Brasil vs. Mundo: o que nos torna líderes em energia renovável?

Descubra por que o Brasil é destaque global na transição energética, com uma matriz elétrica majoritariamente limpa e renovável.

Imagine um mundo sem energia: sem celular carregado para acessar as redes sociais, sem luz para estudar durante a noite, sem transporte para chegar à escola ou à faculdade.

A energia está por toda parte e é um dos temas mais importantes da atualidade, impactando o meio ambiente, a economia e, inclusive, o seu futuro profissional. Para quem está se preparando para o vestibular, entender a matriz energética do Brasil é essencial não apenas para garantir pontos nas provas, mas também para se tornar um cidadão consciente e ativo na construção de um futuro mais sustentável.

A boa notícia? Estamos prestes a viver uma mudança histórica: pela primeira vez, a energia solar, eólica e de biomassa devem ultrapassar a participação das hidrelétricas, que sempre foram o carro-chefe da energia limpa no país. Essa virada merece ser entendida em detalhe!

Matriz Energética: o que é e por que é sustentável?

Antes de tudo, é importante entender o que é a matriz energética. Pense nela como um “cardápio” completo com todas as fontes de energia que o país utiliza para funcionar — da gasolina dos carros à eletricidade das lâmpadas. Essa matriz inclui tanto fontes fósseis (como petróleo, carvão e gás natural) quanto fontes renováveis (como o sol, o vento, a água e a biomassa).

É essencial também diferenciar a matriz energética (que abrange todas as formas de energia consumidas no país, incluindo transporte e indústria) da matriz elétrica (que trata especificamente da energia usada para gerar eletricidade). Nesse aspecto, o Brasil se destaca: sua matriz elétrica é muito mais limpa do que sua matriz energética total.

Uma matriz energética é considerada sustentável quando se baseia principalmente em fontes renováveis, ou seja, recursos que se regeneram naturalmente, como a luz solar e o vento. Isso reduz consideravelmente o impacto ambiental.

Benefícios de uma Matriz Sustentável

Ambientais

  • Redução significativa da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), como o CO2.
  • Contribuição direta para o combate às mudanças climáticas.
  • Estudos mostram que o Brasil emite menos CO2 por unidade de energia que países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

Econômicos

  • Menor dependência dos combustíveis fósseis e suas flutuações de preço.
  • Geração de empregos “verdes” e impulsionamento da inovação.
  • Aumenta a segurança no abastecimento energético.

Sociais

  • Sistema mais resiliente, especialmente em crises hídricas.
  • Apoia a agenda global contra as mudanças climáticas.

No entanto, ampliar apenas as fontes renováveis não basta. É essencial unir isso à eficiência energética — ou seja, à forma como consumimos e gerenciamos a energia. Usar a energia com inteligência, por meio de tecnologias como iluminação LED, eletrodomésticos eficientes e processos industriais otimizados, também é parte crucial para um futuro sustentável.

A matriz atual: onde estamos?

Atualmente, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Brasil conta com 200 GW de potência instalada — ou seja, a capacidade total de geração de energia do país. A maior parte dessa energia já vem de fontes renováveis (84,25%), com destaque para:

  • Hidrelétricas: 55%
  • Eólica: 14,8%
  • Biomassa: 8,4%

As fontes não renováveis (como gás natural, petróleo e carvão) somam os 15,75% restantes.

Desde 1997, o país triplicou sua capacidade de geração, e fontes que antes tinham pouca presença — como solar e eólica — ganharam destaque. Além disso, a micro e minigeração distribuída (MMGD), com sistemas instalados em casas e empresas, teve grande crescimento: mais de 2,4 milhões de unidades já estão conectadas à rede elétrica.

Projeções para 2029

De acordo com projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil vai passar por uma transformação significativa até 2029. A expectativa é que fontes como solar, eólica e biomassa ultrapassem, pela primeira vez, a participação das hidrelétricas. Os números estimados são:

  • Hidrelétricas: cairão para 41,5% da capacidade instalada
  • Solar, eólica e biomassa juntas: devem alcançar 51%

Esse crescimento é puxado, em grande parte, pela geração distribuída, com usinas menores e mais próximas dos consumidores.

Com o aumento do consumo de energia em cerca de 3,4% ao ano, será necessário atender uma demanda de 94.573 MW médios até 2029. Para isso, o país precisará:

  • Investir em smart grids (redes inteligentes que tornam a distribuição mais eficiente)
  • Desenvolver sistemas de armazenamento de energia, como baterias
  • Aprimorar a descentralização da geração, para que a energia produzida em diferentes regiões chegue onde é necessária, com segurança e estabilidade

Essas mudanças tornam o sistema mais sustentável, mas também exigem investimentos, planejamento e atualização das regras do setor.

A tabela abaixo resume essa transição, comparando a situação atual com as projeções para 2029:

Fonte de EnergiaParticipação Atual (2024) – % Capacidade InstaladaProjeção 2029 – % Capacidade Instalada
Hidrelétrica55%41.5%
Eólica14.8%Parte dos 51%
SolarParte dos 84.25% renováveisParte dos 51%
Biomassa8.4%Parte dos 51%
Outras Renováveis (Solar, Eólica, Biomassa)~29.25% (84.25% – 55%)51%
Não Renováveis15.75%Restante (100% – 51% – 41.5%) = 7.5%
Total Renovável84.25%92.5% (51% + 41.5%)

Quem financia essa transição energética?

A transformação da matriz elétrica brasileira em direção às fontes limpas não acontece sozinha — depende de muito investimento e planejamento. Segundo a EPE, estão previstos R$ 255 bilhões em investimentos no setor nos próximos anos. Esse valor mostra que a transição para energia renovável também representa uma grande oportunidade econômica.

Mas de onde vem esse dinheiro?

Esses recursos são viabilizados por políticas públicas bem estruturadas e um ambiente regulatório que dá segurança aos investidores. Um exemplo disso é o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2029, que traça metas claras para o setor. Além disso, iniciativas como:

  • PLS 712/2015, que estimula o uso de energia limpa
  • RenovaBio, programa voltado aos biocombustíveis

…também contribuem para fortalecer o setor e atrair novos projetos.

Outro fator que impulsiona os investimentos é que as fontes renováveis estão cada vez mais baratas e eficientes. Com uma combinação de:

  • Tecnologia acessível
  • Abundância de recursos naturais (como sol, vento e biomassa)
  • Planejamento de longo prazo
  • Regras estáveis e transparentes

…o Brasil cria um ambiente confiável para investidores, impulsiona a economia verde e se posiciona como um potencial líder mundial em energia limpa.

Quais os desafios da transição energética no Brasil?

Apesar de todo o otimismo, a transição energética no Brasil ainda enfrenta obstáculos importantes — e alguns deles são bem complexos.

A rede elétrica não dá conta

O Brasil tem um potencial enorme para gerar energia solar e eólica, especialmente no Nordeste. Mas tem um problema: a infraestrutura atual de transmissão não foi feita para esse novo cenário. É como produzir toneladas de alimentos em uma fazenda remota, mas não ter estradas para levar tudo até a cidade.

Hoje, mais de 90% da energia eólica do país está no Nordeste — bem longe dos grandes centros consumidores, como o Sudeste e o Sul. Sem uma rede moderna e preparada, parte dessa energia pode ser desperdiçada (isso se chama curtailment). Para resolver isso, o país precisa investir pesado: são estimados mais de 20 mil quilômetros de novas linhas de transmissão, ao custo de até US$ 16 bilhões.

Mas não é só sair construindo torres e fios. O desafio exige planejamento detalhado, tecnologias inteligentes (como as smart grids), e soluções de armazenamento de energia que ajudem a equilibrar a oferta com a demanda. Tudo isso é necessário para manter o sistema estável, mesmo quando o vento para de soprar ou o sol se esconde.

Energia limpa também pode gerar conflito

Outro desafio é garantir que essa transição seja justa. Muitos dos novos projetos solares e eólicos são instalados em regiões historicamente marginalizadas, como áreas indígenas, quilombolas e comunidades rurais no Nordeste. Sem regulação clara e participação social, o risco é repetir erros do passado: concentração de renda, exclusão de populações locais e até violações de direitos.

Há relatos de projetos que foram implantados sem consultar as comunidades afetadas, gerando tensões e injustiças. Isso pode atrasar obras, gerar ações judiciais e, pior, minar a confiança no processo.

Para evitar isso, o país precisa de políticas modernas e participativas — como um Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) que proteja áreas sensíveis e priorize regiões já degradadas para novos empreendimentos. É essencial que as pessoas que vivem nessas regiões tenham voz no planejamento e recebam benefícios concretos: empregos locais, capacitação, acesso à energia e melhoria de infraestrutura.

A transição energética só será realmente sustentável se for inclusiva e respeitar os direitos de todos.

Quais as vantagens de usar fontes renováveis?

A energia do futuro não é apenas mais limpa — ela também é mais inteligente, eficiente e cheia de possibilidades. O Brasil já está trilhando esse caminho, e as inovações tecnológicas estão abrindo portas para uma nova era energética.

1. Armazenar para usar quando precisar

Fontes como o sol e o vento são excelentes, mas intermitentes: não produzem energia o tempo todo. Por isso, armazenar o que é gerado virou prioridade. Novas tecnologias, como baterias de íon-lítio, baterias de fluxo e até usinas reversíveis (que reaproveitam a água para gerar energia novamente), tornam possível guardar energia para quando o consumo aumenta ou a produção cai. Esse passo é fundamental para tornar a matriz energética ainda mais confiável.

2. Hidrogênio verde

O hidrogênio verde é uma das grandes apostas globais — e o Brasil tem tudo para se tornar líder nesse setor. Ele é produzido a partir da eletrólise da água, usando energia 100% renovável. Pode ser usado em indústrias, transportes pesados e até exportado. Com abundância de sol, vento e água, o país pode se destacar como um grande fornecedor internacional de H₂V, ganhando relevância geopolítica e econômica.

3. Smart Grids

As smart grids são redes elétricas inteligentes, que usam sensores, automação e análise de dados para controlar o fluxo de energia em tempo real. Isso significa menos perdas, mais eficiência e uma melhor integração das fontes renováveis. Além disso, possibilitam que carros elétricos, por exemplo, atuem como “baterias móveis”, devolvendo energia à rede quando necessário.

4. Eficiência energética

Mais do que gerar energia limpa, é preciso usar melhor o que já temos. A eficiência energética entra aqui como um pilar fundamental: desde lâmpadas LED e eletrodomésticos econômicos até processos industriais otimizados. Reduzir o desperdício é essencial para aliviar a pressão sobre o sistema e o meio ambiente.

5. Digitalização e internet das coisas (IoT)

A digitalização transforma o modo como a energia é monitorada, distribuída e até comercializada. Sensores inteligentes, softwares de previsão e aparelhos conectados à internet (como medidores e geladeiras “inteligentes”) ajudam consumidores e empresas a controlar o uso de energia, economizar e evitar sobrecargas no sistema.

Somos diferentes do restante do mundo?

Sim — e bastante. Enquanto a maior parte do mundo ainda depende de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural (que representam 86% da matriz energética global), o Brasil segue outro caminho: quase metade da energia produzida aqui já vem de fontes renováveis (49,1%, segundo dados de 2022/2023).

Se olharmos só para a matriz elétrica — ou seja, a eletricidade que usamos no dia a dia — a diferença é ainda mais clara:

  • 89% da energia elétrica brasileira é limpa, gerada por hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa.
  • No restante do mundo, ainda predominam fontes poluentes: 39,3% da eletricidade global vem do carvão e 22,9% do gás natural.

Outro ponto importante: o Brasil emite menos gases do efeito estufa (GEE) pelo setor de energia do que outros países. Nas nações do G20, a queima de combustíveis fósseis é a principal fonte de emissões. No Brasil, o maior problema são o desmatamento e a agropecuária — o que mostra que nossa base energética é mais limpa, apesar dos desafios ambientais em outras áreas.

Graças a esse cenário, o Brasil tem conquistado reconhecimento internacional:

  • É o país emergente mais bem colocado no Índice de Transição Energética do Fórum Econômico Mundial.
  • Ocupa o 3º lugar entre os países do G20 no ranking de energia limpa.

Ou seja: o Brasil é visto como um exemplo de transição energética e está em posição de liderança na corrida por um futuro mais sustentável.

Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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