Transgênicos: entenda o que são e como são produzidos

Transgenia é um tema super polêmico. Ele envolve genética e ética, além disso, sua produção e venda rende muito dinheiro para as grandes empresas especializadas. Por esses motivos, os transgênicos podem aparecer nas questões envolvendo Biologia e Atualidades. Vem revisar com a gente!

Falar de transgênicos nos remete à cenários de ficção científica, não é verdade? Imaginar que a ciência moderna possibilita a modificação do código genético de um ser vivo, manipulando suas características, é ao mesmo tempo empolgante e assustador. Mas, quais seriam as consequências dessas manipulações? Como elas ocorrem?

Quais as possíveis aplicações? Vem com a gente nesta aula para você saber a resposta dessas e de outras perguntas sobre uma das técnicas que revolucionou a ciência e a produção de alimentos nas últimas décadas: os transgênicos.

Transgênicos

Você provavelmente já deve ter reparado que alguns alimentos possuem em suas embalagens um símbolo triangular, semelhante à uma placa de trânsito com um T preto no meio, certo? Este símbolo informa ao consumidor que aquele alimento contém algum ingrediente geneticamente modificado (GM). É praticamente impossível achar alguns tipos de alimentos industrializados que não contenham esse “tezinho” na embalagem.

Isso porque a maior parte de ingredientes como a soja e o milho são produzidos, desde 1998, em sua versão transgênica no Brasil. Para se ter uma ideia, 96% da soja, 88% do milho e 78% do algodão plantados pelos brasileiros são transgênicos. Mas, afinal, o que são transgênicos?

Desde que os seres humanos passaram a se estabelecer em certas localidades para cultivar seus alimentos, nós aprendemos a selecionar as plantas e animais que possuíam características de interesse produtivo. Para isso, os organismos que possuíam características relevantes eram selecionados como matrizes reprodutivas e assim, ao longo das gerações, essa técnica produzia organismos com características refinadas e selecionadas, melhorando a produtividade.

Neste caso, o tempo era um ponto crucial: demorava-se anos, séculos, selecionando características. Gerações passavam antes da obtenção dos resultados esperados. Acontece que os avanços científicos possibilitaram que esse tempo fosse potencialmente reduzido e que as características de um indivíduo e de sua população fossem rapidamente modificadas por técnicas de engenharia genética. Neste cenário estão os polêmicos transgênicos, também conhecidos com organismos geneticamente modificados (OGM).

Como os transgênicos são produzidos

Resumidamente falando, um transgênico é um ser vivo que possui genes de outra (ou outras) espécie inseridos em seu código genético através de técnicas de engenharia genética. Para isso, identifica-se o gene de interesse em algum organismo (um gene que possibilita que uma planta seja resistente a uma praga, por exemplo), isola-se esse gene e ele é clonado (copiado várias vezes) para que possa ser inserido no organismo de interesse – o que passará a ser um transgênico.

Para inserir esse gene no código genético em um ser vivo, existem muitas técnicas diferentes. A forma mais comum é a utilização de organismos parasitas, como vírus, que ao agirem em seu ciclo vital acabam inserindo nas células do seu hospedeiro trechos de códigos genéticos. No caso das plantas transgênicas, por exemplo, um “vetor” de genes muito utilizado é a bactéria Agrobacterium tumefaciens.

Essa bactéria ao parasitar uma planta faz com que surjam tumores. Isto acontece porque ela insere nas células da planta um trecho de seu DNA (o plasmídeo), causando modificação do genoma da planta. Assim, ao utilizar essas bactérias em células de plantas que são cultivadas em laboratório, as células vegetais modificadas pelas bactérias podem se desenvolver e se tornar uma planta transgênica.

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Símbolo que indica que o alimento contém algum tipo de organismo transgênico em sua composição. Em abril de 2015 a bancada ruralista da Câmara de Deputados elaborou um projeto de lei que retira a obrigação de ter este símbolo estampado nos rótulos de alimentos. O projeto de lei foi aprovado na Câmara e aguarda sua aprovação no Senado.

Outra forma de modificar o genoma de um ser vivo é o método biofísico de bombardeamento de partículas. Para tal, micro-partículas são aceleradas em direção às paredes celulares e membranas das células, atravessando-as e introduzindo no interior das células trechos de DNA, RNA e proteínas, causando modificação genômica.

Há ainda o método da eletroporação. Essa técnica é feita com a ajuda de um aparelho chamado eletroporador que gera pequenos furinhos na membrana das células através de descargas elétricas. Assim, os trechos de interesse de DNA são inseridos nas células por esses poros.

Os trechos de DNA inseridos podem ter várias funções, dependendo do tipo de ser vivo e da finalidade para a qual aquele organismo é produzido. Como você leu acima, no Brasil é muito comum o cultivo de plantas geneticamente modificadas. Nestes casos, em geral, a modificação genética visa o aumento da produtividade e a diminuição da suscetibilidade a pragas.

Porém, existem muitos tipos de vegetais OGMs atualmente. Algumas instituições como a Embrapa classificam os vegetais transgênicos em “três gerações”, segundo a ordem de surgimento dessas tecnologias. Veja:

1ª Geração – Corresponde às plantas geneticamente modificadas que foram produzidas com o objetivo de possuírem características agronômicas resistentes a herbicida, a pragas e a vírus. Foram disseminadas nos campos na década de 80 e até hoje compõem o grupo de sementes OGMs mais comercializadas no mundo.

2ª Geração – Nesse grupo de transgênicos estão incluídas as plantas cujas características nutricionais foram melhoradas tanto quantitativamente como qualitativamente. Ainda são pouco difundidos no mundo.

3ª Geração – Representado por um grupo de plantas destinadas à síntese de produtos especiais, como vacinas, hormônios, anticorpos e plásticos. Estes vegetais ainda estão em testes e podem chegar ao mercado em breve.

Quais organismos podem ser transgênicos

Não são só as plantas que podem ser transgênicas. Há muito tempo já modificamos geneticamente organismos para que eles passem a produzir substâncias de interesse médico ou industrial. Um exemplo disso é a insulina sintética. Nosso organismo produz naturalmente o hormônio insulina, utilizado pelo organismo para controlar a quantidade de açúcares no sangue. Porém, algumas pessoas não conseguem produzir esse hormônio em quantidade significativa e apresentam o quadro de diabetes.

Antigamente essa substância era obtida de suínos, porém poderia causar reações adversas nas pessoas que a tomavam. A partir dessa dificuldade, surgiu então a técnica que usava bactérias transgênicas. Nessa técnica, são utilizadas bactérias Escherichia coli (comuns na flora intestinal humana) com modificações gênicas. Falando de maneira simplificada, essas bactérias recebem os genes humanos responsáveis pela produção do hormônio insulina e assim tornam-se capazes de produzi-lo. Com isso, a insulina recebida pelo diabético é humana, pois foi produzida a partir de genes humanos, diminuindo assim as reações adversas.

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Ratos transgênicos verde-fluorescentes entre ratos normais da mesma ninhada. Os ratos fluorescentes receberam genes de água-viva quando eram ainda uma célula-ovo.

Outro exemplo de ser vivo transgênico utilizado no Brasil, são os mosquitos Aedes aegypti transgênicos. Esses animais possuem uma modificação gênica que faz com que os filhotes morram antes que chegarem a idade reprodutiva. Isso faz com que a população de Aedes diminua ao longo das gerações, diminuindo também os casos de doenças transmitidas por eles.

Por que os transgênicos geram tantas polêmicas?

Como você pode ver até aqui, em geral os transgênicos, buscam melhorias para a vida humana. Principalmente no que se refere à produção de alimentos, teoricamente, eles podem aumentar a produtividade, diminuindo a utilização de agrotóxicos. Então, parece que são uma excelente ideia, não é mesmo?

Porém, há muitos cientistas e organizações ambientais criticam fortemente seu uso indiscriminado e a aplicação desse método sem estudos de seus efeitos a longo prazo. Para os defensores dos transgênicos, isso não passa de “ecochatice” e medo do novo. Mas, infelizmente, há alguns estudos que mostram que as preocupações têm fundamento. Por exemplo, algumas investigações científicas apontam que as plantas transgênicas podem se reproduzir com plantas originais.

Isto poderia fazer com que as características genéticas originais sumissem, uma vez que estariam “menos adaptadas” aos desafios impostos pelo ambiente, ocasionando uma perda de patrimônio genético natural. Além disso, as modificações genéticas podem alterar alguns fenótipos não desejados e, assim, os seres vivos que interagem com este organismo podem não estar adaptados a esta nova condição, o que destruirá diversos nichos ecológicos.

Outro ponto muito discutido é a questão comercial que envolve os transgênicos. Enormes multinacionais são detentoras dos direitos sobre diversas variedades de sementes geneticamente modificadas. Essas sementes, muitas vezes, são capazes de germinar e produzir, porém, as sementes geradas a partir delas não. Isso obriga os produtores a comprarem as sementes das grandes empresas todos os anos, dificultando a agricultura e diminuindo os lucros de agricultores, especialmente daqueles que praticam a agricultura familiar.

Um outro possível problema é a “validade” dos transgênicos. A natureza, em constante adaptação, sempre tenta encontrar formas de resistir. Estudos indicam que muitos organismos transgênicos acabam perdendo sua utilidade antes mesmo de completarem cinco anos de mercado. Isso porque, as pragas para os quais foram construídos para resistir acabam sendo selecionadas, e formas resistentes ou que possuem adaptações voltam a atacar os OGMs e não-OGMs.

Brasil e os organismos geneticamente modificados

Em 2018 completam-se 20 anos da regulamentação do cultivo do primeiro transgênico no Brasil (um tipo de soja resistente a algumas pragas típicas desse cultivo). Apesar do cultivo ter iniciado oficialmente em 1998, a lei que regulamenta essa prática (Lei Brasileira de Biossegurança 11.105/05) somente foi criada em 2005.

Essa legislação determina os passos e protocolos pelos quais um produto fruto da biotecnologia precisa passar antes de se tornar comercial. Entre eles, inclui o tempo mínimo de estudo e pesquisas de 10 anos. Essa lei visa preservar a segurança ambiental e alimentar da população. Para fiscalizar isto, existe a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), que é vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Porém, apesar de termos uma das leis mais restritivas de biossegurança do mundo, os interesses de grandes empresas agrícolas e grandes produtores brasileiros, representados pela bancada ruralista na Câmara, têm se esforçado para flexibilizar e facilitar a entrada de vários produtos transgênicos no mercado.

No início do ano de 2018, por exemplo, um projeto de Lei discutido em Brasília visava retirar o selo com o T das embalagens dos alimentos (selo que já existe desde 2003). Segundo o autor do PL, o T faz um alarde indevido sobre alimentos que “são seguros”, uma vez que estudos dos últimos anos não demonstraram qualquer consequência ruim para quem os consome. A PL acabou sendo aprovada pela Câmara e pelo Senado, pondo fim à obrigatoriedade do uso do selo nas embalagens de alimento.

Videoaula

Para finalizar sua revisão sobre o tema, veja esta videoaula do Professor Guerra e, em seguida, resolva os exercícios:

Exercícios

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Sobre o(a) autor(a):

Juliana Evelyn dos Santos é bióloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e cursa o Doutorado em Educação na mesma instituição. Ministra aulas de Ciências e Biologia em escolas da Grande Florianópolis desde 2007 e é coordenadora pedagógica do Blog do Enem e do Curso Enem Gratuito.

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