arnalte e Lucinda. Esse tipo de obra se utiliza do amor cortês para abordar termas como desejo e morte. O picaresco, com seus personagens humorísticos e malandros, fez, também, parte do universo da novela, tendo iniciado ainda no Renascimento e se mantido até o século XVIII.

Diga-se de passagem, poderíamos associar Memórias de um sargento de milícias (1852-53), de Manuel Antônio de Almeida, com as narrativas picarescas. Basta pensarmos que a história gira em torno das peripécias de Leonardinho Pataca, desde as peraltices da infância suburbana até as malandragens da fase adulta, às voltas com as autoridades e as mulheres.

Novelas históricas

Ainda de acordo com Moisés, em tempos românticos, entre os séculos XVIII e XIX, “a novela tornou-se um dos entretenimentos mais caros à Burguesia, porventura em razão de oferecer-lhe alimento à imaginação e preencher-lhe as prolongadas horas de ócio”. Muitas vezes publicada em jornais e revistas (folhetim), as novelas foram ganhando, pelo mundo, outras “caras”. A histórica é uma delas.

Trata-se de um estilo de narrativa ambientada em algum momento histórico, remoto ou recente, com a presença, muitas vezes, de personalidades do passado. A partir deste tipo de leitura, as pessoas, além de se divertirem com enredos, podiam aprender. Walter Scott, autor de O último dos moicanos (1826), é tido como o precursor desse subgênero.

Por aqui, alguns autores parecem ter flertado com a ideia, como é o caso de José de Alencar. No romance Iracema (1865), o autor fala da ligação entre a personagem-título e uma figura histórica: Martim Soares Moreno, Capitão-mor do Ceará. Ele foi um militar que defendeu os interesses da coroa portuguesa no Brasil, tendo por objetivo buscar o reconhecimento dos países europeus em relação ao Tratado de Tordesilhas.

Novela policial

O século XIX trouxe também a novela policial ou de mistério, cujo principal nome foi o de Edgar Allan Poe, autor de Os assassinatos da Rua Morgue, de 1841. O livro, com o seu C. Auguste Dupin, dá início ao trabalho dos detetives em busca de pistas para desvendar misteriosos crimes.

O mais famoso, entretanto, é Sherlock Holmes, criado por Sir Arthur Conan Doyle na década de 1880. Interessante dizer que esse tipo de história está mais presente do que nunca, tanto na literatura quanto em séries de televisão e filmes, assistidos por uma legião de fãs.

O próprio Sherlock Holmes, recentemente, virou uma série britânica que teve como ator principal Benedict Cumberbatch. Em 2009, já havia sido filme, estrelado por Robert Downey Jr.

Novelistas brasileiros

Continuando nosso histórico, e direcionando-o ao Brasil, poderíamos citar novelistas como Jorge Amado e Érico Veríssimo. Deste, destaca-se “Noite” que, publicado nos anos 50, chama a atenção pelo clima obscuro que envolve o protagonista. “Desconhecido”, ou “Homem de gris”, como é chamado, vaga pelas ruas de uma cidade, sem saber quem é, nem de onde veio. A única coisa que tem é culpa por um crime cometido.

A novela como gênero literário

Para finalizar sua revisão, assista à videoaula abaixo, em que a professora Camila, de Literatura, explica o que é uma novela do ponto de vista da Literatura!

Exercícios

01) (Questão autoral)

Faça o somatório de acordo com as seguintes afirmações:

01. Na crônica moderna, o cotidiano pouco ou nenhum interesse tem; o que importa são as emoções profundas e intemporais do homem, anotadas em estilo elegante.

02. No romance, mais do que no conto ou na novela, os personagens ganham amplo desenvolvimento, as tramas se cruzam e os espaços de ação se multiplicam.

04. No conto, o reduzido espaço narrativo obriga o narrador a selecionar e a concentrar as ações essenciais de suas muitas personagens num tempo quase sempre bastante limitado.

08. Narrativa sempre extensa, em prosa ou verso, com personagens animais que agem como seres humanos, e que ilustra um preceito moral.

16. Biografia é a narração oral, escrita ou visual dos fatos particulares das várias fases da vida de uma pessoa ou personagem.

02) (Questão autoral)

Classifique as letras dos conceitos com os respectivos elementos da obra literária.

( 1 ) É a utilização individual da língua, é o modo de apresentação da fala da personagem.

( 2 ) É o choque, a contraposição de interesses que compõe uma história: a apresentação, a complicação, o clímax e o desfecho.

( 3 ) É o que a personagem faz ou fazem com ela dentro do contexto.

( 4 ) É a construção de uma figura animada, viva; enfim, que possa dizer “eu”.

( 5 ) É a voz que vai contando a história.

(     ) Personagem

(     ) Ação

(     ) Conflito

(     ) Narrador

(     ) Discurso

A alternativa, que contém a sequência VERDADEIRA, de cima para baixo, é:

a) 5 – 3 – 1 – 2 – 4

b) 4 – 3 – 2 – 1 – 5

c) 4 – 3 – 2 – 5 – 1

d) 5 – 4 – 3 – 2 – 1

e) 4 – 5 – 3 – 2 – 1

03) (UFAM- 2015)

Assinale a alternativa que se refere ao romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida:

a) A ação se passa na ilha de Paquetá, onde um grupo de estudantes, dentre os quais Leonardo, o protagonista, vai passar um fim de semana. Este é o mote para o autor criticar a ociosa burguesia fluminense do século XIX.

b) O herói Leonardo é um provinciano ingênuo, que, por acaso, se vê herdeiro de uma grande fortuna. A partir daí, o autor analisa a ambição do ser humano, pois o protagonista foi enganado por um casal inescrupuloso da Corte.

c) O enredo gira em torno de Leonardo, filho de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça. O herói apresenta traços picarescos e a obra, além do valor documental, se passa em determinado momento histórico (o Rio de D. João VI).

d) Alinha-se na corrente conhecida como sertanismo, a qual, inserindo-se no quadro maior do Romantismo brasileiro, divulga
aspectos pitorescos da vida rural e das províncias, com seus tipos peculiares, em tudo diferentes do homem urbano.

e) Narrado em primeira pessoa, apresenta traços do estilo posterior: o Realismo. Deve-se isso ao fato de apresentar tipos caricaturais, das classes baixas da sociedade, tipos que lutam pela sobrevivência em meio a enganos e procura de emprego.

Gabarito:

01) 02+16=18;

02) C;

03) C.

Sobre o(a) autor(a):

Alencar Schueroff é doutor em Literatura pela UFSC e professor em pré-concursos há 20 anos.

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