música

Como desenvolver consciência social para o Enem a partir da música?

Música como ferramenta para consciência social no Enem: análise de canções que denunciam desigualdade, racismo e resistência cultural.


A música é muito mais do que lazer: ela é memória, história e, muitas vezes, um grito de protesto. No Enem, isso pode ser um trunfo enorme. Afinal, as canções refletem o que a gente vive como sociedade e ajudam a pensar criticamente sobre o mundo — exatamente o que a prova espera de você, principalmente na Competência II da redação.

A música brasileira, em especial, é um prato cheio: tem crítica social, relatos históricos e metáforas poderosas que podem enriquecer seu repertório e mostrar que você tem um olhar amplo sobre a realidade.

Muitas dessas músicas nasceram em momentos de crise, ditaduras ou desigualdade. Elas não apenas registram esses períodos, mas mantêm essas histórias vivas para novas gerações. E o melhor: ajudam a construir argumentos mais profundos, que vão muito além de decorar datas.

A seguir, vamos mergulhar em canções que marcaram a história da música brasileira — e entender como elas podem te ajudar tanto na redação quanto nas questões de Ciências Humanas do Enem.

“Construção” – Chico Buarque

Lançada em 1971, “Construção” nasceu no auge do regime militar, durante o chamado “milagre brasileiro” — um período de aparente crescimento econômico, mas marcado por censura severa e repressão política. Qualquer crítica direta ao governo era silenciada. Nesse cenário, Chico Buarque recorreu a metáforas para criar uma denúncia sutil, porém contundente, contra a opressão. A canção surpreendeu público e crítica, rompendo com a imagem de “moço bonito e bem comportado” associada ao artista, e virou símbolo de resistência.

A letra descreve a vida de um operário explorado, preso a uma rotina mecânica e alienante. Cada verso termina com uma palavra proparoxítona, recurso que, junto à repetição de frases, imita o ritmo exaustivo do trabalho e reforça a ideia de desumanização — o trabalhador reduzido a uma máquina. Essa construção literária não é apenas estética: ela expressa a “coisificação” do homem, conceito que pode ser relacionado à consciência de classe de Karl Marx, contrastando o olhar crítico do trabalhador com a “falsa consciência” que mantém as desigualdades.

A genialidade da música está justamente no uso de uma crítica disfarçada. Ao falar da exploração no canteiro de obras, Chico também denunciava, indiretamente, a opressão generalizada da ditadura. A sutileza e a aparente neutralidade ajudaram a driblar a censura, mostrando que a arte pode ser uma arma política sofisticada. E mais: ao surgir no auge do “milagre brasileiro”, a canção expôs a contradição entre o discurso oficial de progresso e a realidade de exploração brutal da força de trabalho. Essa tensão revela que crescimento econômico não significa, necessariamente, dignidade para todos.

“A Carne” – Elza Soares

Lançada em 2002 no álbum Do Cóccix até o Pescoço, “A Carne” foi composta por Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette, mas ganhou nova vida na voz poderosa de Elza Soares. Elza entrega um manifesto — e sua própria história, marcada por luta e resistência, amplifica ainda mais o peso da canção.

O verso repetido “A carne mais barata do mercado é a carne negra” funciona como um mantra de denúncia social, simbolizando a desvalorização e a segregação que marcam a trajetória histórica da população negra no Brasil. A música conecta o passado escravocrata às feridas ainda abertas da sociedade contemporânea: racismo, violência, falta de respeito e preconceito estrutural. E, infelizmente, exemplos não faltam para mostrar sua atualidade — como o caso do homem negro espancado até a morte em um supermercado, em 2020.

A força de “A Carne” está na sua atemporalidade. Mesmo lançada há mais de 20 anos, a canção segue descrevendo o Brasil de hoje, onde o racismo estrutural persiste de forma brutal. A frase-título não denuncia apenas a desvalorização, mas também a coisificação histórica do corpo negro — do trabalho escravo à marginalização contemporânea. Contudo, na voz de Elza Soares, essa “carne” deixa de ser apenas objeto de exploração para se tornar símbolo de resistência, dignidade e transformação. A dor se converte em arte; o corpo, antes reduzido a mercadoria, torna-se sujeito e agente de mudança.

No Enem, “A Carne” é um repertório valioso para discutir racismo estrutural, violência racial, desigualdade social, direitos humanos, legado da escravidão e movimentos de resistência. Além de trazer um tema urgente, a música oferece a chance de conectar passado e presente, mostrando que a luta contra o racismo é contínua e exige ação.

Como já caiu em prova

(UNEB – 2023)

Analise o trecho da letra da música “A Carne”, lançada em 2002, por Elza Soares.

A Carne

A carne mais barata do mercado

É a carne negra

Tá ligado que não é fácil, né, mano?

Se liga aí

A carne mais barata do mercado é a carne

Negra (4 x)

Só-só cego não vê

Que vai de graça pro presídio

E para debaixo do plástico

E vai de graça pro subemprego

E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Dizem por aí…

Que fez e faz história

Segurando esse país no braço, mermão

O cabra aqui não se sente revoltado

Porque o revólver já está engatilhado

E o vingador é lento

Mas muito bem intencionado

E esse país vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

Mas, mesmo assim

Ainda guardo o direito de algum antepassado da cor

Brigar sutilmente por respeito

Brigar bravamente por respeito

Brigar por justiça e por respeito (pode acreditar)

De algum antepassado da cor

Brigar, brigar, brigar, brigar, brigar

(Se liga aí!)

A canção retrata um problema social brasileiro, o qual pode ser minimizado:

a) pela meritocracia do sistema capitalista.

b) pela adoção de ações afirmativas.

c) com a manutenção do Código Penal.

d) por meio da reforma agrária.

e) pela segregação socioespacial.

(UECE- CEV – 2019)

Analise o seguinte trecho da letra da música A Carne, de autoria de Marcelo Yuka, Ulisses Cappelletti e Seu Jorge, interpretada por Elza Soares. 

“A carne mais barata do mercado

É a carne negra

A carne mais barata do mercado

É a carne negra

Que vai de graça pro presídio

E para debaixo do plástico

E vai de graça pro subemprego

E pros hospitais psiquíatricos

A carne mais barata do mercado

É a carne negra

Que fez e faz e faz história

Segurando esse país no braço, meu irmão

O cabra aqui, não se sente revoltado

Porque o revólver já está engatilhado

E o vingador eleito” […].

Atente para o que se afirma a seguir a respeito do conteúdo da música apresentada:

I. De acordo com o conteúdo da música, os negros no Brasil tornam-se vulneráveis em função do desemprego e da crise econômica pela qual o País passa atualmente.

II. A música é uma forma de denúncia da situação histórica dos negros no País e do racismo a que eles estão submetidos.

III. Caracteriza-se como como uma canção de protesto, pois demonstra a dívida que o Brasil tem com os negros. Como denota a canção, o respeito é ausente e a justiça também.

IV. Enaltece a contribuição dos negros na construção do Brasil, ao reconhecer que foram eles que seguraram o País nos braços.

Está corretamente relacionado à letra da música somente o que consta em:

a) II e III.

b) I e III.

c) II e IV.

d) I e IV.

GABARITO: 1. B // 2. A

“Brasil com P” – GOG

Gravada em 2000, no álbum CPI da Favela, “Brasil com P” é um marco do rap brasileiro feito na periferia. GOG, rapper brasiliense que cresceu nas quebradas do Distrito Federal, usa a música como megafone para denunciar a desigualdade, o racismo e a violência que marcam a vida nas margens do país. Nesse período, o rap já se consolidava como a voz das comunidades urbanas pobres, ocupando o espaço que muitas vezes a grande mídia negava.

A letra é direta e incisiva. Com um jogo de palavras centrado na letra “P”, GOG constrói uma sequência de associações — pobreza, polícia, poder, preconceito, política, prostituição — que expõem a rede de problemas que se entrelaçam para manter a periferia sob um ciclo constante de opressão. Essa repetição é uma estratégia discursiva: ela mostra que as questões enfrentadas pela favela não são isoladas nem naturais, mas produto de um sistema que beneficia poucos e exclui muitos.

Ao questionar o tratamento desigual imposto pelas classes dominantes, GOG cria uma narrativa que funciona como contranarrativa à ideologia hegemônica — aquela que, segundo a teoria marxista, é usada pela classe dominante para manter seu poder. O rap, nesse sentido, vira ferramenta de resistência e formação de consciência política: dá voz aos “invisíveis” e desestabiliza a versão oficial da realidade.

Essa música é um exemplo claro de como a arte pode ensinar a identificar as raízes sistêmicas da desigualdade e formar pensamento crítico. No contexto do Enem, “Brasil com P” é um repertório potente para redações e questões que abordem desigualdade social, violência urbana, racismo, corrupção e o papel do rap como manifestação cultural e política. É um lembrete de que a periferia não só sobrevive, mas também fala. E fala alto.

“Alagados” – Os Paralamas do Sucesso

Faixa de abertura do álbum Selvagem? (1986), “Alagados” nasceu das vivências de Herbert Vianna e de múltiplas referências culturais. A música desmonta a imagem turística do Rio de Janeiro ao contrapor o “Cristo Redentor de braços abertos num cartão postal” aos “punhos fechados na vida real”. É o retrato de uma cidade que vende hospitalidade ao mundo, mas mantém grande parte de sua população marginalizada.

A letra vai além da paisagem carioca: cita Alagados (Salvador), Trenchtown (Jamaica) e a Favela da Maré (Rio de Janeiro), criando uma rede simbólica que liga periferias de diferentes países. O que as une é a desigualdade urbana e a luta diária pela sobrevivência. Imagens como “palafitas, trapiches, farrapos” e “filhos da mesma agonia” revelam a precariedade material, enquanto o verso “a esperança não vem do mar, nem das antenas de TV” denuncia a alienação e as falsas promessas, seja do turismo, seja da mídia.

Ainda assim, a música destaca a força das comunidades, na “arte de viver da fé, só não se sabe fé em quê”. É uma celebração da resiliência e da capacidade de se reinventar mesmo sem apoio externo, chamando atenção para a importância da autonomia e da auto-organização.

Ao conectar favelas brasileiras e estrangeiras, “Alagados” oferece uma visão global do problema, mostrando que a exclusão social urbana é um fenômeno recorrente em contextos de desenvolvimento desigual. Esse olhar comparativo enriquece a análise e permite discutir a desigualdade como questão estrutural, não pontual.

No Enem, a canção já foi usada para abordar a precariedade de vida nas comunidades carentes e os obstáculos para a melhoria dessas condições. É um repertório útil para redações sobre desigualdade social urbana, exclusão, segregação espacial, urbanização, resiliência comunitária e o papel da mídia na manutenção ou no questionamento dessas narrativas.

Como já caiu em prova

(FATEC/2016.2)

A música Alagados, composta por Herbert Vianna, João Barone e Bi Ribeiro faz parte do repertório da banda Os Paralamas do Sucesso.

Todo dia,

O sol da manhã vem lhes desafiar

Traz do sonho pro mundo

Quem já não o queria

Palafitas, trapiches, farrapos

Filhos da mesma agonia

E a cidade,

Que tem braços abertos num cartão postal

Com os punhos fechados

Da vida real

Lhes nega oportunidades

Mostra a face dura do mal

Alagados

Trenchtown

Favela da maré

A esperança não vem do mar

Nem das antenas de TV

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em que

A arte de viver da fé

Só não se sabe fé em que

Alagados

A letra da música cita algumas comunidades carentes. Alagados é uma favela de palafitas, em Salvador, Bahia. Trenchtown, uma das maiores favelas da cidade de Kingston, capital da Jamaica. A Favela da Maré, na verdade, designa um bairro formado por um conjunto de mais de 15 favelas na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Podemos concluir, corretamente, que a letra da música retrata a: 

a) bucólica vida nas comunidades carentes mencionadas, onde as pessoas não param de sonhar com uma palafita ou mesmo um barraco em Trenchtown.

b) adequada qualidade de vida dos moradores das comunidades carentes mencionadas, proporcionada pelas autoridades citadinas.

c) precária condição de vida dos moradores das comunidades carentes citadas e a dificuldade de alcançar melhores condições de vida.

d) transformação das comunidades carentes citadas em pontos turísticos e a consequente aparição das favelas em cartões postais.

e) esperança de uma vida melhor, que pode ser alcançada por um simples banho de mar ou ao assistir programas de TV.

(EBMSP Medicina 2018/1)

Todo dia o sol da manhã vem e lhe desafia.

Trazendo sonhos pro mundo, quem já não o queria

Palafitas, trapiches, farrapos

Filhos da mesma agonia.

E a cidade que tem braços abertos num cartão postal

Com punhos fechados na vida real

Lhe nega oportunidades

Mostra a face do mal

Alagados Trenchtown, Favela da Maré

A esperança não vem do mar

Nem das antenas de TV

A arte de viver na fé só não sabe fé em quê

RIBEIRO, Felipe De Nobrega B.; SILVA, Joao Alberto Barone; VIANNA, Herbert. Alagados. Gravação: Os Paralamas do Sucesso, 1986.

Fenômenos socioeconômicos e culturais influenciaram a urbanização brasileira. Considerando-se o poema da canção Alagados e os conhecimentos sobre o atual estágio da urbanização nacional, pode-se concluir:

a) A estratificação do espaço urbano e a ocupação vertical são indicadores da forma como o espaço urbano é ocupado.

b) A população urbana declinou, nas últimas décadas, em função da significativa mobilidade social no campo, devido ao agronegócio que passou a absorver a PEA.

c) A ausência de hierarquia e da especulação imobiliária caracterizam o atual estágio dessa urbanização.

d) A urbanização processou-se, simultaneamente, em todas as regiões do país e ocorreu, de forma homogênea, sobretudo no final da década de 40 do século passado.

e) O setor da economia hipertrofiado é o secundário, porque absorve a maior parte da população urbana.

GABARITO: 1. C // 2. A

“Homem na Estrada” – Racionais MCs

Lançada em 1993 no álbum Raio-X Brasil, “Homem na Estrada” é uma composição de Mano Brown que mergulha na realidade das periferias urbanas, dando voz às histórias invisibilizadas dos que enfrentam adversidades cotidianas. Com um sample melancólico de Ela Partiu, de Tim Maia, a música reforça o sentimento de perda e abandono que permeia a trajetória de muitos homens negros e pobres.

A letra retrata o drama de um ex-presidiário que, ao tentar recomeçar, encontra barreiras quase intransponíveis: o estigma social, a desconfiança generalizada, a violência policial e a ausência de oportunidades. Versos como “ninguém confia não / E a vida desse homem para sempre foi danificada” traduzem a marca indelével deixada pelo encarceramento. A denúncia se estende ao abandono do Estado — “Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou” — e à hipocrisia social, quando a elite consome drogas fornecidas pela própria periferia: “Abastecendo a playboyzada de farinha”.

O desfecho trágico, com a morte do protagonista seguida de sua imediata criminalização pela polícia e pela mídia, revela um sistema que pré-condena com base em raça e classe. O rap expõe a seletividade penal, o racismo estrutural e o ciclo de exclusão que impede a reintegração, mostrando como a criminalização da pobreza é sustentada por dinâmicas de poder profundamente desiguais.

Ao evidenciar que campanhas antidrogas são lideradas por pessoas de classe alta — que também consomem substâncias obtidas via periferia —, a música denuncia a cumplicidade velada da elite na perpetuação da marginalização. Essa contradição desmonta narrativas simplistas sobre crime e pobreza e convida a uma análise crítica das responsabilidades sociais.

É um repertório sólido para redações sobre sistema carcerário, ressocialização, racismo, desigualdade, violência urbana e o papel do rap como instrumento de denúncia e consciência social.

“Olhos Coloridos” – Sandra de Sá

Lançada em 1982, “Olhos Coloridos” é um dos maiores sucessos de Sandra de Sá, mas sua relevância vai além do aspecto musical. Composta por Macau, a canção nasceu de um episódio real de racismo sofrido pelo autor, que foi agredido e preso por um policial que, ironicamente, também era “sarará crioulo”. Transformada em hino, a música tornou-se símbolo da luta contra o preconceito racial e é lembrada especialmente no Dia da Consciência Negra.

Com uma letra que mistura crítica social e celebração da identidade negra, a canção confronta diretamente o preconceituoso. No refrão, versos como “Você ri da minha roupa / Você ri do meu cabelo / Você ri da minha pele / Você ri do meu sorriso…” desarmam a hostilidade ao revelar que, no fundo, “você tem sangue crioulo / tem cabelo duro / sarará crioulo”. Essa estratégia expõe a contradição central do racismo brasileiro, muitas vezes praticado por pessoas que também têm origem negra ou mestiça.

A mestiçagem, longe de ser um detalhe secundário, aparece como elemento central da música: é simultaneamente ponto de tensão e bandeira de orgulho. A letra não apenas denuncia o preconceito, mas o transforma em afirmação, reivindicando a mistura racial como parte constitutiva da identidade nacional. Esse gesto amplia a discussão sobre o racismo no Brasil, marcado por manifestações sutis e internalizadas, e valoriza a autoafirmação da identidade negra e mestiça como ato de resistência.

A história por trás da composição ilustra o papel da arte como catarse e mobilização social. Um episódio pessoal de opressão foi transmutado em uma obra com ressonância coletiva, capaz de traduzir a dor de muitos e impulsionar reflexões e mudanças. Assim, “Olhos Coloridos” não apenas ecoa como um marco da negritude, mas também como exemplo de como experiências individuais podem se tornar universais por meio da música.

Como já caiu em prova

(UNICAMP 2021)

Texto I

“Algumas vozes nacionais estão tentando atualmente encaminhar a discussão em torno da identidade ‘mestiça’, capaz de reunir todos os brasileiros (brancos, negros e mestiços). Vejo nesta proposta uma nova sutileza ideológica para recuperar a ideia da unidade nacional não alcançada pelo fracassado branqueamento físico. Essa proposta de uma nova identidade mestiça, única, vai na contramão dos movimentos negros e de outras chamadas minorias, que lutam pela construção de uma sociedade plural e de identidades múltiplas.”

(Kabengele Munanga, Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: Identidade Nacional versus Identidade Negra. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 16.)

Texto II

“Os meus olhos coloridos/ Me fazem refletir/ Eu estou sempre na minha/ E não posso mais fugir/ Meu cabelo enrolado/ Todos querem imitar/ Eles estão baratinados/ Também querem enrolar/ Você ri da minha roupa/ Você ri do meu cabelo/ Você ri da minha pele/ Você ri do meu sorriso/ A verdade é que você,/ (Todo brasileiro tem!)/ Tem sangue crioulo/ Tem cabelo duro/ Sarará crioulo.”

(Macau, “Olhos Coloridos”, 1981, gravada por Sandra de Sá. Álbum: “Sandra de Sá”. RCA.)

Considerando o alerta de Munanga em relação a algumas “vozes nacionais”, a canção de Macau:

a) resgata o antigo ideal da identidade nacional única.

b) aponta a possibilidade de uma identidade múltipla. 

c) atesta que a pluralidade se opõe ao movimento negro.

d) insiste nas lutas das minorias por uma unidade.

GABARITO: 1. A

“A Cidade” – Chico Science & Nação Zumbi

Lançada em 1994, “A Cidade” é uma das canções emblemáticas do Movimento Manguebeat, criado em Recife em 1991 por Chico Science e a influente banda Nação Zumbi. O Manguebeat nasceu como resposta cultural e política ao “marasmo cultural” e às condições de pobreza da capital pernambucana nos anos 90, período marcado por crise econômica e alto desemprego. Influenciado por obras como Homens e Caranguejos, de Josué de Castro, Chico Science e seus parceiros usaram a música para denunciar essas realidades.

A canção revela de forma clara e irônica as desigualdades sociais presentes no espaço urbano. O verso repetido “O de cima sobe e o de baixo desce” sintetiza a imobilidade social, mostrando que, mesmo com o crescimento da cidade, as desigualdades e os papéis sociais permanecem rígidos. A expressão “pedreiros suicidas” destaca o sacrifício e a exploração dos trabalhadores que, apesar de construírem a cidade, não desfrutam dos benefícios do progresso. A crítica se estende à corrupção e à manipulação do espaço urbano por interesses privados, ilustrada no trecho “a cidade está prostituída por aqueles que a usaram em busca de saída”.

Em meio a essa denúncia, a música exalta a cultura popular — como o embolada, o samba e o maracatu — como instrumento de resistência e força para superar as dificuldades, expressa no verso “pra a gente sair da lama e enfrentar os urubu”. O Manguebeat assim demonstra como a arte regional pode ser veículo poderoso de contestação política e afirmação cultural.

O surgimento do movimento evidencia a relação profunda entre arte, contexto socioeconômico e luta social. O uso de ritmos tradicionais e elementos locais confere à obra um caráter inovador e identitário, fortalecendo o discurso contra o apagamento cultural e a exclusão social. A crítica irônica e contundente ao mito do progresso urbano desvela as contradições do desenvolvimento, onde o crescimento material frequentemente aprofunda a marginalização de grandes parcelas da população.

Como já caiu em prova

(Enem 2019 PPL)

A cidade

E a situação sempre mais ou menos,

Sempre uns com mais e outros com menos.

A cidade não para, a cidade só cresce

O de cima sobe e o de baixo desce.

CHICO SCIENCE e Nação Zumbi. In: Da lama ao caos.  Rio de Janeiro: Chaos; Sony Music, 1994 (fragmento).

A letra da canção do início dos anos 1990 destaca uma questão presente nos centros urbanos brasileiros que se refere ao(à):

a) déficit de transporte público.

b) estagnação do setor terciário.

c) controle das taxas de natalidade.

d) elevação dos índices de criminalidade.

e) desigualdade da distribuição de renda.

GABARITO: 1. E

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Autor(a) Luana Santos

Sobre o(a) autor(a):

Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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